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4 EXPANSÃO DOS CURSOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A DISTÂNCIA:

4.3 O curso de administração pública a distância da UFRN: discutindo o projeto

4.3.1 O Projeto Pedagógico: os rumos metodológicos do curso de Administração

Uma análise do projeto pedagógico que traça as diretrizes para implementação do curso de Administração Pública a distância passa a ser essencial, porque, por meio desse documento, é possível identificar quais as suas opções teórico-metodológicas e como essas diretrizes devem se efetivar na operacionalização do curso. Entende-se, portanto, que a metodologia dos processos de operacionalização do curso deve estar em consonância com as diretrizes contidas nesse documento, se constituindo em base fundamental para o modelo de curso concebido.

Uma primeira evidência que se destaca nessa análise e que se considera de suma importância na condução do processo metodológico, foi a retirada da dimensão política que havia no projeto piloto de Administração a distância, mesmo que essa não estivesse explícita como deveria no interior do documento.

A dimensão política seria importante no projeto pedagógico, porque exigiria uma reflexão acerca da concepção de educação e sua relação com a sociedade e a instituição formadora, o que não dispensa uma reflexão sobre o homem a ser formado, a cidadania e a consciência crítica (VEIGA, 2003). Assim, o caminho formativo poderia ser na perspectiva da transformação social sob o pensamento sociológico crítico de Marx e Engels (2003) ou na linha da conservação da ordem social com o pensamento funcionalista de Durkheim (1973).

Para Veiga (2003), o projeto político-pedagógico, ao imprimir uma nova identidade à instituição e aos cursos desenvolvidos, deve contemplar a questão da qualidade de ensino, entendida aqui nas dimensões indissociáveis: a técnica e a política. Dessa forma, uma não está subordinada à outra; cada uma delas tem perspectivas próprias.

A primeira enfatiza instrumentos, métodos e técnicas. A qualidade formal não está afeita, necessariamente, a conteúdos determinados. Demo (1994, p. 14) afirma que a qualidade formal “significa a habilidade de manejar meios,

instrumentos, formas, técnicas, procedimentos distante dos desafios do desenvolvimento”. [...] A qualidade política é condição imprescindível da participação. Está voltada para os fins, os valores e os conteúdos; quer dizer “a competência humana do sujeito em termos de se fazer e de fazer história, diante dos fins históricos da sociedade humana (VEIGA, 2003, p. 14). A opção por uma formação eminentemente técnica refere-se, especificamente, a conteúdos, métodos e objetivos do processo de ensino-aprendizagem. Nessa concepção, a dimensão técnica do projeto pedagógico ganha relevância, conforme os pressupostos da administração escolar clássica, enquanto se esvazia a sua dimensão política.

A retirada da dimensão política do projeto pedagógico deixa uma lacuna no trabalho educativo pela ausência de participação e reflexão coletiva. Tal concepção está aberta ao debate e permite uma leitura da instituição educativa não só como reprodutora das relações sociais, mas também do seu papel na produção e transformação da sociedade.

Essa opção política de retirar a dimensão política do projeto do curso se filia à corrente filosófica funcionalista de Émile Durkheim, visto que ela não se propõe a discussões políticas mais asseveradas. Pelo contrário, ela deseja manter a ordem das coisas sem nenhum questionamento. A intenção é fazer com que as propostas sejam aceitas de forma verticalizada sem nenhuma discussão/reflexão com a base docente, especialmente, no curso de Administração Pública a distância, ratificando a divisão social do trabalho entre aqueles que pensam e aqueles que executam; entre aqueles que governam e os que são governados, entre aqueles que mandam e os que, apenas, obedecem.

O projeto político-pedagógico para o curso de Administração Pública a distância deve ser um documento referencial, construído pela comunidade acadêmica (alunos, professores e servidores) do curso de Administração da UFRN. Esse documento, quando construído coletivamente, assume um compromisso compartilhado na busca dos caminhos a serem percorridos para a formação dos educandos.

Nesse sentido, é importante estabelecer as prioridades do curso, considerando sempre o interesse comum. O trabalho, nessa perspectiva, exige a articulação do coordenador do curso com os diversos segmentos que compõem a comunidade acadêmica. Para isso, o constante exercício do diálogo passa a ser fundamental no jogo político e no pleno exercício democrático para consolidação das relações democráticas no interior da instituição.

Quando a comunidade acadêmica participa, coletivamente, de todos os momentos deliberativos, de forma ativa e efetiva, as ações, no cotidiano, passam a ser de responsabilidade compartilhada e não apenas do coordenador do curso. Desse modo, é estabelecida uma relação dialógica entre o coordenador e demais sujeitos que compõem o

ambiente acadêmico, diminuindo a função de comando e de controle, típico da gestão burocrática, que tem predominado nos últimos anos no interior da academia.

Com isso, compreende-se que a construção coletiva do projeto político-pedagógico vem se tornar importante para o pleno exercício da gestão democrática no interior das Universidades, quando passa a obedecer às fases prescritas por Veiga (2003). Para a autora, essas fases poderiam ser compreendidas em duas: concepção e execução. A concepção deve caracterizar-se em um processo participativo de decisões, e

preocupar-se em instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que desvele os conflitos e as contradições; explicar princípios baseados na autonomia da instituição, na solidariedade entre seus agentes educativos e no estímulo à participação de todos no projeto comum e coletivo; conter opções explícitas na direção da superação de problemas, no decorrer do trabalho educativo voltado para uma realidade específica; explicar o compromisso com a formação do cidadão. (VEIGA, 2003, p. 11).

Quanto à execução do Projeto Político-Pedagógico, a autora revela que este

nasce da própria realidade, tendo como suporte a explicação das causas dos problemas e das situações nas quais tais problemas aparecem; é exequível e prevê as condições necessárias ao desenvolvimento e à avaliação; implica a ação articulada de todos os envolvidos com a realidade da instituição; é construído continuamente, pois, como produto, é também processo, incorporando ambos numa interação possível. (VEIGA, 2003, p. 11).

Nesse sentido, toda e qualquer organização que pretende implantar e desenvolver uma prática de natureza participativa deve ter, por base, o exercício do diálogo. Entretanto, uma das maiores dificuldades para implementação de políticas de participação, é, ainda, a presença da cultura autoritária no interior das instituições nas quais as pessoas não são protagonistas dos destinos da organização institucional, apenas legitimam o que outras pessoas pensam por elas. Esse também é o entendimento de Paro (2002), que considera que os condicionantes institucionais são um dos grandes impeditivos da participação nas instituições públicas.

Concernente à organização democrática no interior das instituições, Paro (2002, p. 45) chama a atenção para o que acontece na instituição pública, onde se constata o caráter hierárquico de autoridade com relações verticais, de mando e submissão, em prejuízo de relações horizontais, favoráveis ao envolvimento democrático e participativo.

Desse modo, é possível ressaltar que o estabelecimento de relações horizontais, no interior das instituições públicas, passa a ser fundamental para uma coordenação de curso comprometida com a democracia e com a formação de profissionais críticos e reflexivos, comprometidos com a cidadania.

O exercício de práticas coletivas e individuais, baseado em decisões tomadas coletivamente, exige liderança e vontade firme para encaminhar os processos deliberativos e garantir que as decisões tomadas, de forma participativa, e com respaldos técnicos e pedagógicos, sejam efetivamente cumpridas por todos. Essa forma de organizar a ação dos sujeitos da instituição é viabilizada pelo projeto político- pedagógico.

O projeto político-pedagógico, enquanto dimensão da gestão democrática, deve ser um instrumento, capaz de orientar as ações na organização acadêmica, cabendo aos coordenadores de curso as prerrogativas relacionadas ao cumprimento dessas ações, que exigem, além de competências técnicas e políticas, condições materiais, recursos humanos e financeiros para a sua execução.

Portanto, todas as ações educativas devem estar em consonância com as diretrizes estabelecidas no PPP, inclusive o caminho a ser percorrido na relação ensino/aprendizagem. Por isso, a metodologia de trabalho concebida deve levar em consideração a visão de homem, de mundo e de sociedade, os princípios filosóficos e sociológicos e, ainda, a concepção de educação prevista nesse documento.

Isso significa dizer que, se a opção teórico-metodológica do curso se pautar no ensino e na aprendizagem, intermediada pelas novas tecnologias da informação e comunicação, com prioridade para a instituição ensinante em detrimento da mediação do professor, a possibilidade da formação integral, politécnica, é quase nula, visto que a concepção de educação já está definida para formar homens para os aspectos mais práticos da vida cotidiana e não para refletir sobre as suas práticas, como ação planejada, articulada, desenvolvida sobre a totalidade do pensamento em todas as suas dimensões sob o princípio da práxis.

4.3.2 A metodologia do curso de Administração Pública a distância: um debate em

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