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2 POLÍTICA DE EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR NA MODALIDADE A

2.2 A influência dos organismos internacionais na política para educação a distância no

2.2.3 O Banco Mundial: um olhar mercantilizado para a educação a distância

A interferência do Banco Mundial24 na educação é ainda recente. Quando da sua criação, o seu objetivo voltava-se à reconstrução de economias destruídas pela guerra e o financiamento a longo prazo para o setor privado. No entanto, as transformações ocorridas no cenário internacional, em especial o estabelecimento da Guerra Fria, levaram a um redirecionamento das políticas de investimento do Banco Mundial e suas atividades foram expandidas para os países da periferia do capital, com a finalidade de integrar esse grupo de nações ao bloco ocidental, fortalecendo a aliança não-comunista.

Segundo Soares (1998), na década de 1950, o Banco Mundial foi adquirindo o perfil de um banco destinado ao financiamento dos países periféricos, tal como ocorre atualmente. De 1956 a 1968, os recursos do Banco voltaram-se, principalmente, para o financiamento da

23 Lei nº 11.079, de 30 de dezembro de 2004. Art. 1o Esta lei institui normas gerais para licitação e

contratação de parceria público-privada no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2004/lei/l11079.htm>. Acesso em: 02/08/2013.

24O Banco Mundial é uma organização fundada em 1944, como resultado da Conferência de Bretton

Woods, que na ocasião do pós-guerra, tinha como preocupação central o estabelecimento de uma nova ordem mundial, sob a hegemonia norte-americana.

infraestrutura necessária e, a partir de 1968, com a ideologia de que o desenvolvimento econômico acabaria com a pobreza, passou a direcionar os seus investimentos na agricultura, sem que no entanto, viesse a ter êxito.

Na década de 70, as ações do Banco Mundial foram influenciadas pelo esgotamento do modelo de acumulação iniciado no pós-guerra e pelo surgimento das teorias neoliberais, que passaram a se constituir no seu alicerce ideológico na definição de políticas globais que vêm fundamentando suas ações desde então. No período compreendido entre 1980 e 1995, o Banco Mundial passa por uma reestruturação nas suas funções tendo em vista a crise de endividamento dos países periféricos. De um banco que tinha como objetivo fazer investimentos, passa assumir a responsabilidade de, além de garantir o pagamento da dívida externa, reestruturar e abrir essas economias ao capital globalizado.

Dessa forma, segundo Castro (2001), o Banco Mundial passa a exercer uma forte influência nos rumos do desenvolvimento mundial, não só pelo volume de empréstimos, mas também pelo caráter estratégico que assumiu no processo de reestruturação neoliberal dos países da periferia do capital. Uma das medidas adotadas pelo Banco Mundial para operacionalização dos seus novos objetivos foi impor uma série de condicionalidades para a concessão de novos empréstimos aos países devedores, usando, como instrumental, os programas de ajustes estrutural25, que condicionavam empréstimos à realização de imposições feitas pelo Banco.

É possível identificar diferenças de estratégias entre a Unesco e o Banco Mundial, enquanto órgãos formuladores e disseminadores de políticas educacionais. Enquanto a Unesco difunde as diretrizes oriundas dos intelectuais, na sua maioria, economistas mantidos pelo Banco Mundial, conforme Torres (apud HADDAD 2008, p. 10) universalizando o receituário único como orientação para reformas educacionais nos países periféricos, dentre elas, a educação a distância, o Banco Mundial firma o seu propósito em fornecer empréstimos vinculando-os a orientações políticas.

É possível constatar algumas intencionalidades nas políticas desses organismos: a primeira é o propósito de difundir a informática e seus derivados como eixo de consumo dos países periféricos; a segunda é a necessidade de fazer com que os países periféricos implementem políticas de austeridade, por meio de reformas estruturais, com o objetivo de fazer com que os países alcancem as metas do superávit primário.

25Denominados SAPs – os ajustes estruturais constituem-se em novas modalidades de empréstimos

não vinculadas a projetos, mas sujeitos a condicionalidade ampla e severa de cunho macroeconômico e setorial – que passaram a ser geridos pelo Banco Mundial a partir do início dos anos 80 (SOARES, 1998, p. 21).

A influência dos organismos internacionais, nas políticas para o ensino superior brasileiro nas IES privadas, contribui para a massificação e a mercantilização. (LIMA, 2006). A mesma lógica acontece nas IES públicas, onde a massificação do ensino e a certificação em larga escala se fazem presentes como função norteadora das políticas dos organismos internacionais e do setor de serviços educacionais com os modelos de cursos economicistas, principalmente, na educação a distância.

Convém destacar que essas diretrizes não são impostas de fora para dentro ou de uma pretensa autonomia dos empresários do setor educacional, mas de políticas governamentais, visando atender aos interesses dos empresários locais e internacionais, sob a conivência da maioria do congresso nacional brasileiro. Isso é constatado quando os governos nacionais assumem as orientações contidas nos documentos, subscritos nos eventos internacionais, e introduzem em suas agendas políticas, transformando-os em políticas públicas.

Dentre os documentos que mais influenciaram as políticas para educação a distância na região, destacam-se: a) O ensino superior: as lições derivadas da experiência. (BANCO MUNDIAL, 1995); b) Educação superior nos países em desenvolvimento: perigos e promessa. (BANCO MUNDIAL; UNESCO, 2000).

No documento - o ensino superior: as lições derivadas da experiência (BANCO MUNDIAL, 1995) - a instituição propõe um conjunto de estratégias para a reformulação da educação superior na América Latina, na Ásia e no Caribe. Em todas as estratégias, o ensino superior a distância aparece como elemento central das políticas do Banco para essas regiões (LIMA, 2007). Dentre as principais diretrizes desse documento, destacam-se: fomento de uma maior diferenciação das instituições (ampliação das instituições privadas); diversificação das fontes de financiamento das instituições públicas, com a participação dos estudantes nos gastos com a educação; redefinição do papel do Estado no que tange ao ensino superior.

Conforme Sguissardi (2000), essas diretrizes foram grandes indutoras das políticas de diferenciação e diversificação do ensino superior tanto para o Brasil como para os países vizinhos. Aponta como alternativa para as políticas de ensino superior uma maior diferenciação e a criação de instituições não universitárias e instituições privadas, que seriam mais adequadas para atender às necessidades do mercado.

De certo modo, a nova configuração da política educacional para o ensino superior no Brasil incorpora algumas diretrizes dos organismos internacionais, por se tratar de um modelo de ensino superior mais flexível, no sentido de ser mais rápido e realizado, na sua maioria fora do âmbito das IES.

Segundo Castro (2005), essas políticas seguem as diretrizes apontadas pelo Banco Mundial quando a instituição reconhece que, no terceiro grau, há a possibilidade de emprego do uso das tecnologias disponíveis no mercado, independente dos recursos humanos, o que levaria, a longo prazo, a substituição, pelo menos em parte, do papel do professor.

Relata, ainda, a opinião economicista do Banco Mundial quando ressalta que os cursos realizados por meio de correspondências, cursos interativos de alta qualidade, que seriam transmitidos diretamente do local de trabalho, resultariam em redução de custos, proporcionando maior eficiência e democratização do saber, uma vez que uma maior quantidade de estudantes teria mais acesso ao conhecimento.

Esse conjunto de orientações dos organismos internacionais para educação superior favoreceu, sobremaneira, a ampliação dos cursos de curta duração nas Instituições de Ensino Superior – IES, a expansão do ensino superior, via educação a distância, e a ampliação da oferta de ensino superior pelo setor privado.

Nesse sentido, o Banco Mundial e a Unesco se uniram e encomendaram um trabalho em conjunto cujo resultado foi consolidado no documento Educação superior nos países em desenvolvimento: perigos e promessas. (BANCO MUNDIAL, 2000). Esse trabalho teve a pretensão de responder a três questões sobre a educação superior dos países da periferia do capital: a) qual é o papel do ensino superior no apoio e promoção do desenvolvimento econômico e social? b) quais são os principais obstáculos enfrentados pelo ensino superior nos países em desenvolvimento? c) qual é a melhor maneira de superar esses obstáculos? Como não se pretende aprofundar uma discussão sobre as conclusões desse documento, procurar-se-á, apenas discutir as diretrizes concernentes às orientações para o uso da informática e seus derivados no continente latino-americano, especialmente, na educação a distância.

O documento apresenta, na primeira parte, o cenário global; na segunda parte, incita uma discussão acerca dos temas-chave para a América Latina abordados no documento quais sejam: a natureza do bem público da educação superior e seu financiamento; Ciência e Tecnologia e a participação dos países em um mundo do conhecimento.

É notório que o documento em questão aprofunda a discussão sobre a informática e seus derivados no continente latino-americano, sob o pretexto da globalização, especialmente, pelo processo de difusão das TIC, particularmente das tecnologias de redes, buscando esclarecer em que medida e com que profundidade a utilização das novas tecnologias da informação e comunicação mudará os contextos em que a educação deverá se desenvolver na região.

Para isso, apresentam cinco dimensões em que as transformações em curso são relevantes, representando, portanto, um desafio para o século 21: 1) acesso à informação; 2) corpo de conhecimento; 3) mercado de trabalho; 4) disponibilidade NTIC para a Educação Superior; e 5) mundos da vida. As pretensões dos organismos internacionais não deixam dúvidas, no tocante à educação superior, que seria difundir, ao máximo, a necessidade de utilização das TIC como instrumento para o desenvolvimento econômico dos países em fase de crescimento, porque, na sociedade do conhecimento, a informação passa a ser um valioso instrumento que precisa ser canalizado para o mercado, visto por esses organismos, representantes dos países centrais do capitalismo, como um espaço a ser mercantilizado na região. Nesse sentido, o documento é enfático:

a inovação é a base do desenvolvimento dos países. É o motor do crescimento econômico e manter a competitividade no cenário global, é uma condição para que as sociedades promovam a mudança e possam adaptar-se a ela. [...] Em termos gerais, as inovações têm a ver com novas ideias e sua implementação. Elas são o resultado de atividades criativas em geral. Elas podem ocorrer em qualquer setor da sociedade, não só na economia. Há inovações na educação, na organização dos serviços de saúde, arte e cultura. Todos são importantes para a sociedade. [...] No contexto de economia, as inovações são as atividades através das quais as empresas ou um país, passaram a dominar, e implementar, produtos ou processos que são novos para eles. Também podem incluir a abertura de novos mercados, criando novas fontes de fornecimento de matérias-primas e outros insumos, mudanças na organização industrial, implementação de novas técnicas de gestão, criando novos projetos, etc. (BANCO MUNDIAL, 2000, p. 22). A promoção de um padrão de consumo pela inovação e não pela produção tecnológica, proposto pelos organismos internacionais, para utilização das TIC na sociedade do conhecimento, faz parte de uma lógica mercantil de subserviência, em que os países periféricos ficariam dependentes, permanentemente, da produção tecnológica dos países produtores de tecnologias, especialmente, na educação a distância.

Para Haddad (2008, p. 102), no âmbito da OMC, ao contrário dos países em desenvolvimento, muitos países desenvolvidos, tais como os países da União Europeia, têm interesses ofensivos no setor da educação. Muitos deles veem grandes oportunidades comerciais no ensino a distância, no estabelecimento de campus no exterior ou na importação de professores e pesquisadores. Para os organismos internacionais,

nas condições de hoje, nenhum país pode ser altamente competitivo sem expandir as suas capacidades de inovação. Estes permitem aos países participar – ativamente como receptores – da revolução tecnológica em curso. Na verdade, existem nações que estão ligados à máquina tecnológica global, por serem elas mesmas os centros inovadores do mundo. Em outros casos, os países se conectam facilitando a transferência de tecnologias e

rápida difusão de inovações, que são produzidas em outras partes do mundo. (BANCO MUNDIAL, 2000, p. 23).

As diretrizes do Banco Mundial e da Unesco, no seu conjunto, conduziram muitos países latino-americanos, especialmente, o Brasil a implementar reformas na educação superior, utilizando a educação a distância como estratégia para expansão nesse nível educacional. A insistência desses organismos na difusão das novas tecnologias, como ferramentas de trabalho para o desenvolvimento econômico, abriu a possibilidade de um mercado bastante promissor na educação a distância, segundo esses organismos internacionais, o que favoreceu a implantação da EAD, a partir na década de 1990, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9.394/96.

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