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Capítulo I Problemática da Investigação

1. Avaliação externa de escolas

1.3. Pareceres, recomendações e relatórios sobre a avaliação externa de escolas em Portugal

1.3.1. Parecer n.º5/2008 do CNE

Em maio de 2008, o CNE emitiu o Parecer n.º5/2008 correspondente à primeira tomada de posição pública sobre o modelo e o processo da avaliação externa de escolas, incidindo sobre o que decorreu até ao final do ano letivo 2006/2007. Este conselho teve disponíveis, para análise, os dados de 100 unidades de gestão (UG) de um universo de 1200, para além das 24 UG abordadas no estudo-piloto e as 273 que na altura se encontravam em processo de avaliação, das quais, algumas já dispunham de dados para avaliação.

Este parecer apenas incidiu sobre a avaliação externa de escolas, um dos níveis da avaliação integrada do sistema educativo, e muitos dos seus pontos de enquadramento fundamentam-se quer num estudo de Azevedo (2007), quer no estudo da Eurydice (2004).

As apreciações referidas neste parecer do CNE disseram respeito ao modelo, ao instrumento e ao processo.

No que se refere ao modelo da avaliação externa de escolas, o CNE começou por apontar o facto de este se cingir apenas à escola, lembrando que, para uma maior credibilidade social do sistema de avaliação da educação em geral e das escolas em particular, é essencial uma avaliação alargada aos diferentes níveis de responsabilidade no sistema (local, regional e nacional).

Ainda quanto ao modelo, e no que se refere a apreciações negativas, o mesmo parecer mencionou a pouca clareza dos seus objetivos, bem como as múltiplas dimensões da avaliação externa de escolas que deles decorrem e que poderão contribuir para gerar tensões internas no processo; a dependência entre a avaliação externa de escolas e a progressão profissional dos docentes, por não haver condições para calcular o “valor acrescentado”

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produzido pelas escolas; e o facto de o processo ser dirigido pela IGE, entidade historicamente mais vocacionada para a regulação do sistema do que para o apoio direto às escolas, pese embora o bom relacionamento entre as equipas de avaliação e os representantes das escolas, que se verificou de forma generalizada.

Por uma questão de justiça do sistema, o CNE considerou que as consequências das avaliações negativas deveriam recair sobre todos os que nele interferem diretamente, nomeadamente ao nível da disponibilização das condições de exercício, estruturais e de apoio. Neste sentido seria desejável que a avaliação externa de escolas fosse complementada com a avaliação de outras estruturas relevantes do sistema, designadamente as estruturas de nível intermédio e central da administração escolar, cuja ação condiciona a actividade das escolas.

Relativamente ao instrumento de avaliação, o CNE considerou que há problemas potenciais e reais que lhe estão associados, havendo, à partida, o risco deste se tornar redundante ou desequilibrado. O facto de este instrumento estar estruturado por categorias globais definidas a priori, após uma análise fatorial, constatava-se que incluía o risco de repetição de fatores em itens distintos. Deste modo, poderia haver instituições sobrevalorizadas pelo facto um determinado fator pode estar repetidamente a ser considerado, podendo haver outro que, apesar de essencial, surgisse apenas uma vez, sendo, por isso, subvalorizado.

Além disto, o CNE questionou a atribuição de igual valor a todos os domínios de avaliação, em particular, considerou que o domínio Resultados (entendido na sua multidimensionalidade) deveria merecer uma valorização especial, dado que resume toda a ação da escola, consubstanciando-se a importância dos outros domínios no seu impacto sobre os resultados. Outrossim, este conselho advogou que a avaliação das escolas poderia resumir- se exclusivamente à avaliação dos resultados, entendidos de uma forma global, considerando também desejável a avaliação dos restantes domínios, como meio de diagnóstico do funcionamento da escola que, em parte, permitem compreender os resultados obtidos.

Apesar disto, o CNE não defendeu a sobrevalorização excessiva do domínio resultados. Caso isto acontecesse, seria ainda mais crítico o problema do padrão de medida de escala adotado, que não é suficientemente explícito, sendo necessária a definição de “ponto forte” e “ponto fraco” perante esse padrão de medida.

No que se refere ao processo, o CNE apreciou positivamente a existência de um guião para a preparação dos textos de apresentação das escolas. Destacou também como positiva a

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presença de um perito externo à IGE, na equipa de avaliadores, que para além de uma mais- valia técnico-científica, permite também atenuar a imagem inspetiva do processo.

De um modo geral, o CNE reconheceu como positiva a transparência de procedimentos deste sistema de avaliação, bem como a comunicação de resultados, através de relatórios, contraditórios, incluindo a sua apreciação.

Em contrapartida, o CNE considerou menos positivo os seguintes aspetos do processo de avaliação externa de escolas, relativos ao primeiro ciclo avaliativo:

 dificuldades de acesso, por parte da equipa de avaliadores, a informação estatística estruturada e com sequência temporal;

 ausência de uma apreciação global dos alunos sobre a escola;

 pressão indireta para a uniformização da autoavaliação das escolas, que tendem a adotar modelos de autoavaliação próximos da estrutura fixada pela IGE para o documento de apresentação das escolas;

 duração insuficiente da visita às escolas;

 inexistência de observação de aulas;

 carência de comunicação às escolas, das primeiras impressões das equipas avaliativas, no final da visita e antes da apresentação do relatório final;

indisponibilidade, on line, do relatório da equipa de avaliadores quando este dá origem à apresentação de contraditório por parte da instituição escolar (nestes casos a IGE apenas disponibiliza, na sua página eletrónica, a versão alterada do relatório e o contraditório);

 falta de acompanhamento, depois da entrega do relatório final, por parte das equipas responsáveis do sistema, que remete esta tarefa para a administração educativa geral. Face a estas apreciações, o CNE emitiu algumas recomendações, entre as quais:

 revisão do modelo avaliativo, sem quebra de continuidade epistemológica, para que se possa fazer uma leitura histórica;

 produção de efeitos sobre as diversas vertentes do sistema que interagem com as escolas após a aplicação do modelo;

 ponderação do “valor acrescentado” da instituição, conjugando os resultados obtidos com o ponto de partida, atendendo ao contexto e às características da escola;

 apoio direto à autoavaliação das escolas, incluindo a promoção de formação adequada aos seus responsáveis;

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 celebração de contratos de autonomia com as escolas de acordo com as especificidades de cada uma;

 revisão e aprofundamento do instrumento de avaliação, nomeadamente no que se refere aos padrões de medida de escala, à ponderação dos diferentes indicadores e à inclusão de elementos de observação de aulas;

 ausência de relação entre os resultados da avaliação das escolas e as punições ou prémios dos seus atores individuais, particularmente, a quota de professores titulares e de atribuição dos escalões mais elevados na avaliação dos docentes;

 acompanhamento das escolas, após a entrega dos relatórios de avaliação;

 preparação e formação específica para os avaliadores;

 reflexão sobre o facto da equipa de avaliadores ser constituída sob a responsabilidade da IGE.

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