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Capítulo I Problemática da Investigação

2. Avaliação externa das aprendizagens

2.1. Estudos da Eurydice

Em 2009, após um estudo solicitado pela presidência checa do conselho da UE, a Rede Eurydice apresentou um relatório (Eurydice, 2009a) onde são analisados o contexto e a organização dos exames nacionais em 30 países europeus, bem como a utilização dos seus resultados em relação a cada aluno em particular, ao nível das escolas e à escala nacional, tendo como referência o ano letivo de 2008/2009.

O estudo abarcou, tanto os exames nacionais de avaliação sumativa, como os de avaliação formativa, dos vários países e a informação recolhida diz respeito aos níveis de ensino correspondentes aos três ciclos do ensino básico em Portugal.

Quanto à metodologia utilizada na recolha de informações, a Unidade Europeia da Rede Eurydice, integrada na Agência de Execução relativa à Educação, ao Audiovisual e à Cultura, elaborou um guia de conteúdos, em colaboração com a Unidade checa e peritos do

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Ministério da Educação, Juventude e Desportos da República Checa e do Instituto de Informação sobre Educação. A análise comparativa baseou-se nas respostas dadas pelas Unidades nacionais da Rede Eurydice de acordo com esse guia. O relatório foi revisto por todas as Unidades nacionais, com exceção da Bulgária.

Como resultados, o relatório deste estudo afirma que, em todos os países da UE, a avaliação dos alunos assume diversas formas e inclui instrumentos e métodos de avaliação quer internos, quer externos, que podem ser sumativos ou formativos. Apesar de diferentes em termos de função e de importância, estes instrumentos fazem parte de uma estrutura global e contribuem para os mesmos objetivos, isto é, medir o progresso dos alunos e gerar informação para melhorar a aprendizagem.

Apesar de, na maioria dos países envolvidos no estudo, a avaliação contínua constituir a forma mais comum de avaliação dos alunos e desta apresentar diversas vantagens, não é possível comparar de forma imediata os seus resultados, pelo que, crescentemente, se estão a desenvolver mais exames normalizados a nível nacional para satisfazer a necessidade de informação normalizada sobre o desempenho dos alunos, a validação da aprendizagem e o controlo do desempenho.

No ano letivo de 2008/2009, dos 30 países analisados neste estudo, apenas a Bélgica (Comunidade Germanófona), a República Checa, a Grécia, o Reino Unido (País de Gales) e o Liechtenstein não administraram exames nacionais.

De acordo com o relatório da Eurydice (2009a), a partir da década de 1990, a utilização dos exames nacionais tem vindo a generalizar-se de forma gradual, o que pode estar relacionado com a tendência para a descentralização e aumento da autonomia das escolas, a par da política de escolha da escola e com o crescente controlo da qualidade do ensino.

No que se refere aos objetivos dos exames nacionais, nos países estudados, este estudo aponta dois como principais: o primeiro, mais tradicional, consiste em certificar os resultados de cada aluno; o segundo – cuja relevância tem vindo a aumentar – é o controlo das escolas ou do sistema educativo no seu conjunto. Por outro lado, um grupo mais pequeno de países organiza exames nacionais para apoiar a aprendizagem na sala de aula, com finalidade formativa, sendo muito comum as autoridades educativas utilizarem o mesmo exame para fins diferentes.

O estudo aponta também para a necessidade de encontrar um equilíbrio entre a necessidade de informação acerca do desempenho dos alunos e os efeitos potencialmente

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negativos dos exames nos alunos e nos professores e, em particular, o seu impacto no tempo de ensino efetivo, tempo dedicado a objetivos curriculares mais alargados, bem como em termos de pressão e de motivação.

A grande maioria dos exames nacionais na Europa é obrigatória para todos os alunos, num determinado ano ou ciclo de ensino. Também os exames por amostragem, geralmente utilizados para fins de controlo, estão relativamente generalizados. Decidir realizar um exame ao conjunto dos alunos de um ano de escolaridade, ou apenas a uma amostra, depende dos objetivos. Os exames ao conjunto de todos os alunos de um ano de escolaridade são adequados para verificar e certificar o nível educativo dos alunos a título individual. Por outro lado, os exames por amostragem fornecem indicadores para o controlo do desempenho a nível nacional sem, no entanto, constituir uma sobrecarga excessiva para os alunos e os professores. Relativamente às disciplinas que são alvo de avaliação por exames nacionais, estas são, frequentemente, a língua materna e a matemática, complementadas, em alguns países, por uma disciplina de ciências e/ou por uma língua estrangeira. Deste modo, uma das limitações dos exames nacionais apontadas neste estudo é o facto de avaliarem o aluno apenas no que diz respeito a uma pequena parte do currículo. Contudo, muitos países têm vindo a comunicar planos para aumentar o número de disciplinas submetidas a exame, enquanto outros organizam uma rotação anual das disciplinas ao longo de cada ciclo de avaliação. Além disso, alguns países integraram nos exames nacionais uma abordagem específica orientada para as competências, enquanto outros passaram a avaliar determinadas competências transcurriculares.

Outro dos efeitos dos exames apontados no estudo como potencialmente indesejáveis é a tendência para adaptar ou limitar o ensino aos aspetos do currículo que são objeto de exame ou dar demasiada importância às competências específicas para a realização de testes. Estes efeitos podem ser particularmente graves quando os exames se apresentam decisivos não só para os alunos, mas também para os professores e as escolas.

Dada a grande influência dos resultados dos exames no percurso escolar dos alunos, este estudo aponta para a necessidade destes serem considerados em conjunto com os de outras avaliações, em particular a avaliação contínua efetuada pelos professores e testes internos. Esta abordagem permite combinar os pontos fortes dos vários instrumentos de avaliação e vinca o facto dos exames nacionais não representarem mais do que uma imagem

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instantânea do nível educativo do aluno, num determinado momento e apenas em alguns domínios restritos.

Controlar o nível de qualidade, fornecer informações de retorno aos alunos e pais, bem como orientar a atividade dos professores, são alguns dos fins dos resultados dos exames. Contudo, em todos os países, os exames desempenham, também, um papel essencial no desenvolvimento das respetivas políticas e os seus resultados são considerados quando se definem estratégias que visam reduzir as diferenças nos níveis educativos, elaborar o currículo ou melhorar o desenvolvimento profissional dos professores.

Muitos países europeus comunicam às escolas os resultados dos seus alunos nos exames para serem comparados com a média nacional. Em geral, as escolas têm liberdade para decidir como irão utilizar estes resultados para melhorarem o seu trabalho. No entanto, em doze países participantes no estudo, é exigido ou recomendado que os resultados dos exames sejam tidos em conta na avaliação externa e/ou interna das escolas. Comparando com alguns países não envolvidos neste estudo, como os Estados Unidos e o Canadá, só raramente os resultados dos exames na Europa servem de instrumento de responsabilização mediante sanções e recompensas e podem afetar a atribuição de recursos.

Por outro lado, a maior parte dos países europeus não publica os resultados dos exames por escola. Em alguns países, documentos oficiais proíbem expressamente a utilização dos resultados para a elaboração de tabelas ou classificações comparativas das escolas, pois esses quadros não são considerados suscetíveis de melhorar a oferta educativa. Apenas no Reino Unido (Inglaterra) a publicação dos resultados dos exames por escola coexiste com a liberdade de escolha da escola por parte dos pais, fatores que, associados, podem reforçar a influência dos exames nas práticas das escolas. No resto da Europa, o modelo mais comum é utilizar os resultados dos exames como base para a melhoria das escolas, embora esses resultados não sejam publicados nem considerados na avaliação externa das escolas.

Em Portugal, no ensino básico, os testes estandardizados, na forma de provas de aferição, foram introduzidos pela primeira vez no ano 2000, no 4.º ano de escolaridade, às disciplinas de língua portuguesa e matemática, sendo, a partir de 2001, introduzidos no 6.º ano.

No ano 2002, a avaliação externa das aprendizagens foi introduzida no 3.º ciclo, através das provas de aferição, mas a situação alterou-se em 2005 com a substituição destas

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provas pelos exames nacionais a língua portuguesa e matemática, no final do 9.º ano, por se tratar, então, do fim da escolaridade obrigatória.

A avaliação sumativa externa em Portugal foi, até 2012/2013 da responsabilidade do Ministério da Educação e Ciência (MEC), através do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE), que deu lugar ao Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), segundo o Decreto-Lei n.º102/2013, de 25 de julho.

Atualmente, esta avaliação sumativa externa acontece no final de cada ciclo do ensino básico, isto é, no 4.º, 6.º e 9.º anos de escolaridade, através da realização de uma prova final à língua materna e a matemática, cujo resultado contribui em 30% para a classificação final da disciplina.

Esta avaliação sumativa externa está também relacionada com a avaliação externa de escolas, dado que, segundo o relatório da Eurydice (2009b), relativo aos exames nacionais em Portugal, as mesmas provas nacionais têm dois objetivos: avaliar o sistema educativo e avaliar os alunos que o constituem. Segundo o mesmo relatório, os exames nacionais e os testes estandardizados, através da publicação dos seus resultados, têm conduzido ao desenvolvimento de uma cultura de accountability nas escolas portuguesas, fomentando não só a reflexão, mas também o debate público a partir dos mesmos.

De acordo com a Eurydice (2009b), responsabilizar as escolas pelos resultados dos seus alunos e encorajá-las a criar mecanismos para prevenir o insucesso, constitui parte do processo de autonomia, impelindo as escolas comprometerem-se com os desempenhos dos seus alunos e promovendo a busca de estratégias de melhoria do ensino e da aprendizagem.

A IGEC, responsável, entre outros, pela fiscalização da aplicação dos exames nacionais, com o intuito de garantir a confidencialidade e equidade, elabora um relatório nacional que destaca as inconsistências e fragilidades do processo, avaliando várias das suas componentes, fazendo, posteriormente, a análise dos resultados das escolas, comparando os resultados da avaliação interna com os da avaliação externa. De acordo com o estudo da Eurydice (2009b), este relatório elaborado pela inspeção fornece informações sobre o desempenho dos alunos, essenciais para a autoavaliação das escolas, na forma de indicadores de referência, fazendo recomendações quer às escolas, quer a outros organismos da Administração Central.

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