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3. Inovação em organizações

3.10. Inovações sociais orientadas para as organizações

3.10.1. Estruturas organizacionais

Estrutura é um dos mais importantes e mais alusivos termos no vocabulário das ciências sociais, incluindo aí o domínio da teoria das organizações. O conceito é central não apenas em importantes escolas como o estruturalismo e o pós-estruturalismo, mas também em quase todas as outras tendências nas ciências sociais. Há grande dificuldade em definir este termo sem utilizar ele próprio na definição ou o verbo transitivo estruturar.

Explicar o sentido do substantivo estrutura requer, freqüentemente, fazer referência à ação de estruturar algo. Sewell (1992) aponta três problemas no uso freqüente do termo nas ciências sociais. O primeiro refere-se ao fato de que, em geral, o termo estrutura está associado à noção de algo estático, concebendo a estrutura como a base, o esqueleto imutável do sistema social. Ao usar o termo com esse sentido, os autores não contemplam a ação humana ou a atitude do ator social ou agente.

O segundo problema para o autor é o fato de que o uso do termo, em geral, não contempla a possibilidade de mudança. A metáfora que a palavra estrutura evoca implica, normalmente, a idéia de estabilidade. O conceito está inserido em discussões de como a vida social é definida ou organizada em padrões consistentes, não tratando de como estes padrões se modificam ao longo do tempo.

Por fim, o terceiro problema refere-se à idéia de que o termo é utilizado em sentidos opostos e contraditórios em distintas tendências nas ciências sociais, como na sociologia e na antropologia. Sociólogos e antropólogos tendem a ver a estrutura em sentidos diferentes: na sociologia, em geral, estrutura se contrapõe à cultura, já na antropologia, o termo aparece na esfera da cultura (SEWELL, 1992, p. 2-4).

Tal qual nas ciências sociais, também na teoria das organizações, o termo estrutura implica certo grau de ambigüidade e se traduz por uma variedade de abordagens teóricas (NIZET e PICHAULT, 2001). Ao tratar de estruturas organizacionais, os autores interessam-se especialmente pelas relações entre as pessoas, as posições e as unidades organizacionais às quais elas estão ligadas (HATCH, 1997, p. 161).

As abordagens teóricas ao conceito de estrutura organizacional emanam, na maioria das vezes, do paradigma sociológico funcionalista (BURRELL e MORGAN, 1989), como ainda é a maior parte dos trabalhos na Teoria das Organizações. Neste paradigma, o conceito de estrutura organizacional passa a ser compreendido como algo que implica a configuração de atividades que duram e persistem; a característica dominante da estrutura é seu padrão de regularidade, tendo dela uma idéia estática, tal qual salientado por Sewell nas ciências sociais como um todo. A estrutura pode ser descrita como a configuração formal de papéis individuais e procedimentos, ou seja, como um determinado esquema ou moldura (framework) da organização (RANSON e outros, 1980). Tal esquema ou moldura é tratado, predominantemente, em duas vertentes teóricas ligadas ao funcionalismo: a burocracia, tipo ideal weberiano, e a teoria da contingência, oriunda da teoria dos sistemas.

Há, no entanto, abordagens alternativas ao funcionalismo, associadas ao paradigma interacionista (BURRELL e MORGAN, 1989), que concebem a estrutura organizacional como algo que nasce da dinâmica sociocognitiva de interpretação que cada indivíduo produz sobre si e sobre seu meio. Dentro desse segundo paradigma, o conceito aparece identificado a partir de

padrões de regularidade nos processos de interação entre pessoas. Apenas entendendo o padrão de relações, ou a estrutura informal, é que se pode entender o que é a estrutura organizacional.

Fugindo da dicotomia entre funcionalismo e interacionismo, a partir dos anos de 1970, vários autores passaram a buscar uma representação da organização como um lugar de encontro e de confrontação entre atores com múltiplas racionalidades. A realidade nas organizações demanda abordagens multidimensionais e multiparadigmáticas. Mesmo assim, muitas delas ainda estão ligadas ao funcionalismo, como as configurações organizacionais (MINTZBERG, 1979). A diminuição do interesse pela teoria da contingência foi compensada pela emergência de outras abordagens teóricas como a teoria institucional (POWELL e DiMAGGIO, 1991; SCOTT, 1994), a teoria da estruturação (GIDDENS, 1984; RANSON e outros, 1980) e as abordagens pós-modernas, como a da organização e construção de sentido13

(HATCH, 1999; WEICK, 1993, 1999).

A teoria da estruturação proposta por Giddens tem merecido destaque nos estudos organizacionais que tratam a estrutura organizacional em uma perspectiva distinta do funcionalismo e do interacionismo.

Há, no entanto, alguns pontos de atenção ao tomarmos o trabalho de Giddens como referência para estudos sobre estrutura organizacional. Ainda que estrutura seja um termo central na teoria de Giddens, ele mesmo não tornou o conceito totalmente claro. Em The Central Problems of Social Theory (1979), ele discute o conceito e propõe alguma discussão. No glossário de The Const,itution of Society ele define:

Estrutura. Regras e recursos, recursivamente implicados na reprodução de sistemas sociais. Estruturas existem apenas como traços de memória, a base orgânica do conhecimento humano. (GIDDENS, 1984, p. 377, tradução nossa).

Anthony Giddens fez um dos maiores esforços teóricos para reformular o conceito de estrutura. Desde da metade dos anos de 1970, esse autor postula que a estrutura dos sistemas sociais é dual, ou seja, tanto o meio como os resultados das práticas que constituem os sistemas sociais (GIDDENS, 1981). Estruturas dão forma aos atos das pessoas, ao mesmo tempo em que a

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forma como as pessoas agem constitui (e reproduz) a estrutura. Nesta forma de conceber a estrutura, a ação do agente (the agency) não se opõe à estrutura, mas elas se complementam. Giddens coloca que os agentes motivam ou engendram a estrutura e são entendidos como atores com conhecimento daquilo que fazem e porque fazem (knowledgeable human agents). Esta concepção dos agentes como “knowledgeable” and “enabled” implica entendê-los como competentes para agir conforme a estrutura, colocando sua capacidade de uma forma criativa e inovadora. Por isso a teoria de Giddens se chama teoria da estruturação, indicando que a estrutura em um sistema social qualquer é um processo de interação contínua e não algo estático. Estruturação ou processo de estruturação é a produção e a reprodução de sistemas sociais através da aplicação de regras gerais e recursos. Nesse sentido, os sistemas são relações regularizadas em interação – e não relações funcionais entre as partes de um todo.

A teoria da estruturação oferece uma abordagem mais enriquecedora para compreender a dinâmica de formação e mudança de estruturas organizacionais. No entanto, isso não exclui descuidar das críticas e fraquezas da teoria, sobretudo daqueles que condenam Giddens por elaborar superficialmente os conceitos. Adicionalmente, trabalhar com a teoria da estruturação em temas organizacionais requer prestar atenção ao fato de que a obra de Giddens não se atém a estruturas organizacionais em específico. O termo estrutura para o sociólogo britânico se refere ao sistema social em sentido amplo. Outros autores utilizaram a teoria da estruturação para entender melhor estruturas organizacionais como Bouchikhi, (1990), Eraly, (2001), Fombrum, (1986), Riley, (1983) e Ranson et al. (1980).

Cabe observar que a teoria da estruturação vai ao encontro aos pontos problemáticos apresentados por Sewell (1992). Ela concebe a estrutura como algo dinâmico e mutável que cria padrões de comportamento de tipos de relações entre os agentes, ao mesmo tempo em que é criada e reafirmada pela ação, consciente ou não, de cada um deles.

A Tabela 4 apresenta, sucintamente, a variedade de abordagens teóricas dentro da teoria das organizações, os principais autores, a concepção geral do conceito de estrutura organizacional e algumas críticas para cada abordagem.

O levantamento e a análise das diversas abordagens ao conceito de estrutura organizacional dentro da teoria das organizações nos levam a uma conclusão similar ao proposto por Fenton e Pettigrew (2002). Para esses autores, o termo evoluiu da análise de definição de

papéis, controle e comunicação para conceituações bem mais sofisticadas, sendo que a inovação organizacional na década de 1990 está associada a formas organizacionais que, mais do que estruturas, englobam processos.

4. Tabela: As Abordagens Teóricas do Conceito de Estrutura Organizacional (1/3)

A Abordagem

Teórica Alguns autores

As principais contribuições. A estrutura organizacional é… As críticas A Burocracia Weber (1947) **tradução na América para o inglês.

…um tipo ideal, o resultado de decisões racionais de dirigentes (o determinismo interno). As disfunções: Merton (1940); Selznick (1949); Stinchcombe (1959). A racionalidade limitada dos atores March e Simon (1958). A Teoria da Contingência Burns e Stalker (1961); Lawrence e Lorsch (1967)

…um sistema aberto que comporta dimensões formais e informais. A vida da organização é fortemente influenciada pelo ambiente (determinismo externo). Não existe um tipo ideal.

O papel do dirigente é banalizado. A Ecologia Populacional Hannan e Freeman (1977).

…o reflexo das formas das outras organizações dentro da mesma população. É o ambiente quem escolhe a melhor estrutura.

A organização é concebida como tendo um só objetivo principal: a

performance. Os outros aspectos

da vida organizacional são ignorados.

4. Tabela: As Abordagens Teóricas do Conceito de Estrutura Organizacional (2/3)

A Abordagem

Teórica Alguns autores

As principais contribuições. A estrutura organizacional

é…

As críticas

Grupo d´Aston Pugh e outros (1963,1968 e 1969a e b).

…a combinação de algumas variáveis, consideradas dentro de um contexto. Não há tipo ideal.

Apenas as variáveis tangíveis e mensuráveis são importantes. O comportamento humano é desconsiderado.

Configurações Organizacionais

Mintzberg (1979) …considerada dentro dos processos-chave, em uma abordagem

multidimensional. Há várias relações entre a estrutura e a estratégia.

A abordagem das configurações considera que as organizações podem ser reduzidas a alguns tipos ideais, com coerência interna. A Teoria Institucional Powell e DiMaggio (1991); Scott (1994). …fortemente influenciada pelas características normativas e de regulação do ambiente. O isomorfismo. O isomorfismo é muito simplista. Heteromorfismo.

4. Tabela: As Abordagens Teóricas do Conceito de Estrutura Organizacional (3/3)

A Abordagem

Teórica Alguns autores

As principais contribuições. A estrutura organizacional é… As críticas Organizing and sensemaking Weick (1993, 1999); Hacth (1999).

…vista como associada aos conceitos de ambigüidade, emoção e temporalidade, como no Jazz..

Não considera a influência da estrutura formal. Teoria da Estruturação Giddens (1979; 1984); Ranson et al. (1980); Barley (1986); Riley (1988); Eraly (1988).

…um conjunto de regras e de recursos utilizados nos processos e estruturação. Estruturas são dualidades entre agentes e ação.

Conceitos vagos. Dificuldade de uso desta abordagem em estudos de campo.

Na seção 2 tratamos dos conceitos de economia social e de governança. Nesta seção tratamos de inovação social e estrutura organizacional. Tal qual colocado por Billis e Harrys, "a definição do terceiro setor envolve características organizacionais que implicam desafios especiais para pesquisadores e práticos de gestão considerando aspectos de estrutura organizacional e de formas de governança" (BILLIS; HARRIS, 1996, p. 238).

Como tivemos oportunidade de apreender nesta seção, governança e estrutura organizacional são dimensões de um modelo organizacional relevantes e determinantes para a inovação organizacional, seja ela orientada para avanços tecnológicos nos meios de produção, seja a inovação orientada para mudanças sociais nos níveis dos indivíduos, das organizações ou das instituições. Neste sentido, fica sendo apropriado investigar os modelos de gestão de organizações do terceiros setor em relação às formas organizacionais e de governança por serem

estes aspectos peculiares para entender a identidade do setor e, adicionalmente, porque são tais aspectos que possibiltam ou inibem a emergência de inovação, seja tecnológica, seja social.

3.11. Resumo sobre inovação social