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Estudos sobre o impacto e os efeitos da avaliação externa de escolas no desenvolvimento da avaliação interna das escolas e na promoção da sua melhoria

Capítulo I Problemática da Investigação

1. Avaliação externa de escolas

1.4. Estudos empíricos sobre a avaliação externa de escolas em Portugal

1.4.2. Estudos sobre o impacto e os efeitos da avaliação externa de escolas no desenvolvimento da avaliação interna das escolas e na promoção da sua melhoria

Gonçalves (2009) realizou um estudo sobre a avaliação externa de escolas tendo como objetivos compreender o processo de avaliação externa da IGE ocorrido em 2007/2008 num agrupamento vertical de escolas de Lisboa e o impacto que a publicação do seu relatório teve naquela comunidade educativa.

Foram objeto de investigação as alterações de práticas, as melhorias e os planos de ação desenvolvidos por aquele agrupamento em 2008/2009, tendo em vista a superação dos pontos fracos e dos constrangimentos apontados.

Neste estudo, a investigadora recorreu à análise documental, à observação e à entrevista, tendo como participantes o ex-Presidente do Conselho Executivo, a ex-Presidente do Concelho Pedagógico e um membro da Assembleia do Agrupamento de Escolas que, à época, fazia parte do Conselho Geral Transitório.

Os resultados deste estudo apontaram uma melhoria de quase todos os pontos fracos e constrangimentos indicados no relatório da IGE, embora o agrupamento não tivesse apresentado um plano formal estruturado de melhoria, justificando este facto com as alterações legislativas e estruturais registadas naquele ano, nomeadamente a alteração do órgão da Assembleia do Agrupamento de Escolas para Conselho Geral Transitório, o processo de eleição do Diretor do Agrupamento de Escolas e a avaliação de desempenho docente. Contudo, a investigadora verificou que no projeto de candidatura do Diretor estava já definido um plano de ação, para os quatro anos seguintes, plano este que contemplou as sugestões indicadas pela IGE.

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Melo (2011) realizou um estudo empírico tendo como objetivo principal perceber em que medida é que a avaliação externa de escolas está a contribuir para a melhoria das escolas em Portugal.

Para orientar o seu trabalho, a investigadora definiu sete objetivos: conhecer as implicações que a avaliação externa de escolas teve ao nível das práticas e resultados da escola; perceber se a avaliação externa de escolas se constitui como um instrumento útil para os seus avaliados; problematizar a articulação entre os contributos da avaliação externa de escolas e os seus dispositivos de autoavaliação; conhecer o papel e os contributos dos diferentes atores da escola no que se refere à autoavaliação; compreender o contributo da avaliação externa de escolas para a construção ou aperfeiçoamento do plano de melhoria; sintetizar os processos de melhoria operados, em curso e programados; e conhecer a importância que os atores atribuem à avaliação de escolas (tanto à avaliação externa de escolas como à autoavaliação).

Tendo optado por uma abordagem qualitativa, a investigadora efetuou um estudo de caso num agrupamento de escolas do distrito de Aveiro, alvo da avaliação externa de escolas em janeiro de 2009, tendo utilizado, como técnicas de recolha de dados, a análise documental e entrevistas aos seguintes elementos: a Diretora do agrupamento e presidente do Conselho Pedagógico; a presidente do Conselho Geral; a coordenadora de diretores de turma; uma coordenadora de um departamento curricular; a coordenadora da equipa de avaliação interna; uma docente membro do Conselho Geral e Conselho Geral Transitório; e uma representante dos pais e encarregados de educação.

Foram alvo de análise documental os seguintes documentos: projeto educativo do agrupamento, o regulamento interno e o plano anual de atividades, o relatório da avaliação externa realizado pela IGE, o projecto de intervenção da Diretora, o plano de melhoria e as atas do Conselho Executivo, do Conselho de Diretores de Turma, do Conselho Geral, do Conselho Pedagógico e de um Departamento Curricular.

Como principais conclusões do seu estudo, a investigadora referiu cinco melhorias observadas: i) desenvolvimento organizacional do agrupamento, nomeadamente ao nível da elaboração, aplicação e divulgação de documentos; ii) preocupação, por parte dos docentes, em melhorar a qualidade das aprendizagens, evidente pela procura e frequência de formação contínua, bem como pela promoção e diversificação de atividades de forma a contribuir para o sucesso académico e formação pessoal dos alunos; iii) resultados escolares, que constituem

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fonte de preocupação constante, por parte dos professores; apesar de se verificar uma evolução positiva, esta é lenta e que nem sempre é diretamente proporcional ao investimento feito; iv) trabalho colaborativo, sendo evidente a predisposição por parte de diversos atores para o trabalho colectivo, colaboração que é visível entre docentes, mas também percetível na relação que os pais e encarregados de educação mantêm com a Diretora e docentes, assim como na relação da escola com algumas das entidades pertencentes ao Conselho Geral; v) avaliação interna do agrupamento, área em que, segundo a investigadora, se deu uma maior mudança.

Depois da avaliação externa de escolas vários aspetos como o funcionamento da equipa, periodicidade e formalidade do trabalho, participação dos vários intervenientes, mudaram ao nível da avaliação interna do agrupamento, o que contribuiu para uma melhoria significativa e visível da autoavaliação.

No que diz respeito à opinião dos entrevistados sobre as finalidades da avaliação externa de escolas, finalidade mais enunciada pelas entrevistadas é, sem dúvida, a melhoria do agrupamento.

De acordo com os resultados das entrevistas, a investigadora concluiu que a avaliação externa de escolas oferece a vantagem de isenção por parte da equipa de avaliação e ao mesmo tempo uma visão diferente da realidade, atendendo ao olhar externo, alertando os diversos atores para aspetos, às vezes, menos percebidos, conduzindo assim à melhoria.

No que se refere à finalidade de prestação de contas, as opiniões foram divergentes. Esta divergência, na opinião da investigadora, deve-se ao sentido que os entrevistados deram à expressão “prestação de contas”.

Por fim, outro dos aspetos referidos como finalidade da avaliação externa de escolas, foi a reflexão sistemática sobre a qualidade das práticas e resultados.

De um modo geral, a investigadora referiu que os resultados deste estudo se mostraram de acordo com os propósitos da IGE sobre a avaliação externa de escolas, uma vez que esta fomentou claramente o trabalho de autoavaliação do agrupamento e resultou numa oportunidade de melhoria ao nível do desenvolvimento organizacional, da qualidade de aprendizagens, dos resultados escolares dos alunos e do trabalho colaborativo dos diferentes atores escolares.

Utilizando a análise documental e o inquérito por entrevista, Nunes (2012), realizou um estudo exploratório em duas escolas sujeitas à avaliação por parte da IGE, em 2006/2007,

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pretendendo, especificamente, conhecer as ações desenvolvidas pelas escolas no âmbito da articulação entre avaliação externa e a autoavaliação, identificar procedimentos adotados pelas escolas para melhorar os pontos fracos, bem como conhecer o papel da IGE na regulação do funcionamento e do progresso das escolas, num quadro de centralização e de autonomia. Com este estudo, o investigador procurou clarificar a reação da escola à avaliação externa patente nos documentos e testemunhos, dos diferentes atores.

Como resultados, o investigador destacou a intenção/preparação de ações, por parte da escola, conducentes à melhoria. O autor concluiu, ainda, que houve uma adesão à implementação da avaliação externa numa perspetiva de a associar à autoavaliação, com a intenção de melhorar procedimentos para obter resultados educativos mais favoráveis. O investigador referiu também que relatório de avaliação externa contribuiu para o desenvolvimento da autoavaliação, para a reflexão nos órgãos de gestão intermédia e para o aperfeiçoamento do plano de melhoria.

O estudo de Silvestre (2013) teve como objetivo avaliar os efeitos que a avaliação externa de escolas operou nos resultados educativos e na qualidade do serviço educativo prestado. Centrada numa abordagem predominantemente qualitativa, baseada na análise discursiva dos atores organizacionais (representantes dos diferentes órgãos e estruturas de administração, direção e gestão escolares de dez Unidades de Gestão (UG) do Alentejo que nos anos letivos 2006/2007 e 2011/2012 foram alvo de procedimentos avaliativos no âmbito da avaliação externa de escolas, implementados pela IGE e IGEC, respetivamente) e na análise documental, esta investigação permitiu elencar as alterações que surgiram nas escolas, em consequência do processo de avaliação externa, destacando, a autora, a existência de uma estreita relação entre avaliação externa de escolas e avaliação interna/autoavaliação, bem como a adoção de uma postura organizacional aprendente em algumas instituições escolares. Foram inquiridos nove diretores, oito presidentes do Conselho Geral, nove coordenadores/elementos da equipa de avaliação interna, um coordenador de departamento, através de entrevistas semiestruturadas. A investigadora efetuou, ainda, a análise dos relatórios da avaliação externa de escolas de 2006/07 das 10 UG.

Com este estudo, a investigadora constatou que há quer uma lentidão na alteração de práticas e culturas de escola, quer a necessidade de aquisição de competências avaliativas, por parte dos diversos atores organizacionais, que parecem constituir fatores condicionantes da

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atual falta de sistematicidade nos procedimentos avaliativos organizacionais das escolas portuguesas.

Das entrevistas, a investigadora concluiu que a avaliação interna/autoavaliação parece ainda não estar plenamente assumida como estratégia organizacional capaz de produzir os efeitos desejados (melhoria e desenvolvimento das escolas), consubstanciando-se, sobretudo, no cumprimento legal, através de uma avaliação de conformidade, uma vez que as práticas não se encontram sistematizadas. Esta ausência de sistematicidade nos procedimentos avaliativos organizacionais das escolas portuguesas permite inferir a necessidade de criar, dentro do próprio sistema educativo, de dispositivos de apoio às escolas, no sentido de as ajudar a delinear estratégias de atuação que conduzam a práticas avaliativas organizacionais. Dos resultados obtidos, a investigadora inferiu uma clara inexistência de distinção entre os conceitos de avaliação interna e de autoavaliação.

Ainda segundo este estudo, os aspetos que contribuíram para a melhoria dos resultados académicos e do serviço educativo prestado são: a existência de estratégias organizacionais, que visam assegurar a coerência entre as práticas de ensino e a avaliação; a valorização da avaliação externa de escolas enquanto processo formativo; o papel desempenhado pelas lideranças; a integração de atores organizacionais não docentes na vida da escola, bem como de parceiros nas equipas de autoavaliação; o envolvimento e a participação de todos os atores organizacionais em todas as fases da autoavaliação.

De um modo geral, Silvestre (2013) concluiu que o resultado do olhar externo sobre as escolas como organizações é, sobretudo, direcionado para os atores internos, com destaque para dos docentes, nem sempre abrangendo a comunidade educativa, limitando-se à divulgação de resultados nos órgãos e estruturas intermédias.

1.4.3. Estudos sobre o impacto e os efeitos da avaliação externa de escolas no

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