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5.2 Desvelando os efeitos argumentativos presentes nos artigos científicos

5.2.1 Estilo direto

5.2.1.2 Estilo direto introduzido por verbo dicendi não modalizador ou por termo equivalente

(L2, L3, L4...). Em alguns casos, é introduzido por verbo dicendi não modalizador ou por termo equivalente. Nos recortes dos artigos científicos apresentados a seguir, é possível observar como esses fenômenos ocorrem.

No recorte (CHEA1T28), abaixo, é possível observar um relato em estilo direto introduzido por verbo dicendi não modalizador ou por termo equivalente.

CHEA1T28

Como um artefato curricular, tem um significado singular, no que se refere à sua função enunciativa de produção identitária. Ela atua como um dispositivo pedagógico, pois é um artefato curricular no qual se constitui e/ou se transforma a experiência de si. Como explica Mortatti, esse artefato “[...] institui e perpetua certo modo de pensar, sentir, querer e agir que, embora aparentemente restrito aos limites da situação escolar, tende a silenciosamente acompanhar esses sujeitos em outras esferas de sua vida pessoal e social [...]” (MORTATTI, 2000, p. 50). (CARVALHO et. al., 2014)

Em CHEA1T28, extraído de um artigo da área de Educação sobre escolarização de pessoas jovens e adultas, podemos perceber a presença de dois locutores distintos: o locutor

responsável pelo artigo (L1), constituído por Carvalho, Belarmino e Oliveira; e um segundo locutor (L2), Mortatti, responsável pelo trecho relatado em estilo direto.

Nesse extrato, o locutor responsável pelo artigo, L1, introduz um segundo locutor, L2, a especialista em alfabetização Mortatti, sob a forma de arrazoado por autoridade. O L2 constitui arrazoado por autoridade, uma vez que é uma autoridade sobre o assunto. Assim, L1 trouxe o discurso da autoridade para se fundamentar cientificamente e validar o seu dizer.

Esse segundo locutor é colocado em cena por L1 através do verbo dicendi não modalizador “explicar”. Dessa forma, L1 introduz o ato de fala proferido por L2 como uma explicação. L1 não julga nem emite posicionamento sobre o posicionamento de L2, apenas o introduz. De acordo com Nascimento (2009), os verbos dicendi não modalizadores indicam atos de fala e não apresentam julgamento de L1 em relação a L2.

No que diz respeito ao uso do elemento linguístico introdutor de discurso “como”, podemos observar que esse elemento, junto ao verbo dicendi “explicar”, indica concordância com o ponto de vista introduzido por L1: a função identitária funciona como um dispositivo pedagógico, um artefato curricular.

Essa constatação de que a utilização do elemento linguístico “como” unido ao verbo dicendi “explicar” pode indicar consentimento com o ponto de vista introduzido por L1 vai ao encontro de investigação realizada por Garcia-Negroni (2008), em estudos sobre o discurso acadêmico. A autora comprovou que “junto aos verbos do dizer [...] aparece o advérbio de modo como que normalmente indica conformidade com o ponto de vista introduzido” (GARCIA-NEGRONI, 2008, p.103).

No extrato que segue, temos mais uma evidência de como o argumento por autoridade é introduzido no relato em estilo direto por verbo dicendi não modalizador ou por termo equivalente.

CHEA1T41

Observamos, por fim, os saberes sujeitados, como a renúncia da oralidade pela escrita, ou, como diz Marrou

(1969, p. 90), “[...] entre os modernos, a palavra oral foi destronada pela onipotência da palavra escrita; e assim continua, até mesmo em nossos dias, a despeito dos progressos realizados pelo rádio e pela gravação [...]”.(CARVALHO et. al., 2014)

No recorte CHEA1T41, também retirado do artigo da área de Educação sobre escolarização de pessoas jovens e adultas, podemos perceber a presença de dois locutores distintos: o locutor responsável pelo artigo (L1), constituído por Carvalho, Belarmino e Oliveira; e um segundo locutor (L2), Marrou, responsável pelo trecho relatado em estilo direto.

Assim, o L1 é o responsável pelo artigo e por todo trecho analisado: como diz Marrou (1969, p. 90), “[...] entre os modernos, a palavra oral foi destronada pela onipotência da palavra escrita; e assim continua, até mesmo em nossos dias, a despeito dos progressos realizados pelo rádio e pela gravação [...]”. Já o L2, Marrou, é responsável pelas palavras entre aspas relatas em estilo direto

“[...] entre os modernos, a palavra oral foi destronada pela onipotência da palavra escrita; e assim continua, até mesmo em nossos dias, a despeito dos progressos realizados pelo rádio e pela gravação [...]”. O locutor responsável pelo artigo, L1, apresenta a voz alheia, do L2, sob a forma de arrazoado por autoridade, em estilo direto. L1 expõe a voz de L2 como uma autoridade sobre o assunto para se fundamentar cientificamente.

Notamos que L1 faz uso do relato em estilo direto introduzido pelo verbo dicendi não modalizador “dizer” para apresentar a voz de L2. Assim, L1 apenas introduz a voz de L2, indicando somente o ato de fala enunciado por L2: “dizer”. Essa indicação acontece sem emitir posicionamentos sobre a voz alheia, já que a apresenta simplesmente como um “dizer”. L1 ainda faz uso do advérbio de modo “como” junto ao verbo dicendi “dizer” para indicar a concordância com a opinião introduzida, ou seja, para gerar um efeito de sentido de acordo entre L1 e L2. Dessa forma, mesmo L1 tendo introduzido a voz da autoridade através do uso do verbo dicendi não modalizador “dizer”, indicando-a como um ato de fala, o caráter de engajamento de L1 com L2 se mantém em razão do discurso relatado ser um arrazoado por autoridade, introduzido pelo advérbio “como”.

No trecho seguinte (CSCA1T12), é possível notar mais um exemplo de relato em estilo direto introduzido por verbo dicendi não modalizador ou por termo equivalente.

CSCA1T12

Ao estudar as mudanças estruturais no jornalismo, Brin, Charron e Bonville (2013) apontam quatro tipos ideais de paradigmas jornalísticos que representam diferentes épocas, mas não se configuram em descrições reais das práticas jornalísticas. Para os autores, “o jornalismo real é um objeto infinitamente complexo e não está conformado, jamais, na sua história, nem a um nem outro dos modelos teóricos puros” (p. 14- 15). Dito isso, é possível dissertar sobre os quatro paradigmas para entender como se imbricam nas práticas e nos discursos jornalísticos, levando em consideração que “para que uma mudança seja considerada estrutural é preciso, portanto, que ela seja suficientemente abrangente e profunda para alterar radicalmente o modo como determinada atividade é praticada e simbolicamente reconhecida/definida pelos atores” (PEREIRA; ADGHIRNI, 2011). (GADRET, 2014)

Em CSCA1T12, temos um extrato de um artigo da área de Comunicação sobre o repórter de TV e as tecnologias. Aqui, temos o desdobramento de locutores, constituído pela voz do L1, Gadret, responsável pelo artigo e, consequentemente, por todo o enunciado Para os autores, “o jornalismo real é um objeto infinitamente complexo e não está conformado, jamais, na sua história, nem a um nem a outro dos modelos teóricos puros” (p. 14-15); e pela voz de Brin, Charron

e Bonville (L2), estudiosos sobre a natureza do jornalismo, responsável pela voz relatada entre aspas e em estilo direto através da citação: “o jornalismo real é um objeto infinitamente complexo e não está conformado, jamais, na sua história, nem a um nem a outro dos modelos teóricos puros”.

Notamos, nesse caso, que L1, ao introduzir o discurso do L2 com um termo não modalizador (a preposição “para”), não se comprometeria com o dito do outro, nem o avaliaria, caso o extrato fosse analisado isoladamente do entorno discursivo. No entanto, no trecho em análise, ao introduzir o discurso de L2, L1 se mostra de acordo com o discurso relatado, o que se dá pelo arrazoado por autoridade: L1, para validar o seu dizer, traz a voz de uma autoridade no assunto, L2, legitimando o seu discurso.

Assim, apesar de a expressão “para”, introdutora da voz alheia, apresentar um caráter discursivo equivalente a um verbo dicendi não modalizador, o L1 se mostra favorável ao posicionamento do L2, mantendo o comprometimento com o dito alheio, o qual se sustenta em razão do arrazoado por autoridade, que vai permitir ao interlocutor constatar que o discurso de L2, introduzido pela preposição “para”, faz referência a um ponto de vista aderido por L1.

Nos recortes a seguir, é possível constatar como esses fenômenos argumentativos acontecem no corpus analisado.

CSCA2T3

Uma das características centrais desta sociedade, conforme Braga (2006), está no deslocamento para uma ênfase na instância da recepção das mensagens:

Com a abrangência oferecida pela mídia moderna, os âmbitos de circulação ultrapassam os sub-universos especializados. O próprio objetivo de abrangência leva a uma forte ênfase no pólo receptor, ao serem desenvolvidas as objetivações. Na cultura escrita, o âmbito da expressão é predominante. Este deslocamento de ênfase para o pólo receptor leva a reversões bastante radicais na construção da realidade. (BRAGA, 2006: 8) (TRINDADE; SOUZA, 2014)

CSCA4T14

Baldini (2005: 56) informa que “há quem defenda que a moda foi derrubada pelos estilos e quem diga que os consumidores se movem agora no interior de um autêntico supermercado de tendências”. (SOUZA; GOMES; CAMPOS, 2013)

CSCA4T4

Para Baitello (1997: 18), a cultura é “terreno especifico onde se deve manifestar a mais pura e irrestrita criatividade humana”. (SOUZA; GOMES; CAMPOS, 2013)