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Impacto e efeitos da avaliação externa das aprendizagens nas práticas profissionais dos professores de matemática

Capítulo I Problemática da Investigação

3. Avaliação externa das aprendizagens em matemática

3.3. Estudos empíricos sobre a avaliação externa das aprendizagens em matemática

3.3.3. Impacto e efeitos da avaliação externa das aprendizagens nas práticas profissionais dos professores de matemática

Partindo da hipótese de que a realização dos exames nacionais de matemática poderá ter um efeito a posteriori nas práticas de ensino e avaliação implementadas pelos professores de matemática, Rosário (2007) realizou um estudo empírico no sentido de identificar o impacto dos exames nacionais de matemática do 9.º ano8 sobre as práticas de ensino e avaliação dos professores.

A investigadora utilizou uma metodologia de natureza qualitativa, através de análise documental (planificações e critérios de classificação e correção de testes utilizados quer antes da implementação do exame nacional de matemática do 9.º ano, em 2004/2005, quer depois da sua implementação) e de entrevistas semiestruturadas a um conjunto de 15 professores de matemática de escolas diferentes do distrito do Porto.

Relativamente aos resultados obtidos neste estudo, no que se refere à perceção dos professores sobre o exame nacional de matemática do 9.º ano, os docentes destacaram, como positivo, o facto de este poder constituir um fator que motive os alunos para o estudo e os professores para o cumprimento integral do programa, mencionando também, mas com menor ênfase, o contributo do exame para a coordenação curricular, a responsabilização dos professores e a credibilização da avaliação.

Relativamente às desvantagens da realização do exame nacional, os professores deste estudo destacaram a instrumentalização do processo de ensino e aprendizagem, a descontextualização ou limitação do objeto de avaliação, bem como os efeitos psicológicos negativos sobre os alunos, como a desmotivação e o stress.

No que se refere ao impacto do exame nacional de matemática do 9.º ano nas práticas de ensino, os resultados revelaram um ensino focado nas competências valorizadas nos exames e com aproximação à vida real; na gestão curricular, particularmente no que se refere

8 A partir de 2011/2012, a designação “exame nacional” foi substituída por “prova final de ciclo” no que se

refere aos instrumentos de avaliação sumativa externa no ensino básico. (Cf. Despacho Normativo n.º14/2011). Presentemente, a nomenclatura “exame nacional” é apenas utilizada para designar as provas de avaliação sumativa externa no ensino secundário.

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à necessidade de cumprimento do programa nacional da disciplina; na realização de atividades que sirvam de “introdução” ao exame nacional; no recurso a outros materiais de apoio que permitam uma melhor preparação para o exame, uma vez que os manuais foram considerados insuficientes ou inadequados pelos docentes.

No que à avaliação diz respeito, os participantes salientaram a influência da realização dos exames, por um lado, na elaboração de critérios de avaliação, uma vez que aumentou a necessidade de uma maior formalização e a de adequação às exigências do exame nacional; por outro, nos instrumentos de avaliação, através do realce da avaliação sumativa e do peso dos testes escritos, reintroduzindo conceções de avaliação mais tradicionais, mais quantitativas e menos diversificadas, concluindo ainda a investigadora que, por parte dos docentes, há um esforço de isomorfismo dos testes escritos em relação aos exames (tipologia de perguntas, número de perguntas, estrutura, etc.).

Para além destes resultados, a investigadora salientou também a evidência do reforço das práticas colaborativas, reflexivas e de investimento na autoformação, por parte dos professores, em consequência da realização do exame nacional.

De um modo geral, sintetizando os resultados do estudo que realizou, Rosário (2007) destacou três efeitos objetivos da implementação do exame nacional de matemática do 9.º ano, que lhe permitiram construir um modelo explicativo: um efeito teleológico, isto é, os professores passaram a ensinar e a avaliar, considerando a prova de exame nacional como o principal objetivo; um efeito normativo, uma vez que o exame nacional é assumido como modelo ou norma; e um efeito de controlo, dado que o exame é entendido como instrumento de vigilância e pressão externa e interna.

No âmbito da realização dos exames nacionais à disciplina de matemática, no que se refere à conclusão do 12.º ano de escolaridade, Estima (2011), com o objectivo de conhecer e compreender a forma como a realização do exame nacional no final do ano letivo influencia as práticas de ensino e de avaliação, bem como a aprendizagem dos alunos, desenvolveu um estudo com duas professoras de matemática e duas turmas do 12.º ano, numa escola da região centro do país.

Pretendendo investigar sobre como e de que forma as práticas de avaliação e ensino dos professores são influenciadas pela avaliação externa, a estratégia adotada pela investigadora para a recolha de dados seguiu uma abordagem qualitativa e interpretativa, com observação de aulas, entrevistas de grupo focalizado aos alunos, inquérito por questionário,

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com perguntas de resposta aberta e análise documental (projeto educativo da escola, critérios de avaliação da disciplina, planificações, testes elaborados pelas professoras, enunciados dos exames e testes intermédios, bem como, resultados da avaliação interna dos alunos e, posteriormente, resultados obtidos nos exames).

Os resultados obtidos pelos alunos quer ao nível das classificações internas finais, quer nos que diz respeito às classificações de exame foram, para a investigadora, um instrumento essencial na interpretação dos dados qualitativos.

Apesar de a investigadora ter observado aulas de duas professoras que, no seu entender, têm práticas de ensino totalmente diferentes (uma docente que adota essencialmente, durante as aulas, uma postura e metodologia tradicional de transmissão de conhecimentos e outra que, por seu lado, favorece, se certa forma, a construção do conhecimento pelo próprio aluno, com estratégias de trabalhos de grupo e momentos de discussão de ideias), ambas assumem ter sempre o exame como referência.

A investigadora concluiu que o exame nacional de matemática do 12.º ano teve um impacto objetivo nas práticas de ensino e de avaliação nos dois casos estudados. Os alunos e as professoras participantes no estudo, não foram indiferentes à realização do exame nacional, cuja existência acaba por ser de tal modo significativa que em termos da classificação interna final, o peso dos testes sumativos foi grande e igual nas duas turmas, independentemente formas de trabalho durante as aulas e desvalorizando aspetos como valores, atitudes e competências.

Ainda em termos das práticas de avaliação, a investigadora concluiu que, houve uma tendência de valorização da avaliação sumativa, desempenhando, os testes, um papel central, tendo, as duas docentes, na sua elaboração, a preocupação de que estes sejam do tipo do exame (a estrutura, o formulário, a tipologia das questões).

No que diz respeito aos conteúdos de ensino surgiu também uma preocupação pelas competências valorizadas no exame nacional.

Aliando-se a estes aspetos a necessidade do cumprimento do programa que foi referida por vários alunos, a investigadora concluiu que é quase inevitável a uniformização do currículo e da avaliação, em prejuízo dos pressupostos definidos para o ensino secundário, como a flexibilidade e a autonomia, contrariando a ênfase que os programas dão no sentido do professor recorrer a uma grande variedade de modos e instrumentos de avaliação,

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relativamente aos quais terá que fazer as suas opções de acordo com a orientação que dá ao processo de ensino e aprendizagem.

3.4. Síntese dos principais resultados relativos à avaliação externa das

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