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5 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA ENTRE OLHARES DIVERSOS: O CURSO DE

5.1 A política e a expansão da EAD sob o olhar dos coordenadores do curso

5.1.1 A educação a distância no contexto da expansão do ensino superior pós LDB

5.1.1.2 Modelos de educação a distância priorizados no Brasil para expansão dos cursos de

As instituições educativas têm ofertado, no território nacional, cursos dos mais variados modelos, dependendo dos objetivos de cada instituição. Nas instituições privadas onde prevalece a lógica do mercado, os modelos de EAD, na maioria, são organizados para que os estudantes interajam muito mais com as tecnologias do que com tutores e professores, enquanto, nas instituições públicas, os modelos se pautam, em sua maioria, na formação humana. Nesse sentido, os modelos de cursos podem ser organizados com maior ou menor interatividade entre alunos, professores e tutores.

Na linha dessa discussão, pode-se evidenciar, nas falas dos coordenadores entrevistados, que há uma discrepância entre o funcionamento de cursos no sistema público e no privado, uma vez que os seus objetivos são diferentes. Nesse sentido, as falas dos sujeitos da pesquisa esclarecem qual é o entendimento que eles têm sobre a forma como os cursos de EAD são estruturados. A opinião do coordenador local A é muito objetiva, quando afirma que o modelo de curso, priorizado no Brasil, é o semipresencial. Para ele,

o modelo semipresencial. [...] que é usado pela UAB, que é esse modelo do PNAP58, do curso de administração pública, foi muito bem pensado, muito

bem planejado, muito bem estruturado. A gente oferece essa forma de ter tutor a distância formando a equipe do professor e um tutor presencial para dar suporte. (INFORMAÇÃO VERBAL)59.

Na opinião do coordenador A, o curso de Administração Pública a distância foi pensado e planejado considerando a interação dos alunos por meio de uma equipe composta

58PENAP - Programa Nacional de Administradores públicos.

pelos professores e tutores a distância e presencial. Na opinião do coordenador, essa é a fórmula ideal para o curso de Administração. Ele sugere que esse modelo seja aplicado na sala presencial, se referindo à estrutura de curso, que oferece tutor a distância como parte da equipe do professor e um tutor presencial como suporte.

Na verdade, dentre as concepções teórico-metodológicas estudadas, ensino e aprendizagem com maior mediação e interatividade, são características próprias do construtivismo em que o aluno constrói seu caminho de forma autônoma sob a orientação do professor. Nesse sentido, o modelo semipresencial, é o que mais se aproxima dessa abordagem pedagógica, porque prevalece maior mediação e interatividade, caracterizadas pela literatura por cursos mistos, híbridos ou blended learning, numa busca constante pela convergência ou harmonização entre o virtual e o presencial.

No entendimento de Tori (2010, p. 27), se, por um lado, a “educação convencional” sempre lançou mão de atividades não presenciais como parte de seu programa; por outro lado, é cada vez mais comum a existência de encontros presenciais ao vivo em cursos que se denominam “a distância”. Para o autor, com a ajuda das tecnologias interativas, as atividades virtuais estão conseguindo aumentar a sensação de proximidade.

Com uma opinião diferente, o coordenador local B anuncia que não existe um modelo de EAD a ser seguido, porque, na verdade,

[...] a EAD no Brasil está engatinhando e as pessoas ainda estão procurando. Não tem um modelo único, os modelos são diversos. [...] O modelo atual tenta ser uma cópia do presencial. No momento é o que acontece. É aquela história de você usar a tecnologia, usando coisas novas para fazer coisas velhas. [...] existe a tendência de sair do instrumentalismo, porque todo mundo sabe que é uma crítica na educação a distância. (INFORMAÇÃO VERBAL)60.

As opiniões em foco retratam várias faces dos programas de EAD, implementados no Brasil, que, desde as suas primeiras iniciativas, vêm copiando modelos de países mais avançados tecnologicamente, com mais experiência com essa modalidade educacional, com destaque para os modelos oriundos dos Estados Unidos e Austrália.

Para Belloni (2009), de modo geral, as universidades abertas se organizam segundo modelos mais ou menos industriais de produção e distribuição de cursos, apostando na economia de escala para otimizar os altos investimentos iniciais necessários à sua implantação.

Assim, o caráter excessivamente centralizado, burocratizado e hierarquizado com ênfase na produção e distribuição de materiais, bem como a sua pouca flexibilidade, decorrente de economia de escala, vem dificultar a atualização de seus cursos e o atendimento de novas demandas. Por isso, é comum se ver a adaptação do ensino presencial para o virtual, devido a sua implementação ser mais econômica.

Todavia, é importante ressaltar que o coordenador local B aponta uma mudança no comportamento daqueles que conduzem a EAD, em face da problemática referenciada, pois percebe que “[...] há uma preocupação de que o material didático seja dialógico, dê o espaço para o aluno pensar [...] existe essa preocupação de não repetir o que faz simplesmente no presencial a distância”.

Esse posicionamento mostra que o entrevistado considera que a EAD tem evoluído ao longo dos anos; no início da sua utilização, era grande o uso de materiais instrucionais nos quais não havia espaço para o diálogo, os materiais, na sua grande maioria, respondiam a uma forma tecnicista de estímulo e resposta, identificados pela instrução programada.

Na atualidade, há essa preocupação em instituir atividades que levem o aluno a problematizar, porém essa não é a realidade da maioria dos cursos. A preocupação em elaborar um material mais interativo e que possibilite o diálogo, no nosso entendimento, deve ter ocorrido entre a coordenadora e seus pares, por ocasião do planejamento do curso, mas isso não tem se refletido na metodologia do curso, porque as atividades são por intermédio das tecnologias, havendo pouca interação dos professores com os alunos. O que há é a transposição do modelo presencial para o modelo a distância, bem característico da escola nova, vindo a influenciar o construtivismo com a predominância dos meios em detrimento dos fins.

Schlemmer (2010) chama a atenção sobre as diversas formas de interação em espaços virtuais, a partir dos novos paradigmas de ensino e de aprendizagem na era digital. A autora faz uma reflexão: se inovar é fazer diferente,

[...] como pensar em inovação tecnológica quando parte significativa das ações de formação e de capacitação se evidencia enquanto “transposição” de “modelos” de ações de um mundo físico-analógico para um mundo digital virtual? As propriedades e características dos meios digitais virtuais são as mesmas dos analógicos? Quais são as limitações e potencialidades das tecnologias digitais virtuais para a educação. De que tipo de inovação precisamos? (SCHLEMMER, 2010, p. 70-71).

Essa é a grande questão. Será que é importante inovar, fazer diferente, ou participar da construção de algo novo? A saída da concepção instrumentalista, apontada como tendência

pelo coordenador local B não parece se sustentar nos cursos de forma geral. Pelo contrário, a cada dia, se percebe a industrialização dos processos educacionais via educação a distância, principalmente, pela destacada entrada das universidades estrangeiras no mercado nacional, atendendo a milhares de alunos nessa modalidade educacional. E se a ideia principal dos países centrais era a procura por novos mercados, isso viria a se confirmar, como já dito no primeiro capítulo deste estudo, como algo previsível.

Nesse contexto histórico, Lima (2004) chama a atenção para as armadilhas de um fetiche tecnológico, pois o movimento do capital em busca de novos mercados e novos campos de exploração comercial impulsionam-no a conceber a totalidade da vida social como potencialmente lucrativa. Ela acrescenta que o uso das TIC não configura uma sociedade pós- mercantil, pois, na ótica do capital, a informação e as novas tecnologias são transformadas em mercadoria.

Isso significa dizer que existe pouca margem para mudanças nos modelos de EAD no Brasil, visto que essa modalidade educacional tem se constituído, no cenário dos negócios internacionais, como vantajosa economicamente, tanto no público, pela expansão a baixo custo, quanto no privado, por ser muito rentável e a custo mínimo de manutenção.

Nessa linha de pensamento, de ensino massificado, o coordenador nacional C situa que existe uma tendência muito grande e até uma preponderância de um modelo de EAD baseado em internet, no Brasil, utilizando ambientes virtuais de aprendizagem. Para ele,

[...] os grandes grupos internacionais estão chegando e eles vêm com boas tecnologias da informação e da comunicação, e, via de regra, menor atenção ao aluno, é o que me parece, na atenção do próprio professor, talvez um ensino muito baseado em uma tutoria que fica por conta de tutor, que muitas vezes poucos capacitados. [...] a própria educação a distância é massificada. Ela foi implantada no primeiro momento pensando em atingir, massificar. Não é massificar em uma forma pejorativa da palavra. É massificar para abranger maior número de alunos, isso não quer dizer, não é sinônimo de baixar a qualidade de ensino. (INFORMAÇÃO VERBAL)61.

É fundamental que os cursos, na modalidade educacional a distância, mesmo aqueles quase que totalmente a distância, com pouca interação, tenham um compromisso com a formação, tendo em vista que o marketing de qualquer curso é a satisfação dos usuários com o curso em todas as suas dimensões. Nesse sentido, o ensino e a aprendizagem precisam acontecer de forma satisfatória para conseguir êxito no processo educacional. A busca pela qualidade deve ser perseguida sempre.

Para a coordenadora nacional C, massificar não é sinônimo de baixa qualidade, mas de ampliação de atendimento educacional a um expressivo número de pessoas, como se fosse possível conciliar massificação com qualidade. Nesse sentido, os referenciais de qualidade para educação superior a distância (2007) destacam que

[...] embora a modalidade a distância possua características, linguagem e formato próprios, exigindo administração, desenho, lógica, acompanhamento, avaliação, recursos técnicos, tecnológicos, de infraestrutura e pedagógicos condizentes, essas características só ganham relevância no contexto de uma discussão política e pedagógica da ação educativa. [...] um projeto de curso superior a distância precisa de forte compromisso institucional em termos de garantir o processo de formação que contemple a dimensão técnico-científica para o mundo do trabalho e a dimensão política para a formação do cidadão. (BRASIL, 2007, p. 7).

Todavia, nem sempre isso ocorre. Para o coordenador nacional existe uma diferença entre o público e o privado no que tange a qualidade de ensino. Para ele,

[...] normalmente no ensino federal existe uma cobrança pela própria cultura da Universidade Federal e de seus professores em termos de se manter uma qualidade de ensino, se prima pela qualidade do ensino. Talvez esse seja nosso objetivo maior, trazer um ensino de qualidade. [...] Quando você passa para iniciativa privada, talvez, o discurso é de qualidade de ensino, mas esse é o discurso, na prática é outro. [...] A ideia é ofertar cursos de graduação para que aquele negócio seja sustentado, para aquele negócio dá lucro. Então, no ensino particular a gente não vê como meta maior o ensino de qualidade, você vê como meta ofertar cursos de graduação na qualidade possível. [...] Não estou dizendo que na iniciativa privada não temos bons cursos de EAD, nós temos bons cursos de EAD, só, obviamente, na iniciativa privada, entra um fator importantíssimo que se chama sustentabilidade daquele negócio. (INFORMAÇÃO VERBAL)62.

Nessa perspectiva, a EAD passa a ser um grande negócio na sociedade do conhecimento, enquanto os modelos de negócios nas relações de produção capitalistas precisam ser sustentáveis. Nesse sentido, não se pode conceber um modelo de curso com poucos alunos por professores/tutores, porque é preciso sustentar, também, o modelo de negócio.

Isso se torna um desafio constante para os cursos de EAD e o curso de Administração Pública a distância vem enfrentando essas dificuldades, considerando que a EAD, em cursos superiores, é relativamente nova e não se ter conhecimentos dos modos adequados de ensino e aprendizagem em uma universidade virtual plenamente desenvolvida, capaz de atender aos diversos interesses na sociedade capitalista. (PETERS, 2009).

O que há são ensaios, experimentos, projetos pilotos de EAD, muito embrionários, que precisam de inúmeras pesquisas para se consolidar como objeto de estudo do campo educacional. A discussão sobre os modelos de EAD faz parte do processo histórico dessa modalidade educacional e deve ser direcionada a partir da concepção de educação, de homem, e de sociedade, estabelecida nos projetos político-pedagógicos dos cursos.

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