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Capítulo III – Metodologia da Investigação

1. Natureza e objetivos do estudo

Para Coutinho (2011, p.5), “fazer perguntas é uma atividade especificamente humana”, que tem como objetivo primordial, conhecer e compreender o mundo que nos rodeia e que tem como consequência o despertar do gosto pela investigação.

O que é investigar? Como refere Tuckman (2000), investigar é tentar, de forma sistemática, atribuir respostas às questões; é, para Quivy & Campenhoudt (1998, p. 31), “algo que, por natureza, se procura” e tem como objetivo “aumentar a compreensão do fenómeno estudado” (Coutinho, 2011, p.56).

Tuckman (2000) enumera algumas características que, na sua forma ideal, um processo de investigação deverá possuir:

 ser sistemático, isto é, obedecer a regras, concretizadas em especificações processuais;

 ser lógico, isto é, os processos utilizados devem obedecer a uma lógica que permita alcançar a validade dos resultados obtidos (validade interna) e a possibilidade de generalização (validade externa);

 ser empírico, isto é, ter como referente a própria realidade, de onde emanam os dados recolhidos;

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 ser redutível, isto é, a análise dos dados através de metodologias convenientes deve permitir ao investigador reduzir a desordem de determinados fenómenos, produzindo categorias de conceitos mais compreensíveis e gerais;

 ser replicável e transmissível, isto é, generalizável e possibilitando a replicação, permitindo que as pessoas, em geral, possam usar os seus resultados. Também o processo e as metodologias são eles mesmos transmissíveis, permitindo que outros investigadores possam contestar e aferir da sua validade científica.

Coutinho (2011) advoga que, se investigar é procurar, então, emergem diversas perguntas: “O que procurar?” “Com que objetivos?” “Como?” e “Para quê?. Estas questões subentendem propósitos, intencionalidade, métodos e relevância daquilo que procuramos e pressupõem, em investigação científica, a projeção de um caminho que nos leve onde pretendemos chegar.

Contudo a procura não surge do vazio, mas tem, na sua génese um problema inicial que, para Pacheco (2006, p.13), “é o alfa de um processo que será tanto mais válido quanto mais concreta for a sua identificação”. Para Tuckman (2000), esta identificação será, talvez, a etapa mais complexa de um processo de investigação.

De acordo com autores, como Quivy e Campenhoudt (1998) e Coutinho (2011), uma boa forma de começar uma investigação é formular uma pergunta de partida, que traduza o problema e que exprima, o mais exatamente possível, o que o investigador procura saber, esclarecer e compreender melhor. Para estes autores, esta pergunta de partida servirá de fio condutor inicial do projeto de investigação e deverá ter as seguintes qualidades: clareza (ser precisa, concisa e mostrar a intenção da pesquisa); exequibilidade (ser realista, concretizável) e pertinência (abordar o estudo do que existe e evidenciar a intenção de compreensão dos fenómenos estudados; deve ser importante para o estado atual do conhecimento).

Neste sentido, e após a sua contextualização através da síntese do estado da arte que apresentamos no capítulo I desta dissertação, procurámos traduzir o nosso problema através da seguinte pergunta:

De que modo os professores de matemática do 2.º e 3.º ciclos do ensino básico perspetivam, ao nível das suas práticas curriculares e pedagógicas, bem como do seu desenvolvimento pessoal e profissional, o impacto e os efeitos da avaliação externa?

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Para dar resposta a esta questão, realizamos um estudo que se enquadra no paradigma positivista ou quantitativo que, para Coutinho (2011) se pode ainda designar por empirico- analítico, objetivista, quantitativo ou racionalista e cujo fundamento teórico é o positivismo e tem como finalidades, entre outras, descrever, analisar, explicar e prever.

Coutinho (2011), citando autores como Bisquerra, Wiersma, e Creswell, sintetiza as características da perspetiva quantitativa da investigação da seguinte forma:

 centra-se em factos, comparações, relações e causas;

 a investigação, que tem por base a teoria, consiste em testar, verificar, comprovar;

 o plano de investigação é, de um modo geral, estruturado e estático;

 são usadas grandes amostras de sujeitos no estudo;

 aplicam-se testes válidos, estandardizados e medidas de observação objetiva de comportamentos;

 o investigador, que é externo ao estudo, preocupa-se com questões de objetividade;

 utiliza técnicas estatísticas na análise de dados;

 os objetivos do estudos são, muitas vezes, generalizar, de modo a aumentar o conhecimento e permitir prever, explicar e controlar fenómenos.

O trabalho que desenvolvemos, em termos de dimensão temporal, trata-se de um plano de investigação transversal (Coutinho, 2011; De Ketele & Rogiers, 1993), uma vez que analisa aspetos dos sujeitos num dado momento, face a uma situação que se pretende bem circunscrita, visando fornecer um quadro suficientemente representativo dos fenómenos.

Em termos de profundidade, por ser um estudo no âmbito de uma dissertação de mestrado, trata-se de uma investigação exploratória (Ibidem) de caráter provisório, uma vez que pretende obter um primeiro conhecimento do fenómeno que se quer estudar. Para estes autores, a investigação exploratória permite familiarizar o investigador com o assunto a estudar e com os contextos em que o fenómeno ocorre, possibilitando-lhe enumerar as variáveis passíveis de “entrar em jogo”, tornando-se, assim, num caminho que lhe permite compreender de forma alargada a problemática do objeto de estudo. Para estes autores, uma boa investigação exploratória combina criatividade e rigor e pode fazer despontar outras hipóteses que posteriormente será necessário verificar.

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Além de ser exploratória, a presente investigação é também uma investigação descritiva (Coutinho, 2011), com utilização de métodos descritivos e cujo objetivo primordial é descrever o fenómeno em estudo e as suas características gerais, quantificar a frequência de certos acontecimentos e, eventualmente, selecionar outros problemas e áreas de interessa para futuras investigações (Cardona Moltó, 2002; citado por Coutinho, 2011).

De acordo com De Ketele e Rogiers (1993), a investigação descritiva, além da função de descrever os fenómenos e as situações, tem ainda uma função heurística ou de ação, que consiste em provocar a emergência de hipóteses pertinentes que poderão ser verificadas posteriormente. Para estes autores esta função é essencial para a “espiral indutivo-hipotético- dedutiva” (Ibidem, p.141). Trata-se, assim, de uma função relativa ao conhecimento, dado que pode ser posta ao seu serviço.

O problema que aqui investigamos, traduzido anteriormente pela pergunta de partida, está diretamente relacionado com o interesse e experiência profissional que possuímos no ensino da matemática, além de se situar no âmbito de uma temática cada vez mais valorizada – a avaliação externa – quer nas políticas educativas nacionais, quer internacionalmente, por organizações que frequentemente impõem modelos aos diversos países, na área da educação, como é o caso da OCDE. Aliás é a própria OCDE que refere que o estudo do impacto e efeitos da avaliação externa de escolas é sempre algo inacabado, por mais estudos empíricos e teóricos que haja, porque acerca deste processo não é possível definir um grupo de controlo (OECD, 2009).

Existem vários estudos quer no âmbito da avaliação externa de escolas, que no âmbito da avaliação externa das aprendizagens, como destacámos no capítulo I desta dissertação, no entanto, este estudo inova pelo facto de pretender comparar os efeitos dos dois tipos de avaliação externa, nas práticas dos docentes de matemática do 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, para além de pretender ainda comparar os efeitos em cada um dos dois ciclos de ensino.

Além disso, mesmo havendo já vários estudos no âmbito desta temática, na opinião de Coutinho (2011), a replicação de estudos serve para verificar e ampliar resultados obtidos anteriormente, contribuindo para o progresso na construção de um corpo de conhecimentos. Para Cardona Moltó (2002; citado por Coutinho 2011), a falta de replicação de estudos faz com que, frequentemente, em Ciências Sociais e Humanas, se deem por certos resultados e pressupostos que estão ainda pouco consolidados ou mal compreendidos.

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Desta forma, pensamos que este estudo, embora de caráter mais descritivo e exploratório, poderá trazer novas contribuições para a construção de mais conhecimentos sobre a avaliação externa no âmbito educacional.

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