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4. Metodologia

4.3. O desenho de pesquisa

4.3.3. Procedimentos para codificação e análise do material empírico

As entrevistas em profundidade com os atores-chave foram gravadas, com a anuência prévia dos entrevistados, e transcritas integralmente. Os textos oriundos desse procedimento foram tratados para revelar categorias ou termos-chave, cuja repetida referência revelou um padrão de interpretação ou construção de sentido por parte do entrevistado.

Após o tempo de familiarização com o campo, um quadro com itens de observação foi composto para evitar a simples descrição dos fatos. Esse procedimento tem por objetivo reforçar o rigor metodológico e a preocupação com as questões de subjetividade, generalização e possibilidades de contribuição, conforme exposto anteriormente.

Assim, as categorias de análise dos dois casos estudados nesta tese emergiram tanto do estudo formal da bibliografia quanto de nossa experiência quando em contato com as próprias organizações. As questões relevantes emergiram dessas duas fontes, em igual grau de importância. As categorias de classificação do material empírico e os critérios de codificação surgiram a partir da interpretação dos fatos, da interatividade com outros atores envolvidos na ação e das vivências sucessivas na própria organização.

Todo o material em forma de texto – transcrições de entrevistas e documentos – foi submetido à análise de conteúdo. A análise de conteúdo (AC) é uma técnica de pesquisa baseada na análise de textos. Há diversos procedimentos possíveis, que têm em comum o objetivo de produzir inferências do contexto social a partir de um texto – um foco. Essas inferências são os emissores da mensagem, os sentidos da mensagem em si ou a audiência a quem ela se dirige (WEBER, 1985).

Muitas vezes a AC implica um tratamento estatístico das unidades do texto, como, por exemplo, contar palavras ou expressões específicas. A classificação sistemática e a contagem de unidades do texto destilam uma grande quantidade de material em uma descrição curta de algumas características.

A AC constitui um conjunto de procedimentos que produz inferências de um texto para seu contexto social de maneira objetivada, o que significa que os procedimentos são metódicos, explícitos e replicáveis.

Os procedimentos de AC envolvem regras de categorização que evidentemente sempre terão um viés do próprio pesquisador. Parece claro, no entanto, que qualquer critério de classificação só será válido vis-à-vis ao objetivo da pesquisa

Com a reconstrução de representações, os analistas de conteúdo inferem a expressão dos contextos e o apelo que é feito ao público. A análise de conteúdo clássica não permite apenas descrições numéricas de um conjunto homogêneo de textos, mas também a interpretação de tipos, qualidades e distinções. Ela reduz a complexidade de uma coleção de textos (BAUER, 2003).

Os materiais clássicos da AC são textos produzidos durante uma pesquisa, como transcrições de entrevistas, ou textos produzidos anteriormente para outras finalidades quaisquer, como jornais e anúncios. Os procedimentos da AC reconstroem representações em duas dimensões principais: sintática e semântica.

Sintática: como algo é dito ou falado. A freqüência das palavras, sua ordenação, vocabulário, tipos de palavras, características gramaticais e de estilo. Pode-se daí inferir um determinado autor ou a fala dirigida a um determinado público.

Semântica: sentidos denotativos e conotativos. Identificação de temas e sentidos associativos.

As características sintáticas e semânticas de um conjunto de textos permitem ao pesquisador fazer conjecturas fundamentadas sobre o referencial de análise que definiu previamente. Pode-se inferir valores, atitudes, estereótipos, símbolos e cosmovisão, seja dos emissores, seja da audiência em geral.

Autores como Krippendorf (1980) distinguiram algumas estratégias distintas de pesquisa ao utilizar análise de conteúdo que resumimos aqui

1) construir um conjunto de textos − também denominado corpus − como sistema aberto, a fim de verificar tendências e padrões de mudança, significa que ele nunca está completo;

2) ao realizar comparações, busca-se a revelação de tendências que podem ser observadas entre diferentes fontes − comparação de fontes, de falas diferentes − ou a comparação por públicos;

3) pode-se também usar a AC para construir índices. Um índice é um sinal que é casualmente relacionado com um fenômeno. Ele surge, em geral, da consideração de um conteúdo juntamente à intensidade com que ele aparece nos textos;

4) finalmente, a AC pode construir mapas de conhecimento, associativos ou cognitivos.

A tarefa mais complexa de qualquer AC é definir um processo de codificação e classificação dos textos em categorias. A categorização é uma tarefa que requer o encontro entre o quadro teórico e o material proveniente da pesquisa empírica. Cada categoria contém um conjunto de classificação que deve esgotar as possibilidades de classificação de algum material naquela categoria. O referencial de categorização é um modo sistemático de comparação entre os materiais, o quadro teórico e o trabalho empírico. Ele se torna um conjunto de questões com o qual o pesquisador trata os textos e do qual consegue respostas dentro de um tipo específico de alternativas. Embora um conjunto de textos esteja aberto a uma multidão de possíveis questões, a AC interpreta o texto apenas à luz do referencial de codificação, que constitui uma seleção teórica que incorpora o objetivo da pesquisa.

4.4. Conclusão

Nesta seção, esclarecemos os quadros metodológico e empírico que compõem esta tese, juntamente com o quadro teórico exposto nas seções anteriores.

No quadro metodológico, estabelecemos os procedimentos utilizados para confrontar as idéias com a realidade − mesmo assumindo que ela é socialmente construída. Em suma, o quadro metodológico deste estudo é de natureza interpretativista, envolvendo o estudo de dois casos escolhidos por indicação de indivíduos qualificados e conhecedores do ambiente de organizações sem fins lucrativos empreendedoras. A unidade de análise é a organização.

No quadro empírico, definimos o conjunto de procedimentos para coleta, codificação e interpretação do material coletado nos estudos de campo. A interação com o material empírico ocorreu a partir de entrevistas em profundidade semiestruturadas, observação participante e análise de documentos. O material coletado foi totalmente transcrito, compondo um conjunto, ou

corpus, de pesquisa, e submetido a procedimentos de análise de conteúdo. O primeiro passo para

análise foi a definição de categorias para classificação desse material, escolhidas a partir das dimensões estabelecidas de acordo com o quadro conceitual. Em seguida, o material classificado em categorias foi analisado para identificação de padrões ou fatores recorrentes. Ao identificar esses padrões, foi possível apreender elementos dos processos de estruturação e de inovação social em cada uma das organizações estudadas.

Na seqüência, apresentaremos os estudos de casos, a comparação entre eles e as possíveis discussões e contribuições deste estudo, uma vez reunidos as análises bibliográficas e os estudos de campo.

5. Estudo de caso no Brasil: a Associação