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MESA 3

SIETI, investigador e professor universitário, sempre nas áreas de economia, do trabalho e da educação.

O Prof. Manuel Jacinto Sarmento que sabe como ninguém o que é ser criança e por que trabalham as crianças por conta de outrem. É Professor associado com agregação no Instituto de Estudos da Criança, da Universidade do Minho. Doutorado em Estudos da Criança, área de especialização em estudos socio- educativos, sociólogo da infância, coordenador do programa do doutoramento Estudos da Criança e mestrado em Sociologia da Infância, no IEC. Membro do Conselho Nacional de Educação, autor e co-autor de 15 livros. E para cima de uma centena de arti- gos científicos publicados em várias línguas. Tem dirigido cursos e seminários em várias universidades portuguesas, brasileiras e francesas. Áreas de investigação mais recentes, culturas infantis e interculturalidade, trabalho infantil, infância e políticas públicas, educação e estatuto social do aluno.

A Dr.ª Sara Baía sabe porque é que o trabalho infantil está na moda; porque é que o trabalho infantil artístico e na moda estão na moda. É professora auxiliar na Faculdade de Psicologia e Ci- ências da Educação na Universidade de Lisboa. Com trabalhos desenvolvidos na psicologia da educação, na criatividade e na educação artística e colabora com um mestrado de teatro e co- munidade da Escola Superior de Teatro e Cinema. Coordena a delegação de Lisboa da Associação Nacional para o Estudo e Intervenção na Sobredotação.

A Dr.ª Maria João Leote de Carvalho irá falar-nos nas piores for- mas de trabalho infantil, na classificação da OIT, que se prende com as formas de trabalho menos dignas, como a exploração de crianças na prostituição, no tráfico de droga, nos peditórios orga- nizados, etc. Conhece bem estas realidades porque «mergulhou» nos bairros e nas zonas onde estas problemáticas existem de facto. Investigadora da Socinova, do Cesnova, Centro de Estu- dos de Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (UNL). É doutoranda em Socio- logia na Universidade Nova de Lisboa. É mestre em Sociologia, especialidade Sociologia do Desvio, Crime e Violência, também na UNL. Docente de Educação Especial num agrupamento de es- colas abrangido pelo programa T.E.I.P. 2.

Depois, comigo, ao meu lado direito, tenho o Celso e a Sílvia. O Celso é aluno do PIEF do Seixal e a Sílvia do PIEF de Aveiro. Eles querem cumprimentar os presentes para de seguida darmos início ao trabalho.

Celso, aluno do PIEF do Seixal:

Eu sou o Celso, tenho 16 anos, estou aqui para representar o PIEF do Seixal. Queria dizer que foi uma experiência que nunca mais vou esquecer, como penso que foi para todos os que passaram pelo PIEF, todos os meus colegas, não só do Seixal como dos outros distritos. Se nós soubermos aproveitar acho que é uma experiência que, tenho a certeza, nunca mais ninguém esquece porque se a pessoa der valor àquilo e sabe que é a última oportu- nidade que tem, eu acho que não esquece…

Eu, pelo menos, falando por mim, eu sei que tinha de me esforçar para tirar o nono ano, porque sem o nono ano não podia fazer nada. E antes do nono tive que tirar o sexto, o sétimo e o oitavo. E penso, tenho a certeza, que o PIEF me ajudou bastante. No princípio, foi um bocadinho difícil ambientar-me e a acatar logo as regras, mas depois acabei por aceitar aquilo como é. E se fomos escolhidos, 2 colegas por cada turma, para virmos a Santa Maria da Feira, e depois haver aqui um encontro, não ficarmos com os nossos técnicos que é para ficarmos uns com os outros, fomos trocados para conhecermos os outros colegas e para nos conhe- cermos melhor a todos um pouco, os outros PIEF e saber como é que os outros PIEF funcionam, isso é óptimo.

No final, vimos que acabam todos por funcionar da mesma ma- neira mas de uma maneira um bocadinho diferente. Todos dife- rentes, todos iguais, como o Dr. Fernando está a dizer.

Sílvia, aluna do PIEF de aveiro:

Tenho 16 anos, vim representar o PIEF de Aveiro e queria falar sobre a minha experiência no PIEF. Acho que o PIEF é uma das melhores coisas. É, se querem que eu diga, melhor que o ensino regular.

Os professores apoiam-nos, vêem os nossos problemas e aju- dam-nos. Não nos deixam passar, se a gente tiver algum proble- ma no ensino, ajudam-nos e vêem as nossas dificuldades, não nos deixam para trás.

Acho que o PIEF foi uma boa coisa: insere-nos na sociedade e ajuda-nos a ser pessoas melhores, pelo menos, falo por mim. Como eu não tenho muito jeito para falar, queria acabar e queria agradecer aos meus monitores e às minhas professoras que fo- ram a melhor coisa lá do PIEF. Uma salva de palmas para eles.

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TRABALHO INFANTIL NÃO REMUNERADO

Gostava de agradecer à Dr.ª Joaquina Cadete e ao PETI por este convite, o apoio da Prof.ª Margarida Chagas Lopes e especial- mente, como vos quero trazer uma história de histórias do traba- lho infantil à Dr.ª Lurdes Pinto pelo esforço na coordenação das histórias e aos técnicos e jovens que escreveram estas histórias de trabalho infantil. É relativamente complexo distinguir os dife- rentes tipos de trabalho infantil, especialmente, porque muitas vezes as actividades são realizadas ao mesmo tempo. Esta parte encontra-se melhor abordada no artigo do livro e não o vou abor- dar aqui.

O trabalho infantil tem estado em foque, particularmente o traba- lho remunerado, o género considerado mais condenável. O negli- genciar do trabalho infantil não remunerado está assente na con- cepção de que o patrão privado é pernicioso, enquanto o familiar é bom, assumindo que a supervisão familiar da actividade da criança assegura sempre os melhores interesses da criança. Um país como Portugal, e especialmente algumas regiões que ainda estão assentes no agregado familiar como unidade produtiva de bens e serviços de baixa qualificação, é terreno fértil para práticas como o trabalho de menores. Em 2001, os trabalhadores familia- res não remunerados eram 85% dos quase 50.000 menores em idade escolar estimados com actividade económica. É também particularmente importante não esquecer o trabalho doméstico, tão frequentemente relativizado e que, pela sua incidência assi- métrica por género, implica esquecer as sobrecarregadas jovens. Ainda em 2001, tal significava considerar as mais de 50.000 jo- vens envolvidas em actividade doméstica.

A análise será construída com alusões directas às histórias dos menores incluídas no opúsculo, as quais contadas pelos técnicos no terreno ou mesmo pelos menores ajudaram a caracterizar os processos de trabalho e de escolaridade. Ambos são influencia- dos por múltiplos factores sendo que a importância das famílias é transversal a todas as histórias. Particularmente as concepções e percepções de pais mas também de irmãos, de outros familia- res e, obviamente, do próprio menor, desempenham um papel influente. Se os nomes dos intervenientes são, por razões óbvias, fictícios, as histórias são bem reais.

Pré-intervenção

O trabalho familiar começa por ser uma história de isolamento geográfico, de serviços e psicológico. O trabalho infantil familiar não remunerado insere-se no contexto dum país em que, durante demasiado tempo, as famílias se habituaram e foram forçadas a apenas depender delas próprias. São reflexo de um Portugal à parte, em vias de desaparecer. Por um lado, remoto geogra- ficamente, por outro, nas franjas dos centros urbanos. A regra comum às duas situações, mais do que o isolamento geográfico refere-se ao isolamento proveniente da falta de serviços de apoio. Citando:

“Nos tempos livres gosto de passear na aldeia, que já foi vila em tempos. Agora ninguém fica por cá. Da minha idade restam muito poucos. É o mal da minha terra. Por isso é que acho que não vale a pena estudar. Ainda hoje não sei se vale a pena o curso. Não há empregos e a maior parte vê-se obrigada a partir, a emigrar.”

(Tiago)

Assim, surgiram estratégias de sobrevivência desenvolvidas e transmitidas ao longo de gerações. Os filhos são, frequentemen- te, encarados como bens que podem ser usados no processo produtivo enquanto pouco se espera de entidades exteriores como o Estado. A introdução no trabalho familiar, mesmo que progressiva, começa cedo, sendo encarada como normal. Da agricultura e tarefas domésticas com maior peso, à construção civil, o comércio ou outros serviços, o leque de actividades muito depende de factores da procura como a actividade dos pais, ter irmãos mais novos, entre outros. Se a pobreza é um factor pro- piciador da actividade de menores, o factor determinante parece vir da esfera da procura da actividade dos pais e não tanto da oferta. Citando:

“Os filhos são meus e eu é que mando neles, ninguém mos tira.”

(Pai de Sónia)

“O Bruno não vai porque tem que trabalhar para mim, bem basta quando ele fizer 18 anos que se vai embora e depois quem vai ganhar para mim?”