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A FACULDADE DE MACAPÁ E SUA INCORPORAÇÃO PELO GRUPO KROTON EDUCACIONAL: O NOVO CENÁRIO INSTITUCIONAL DA FAMA/KROTON

CAPÍTULO 3 PRIVATIZAÇÃO MERCANTIL E GESTÃO ACADÊMICA: DA PAIXÃO POR EDUCAR À PAIXÃO POR LUCRAR

3.3 A FACULDADE DE MACAPÁ E SUA INCORPORAÇÃO PELO GRUPO KROTON EDUCACIONAL: O NOVO CENÁRIO INSTITUCIONAL DA FAMA/KROTON

Figura 5: Imagem da nova fachada da FAMA/KROTON

A Faculdade de Macapá faz parte do grupo Kroton Educacional S.A, uma empresa privada do ramo da educação, com trajetória de mais de cinco décadas, por meio da marca Pitágoras, na prestação de serviços educacionais, com várias unidades de ensino distribuídas pelos estados brasileiros. Dentre as Instituições de ensino superior que agregam o grupo, estão a ANHANGUERA, FAMA, PITÁGORAS, UNIC, UNIME, UNOPAR e UNIDERP.

A Faculdade de Macapá (FAMA) se inseriu num movimento de transição de uma faculdade privada sem fins lucrativos para uma condição estatutária privada comercial, isto é, passava a fazer parte do conjunto da categoria administrativa ‘particular em sentido estrito’, com fins lucrativos. A movimentação dos registros no Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis (SIREM), na Junta Comercial do estado do Amapá chama a atenção. São pelo menos 23 registros de alterações no nome da empresa União de Faculdades do Amapá Ltda., que é a mantenedora da Faculdade de Macapá. A seguir vamos conhecer como se deu o processo de incorporação da FAMA pelo grupo Kroton Educacional S.A..

A FAMA tem como mantenedora a União de Faculdades do Amapá Ltda., que foi constituída em 08 de junho de 2001 sob a natureza jurídica de Direito Privado. Em 01 de dezembro de 2003, a mantenedora União de Faculdades do Amapá altera a sua natureza jurídica para tornar-se “associação civil sem fins lucrativos”, privada, e retira “limitada” do seu nome social. Essa mantenedora realizou a fusão com um grupo denominado IUNI Educacional Ltda36, que passou a ser representante da União de Faculdades do Amapá, ambas são mantenedoras. Em 10 de outubro de 2005 uma nova alteração é realizada, na sua natureza jurídica, que volta a ser uma empresa “limitada”, e é registrada com o nome “União de Faculdades do Amapá Ltda.” Em 11 de março de 2010, por meio do grupo IUNI, a União de Faculdades do Amapá se associa com a União Metropolitana para o Desenvolvimento da Educação e Cultura Ltda. (UNIME), de natureza jurídica “sociedade limitada”, que neste mesmo Ato contínuo o IUNI transfere uma única quota para o Sr. Altamiro Galindo e sai da sociedade, transferindo todas as quotas restantes para a União Metropolitana para o Desenvolvimento da Educação e Cultura Ltda. (UNIME). A UNIME e o Sr. Altamiro, sendo os únicos sócios agora, da União de Faculdades do Amapá Ltda, alteram o contrato social garantindo como fiança a União de Faculdades do Amapá Ltda, para entrar nas obrigações

36 Fazem parte do grupo IUNI: Universidade de Cuiabá (UNIC), Universidade de Rondônia

(UNIRONDON), União Metropolitana de Educação e Cultura (UNIME); Sociedade Mantenedora de Ensino e Cultura de Primavera do Leste Ltda.; Sociedade Mantenedora de Ensino Superior de Primavera do Leste Ltda.; União de Faculdades do Amapá Ltda.; União de Escolas de Ensino Superior Brasileiras Ltda (UNIBRAS);

assumidas pela Editora e Distribuidora S.A., que é uma “sociedade anônima de capital fechado”, que realiza contratos de compra e venda de participações em sociedades. A Editora e Distribuidora Educacional S.A., em 12 de março de 2010, ingressa na sociedade e decidem reformular o contrato social. (JUCAP, 2020)

Em 11 de agosto de 2011, a Editora é uma sociedade anônima de capital fechado, a UNIME uma sociedade empresária Ltda e o IUNI passa a ser, uma sociedade por ações. A Editora transfere sua única quota para o IUNI Educacional S/A. As únicas sócias da União de Faculdades do Amapá Ltda. são a UNIME e o IUNI, este último tem aumentado o seu capital social vertiginosamente, a partir de 2011. Em 01 de abril de 2016 uma nova alteração jurídica no contrato social da União de Faculdades do Amapá Ltda, dessa vez, a alteração foi de transferência de mantenedora, do IUNI Educacional S/A para IUNI UNIC Educacional Ltda. Em 18 de abril de 2018 incluiu no seu objeto social “correspondentes de instituições financeiras”. E, em 17 de dezembro de 2018 foi o último registro de mudança, a sócia IUNI UNIC Educacional Ltda foi incorporada pela sociedade Editora e Distribuidora Educacional S.A. (JUCAP, 2020)

Dessa forma, a Kroton Educacional S.A, que é uma companhia de capital aberto, controla a Editora e Distribuidora Educacional S.A, que é a sociedade anônima de capital fechado que realizou a incorporação da FAMA, por meio, da compra da mantenedora União de Faculdades do Amapá Ltda, uma sociedade empresária limitada. Logo, a Faculdade de Macapá passa a pertencer ao grupo Kroton Educacional S/A, e aqui, vamos denominar FAMA/KROTON, para se referir à FAMA após ser adquirida pelo Kroton.

A partir da incorporação da Faculdade de Macapá pelo grupo Kroton muitas mudanças vêm ocorrendo, gerando contínuos processos de transição que foram alterando a realidade da Faculdade em termos de sua política institucional, com impactos diretos na gestão acadêmica. A mantenedora, União de Faculdades do Amapá Ltda., tem como objeto social, registrado no Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis (SINREM), os seguintes serviços:

(1) A prestação de serviços educacionais, culturais e científicos, em todos os níveis, mantido de acordo com as exigências dos sistemas de ensino federal, estadual e municipal; (2) A participação em sociedades de qualquer natureza, na qualidade de sócia ou quotista; (3) Exercício de qualquer atividade relacionadas às atividades descritas acima; e (4) Correspondente de instituições financeiras. (SINREM, 2018. Grifo nosso)

Com essa alteração, a mantenedora tornou-se empresa privada mercantil, passando a reger-se pela lei das sociedades limitadas e, supletivamente, em caso de omissão, pela lei das sociedades de ações, o que lhe permite estabelecer relações com outras ‘sociedades’ - e foi o que aconteceu, como já demonstrado anteriormente.

Já nos registros do Ministério da Educação, a transferência de mantença da Faculdade de Macapá da União de Faculdades do Amapá Ltda. para a Editora e Distribuidora Educacional S/A demorou a ocorrer desde a sua incorporação pelo grupo Kroton.

Figura 6: Portaria de transferência de mantença no MEC

A transferência ocorreu, como um ato adicional a um processo de credenciamento que estava em andamento, de acordo com a emissão da Portaria n. 1.132 de 31 de outubro de 2017, da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (SERES), conforme demonstra a Figura 6.

Tomado como referência o PDI 2018-2022, os valores defendidos são assim explicitados:

Agimos pensando no sucesso do aluno nossas ações devem contribuir para o sucesso do aluno.

Valorizamos as pessoas - respeitamos e valorizamos as pessoas e suas diferenças porque sabemos que cada um pode contribuir para o sucesso do nosso aluno;

Somos responsáveis - agimos sempre com integridade, honestidade e transparência; Buscamos a inovação - inovamos porque queremos transformar o futuro.

Tomamos riscos e aprendemos com nossos erros;

Temos paixão por educar - o que nos move é a capacidade de contribuir para transformar a vida dos nossos alunos, suas famílias, sua comunidade e o mundo; Juntos, podemos mais - abraçamos juntos cada desafio, não importa o tamanho, podemos sempre contar um com o outro;

Fazemos acontecer - colocamos a mão na massa e somos ágeis para transformar ideias e planos em realidade;

Geramos valor sustentável - trabalhamos para gerar impactos positivos no curto e longo prazo; (PDI, 2018, p.54)

A missão da FAMA/KROTON é “transformar o futuro” e para isso, ela utiliza o que eles mesmos denominaram de um “manifesto” para descrever a sua missão:

O que você vai ser quando você crescer? Todo mundo já ouviu essa pergunta algum dia, e a resposta sempre vinha na forma de algum sonho de infância. Mas, por que será que, depois que cresce, muita gente para de se fazer essa pergunta? A gente não. A gente nunca para! Continuamos nos perguntando todos os dias: o que a gente quer ser quando crescer? E a resposta ainda é o mesmo sonho que tínhamos lá atrás, desde quando começamos a dar nossos primeiros passos: queremos formar pessoas que transformarão o mundo. Para que esse sonho vire realidade, não existe ferramenta mais poderosa do que a educação, pois ela é capaz de formar cidadãos conscientes e transformadores. É por isso que investimos tanto em professores, em inovação e em tecnologias, para o ensino de qualidade ser cada vez mais acessível a todos, pois queremos estar lado a lado com você na sua jornada de transformação, para você jamais abandonar seus antigos sonhos de infância e continuar realizando todos os seus novos sonhos de adulto. É para isso que a Kroton existe: para que você transforma o seu futuro. (PDI, 2018, p. 53-54)

Interessante é que a linha filosófica apresentada indica como princípio: “a formação crítica dos indivíduos sobre a sociedade e seu papel como cidadãos transformadores” (PDI, 2018, p.55), e assinala que “há um compromisso com a formação do homem e com o desenvolvimento social, científico e tecnológico”. E parece impor o princípio da transformação ética e administrativa para que esse feito se materialize, mantendo a instituição dinâmica e flexível que permita ajustes permanentes e inovações com ações efetivas “na administração, nos cursos, nos colegiados e nos núcleos docentes estruturantes”, com adaptações, rupturas e transformações para permitir o desenvolvimento do ensino por meio das tecnologias.

De acordo com os documentos da IES as aulas têm propostas dinâmicas, com conteúdos que usam a problematização e os estudos de caso como forma de tornar o aluno agente ativo do processo de ensino-aprendizagem. Em sua proposta metodológica, afirma ser

flexível e estimuladora do debate de temas contextualizados e atuais entre professores e alunos. A proposta do seu ensino é “preparar profissionais pensantes, críticos, reflexivos e criativos, por meio do ensino e da extensão, além de buscar formas profissionais competentes, éticos e cidadãos.” (PDI, 2018, p.55). Ainda segundo seu PDI 2018, a instituição faz um acompanhamento da relação entre a proposta filosófica da instituição e a prática pedagógica do professor/coordenador, por meio de avaliações dos processos de ensino-aprendizagem e avaliações atitudinais. Para isso, utiliza as seguintes ferramentas: avaliação institucional, Comissão Própria de Avaliação (CPA) e discussões nos Colegiados dos cursos nos eixos administrativo e didático-metodológico.

O PDI (2005-2009) da Faculdade de Macapá apresenta as bases de uma proposta pedagógica e educacional democrática, com estímulos e incentivos à ciência, tecnologia e cultura, bem como o desenvolvimento dos futuros profissionais com atividades de ensino, pesquisa e extensão. Embora apresente uma proposta democrática e com visão de expansão, aliás calcadas no tripé própria de organizações acadêmicas universitárias. Embora, o Parecer 188/2013 da Câmara de Educação Superior do MEC aponta que os PDIs apresentados estão além do que a Faculdade de Macapá conseguiu executar, pois não conseguiu implantar os cursos que estavam previstos no PDI (2005 – 2009) e, no novo PDI (2009 - 2014) apresenta proposta de implantação de cursos em períodos idênticos aos do PDI ao anterior, o que levou a CES entender que a IES solicita novamente a implantação de tais cursos. (PARECER MEC 188/2013). No que se refere a gestão da IES, verificou-se que não havia composição formal de órgãos colegiados de cursos, no novo PDI e inexistiam atas das reuniões de colegiados dos cursos. (PARECER MEC 188/2013)

A fase de avaliação in loco se baseia em 10 dimensões para a formação do Conceito Institucional (CI). Nesse caso, são avaliados: o planejamento institucional para 5 anos; a política de oferta do tripé ensino, pesquisa e extensão, e de responsabilidade social da instituição; a comunicação com a sociedade; as políticas de carreira do pessoal docente e técnico; a organização do funcionamento da gestão representativa e autônoma na relação com a mantenedora; a infraestrutura física; a auto-avaliação institucional; a política de atendimento ao aluno e a sustentabilidade financeira para continuidade da oferta de cursos, como demonstrado na Figura 7.

Figura 7: Formulário de Avaliação de Conceito Institucional

Fonte: Registros do CNE (internet)

Após sua aquisição pela Kroton, a FAMA ampliou a oferta de cursos de graduação presencial de 16 para 26, cobrindo quatro grandes áreas do conhecimento: ciências biológicas, ciências exatas, ciências humanas e saúde. Embora conte com 33 cursos autorizados, alguns ainda não estão em funcionamento, mas existe a previsão de implantação de novos cursos até 2022, conforme informa o PDI 2018 da FAMA/KROTON.

O Gráfico 8 revela a evolução quantitativa dos cursos de graduação após o processo de venda. No comparativo entre a oferta de cursos de graduação da FAMA em 2009 e da FAMA/KROTON em 2017, podemos perceber que houve um crescimento de quase 54% dos cursos. Os cursos autorizados são: Administração, Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Arquitetura e Urbanismo, Artes Visuais, Biomedicina, Ciências da Computação, Ciências Biológicas, Ciências Contábeis, Ciências Sociais, Comunicação Social, Direito, Educação Física, Enfermagem, Fisioterapia, Engenharia Ambiental, Engenharia Civil, Engenharia em Controle e Automação, Engenharia de Produção, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica, Farmácia, Fisioterapia, Geografia, Gestão Ambiental, Gestão de Recursos Humanos, Gestão de Turismo, História, Letras, Logística, Matemática, Nutrição, Odontologia e Pedagogia. (PDI 2018-2022)

Gráfico 8: Evolução no número de cursos de graduação

Fonte: E-MEC, 2019

De acordo com a base de dados do E-Mec (2019), esses cursos de graduação são presenciais e foram autorizados. No Quadro 4 demonstramos os cursos e a quantidade de vagas autorizadas pelo MEC, bem como os seus últimos conceitos37 no Exame Nacional de

Desempenho de Estudantes38 (ENADE).

Quadro 4 – Identificação dos cursos de graduação presencial (FAMA/KROTON)

CURSO GRAU INÍCIO

FUNCION.