• Nenhum resultado encontrado

5. Estudo de caso no Brasil: a Associação Rodrigo Mendes

5.4. Sustentação e captação de recursos

Quando a escola de artes começou, logo após a primeira exposição em 1992, os recursos disponíveis eram apenas aqueles conseguidos pelas vendas dos primeiros quadros que Rodrigo Mendes pintara. Um mês depois da exposição, logo após dar uma entrevista na televisão, uma gráfica de São Paulo ofereceu-lhe contrato de um ano pelo uso das imagens dos quadros em cartões de natal. O montante era suficiente para aluguel e consumo de luz da escola. Nenhum dos alunos contribuía com recursos.

No biênio 1992-93 a ARM sobreviveu graças ao apoio de pessoas físicas ou pequenas empresas cujos donos a apoiavam. Havia também eventos de captação, como bazares e bingos, além de uma pequena parcela de fundos gerados pelo pagamento de mensalidades de poucos alunos − apenas 15% do total de alunos contribuía com algum recurso.

A divulgação na mídia levou ao aumento no número de alunos, pois tornou a associação cada vez mais conhecida, o que também aumentou a necessidade de recursos. Até 1994, a escola de artes chamava-se Centro Rodrigo Mendes − CRM −, quando Sonia Mendes exercia a função de coordenadora pedagógica, aproveitando sua experiência como professora da rede municipal. Segundo, respectivamente, Sonia e Rodrigo:

Era difícil, a gente tinha que arrumar as barracas, abrir aquelas caixas empoeiradas. Eu não gostava de passar por aquilo. Ter que pedir às

18

pessoas, convencê-las, esperar por elas. Passamos por muitas situações precárias, difíceis. (Informação verbal)19.

A gente sempre trabalhou com insuficiência de recursos. (Informação verbal)20.

Em 1994, o Centro Rodrigo Mendes tornou-se, formalmente, a Associação Rodrigo Mendes. Muitas mudanças aconteceram no modo de gestão da organização. Um conselho consultivo foi criado, composto por pessoas que apoiaram Rodrigo desde os primeiros momentos do trabalho artístico e algumas parcerias formais com apoiadores foram estabelecidas.

Nessa altura, eu já tinha passado por uma certa vivência, em termos de qual caminho poderíamos seguir na escola. A gente começou a ter alguns apoiadores e eu criei o conselho, buscando chamar pessoas que tivessem uma variedade de relacionamentos, de presença na sociedade. Começamos a ter cara de escola. (Informação verbal)21.

Além da constituição da ARM, o ano de 1994 também foi importante porque Rodrigo iniciou curso superior em uma escola de administração de empresas. Com o passar do tempo, ele passou a imprimir na ARM um novo ritmo de gestão, mais estruturada e voltada para a auto- sustentação. A ARM deveria sobreviver de seus próprios serviços, ou seja, gerar receita a partir da comercialização das obras dos próprios alunos. Esse momento caracterizou uma mudança na orientação da escola, com ênfase em desenvolver ações que facilitassem a comercialização das obras de arte produzidas pelos alunos.

Quando ele começou a estudar administração [em 1994], veio com um discurso todo novo, falando de marketing, de finanças. Eu achava que a escola era a continuação da minha casa, não uma empresa. Eu não tinha formação em administração, fazia as coisas por bom senso. (Informação verbal)22

.

Em 1996, Rodrigo e outros colegas de faculdade concorreram ao Prêmio Fenead

(Fundação encontro nacional de estudantes de administração), com o Projeto Saci. Nele, a proposta de plano estratégico para a ARM vinha acompanhada por um logotipo, em que a figura do saci-pererê aparecia com um pincel na boca, em vez de um cachimbo. A equipe ganhou o

19

Sonia Mendes, depoimento em 13/04/2004. 20

Rodrigo Mendes, depoimento em 07/04/2004. 21

Rodrigo Mendes, depoimento em 07/04/2004. 22

prêmio e a ARM recebeu-o como aporte de recursos. No ano seguinte, a ARM também recebeu recursos da Fundação Vitae, o que possibilitou reformas nas instalações, compra de uma van especial para transportar os deficientes e de computadores para usos administrativos.

No final de 1997, a ARM recebeu uma proposta da Tilibra, fabricante de cadernos localizada no interior do Estado de São Paulo, para um contrato de licenciamento de imagens de obras de alguns alunos em uma coleção de cadernos. Essa iniciativa tem gerado grande exposição das obras e outros convites para licenciamento. Recentemente, a ARM recebeu a proposta de um restaurante de culinária francesa de São Paulo para uso de extratos das obras na louça da casa. O licenciamento tornou-se uma das fontes de renda mais importantes para a associação, sendo que em sua estrutura organizacional há uma área específica para esta atividade.

A partir de 2002, a captação de recursos passou a englobar o desenvolvimento de uma linha de produtos especiais. São xícaras, livros, brindes e outros utensílios em que a ARM utiliza extratos de obras dos alunos para confeccioná-los e vendê-los a empresas, em regime de encomenda antecipada. Há, portanto, três tipos de negócios envolvendo produtos com imagens de obras de alunos: o licenciamento de imagens que estão em um banco de dados digitalizado, os produtos de linhas especiais e a pronta entrega − produtos que estão sempre disponíveis na sede da associação. Adicione-se a isso a renda auferida com as vendas dos quadros nas exposições anuais e as mensalidades dos alunos − apenas uma pequena parte, já que a grande maioria é bolsista.

A ARM adota como política na comercialização das obras de cada aluno o princípio de que, quando vendidas, uma parte da receita vai para os próprios alunos – a maior parte – e outra para a ARM. Os alunos têm participação na receita e não no excedente − descontados custos de organização. O maior evento continua a ser a exposição anual, com os melhores trabalhos escolhidos por uma curadoria que inclui membros da associação, professores e críticos de arte. Segundo, respectivamente, Rodrigo e uma aluna da ARM:

Quando os alunos começam a ver seus quadros sendo vendidos, mudam suas expectativas, é como se começassem a pensar que podem ter um futuro profissional. Eu vislumbro isso como um dos pilares da escola. É

muito desgastante o trabalho de patrocínio. Se podemos ter essa liberdade, temos que ir atrás. (Informação verbal)23.

Até já vendi quadro! (Informação verbal)24.