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5 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA ENTRE OLHARES DIVERSOS: O CURSO DE

5.1 A política e a expansão da EAD sob o olhar dos coordenadores do curso

5.1.1 A educação a distância no contexto da expansão do ensino superior pós LDB

5.1.1.1 A expansão da educação superior como forma de democratizar o acesso a esse

Um dos temas mais discutidos, nos últimos dez anos, no campo educacional foi, sem dúvida, a expansão da educação superior pela via da educação a distância. O que se observa, nesse contexto, é uma estratégia de interiorização desse nível educacional, com a presença dos polos nas cidades, sob a retórica da democratização do acesso aos níveis superiores da educação. Essa questão é tão polêmica que, entre os entrevistados, não se observa consenso se essa é uma modalidade de educação que deve ser utilizada para expandir a educação superior. Pelo contrário, se constata divergência; os que a consideram positivo, apontam a possibilidade do acesso a um maior número de estudantes ao ensino superior. Nesse sentido, alguns depoimentos dos coordenadores53 entrevistados são de extrema relevância, visto que abrem um leque de discussão acerca da temática em questão. Segue, pois, a opinião de um deles.

Eu acho que sim, talvez seja a modalidade que mais democratize o acesso das pessoas a educação, porque assim, com relação ao acesso à educação a

53Não se pretende fazer distinção de gênero com relação ao termo COORDENADOR. Ele será sempre

usado no masculino para facilitar as análises, ocultando a identificação dos sujeitos, podendo aparecer, ora no singular ora no plural, sem entrar no mérito da questão de gênero.

distância consegue está em mais lugares ao mesmo tempo. (INFORMAÇÃO VERBAL)54.

Essa opinião não é uma posição isolada; ela se coaduna com as de alguns autores, dentre eles, Formiga (2012) e Preti (1996), que enxergam a EAD como uma possibilidade de acesso ao conhecimento de um grande número de pessoas, nos mais diversos rincões do país, onde o ensino presencial não poderia alcançar devido a ausência de estrutura física e de pessoal, em um país de dimensões continentais como o Brasil.

No entendimento de Formiga (2012), a EAD representa uma oportunidade ímpar para aqueles que não tiveram acesso à educação na idade e tempos corretos, e, também, para os que desejam se atualizar e expandir a aprendizagem. Segundo ele, a EAD tem-se revelado instrumento eficaz de acesso e democratização do conhecimento, ao permitir a inclusão de grandes contingentes de beneficiários.

Conforme Preti (1996), a expansão quantitativa (mais alunos e mais instituições) foi sempre acompanhada pela busca do incremento qualitativo. Para o autor, existe toda uma gama variada de estudos e pesquisas sobre as experiências de EAD no mundo que aponta,

[...] ser esta uma modalidade de educação eficaz para atender não somente à população que, embora não o seja legalmente, na prática é excluída do ensino presencial, como também a todos os cidadãos que em algum momento de sua vida ativa necessitam de formações distintas ou pretendem ter acesso a uma educação continuada e permanente. A EAD, pois, oferece serviços educativos aos quais não tiveram acesso diversos setores ou grupos da população, por inúmeros motivos, tais como: localização geográfica ou situação social, falta de oferta de determinados níveis ou cursos na região onde moram ou ainda questões pessoais familiares ou econômicas, que impossibilitavam o acesso ou continuidade do processo educativo. (PRETI, 1996, p. 20).

É necessário, todavia, compreender que essa modalidade educacional, além de promover o acesso ao conhecimento, contribuindo com a democratização do acesso, é questionada a sua qualidade e a sua associação a um contexto econômico em que a EAD se eleva a um grau de importância substancial por ampliar os mercados educacionais, visto pelos organismos internacionais (UNESCO, OMC e BANCO MUNDIAL) como espaço comercial diversificado de serviços educacionais, mercantilizando e expandindo o setor educacional de forma massificada.

Nesse contexto, é possível encontrar, também, opiniões que divergem desses posicionamentos e apontam outras dimensões que estão presentes quando se fala de acesso democrático ao conhecimento por intermédio da formação a distância. Nesse sentido, a

opinião do coordenador local B é crítica quanto à massificação do ensino a distância sem nenhum critério de qualidade. Ele faz uma reflexão com o questionamento e situa que,

depende do que você está chamando de democrática. O democrático não é só o número de pessoas que vão entrar, você tem que dar condições para essas pessoas. A democracia não é só abrir um grande número de vagas e pronto. [...] democracia mesmo é você dá condições para as pessoas se desenvolverem no curso e finalizarem. (INFORMAÇÃO VERBAL)55.

Esse ponto de vista mostra um tema bastante recorrente quando trata dessa modalidade educacional, que vai além do acesso, que é a questão da permanência nos cursos de EAD. É importante ressaltar, porém, quando se trata de EAD, que ela não pode ser vista como sinônimo de ampliação democrática ao conhecimento, quando o nível de evasão no projeto piloto de Administração a distância56 gira em torno de 40%, ou seja, dos 586 alunos matriculados no ano de 2006, apenas, 354 alunos concluíram o curso. Um percentual bem acima da média de evasão nacional do curso de Administração que é de 30%, conforme estudos de Lobo e Silva Filho et al. (2007. p. 654 ). Isso significa dizer que ele se enquadra no grupo de cursos brasileiros de maior evasão.

Várias causas podem ser apresentadas como pressuposto para a evasão, com destaque para a ausência de afinidade com as novas tecnologias; a falta de tempo, porque, apesar da flexibilidade com relação à escolha do tempo e do lugar onde estudar, essa modalidade educacional exige disciplina no cumprimento dos prazos de conclusão das atividades; ausência de qualificação dos professores e tutores para interação via internet; ausência de equipamento de uso pessoal (computador) para realização das atividades; ausência de banda larga, prejudicando a abertura de vídeos.

Esse conjunto de fatores pode estar colaborando para o alto índice de evasão, porque quantidade não é sinônimo de qualidade. Porém, a responsabilidade por esse conjunto de fatores não está diretamente relacionada aos alunos, mas a ausência de políticas públicas comprometidas com a formação educacional de seu povo, que favoreçam o acesso das pessoas aos cursos de forma equilibrada nos aspectos pedagógicos, políticos, técnicos e tecnológicos.

A fala do coordenador nacional associa a questão da democratização à qualidade da educação, e aponta aspectos estruturais como importantes para se garantir o acesso e a permanência na educação superior.

55Coordenador local B. Informação obtida por meio de entrevista no ano de 2013. 56 Ver análise da tabela 3 no capítulo 3 deste trabalho.

Eu acho que tenta ser de forma democrática, acontece é que nem sempre a gente tem a infraestrutura necessária para ser de forma democrática. Porque se a gente fosse pensar de forma democrática em si, a gente deveria pensar, digamos, deveríamos levar o ensino superior para todos os municípios, mesmo aqueles longínquos, mas não temos infraestrutura para isso. Então, dizer que atende plenamente, não, mas dizer que tenta atingir, sim (INFORMAÇÃO VERBAL)57.

O que se verifica, nesse depoimento, é uma postura de quem acredita nas possibilidades de atendimento em massa dessa modalidade visto que há um fortalecimento da ampliação do número de vagas e a presença do curso em um maior número de lugares possível.

Há, também, uma análise mais ponderada, quanto aos números, porque, às vezes, a realidade é mascarada pelas estatísticas. O que se pretende, segundo o coordenador nacional, é o acesso seguido de uma permanência comprometida com a formação, uma melhor estrutura técnica, tecnológica, pedagógica, de ambientes virtuais de aprendizagens amigáveis, fortalecida por maior interatividade em que as pessoas envolvidas no curso possam conversar/interagir, on-line, por meio de qualquer equipamento, inclusive os mobile, promovendo uma acentuada convergência de mídias, canais, redes e aportes pedagógicos e tecnológicos, que poderiam ser abertos e flexíveis, oferecendo condições de entretenimento, participação e interação para/entre os alunos/professores/alunos, professores/professores, entre áreas do conhecimento, a fim de que o alunado possa concluir os seus cursos com êxito. Entretanto, nem sempre se tem uma infraestrutura e as ferramentas adequadas que garantam acesso ao ensino superior em todos os municípios, principalmente, aqueles mais distantes.

Esse entendimento é compartilhado com Pretti (1996), como uma forma de atender a um público que reside distante dos grandes centros educacionais de ensino superior, razão pela qual se democratizaria, mesmo de forma parcial, o acesso à educação superior, pois, embora possibilitasse o atendimento a uma parcela da população que tem acesso às novas tecnologias da informação e comunicação, pautada na internet, esse atendimento ainda seria insuficiente.

A maioria de seus alunos apresenta características particulares, tais como: são adultos inseridos no mercado de trabalho, residem em locais distantes dos núcleos de ensino, não conseguiram aprovação em cursos regulares, são bastante heterogêneos e com pouco tempo para estudar no ensino presencial. Esses estudantes buscam essa modalidade porque nela encontram facilidade para planejar seus programas de estudo e avaliar o progresso realizado, e até mesmo porque preferem estudar a sós do que em classes numerosas. (PRETTI, 1996, p. 20).

O fato é que as três falas retrataram o movimento da educação a distância no Brasil, seus problemas, desdobramentos, desafios e tendências para essa modalidade educacional no que tange à democratização e interiorização da educação superior. Todos os coordenadores, em maior ou menor grau, admitem que há uma democratização do acesso a esse nível educacional pela EAD.

O que mais intriga é que nenhum dos sujeitos pesquisados, até o momento, abordou a questão da expansão e interiorização como sendo parte de um plano global de ampliação dos mercados, que considera a educação um serviço, e está imbricada na mercantilização da educação em todos os sentidos, desde o consumo de insumos para equipamentos de informática à formação das pessoas para sociedade do conhecimento.

5.1.1.2 Modelos de educação a distância priorizados no Brasil para expansão dos cursos de

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