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3 CONCEPÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS E OS MODELOS DE

3.4 O projeto político-pedagógico: diretrizes para ação educativa

O projeto político-pedagógico de um curso na modalidade a distância deve ser concebido para ser a diretriz a ser seguida por todos aqueles que fazem parte da instituição educativa. Por isso, ele deve ser construído coletivamente, com a participação de todos aqueles envolvidos no processo educativo. É o que prescreve grande parte dos autores que trabalham nessa linha de estudo; dentre os quais, destacam-se os trabalhos de: Veiga (1996; 2001); Veiga e Fonseca (2006); Veiga e Resende (2003) e Gandin e Gandin (1999).

Entretanto, o que se constata, na atualidade, são projetos políticos-pedagógicos sendo concebidos, nacionalmente, sem a participação dos sujeitos envolvidos no processo educacional, para atender experiências pilotos na educação a distância, principalmente, nas Instituições de Ensino Superior Federais. Entre essas experiências, está o curso de Administração a distância da UFRN, que, após a experiência piloto se firmou como curso regular; agora, sob a denominação de Administração Pública.

O PPP, principalmente, em uma gestão democrática caracteriza-se desde a sua concepção por analisar coletivamente o contexto filosófico, socioeconômico, político e cultural em que a instituição está inserida, estabelecendo, a partir dessas reflexões, a concepção de homem, de sociedade e de mundo que se almeja. Será com base nessas questões que a instituição definirá a concepção de educação e o modelo de curso, o que demandará outras necessidades em plena consonância com o documento, desde as questões didáticas aos materiais a serem utilizados.

Por isso, o PPP se qualifica como fundamental para a gestão democrática na instituição pública, devendo obedecer ao prescrito por Gandin (1999) e Veiga (2003). Para eles, a concepção do PPP deve caracterizar-se em um processo participativo de decisões, além de: [...] preocupar-se em instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que desvele os conflitos e as contradições; explicar princípios baseados na autonomia da instituição educativa (grifos nossos), na solidariedade entre seus agentes educativos e no estímulo à participação de todos no projeto comum e coletivo; conter opções explícitas na direção da superação de problemas, no decorrer do trabalho educativo voltado para uma realidade específica; explicar o compromisso com a formação do cidadão. (VEIGA, 2003, p. 11).

Para a autora, a execução de um projeto de qualidade nasce da própria realidade, tendo, como suporte, a explicação das causas dos problemas e das situações nas quais tais problemas aparecem; é exequível e prevê as condições necessárias ao desenvolvimento e à avaliação; implica a ação articulada de todos os envolvidos com a realidade da instituição; é construído continuamente, pois, como produto, é também processo, incorporando ambos numa interação possível. (VEIGA, 2003).

No entanto, na maioria dos cursos de educação a distância, os projetos pedagógicos não têm considerado a realidade dos alunos; eles são elaborados para atender a uma grande e diversificada quantidade de alunos, não conseguindo, por isso, atender às especificidades locais e individuais, porquanto são feitos para atender de forma massificada.

Toda e qualquer organização que pretende implantar e desenvolver uma prática de natureza participativa deve ter por base o exercício do diálogo. Portanto, o PPP de um curso de educação a distância deveria prever metodologias que incentivassem o diálogo entre alunos, tutores e professores contribuindo, dessa forma, para a sua formação de cidadão ativo e participante na sociedade.

No entanto, uma das maiores dificuldades para desenvolver políticas de participação, é, ainda, a cultura autoritária presente nas instituições, onde as pessoas não são protagonistas dos destinos das organizações, mas, apenas, legitimam o que outras pessoas pensam por elas. Esse também é o entendimento de Paro (2002), o qual considera que os condicionantes institucionais constituem um dos grandes impeditivos da participação nas instituições educativas públicas. Logo, em face da atual organização formal da instituição pública, pode- se constatar o caráter hierárquico da distribuição de autoridade, que visa ao estabelecimento de relações verticais, de mando e submissão, em prejuízo de relações horizontais, favoráveis ao envolvimento democrático e participativo.

Com relação aos espaços decisórios, como ingredientes para construção/reconstrução do PPP, Vieira (2007) esclarece que na gestão,

por menores que sejam as mudanças pretendidas, atingem pessoas, corporações. Mudar nunca é simples, o que pode ser detectado nas coisas mais elementares: desde a simples cor de uma parede até a inclusão ou retirada de uma disciplina. Isto para não falar de vantagens corporativas. Gente é assim. Resiste. Reage. Faz corpo mole. Abandona o gestor na primeira medida antipática à vontade da maioria. E gestão se faz em interação com o outro. Por isso mesmo, o trabalho de qualquer gestor ou gestora implica sempre em conversar e dialogar muito. Do contrário, as melhores ideias, também se inviabilizam. Embora o diálogo seja um instrumento fundamental na obtenção dos consensos necessários à construção das condições políticas, há outros ingredientes que alimentam este processo. A negociação é outro componente importante desse processo porque gestão é arena de interesses contraditórios e conflituosos. (VIEIRA, 2007, p. 59).

No que se refere ao modo de gerir os processos de trabalho na instituição educativa pública, a negociação passa a ser uma estratégia para estabelecer os possíveis consensos. Por isso, o exercício de paciência e do diálogo com os diversos segmentos da comunidade acadêmica é de fundamental importância, porque, quando não há participação e envolvimento nas deliberações para construção/reconstrução do PPP, não há compartilhamento de responsabilidades, não há comprometimento com as diretrizes estabelecidas no documento. Logo, a probabilidade de êxito na execução do projeto é ínfima. Isso fica bastante explícito nos cursos superiores em que os coordenadores insistem em gerir sozinhos, sem a consulta a seus pares no interior das instituições. Cada professor realiza as suas tarefas, muitas vezes isoladas, em dissonância com as diretrizes estabelecidas no documento direcionador das ações educativas.

Nesse sentido, é preciso enfatizar que o PPP, enquanto dimensão da gestão democrática, deve ser um instrumento capaz de orientar as ações, (re)ações e difusões no meio acadêmico a fim de que possa durar o tempo necessário para atender às demandas do mundo acadêmico em determinado tempo histórico.

Coincidentemente, os PPP mais duradouros predominam semelhanças importantes: foram construídos por gestões colegiadas de educadores críticos e progressistas (ROSSI, 2004). São projetos comprometidos com o social e não, apenas, com o mercado. O autor acentua, ainda, que os PPP emancipadores são democráticos em seus princípios e propósitos, integradores e tolerantes com as diferenças (transculturais) universalistas em sua intenção e abrangência (transnacionais) para estender a todos os indivíduos condições concretas de autonomia política, econômica e intelectual.

Cumpre ressaltar que a intenção do processo educativo é o desenvolvimento integral, não apenas no aspecto cognitivo, mas também nos aspectos afetivos e sociais, em uma perspectiva emancipatória, protagonizada pelos sujeitos e suas coletividades. Esse deve ser o sentido do PPP, um documento que deve buscar assumir que os sujeitos concretos, por suas práxis objetivas, produzem a realidade enquanto sujeitos histórico-sociais de seu tempo.

O projeto político-pedagógico do curso é um documento também onde devem ser definidas as concepções teórico-metodológicas dos cursos, as opções pelo modelo de sociedade que se almeja alcançar e o tipo de homem que se quer formar. Dessa escolha, derivam as metodologias, os tipos de curso, a estrutura e a organização.

Entende-se que não há possibilidade de construção do projeto político-pedagógico sem uma discussão exaustiva sobre as concepções teórico-metodológicos da educação. Essas questões precisam ser abordadas de forma coletiva, para que todo(a)s possam expor suas posições políticas sobre o modo como veem o mundo, a sociedade e o homem. Essa ação tem início nas discussões de concepções e culmina com a ação educativa em todos os espaços laborais.

Para isso, faz-se necessária a participação ativa e efetiva dos atores que compõem a instituição educativa. O estudo permite, ainda, concluir que, a partir das definições de homem e de sociedade, é possível apontar para a concepção de educação a ser estabelecida, podendo expressar uma educação para conservação da ordem social ou, ainda, para transformá-la.

Nesse sentido, a modalidade educacional a distância irá se filiar, metodologicamente, aos princípios estabelecidos pelo coletivo em seu documento principal, o projeto político- pedagógico. O modelo de curso que dará respaldo as orientações contidas nesse documento será, metodologicamente, orientado por uma abordagem pedagógica que garanta, objetivamente, a implementação do documento construído coletivamente.

Verifica-se, também, que nem sempre essas discussões são efetivadas, na prática. Atualmente, as abordagens pedagógicas, utilizadas na modalidade a distância, se pautam, preferencialmente, em um viés economicista, instrumentalista e técnico, vinculada a uma educação sob o aspecto conservador, sob orientação dos organismos internacionais (Unesco e Banco Mundial), o que não elimina um olhar reflexivo acerca de uma formação para transformação social, visto que a sociedade é dinâmica, e as instituições de ensino superior estão sempre em movimento.

4 EXPANSÃO DOS CURSOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A DISTÂNCIA:

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