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3 CONCEPÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS E OS MODELOS DE

3.2 Concepções teórico-metodológicas da educação: a escolha das trilhas para o ensino-

3.3.1 Modelos de cursos prontos individualizados

Os cursos, para atendimento individualizado, contam com instruções precisas para o aluno, com estudos:

[...] baseados em materiais on-line, em cases, animações, pequenos vídeos e atividades que o aluno realiza durante um período determinado e que envia os resultados das atividades a um centro que as corrige, normalmente, de forma automática e atribui um conceito que permite o avanço do aluno para uma nova etapa. A grande vantagem destes cursos é a flexibilidade de tempo. O aluno pode começar e terminar dentro do seu próprio ritmo. O curso pode acontecer a qualquer momento. Não precisa reunir uma turma específica, com determinado número de alunos. Isso facilita para a instituição e para o aluno. (MORAN, 2011, p. 2).

Um curso de EAD que utiliza esse modelo não tem preocupação com o processo de mediação da aprendizagem pelo professor, visto que é realizado pelos materiais impressos, dificultando a integração do aluno com os colegas e com o professor, aprofundando a sensação de isolamento típico de cursos de EAD.

Por outro lado, esse tipo de curso é ideal para qualquer instituição que atua com essa modalidade de educação, porque não há necessidade de uma grande estrutura física e de pessoal permanente, além de atender a um grande número de alunos a custos operacionais, consideravelmente, reduzidos. Entretanto, a realidade apresenta algumas contradições, porque, para participar do curso, é exigido do aluno o domínio das novas tecnologias, e muitos deles não dispõem de computadores, tampouco de acesso à internet banda larga.

Com relação à metodologia desse modelo de curso, há um esforço para facilitar o acesso dos alunos aos materiais. Alguns cursos utilizam materiais textuais disponibilizados na Internet. Outros acrescentam apresentações em PowerPoint, trechos de vídeos, gravações em áudio, um design para a Internet mais amigável, de fácil navegação e com formatos hipertextuais e multimídia. Isso leva a crer que o aprendiz terá plenas condições materiais e intelectuais de transitar com tranquilidade por essas ferramentas tecnológicas.

Com relação à didática ou formato pedagógico de cursos prontos individualizados, percebe-se um leque de estudos que contribuem para a aproximação dos estudantes com os conteúdos. Vê-se, nesse modelo, um formato de curso que se utiliza de um viés mais instrumentalista, na perspectiva tecnicista. O fato de o curso prever a atividade individual ao

invés da coletiva, a correção automática das atividades, realça, cada vez mais, o seu alinhamento às tendências pedagógicas tradicionais.

No modelo de curso, em referência, há um esforço na direção de aproximar professores e alunos dos textos, numa perspectiva técnica. Erdos (apud PETERS, 2010) enfatiza que o escritor, dirigindo-se direta e informalmente aos estudantes, se apresenta como uma pessoa que compreende suas necessidades e seus interesses e o estabelecimento desse tom pessoal permite ganhar a confiança dos estudantes. E essa é uma das formas de conseguir conquistar o prazer pelos estudos, principalmente, quando eles são individualizados, independentes, sem a presença física do professor.

Outro tipo de curso individual que tem como objetivo diminuir a distância entre docentes e discentes é o modelo da conversação. Esse tipo de curso pode ser considerado uma evolução ao curso anterior, já que se começou a interpretar o ensino a distância como simulação de uma conversação entre docentes e discentes. Nessa acepção, o texto didático não transmitia, como um livro especializado, conhecimentos objetivos sistematicamente organizados, mas uma conversação didática.

Para Holmberg (apud PETERS, 2010), o docente, enquanto autor de um curso de ensino a distância, deveria criar a atmosfera de um diálogo amigável e levar em conta suas convenções, criar o sentimento de uma relação pessoal entre docentes e discentes, aumentando, assim, a satisfação no estudo e a motivação. Para o autor, o texto em EAD precisa ter uma linguagem clara, um tanto coloquial, de forma que seja uma conversa constante entre autor e estudantes pela interação com o material de estudos preparado.

Peters (2010), analisando o modelo da conversação, chega à conclusão de que as recomendações, para esse modelo didático, podem ser aceitas parcialmente ou descartadas totalmente. A sua reflexão parte do princípio de que, no ensino superior, não é possível transmitir conhecimentos científicos numa linguagem clara e um tanto coloquial, palavras e sentenças curtas, quando um dos objetivos precípuos do ensino universitário é justamente iniciar o aluno na linguagem científica.

Para Peters (2010), a aplicação do modelo didático professoral seria a forma um tanto adequada para atender ao modelo individualizado de curso em que os docentes transferem sua habilidade e arte para o texto didático, a fim de que esse possa exercer, substitutivamente, todas as funções didáticas importantes.

Para isso, é necessário que o docente imagine e crie possibilidades para despertar a atenção e interesse dos discentes com objetivos claros e precisos, trazendo à memória conhecimentos preliminares que se relacionam com o objeto que está sendo estudado. Além

disso, tem a necessidade de expor o conteúdo em partes e numa sequência que facilita a recepção e a compreensão, emitem conselhos de como estudar os conteúdos expostos, e, por meio do retorno, certificam-se do resultado do processo ensino-aprendizagem, fazem exercícios com os alunos e os ajudam a pôr em prática o que aprenderam.

Em suas reflexões, Peters (2010) pondera que o modelo professoral se apresenta como um progresso, ao passo que os últimos apresentados – a correspondência e a conversação – foram imitados procedimentos que, no fundo, nada tem a ver com o ensino. Aqui os docentes, se põem em sintonia com os discentes. Emprega-se todo um arsenal de medidas com o intuito de fomentar e garantir sua aprendizagem.

Apesar de Peters (2010) considerar o modelo professoral um progresso na EAD, é preciso ter clareza de que, no modelo de curso individual, a interação do aluno é com o texto e, algumas vezes, com o vídeo, e não com o professor, mesmo considerando que foi o professor quem preparou todo o material didático.

O sucesso desse modelo de curso, na graduação, não acontece na devida proporção esperada, porque o sucesso da aprendizagem depende quase que, exclusivamente, do esforço do estudante em querer aprender. Nesse modelo de curso, exige-se um aluno maduro, autossuficiente, disciplinado e automotivado, ou seja, espera-se que o aprendiz possa ter atitude, independência e autonomia no processo de aprendizagem, sem a interferência do professor.

É preciso ficar alerta com as limitações dos modelos de cursos com o viés individual, porque, sem a mediação do professor de forma virtual ou presencial, as dúvidas dos alunos, que extrapolam as explicações textuais, podem não ser dirimidas, principalmente, na forma de conceitos, causando sérios problemas na expectativa de curso do alunado.

Portanto, convém perceber que os cursos, nesse modelo individual, exigem um perfil de aluno diferenciado. Em sua maioria, os cursos individuais são mais aceitos por profissionais que já estão atuando no mercado, já possuem afinidades com as novas tecnologias, têm acesso à internet, e querem evoluir na carreira ou são pressionados socialmente por uma qualificação constante.

3.3.2 Modelos de cursos combinados com proposta fechada e alguns momentos de interação

Moran (2011) ressalta que esse modelo de curso tem as mesmas características do curso individual com uma pequena diferença, é colocado à disposição do aluno um tutor ou um orientador on-line, para tirar dúvidas por e-mail ou em alguns horários predeterminados.

São cursos prontos, focados no conteúdo, com algum apoio para dirimir dúvidas, para encaminhamento de trabalhos, mas, fundamentalmente, são direcionados para cada um dos alunos. Uma grande desvantagem dos cursos prontos é a não preocupação com a clientela a que se destina, visto que, criados para atender a uma grande quantidade de alunos distribuídos em localidades geograficamente diferentes, esses cursos não atentam para as especificidades locais, tampouco para as necessidades dos alunos, podendo gerar uma grande desistência dos cursos.

Esse modelo de curso com apoio tutorial no entendimento de Peters (2010),

[...] tem a pretensão de vencer a distância com um texto didático que simula uma conversa de aconselhamento, equivalente a um diálogo de aconselhamento real. Não se trata de alguém responsável pelo ensino, mas, sim, de um fellow, uma espécie de: companheiro, camarada, colega, par, igual ou indivíduo, agregado a universidade, com a função de assessorar estudantes individualmente em questões gerais relacionadas aos estudos, de integrá-los a vida acadêmica. Portanto, tutores não são, propriamente, docentes, mas sim, conselheiros, algo como amigos mais velhos, porque etimologicamente a palavra Tutor vem do latim significando proteção ou protetor. (PETERS, 2010, p. 58, grifo nosso).

Peters (2010) entende que o modelo tutorial parece ser mais adequado a estudantes adultos com tendência ao estudo autônomo, independente, porque não há mediação do professor. Os tutores são pessoas que auxiliam os alunos para que o estudante não fique na solidão.

O entrave do modelo de curso com tutoria é que, em alguns casos, os tutores não conseguem ajudar, academicamente, aos alunos causando desconforto, frustração e decepção quanto à qualidade social do curso, levando, muitas vezes, o educando a desistir do curso por falta de apoio pedagógico, porque se sente muito solitário no percurso, sem estímulo para continuar, principalmente, quando ele compara com a educação presencial em que os alunos estão todos os dias frente a frente com os professores.

Nesse aspecto, é preciso destacar a importância do professor no processo educacional, tendo em vista que ele tem o conhecimento de área e pode planejar a disciplina de acordo com o tempo preestabelecido, conduzindo o aluno a uma relação de compromisso com as suas tarefas, porque a figura do professor já se traduz numa relação de respeito. Mas, o modelo tutorial não tem essa pretensão. Quando o modelo coloca um intermediário para interagir com os alunos, secundarizando a figura do professor, ele tende a se aproximar de um ensino tradicional, agora virtual, pautado em uma metodologia diferenciada por meio do racionalismo técnico-instrumental. No entanto, a essência permanece a mesma: o aluno deixa

de ser um depósito de conhecimentos produzidos pela humanidade para, agora, ser um depósito de informações canalizadas pelo canal de interação virtual, sem nenhuma discussão direta com o professor.

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