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4 METODOLOGIA

4.1 ESTUDO DE CASO

Figura 9 – Definição da estratégia de pesquisa

Fonte: Yin (2001, p. 24).

Yin (2001) explica, por meio de exemplos, como relacionar os tipos de questões de pesquisa (segunda coluna, Figura 9), o controle que o pesquisador tem sobre eventos comportamentais efetivos (terceira coluna, Figura 9) e grau de enfoque em acontecimentos históricos em oposição a acontecimentos contemporâneos (quarta coluna, Figura 9), com vista a definir a estratégia de pesquisa (linhas dois a seis, Figura 9).

No entanto, a obra em questão observa que:

Podemos identificar algumas situações em que todas as estratégias de pesquisa podem ser relevantes, e outras situações em que se pode considerar duas estratégias de forma igualmente atraente. Também podemos utilizar mais de uma estratégia em qualquer estudo dado. Até esse ponto, as várias estratégias não são mutuamente exclusivas.

Mas podemos também identificar algumas situações em que uma estratégia específica possui uma vantagem distinta (YIN, 2001, p. 28).

O estudo de caso é indicado quando as questões de pesquisa são do tipo “como” e “por que”, o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e o foco da pesquisa envolve fenômenos contemporâneos contextualizados com a vida real (YIN, 2001).

Para entendermos a definição de estudo de caso vale esclarecer que este não é o estágio exploratório de algum outro tipo de estratégia de pesquisa ou um estudo etnográfico ou uma observação participante ou uma tática para coleta de dados. O estudo de caso pode envolver mais de um caso, incluir evidências quantitativas, ser aplicado em pesquisas de avaliação e utilizar narrativas jornalísticas (YIN, 2001). No nosso caso, as narrativas são os resíduos de

enunciação dos atores, que utilizaremos para a constituição da análise da dinâmica da produção de significados, à luz do MCS.

O estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que possui uma sequência lógica, um “caminho”

que conecta os dados coletados às questões do estudo, evitando situações em que as evidências obtidas estão desvinculadas às questões iniciais de pesquisa. Essa sequência lógica correspondeu ao projeto de pesquisa, um “esquema” de pesquisa que trata de, pelo menos, quatro problemas elementares: quais questões estudar, quais dados são relevantes, quais dados coletar e como analisar os dados (YIN, 2001). Tal sequência coaduna com os métodos de leitura e as noções-categorias do MCS, nosso referencial teórico e metodológico.

Yin (2001) defende que um projeto de pesquisa destaca cinco aspectos importantes: “[...] as questões de um estudo; suas proposições, se houver; sua(s) unidade(s) de análise; a lógica que une os dados às proposições; e os critérios para se interpretar as descobertas” (YIN, 2001, p.

42).

As questões de estudo referem-se à “forma” das questões de pesquisa, que define a natureza da pesquisa. As proposições surgem das reflexões teóricas – análise da produção de significados à luz do MCS –, a partir delas é definido o que deve ser investigado “a fundo” dentro do escopo da pesquisa. A unidade de análise corresponde aos dados coletados relacionados às proposições, que estão vinculadas às questões de pesquisa às quais se pretende responder. Os aspectos, a lógica que une os dados às proposições e os critérios para se interpretar as descobertas dos critérios, são os menos desenvolvidos do estudo de caso e envolvem a análise dos dados (YIN, 2001).

Pelo exposto, verificamos que o procedimento proposto em Yin (2001) vai na mesma direção do que é proposto na análise da dinâmica da produção de significados, apresentada por Silva e Lins (2013) ao trabalhar a partir do modelo epistemológico: MCS. Tal como procedeu Novais (2017) e Teixeira (2015), adotando como estratégia de pesquisa o estudo de caso e como solo epistemológico o MCS.

Em Teixeira (2015), as “formas” das questões de pesquisa são do tipo “como” e “por que”, como podemos observar em um dos objetivos específicos: “É possível trabalhar concomitantemente Teoria dos Grafos e Resolução de Problemas em aulas de Matemática a partir do ensino médio? Como? Por quê?” (TEIXEIRA, 2015, p. 23). A pesquisadora tem pouco

controle sobre os eventos e o foco da pesquisa envolve fenômenos contemporâneos contextualizados com a vida real. Trata-se de um estudo de caso único, pois se investiga a produção de significado de um grupo específico.

O texto em questão propõe uma sequência de atividades para o desenvolvimento das oficinas que viabiliza a “conexão” entre os dados coletados e as questões de estudos. As questões iniciais de pesquisa são revisitadas constantemente, como podemos ver a seguir:

Como dito anteriormente, ao final de cada encontro ocorreu uma roda de conversa (plenária) para discutirmos a respeito da proposta, de viabilidades de atividades no ensino médio, bem como na formação de professores. Também discutíamos possibilidade do uso do material e possíveis relações deles com a inserção da Teoria dos Grafos (TEIXEIRA, 2015, p. 55).

Embora a autora não tenha intitulado ou categorizado as unidades de análise, os dados – resíduos de enunciação dos atores – selecionados para análise responderam às questões e proposições de pesquisa.

O processo de produção de dados e de análise dos dados, por vezes, foram realizados concomitantemente, durante as discussões em grupo. Sobre isso, Teixeira (2015) observa que

“o MCS se dá na ação, daí as intervenções que praticamos não invalidaram a pesquisa, elas tão-somente apontaram para caminhos que não esperávamos” (TEIXEIRA, 2015, p. 79).

Em Novais (2017), a partir da pergunta-diretriz – Que significados matemáticos foram produzidos pelos atores acerca do processo de construção de edificações pataxó nas aldeias visitadas? – é possível observar que as questões de pesquisa são do tipo “como” e “por que”.

Embora o pesquisador tenha pouco controle sobre os eventos, o foco dado à preparação da pesquisa é primoroso, como podemos observar em:

Com vista a estabelecer uma interlocução entre os pesquisadores nas práticas e campo, acerca do projeto de pesquisa, começamos a partir de meados do mês de setembro 2015, na sala de reuniões da escola que faz parte do cenário de pesquisa, os primeiros encontros do grupo para planejarmos as ações da pesquisa de campo (TEIXEIRA, 2015, p. 91).

A partir dos encontros iniciais do grupo para o planejamento das ações de pesquisa em campo, programou-se os seminários de treinamento onde foram abordadas: (i) as fases de investigação planejada; (ii) a definição do tema do projeto e esclarecimento a respeito do objeto de estudo;

(iii) a elaboração dos questionários para as entrevistas; (iv) a definição dos materiais que são utilizados nas visitas; (v) a definição da participação de cada membro do grupo; (vi) as questões

teóricas acerca do projeto de pesquisa; (vii) metodologias aplicadas nas visitas das aldeias; (viii) estratégias; (ix) táticas; (x) definição de período da pesquisa in loco; (xi) técnicas de coletas de dados; (xii) procedimentos e conduta adotados para que os participantes compreendam os conceitos básicos e os pontos relevantes ao estudo em questão.

A pesquisa envolve fenômenos contemporâneos contextualizados com a vida real e trata-se de um estudo de caso único, pois investiga-se a produção de significado de um grupo específico.

Para análise dos resíduos de enunciação foram utilizadas as produções textuais dos alunos e de uma professora, copartícipe de seu projeto. A partir dos resíduos de enunciação foram realizadas as leituras, global e local, e definidas categorias de análise. Com o propósito de identificar singularidades e convergências entre os resíduos de enunciação dos atores, o pesquisador prosseguiu comparando dados de mesma categoria. As ações de pesquisa relacionam os dados coletados à questão de pesquisa, permitindo alcançar o objetivo geral:

analisar a produção de significados matemáticos, desenvolvida pelos atores da pesquisa, acerca do processo de construção de edificações pataxó em núcleos das aldeias de Barra Velha e Pequi.

Como afirmamos em momentos pretéritos, trouxemos neste item Teixeira (2015) e Novais (2017), pois nestes dois trabalhos, além do MCS ter sido utilizado como lastro epistemológico, ambos optaram por adotar como estratégia de pesquisa estudos de casos.