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DAR A V LTA ENCONTROS PETI / OIT SOBRE O TRABALHO INFANTIL

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Academic year: 2021

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ENCONTROS PETI / OIT SOBRE O TRABALHO INFANTIL

DAR A V

LTA

COMO SURGE O PETI:

DE PLANO A PROGRAMA

QUE TRABALHO INFANTIL?

AVALIAÇÃO DO PROGRAMA

E DA MEDIDA PIEF

QUE RASTO DO PETI…

NO FUTURO?

O PETI E A SUA RELAÇÃO

Programa para Prevenção e Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil

Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

Escritório em LISBOA

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Nota INtrodutórIa

O PETI celebra, ao longo de 2008, uma década de combate à exploração do trabalho infantil em Portugal.

O ano que ainda decorre foi fértil em iniciativas locais, promovidas pelo PETI em conjunto com todos os parceiros de que destacamos a ARISCO, que culminaram na Conferência que decorreu nos dias 2 e 3 de Julho de 2008, no Centro de Con-gressos de Santa Maria da Feira.

Esta Conferência, que contou com a cooperação do Escritório da OIT em Lisboa, atingiu todos os objectivos a que se propôs, dos quais destacamos:

- O convívio entre todos os profissionais do PETI e os parceiros governamentais ou não governamentais a nível local, re-gional, nacional e internacional;

- Uma reflexão aprofundada sobre o fenómeno do trabalho infantil nas suas várias vertentes a cargo de investigadores reconhecidos que, ao longo destes dez anos, acompanharam o trabalho do PETI.

Na conferência, participaram ainda 300 jovens que representaram o universo da medida PIEF e que estiveram envolvidos em actividades de animação na cidade de Santa Maria da Feira e no próprio recinto da conferência, tendo ainda contribu-ído com uma Declaração resultado de dois dias de trabalho.

Foi um momento de convívio e de balanço e em que se apontaram rumos para o futuro.

O rasto que o PETI pretendeu deixar na obra comemorativa dos 10 anos de combate à exploração do trabalho infantil em Portugal permitirá, pensamos nós, que, se uma outra situação semelhante vier a ocorrer no País, se possa consultar de que modo foi possível combater uma entrada precoce no mundo do trabalho e minorar os efeitos de um abandono escolar, também precoce, quase sempre conducente a situações de exclusão social.

Este evento contou com a presença de responsáveis da OIT. Esta Organização, através do programa IPEC, acompanhou este percurso de Portugal e, quando solicitado, prestou cooperação técnica às autoridades portuguesas. Os responsáveis presentes na Conferência frisaram que a experiência portuguesa, quer num contexto europeu, quer internacional,constitui um exemplo a ser seguido.

Comissão Organizadora

Joaquina Cadete Paulo Bárcia

Programa para Prevenção e Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil

Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL

DO TRABALHO Escritório em LISBOA

(4)

ÍNdICE

NOTa INTrOduTórIa

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1

SESSÃO dE aBErTura

Joaquina Cadete, Directora do PETI e João Pereira, Representante de jovens em PIEF . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3 Amadeu Albergaria, Vereador da Educação da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira . . . . . . . . . . . . . . . . . .6 Fernando Medina, Secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7

MESa 1 - COMO SurGE O PEETI/PETI:

Catalina Pestana – Moderadora e Aurélio, Representante de jovens em PIEF. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

O desafio que interpelou Portugal, Josefina Leitão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 Trabalho de menores: desafios e sucessos, Joaquim Pintado Nunes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 MESa 2 - a MEdIda PIEF

Elisabete Fonte – Moderadora e Alexia, Representante de jovens em PIEF . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

a Medida PIEF, Maria do Céu Roldão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 dEBaTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

MESa 3 - QuE TraBalhO INFaNTIl?

Fernando Coelho – Moderador e Celso e Silvia, Representante de jovens em PIEF . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

Trabalho Infantil não remunerado, Pedro Goulart . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Trabalho infantil por conta de outrem, Manuel Sarmento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Participação de jovens em espectáculos, moda e publicidade, Sara Bahia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Piores formas de trabalho infantil, Maria João Leote de Carvalho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 dEBaTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 MESa 4 - QuESTõES dE GéNErO E MINOrIaS

Clara Dimas – Moderadora e Vanda e Ruben, Representante de jovens em PIEF. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

Trabalho infantil e questões de género, António Manuel Marques . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Trabalho infantil e a comunidade cigana, Maria José Casa-Nova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 Intervenção comunitária, participação de jovens e prevenção da violência urbana, Pedro Calado . . . . . . . . . . . 66 dEBaTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 MESa 5 - avalIaçÃO dO PrOGraMa E da MEdIda PIEF

Domingos Fernandes – Moderador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

Caracterização das actividades desenvolvidas por crianças e jovens, Manuel Lisboa . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 Medida PIEF, Maria do Céu Roldão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 dEClaraçÃO dOS JOvENS

Coordenação, José Miguel Nogueira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 PrOJECTO “uMa MÃO CONTra a ExCluSÃO”

Entrega dos prémios Projecto “uma Mão contra a Exclusão”, Rui Jerónimo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

MESa 6 - O PETI E a Sua rElaçÃO COM a OIT E COM a CPlP

Joaquina Cadete – Moderadora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93

O combate ao trabalho infantil no centro da agenda da OIT e a sua parceria com Portugal, Paulo Bárcia . . . . . . . . 94 dez anos de colaboração IPEC/PETI, Frans Roselaers. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 a relação CPlP/PETI, Jovelina Imperial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 O rasto do PEETI/PETI, Hermano Carmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .101

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SESSÃO DE ABERTURA

NO INíCIO da SESSÃO hOuvE luGar Para uM ESPaçO dE aNIMaçÃO MuSICal da rESPONSaBIlIdadE dE urBaNO OlIvEIra QuE ENvOlvEu TOdOS OS ParTICIPaNTES.

Em nome de Sua Excelência o Secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional, tutela directa do PETI, vamos dar início a estes dois dias de trabalho que comemoram os dez anos do Programa e da medida PIEF. Vamos começar com uma sessão muito especial que nos vai ser proporcionada pelo Prof. Urbano, a quem quem passo desde já a palavra.

Joaquina Cadete

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SESSÃO DE ABERTURA

Permitam-me que, antes de mais, cumprimente Sua Excelência o Secretário de Estado que está connosco em representação de Sua Excelência o Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social mas também, e quero enfatizar, enquanto membro do governo responsável directo por este programa, na mesma pasta que, desde 98 tutela o PETI, precisamente, desde o dia 2 de Julho, razão da escolha simbólica desta data. Agradeço ainda em nome de todos os Petianos este sinal inequívoco de apoio e de apreço por quantos, ao longo destes anos, colaboraram na tarefa imen-sa de apoiar milhares de jovens no seu projecto de vida. Muito obrigada pela sua presença, Senhor Secretário de Estado. Cumprimento o Senhor Vereador da Educação da Câmara de Santa Maria da Feira, Dr. Amadeu Albergaria, em representação do Sr. Presidente da Câmara, desde o início parceiro activíssimo na organização destas actividades e das actividades que, em pa-ralelo, os nossos jovens que acabaram de nos desafiar para um começo diferente destes dois dias de trabalho vão desfrutar quer na cidade, quer no espaço do Europarque.

Cumprimento os senhores dirigentes ou representantes de par-tidos com assento parlamentar presentes e todos aqueles que representam, de alguma maneira, a coisa pública.

Cumprimento ainda todos os palestrantes, moderadores, e per-mitam-me uma palavra especial para Frans Roselaers do IPEC-OIT, um amigo do PETI desde o início, que fez questão de vir de longe para se associar às nossas comemorações.

Não sei se estará presente algum representante, mas faço ques-tão de mencionar a Delta cuja colaboração agradeço, uma cola-boração que já é habitual no âmbito da responsabilidade social da empresa e que, como verificarão, ou até já verificaram quando tomaram o vosso café, executaram os pacotes de açúcar come-morativos desta efeméride.

Por fim, cumprimento todas e todos os que vão participar neste evento e ainda os que, não podendo fazê-lo, estão connosco em espírito e coração.

E agora, e os últimos são os primeiros, os jovens, os nossos me-ninos e meninas, como ternamente lhes chamamos, e sem os quais nada do que se vai passar teria sentido, e para os quais, peço um forte aplauso.

Quando se pensa em comemorações, há ideia de que os parti-cipantes serão um conjunto de dirigentes a elas associados ou de alguns notáveis num circuito algo fechado. No caso presente,

Joaquina Cadete

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SESSÃO DE ABERTURA

também convidámos, obviamente, dirigentes da administração central, regional e local, representantes de todos os partidos com sede na Assembleia da República, nomeadamente das várias comissões mais estritamente ligadas à nossa área de trabalho, enfim, todos quantos cuidam da coisa pública em nome dos ci-dadãos. Mas o grande objectivo foi reunir os que, permanecendo mais ou menos anónimos junto do grande público, são, para nós, as mulheres e os homens que, ao longo destes dez anos, com garra, altruísmo e uma resiliência acima de média trabalharam connosco e com os jovens e suas famílias tecendo redes que tornaram as suas vidas menos perigosas no momento de alguma queda. São essas e esses que hoje enchem esta sala. São estas e estes, e outros que não estão aqui hoje, que permitiram que o PETI pudesse cumprir os seus desígnios.

Esta conferência e a publicação que já têm em vosso poder pro-curam dar conta do imenso trabalho executado para contrariar, como diz Hermano Carmo um dos autores de um dos capítulos, a prática socialmente correcta de inviabilizar os êxitos e exaltar os fracassos dos portugueses e que tem tido efeitos tão nega-tivos na auto-estima nacional. Quisemos, no fundo, e cito tam-bém João Ruivo, não demonstrar ingratidão pública, demasiado comum neste tipo de tarefa que se passa longe dos holofotes dando a conhecer, a quem se interesse por estas matérias, os momentos altos mas também o desânimo sentido quando não se conseguiu ajudar um ou uma jovem a encontrar um rumo para a sua vida.

Afirma ainda Hermano Carmo, no capítulo Rasto do PETI, «que o PETI, na sua função de laboratório social, deixou um rasto ino-vador, tanto pelo modo como foi concebida e experimentada a medida PIEF como pela experimentação de inúmeras parcerias entre entidades que, algumas situações, haviam trabalhado de costas voltadas até então».

O PIEF - Programa Integrado de Educação Formação - a nossa medida mais emblemática, e à qual posso afirmar, sem sombra de dúvida, esteve ligada à maioria dos presentes, foi estudada por Maria do Céu Roldão, na sua dimensão curricular, sublinhan-do a investigasublinhan-dora que «a ideia mais forte da sua cultura se traduz na preocupação de tornar este jovens, lançados precocemente para processos vários de exclusão escolar e social, pessoas e cidadãos capazes de se reinserir nas dinâmicas sociais». Por isso é que o nosso amigo João Pereira que, nesta sessão, representa todos os jovens do PIEF diz que frequentar a medida PIEF foi a melhor coisa que lhe aconteceu.

Por fim, e porque uma sessão de abertura não deve ser muito longa permitam-me, num registo um pouco mais pessoal, o teste-munho da minha passagem por este Plano/Programa a que estou ligada desde 99, primeiro como representante do PEETI na estru-tura de coordenação regional do PIEF em Lisboa e Vale do Tejo, e como sua directora desde Dezembro de 2002.

Não foi a primeira vez que estive ligada a programas governamen-tais. E sei que estes instrumentos legais, verdadeiros balões de oxigénio ou de ensaio, dependendo da perspectiva, ou se amam ou se odeiam. Sempre soube que, com o PETI e com a medida PIEF, não seria diferente. Mas foi também trabalhando em progra-mas, e em particular neste, que confirmei o que já intuía: que as instituições não existem sem pessoas e que um bom projecto no papel, se não tiver uma equipa técnica que dê a cara para o levar a bom termo, dificilmente passará do próprio papel.

Foi ainda graças ao conjunto de profissionais que constituíram e constituem a equipa PETI, que na sua maioria estavam no auge da juventude quando nela ingressaram, e a toda uma teia de par-ceiros governamentais e não governamentais de âmbito interna-cional, nainterna-cional, regional ou local, que o tema do trabalho infantil em Portugal saiu da agenda internacional constituindo hoje o nos-so país, através do PEETI/PETI e da medida PIEF, um exemplo de boas práticas no contexto europeu e mundial.

Qualquer que venha a ser a decisão política quanto à dissemi-nação desta, e cito «boa prática», segundo Manuel Lisboa, um outro autor, com uma ideia de futuro: «O grande desafio não foi só resolver o problema do trabalho infantil, e isso já seria muito. A grande questão é ter a ousadia de começar a construir hoje os caminhos do amanhã», não desperdiçando o capital de experi-ência do saber fazer nestas circunstâncias porque, como refere o Senhor. Secretário de Estado, e muito a propósito, no seu con-tributo para a actividade de Uma Mão contra a Exclusão, «excluir é não dar uma nova oportunidade» e também o Senhor Ministro que afirma que «não fazer mais pelos mais frágeis é EXCLUIR». Confiamos nos decisores políticos que, decerto, tudo farão para combater a exclusão social pois sabem que, e cito a UNICEF1, «o nível real de um país mede-se pela atenção que dá às suas crianças, à sua saúde e segurança, à sua situação material, à sua educação e à sua sociabilização, bem como ao seu sentimento de serem amadas, apreciadas e integradas nas famílias e na so-ciedade em que nasceram».

Renovando os nossos agradecimentos pela vossa presença, de-sejo a todas e a todos dois bons dias de formação e de algum la-zer e espero que se revejam nos trabalhos apresentados quer pe-los académicos na obra principal quer por todos os operacionais do PETI e do PIEF nos oito opúsculos que a complementam.

1 UNICEF, La pauvreté des enfants en perspective: Vue d’ensemble du bien-être des enfants dans les pays riches, Bilan Innocenti 7, 2007.

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SESSÃO DE ABERTURA

Sr. Secretário de Estado, Sr.ª Directora do PETI, restantes convi-dados, e de uma forma muito especial, e desculpando-me a falta de protocolo, cumprimentá-los a todos, na pessoa do João Perei-ra que está aqui connosco na mesa.

As palavras de um autarca são, nestas cerimónias, as mais sim-ples mas, provavelmente, aquelas que são as mais sentidas, a quem o autarca de uma freguesia ou autarca de um concelho, que é dar as boas-vindas a quem nos honra com a sua presen-ça, e nós sentimo-nos honrados com a vossa presença e com a realização aqui no concelho de Santa Maria da Feira, desta con-ferência sobre os dez anos de combate à exploração do trabalho infantil em Portugal.

O concelho de Santa Maria da Feira é um concelho que tem, nes-te momento, cerca de 150.000 habitannes-tes, repartidos por 31 fre-guesias, com três cidades, treze vilas e foi, nas últimas décadas, e ainda é, um importante concelho industrializado.

Assenta a sua economia e o labor das suas gentes em dois sec-tores fundamentais da indústria, o calçado e a indústria da corti-ça. Foi esse o modelo de desenvolvimento do concelho de Santa Maria da Feira nas últimas décadas. Como sabem, é um modelo que surtiu efeitos mas que também tem os seus lados bastante negativos.

Este concelho está também numa região que tem baixas quali-ficações, é uma preocupação de toda esta região da área me-tropolitana do Porto. E o concelho de Santa Maria da Feira está consciente que tem que alterar este estado de situação para po-der voltar a ser um concelho dinâmico em termos económicos e, em termos de solidariedade, um concelho mais coeso.

Deixem-me também dizer-vos que tenho uma fé inabalável na nova geração de portugueses. Muitas vezes se discute se as ac-tuais gerações, se os nossos acac-tuais jovens são melhores ou pio-res do que os do passado.

Eu penso que não há gerações melhores ou gerações piores. Não tenho é nenhuma dúvida de que estas novas gerações, são das mais estudadas, das mais observadas, das mais comentadas e são, provavelmente, aquelas que sofrem de um processo de

ace-leração histórica que os confronta com uma nova realidade com que eles têm que lidar diariamente.

Estão, por isso, confrontados com novos desafios. Mas também tenho esta consciência, a consciência geracional, que não há mais volta a dar para este país. Este país só tem uma solução que é apostar nas suas pessoas, nos seus jovens, nos seus recursos humanos e por isso há que dar-lhes todas as qualificações que sejam necessárias e fundamentais para fazer deste concelho e deste país um concelho e um país mais justo, mais solidário e mais coeso.

A experiência que temos aqui com o PETI e com as turmas PIEF: nós sentimo-nos honrados de ter aqui esta organização na come-moração destes dez anos e penso que temos bons motivos para continuar a trabalhar mas para estarmos também satisfeitos. Nem sempre o concelho de Santa Maria da Feira agiu com o di-namismo que devia agir para com as turmas do PIEF, nem sem-pre fomos tão rápidos como devíamos ter sido, e só nos valeu, sinceramente, a persistência dos técnicos, o trabalho que fize-ram junto das nossas instituições e sempre discutimos de que este concelho precisava de dar respostas mais rápidas e, por-tanto, aqui também este sentimento de mea culpa mas também um sentimento de reconhecimento pelo trabalho de persistência incansável junto das nossas instituições, junto da Câmara Muni-cipal, fazendo compreender o que é que estava em causa para o concelho e para este, país. Termino reiterando as boas-vindas ao concelho de Santa Maria da Feira, desejando que seja uma jor-nada de trabalho bastante positiva e que no fim destes dois dias de trabalho o concelho de Santa Maria da Feira seja um marco que assinalou dez anos de trabalho mas que assinale também o trabalho que resta ainda fazer para o futuro.

Obrigado a todos. Bem-vindos e bom trabalho.

Amadeu Albergaria

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SESSÃO DE ABERTURA

Sr. Vereador da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, Sr.ª Directora do PETI, caro João Pereira, em nome de todos os jo-vens que aqui estão, senhores representantes dos parceiros so-ciais e dos partidos políticos aqui presentes, representação da OIT em Portugal e dos representantes e nossos amigos da CPLP, representantes das CPCJ´s, técnicos e profissionais do PETI, e associados a todas as entidades associadas ao PETI, minhas se-nhoras e meus senhores, é para mim um grande gosto, em nome do Sr. Ministro do Trabalho e da Solidariedade poder estar hoje aqui nesta conferência e associar-me a este conjunto de eventos, que assinalam os dez anos do PETI e os dez anos do combate à exploração do trabalho infantil.

E gostava de começar saudando todos os presentes e uma saudação muito em particular, de forma muito especial a todos aqueles, aos técnicos, aos profissionais, aos dirigentes, a todas as empresas, aos parceiros sociais, às universidades, às escolas, às entidades, que ao longo destes dez anos contribuíram e tra-balharam e deram o seu melhor para a erradicação do trabalho infantil em Portugal.

Eu julgo que a conferência que hoje aqui temos, a qualidade dos participantes e dos palestrantes, das intervenções que iremos as-sistir, bem como o conjunto de iniciativas que temos em torno deste programa e deste aniversario, assinalam, fundamentalmen-te, o testemunho da mobilização que aconteceu na sociedade portuguesa para a erradicação e pelo combate do trabalho in-fantil.

E também o reconhecimento que sem a estreita cooperação en-tre as entidades públicas, e particulares, sem as empresas, as universidades, as escolas, as instituições de natureza policial e de natureza inspectiva não teria sido possível levar a bom por-to este compromisso. Não teria sido possível a existência destes dez anos de progressos nesta dimensão.

Dez anos destinados a alertar a comunidade para este problema, destinados a sensibilizar e a condenar estas práticas na socieda-de portuguesa e, fundamentalmente, para construir soluções para a sua erradicação.

Eu julgo que invocar os dez anos do trabalho do programa de erradicação do trabalho infantil em Portugal, significa em

primei-ro lugar, reconhecer que este desafio teve início em 1998. E o que teve início em 1998 foi o fim da negação. Em 1998 deixámos de esconder a cabeça na areia e Portugal assumiu que tinha um problema com o trabalho infantil. Depois desta assunção política, feita ao mais alto nível, desenvolveu-se um conjunto de iniciati-vas e um conjunto de medidas. Quer na frente legislativa, quer na frente da capacitação dos serviços, quer na frente da sensibiliza-ção da opinião pública e da criasensibiliza-ção de uma consciência social condenatória do trabalho infantil, e também, fundamentalmente, a criação do PETI.

O PETI é hoje, reconhecidamente, a nível nacional, uma experi-ência singular que permitiu, não só dinamizar uma cooperação sem precedentes nesta área e com este objectivo, mas também, através da medida PIEF, construir uma solução inovadora para a reintegração das crianças através de um instrumento fundamen-tal que seria a sua reintegração no meio escolar e profissional. E de formação profissional.

Eu julgo que podemos hoje fazer um balanço, que será feito de forma mais detalhada. Julgo que a situação com que nós hoje nos deparamos no país, em matéria de trabalho infantil, é uma si-tuação radicalmente diferente daquela que tínhamos há dez anos atrás. O trabalho infantil, na sua concepção, ou na sua acepção de trabalho infantil, no sector formal reduziu, significativamente. E hoje, subsistem bolsas de trabalho associado a indústrias tra-dicionais, nomeadamente, alimentadas por pequenas indústrias locais e numa base de incidência familiar.

E é este o novo contexto com que nós nos deparamos. E, por isso, não erraremos em dizer que a sociedade portuguesa mudou, significativamente, nestes dez anos, como as outras sociedades também. Mas na sociedade portuguesa em particular, em que o fenómeno do trabalho infantil reduziu, do ponto de vista quanti-tativo, em que se alterou no que respeita à sua forma, podemos dizer que estamos num momento de mudança de paradigma re-lativamente ao trabalho infantil na sociedade portuguesa, quer na sua natureza, quer na sua escala.

E se me permitem, eu julgo que a melhor forma de nós saudarmos e de nós valorizarmos, como disse a Dr.ª Joaquina Cadete, aquilo que foi feito, é termos a capacidade de pensar o futuro.

Fernando Medina

(10)

SESSÃO DE ABERTURA

Eu gostava de partilhar com todos, seis linhas que me parecem fundamentais para a construção do futuro e que nos devem orien-tar e mobilizar essa construção. No fundo, seis lições que eu, nes-te momento, retiro do que foram esnes-tes dez anos de PETI, do que são estes dez anos de luta contra o trabalho infantil.

A primeira lição fundamental é o reconhecimento mais nítido que existe hoje na sociedade portuguesa de que as situações limite, como o trabalho infantil, e outras face às quais se começa a ter essa consciência, como o próprio abandono escolar, são situ-ações que se entrelaçam indissociavelmente, com contexto de desestruturação familiar, com escassez de rendimentos, com re-duzidas condições habitacionais e com baixos níveis de capitais, escolar e cultural.

Níveis estes que são perpetuadores de expectativas de qualifica-ção pouco ambiciosas. Em suma, a primeira liqualifica-ção que julgo que poderemos retirar é que as situações terminais iniciam-se e têm por base, fundamentam-se e articulam-se com situações indicia-das com o risco de profunda exclusão social.

E por isso, avançar de uma lógica reparadora, relativamente a fenómenos de exclusão, para uma lógica preventiva é aquilo que o PETI acabou por ir fazendo, o percurso normal do PETI ao longo destes anos todos, mas é uma lógica que nós temos que aprofundar, valorizar e, acima de tudo, construir uma solução de futuro. Construir soluções numa lógica preventiva, relativamen-te aos fenómenos de exclusão, e menos, hoje, sobre uma lógica reparadora imediata sob as causas concretas que motivaram a origem do PETI. A segunda lição e o segundo ponto que eu gos-tava de partilhar com vocês consistem no reconhecimento de que o processo de desenvolvimento das sociedades ocidentais, bem assim, o processo de desenvolvimento em particular de Portugal, não é, em si, garantia de redução da exclusão.

Pelo contrário, o processo de desenvolvimento económico em Portugal tem tendências, tem elementos caracterizadores de ris-co, de fractura, do ponto de vista social, que podem acentuar fenómenos de exclusão. Na base deste processo está, na minha opinião, o que é a profunda fractura, em matéria de qualificações da população portuguesa, que, num processo de globalização e na inserção internacional da economia portuguesa, coloca riscos de fractura significativos.

Este risco de rotura entre uma significativa parte moderna do país, capaz de avançar mais depressa e estar na primeira linha, e uma parte do país que, se não tiver essa capacidade e não tiver essa possibilidade, levará ao surgimento de riscos significativos de exclusão de franjas importantes da sociedade portuguesa. E, por isso, esta segunda mensagem fundamental: o processo de desenvolvimento em si não é garantia, antes pelo contrário, da atenuação dos factores de risco de exclusão e, por isso, um alerta sobre estas dimensões é cada vez mais essencial. A terceira lição fundamental, que eu retiro muito da experiência do PETI, e julgo que é uma das duas marcas distintivas, é que as respostas aos problemas da exclusão e aos riscos da exclusão devem ser acima de tudo, respostas individualizadas.

Os problemas da exclusão podem ser tipificados em categorias, podemos tipificar as suas origens, as suas fontes mas a resposta a cada um dos problemas é sempre uma resposta a casos con-cretos, a casos individuais, a pessoas, a situações.

E a capacidade que nós tivermos de perceber e de interiorizar esta realidade é essencial para a qualidade da nossa resposta. Isto é uma mudança face àquilo que é, naturalmente, ou tradicio-nalmente, orientado para os instrumentos da política pública, que são instrumentos de âmbito nacional, de aplicação geral indife-renciada a um conjunto de cidadãos.

Em matéria de exclusão, as respostas devem ser, e as respostas eficazes são fundamentalmente aquelas que são respostas indivi-dualizadas, que têm em conta cada situação concreta, cada caso concreto, no seu contexto.

E permitam-me, nesta área, fazer aqui uma palavra particular de realce, de diferença de realce, do trabalho que as comissões de protecção de crianças e jovens têm desenvolvido ao longo dos últimos anos em Portugal, do esforço significativo que estão a desenvolver na melhoria da sua actuação e do esforço também do ponto de vista político e do empenho político que existe na sua capacitação.

Cada vez mais temos comissões com maior capacidade para fazer as detecções e também teremos mais capacidade de ins-trumentos de resposta que possam ser mobilizados para essas situações.

O quarto elemento, a quarta linha, a lição fundamental, e a linha pilar para a construção de uma solução para o futuro, é que a resposta eficaz para os problemas da exclusão, nomeadamente, de crianças e jovens, exige a mobilização de instrumentos muito diversos.

Começam, naturalmente, os destinados a promover o sucesso educativo e a prevenir o abandono precoce em meio escolar, mas vão, obviamente, ao encontro do que tem sido um excelente exemplo — um belíssimo exemplo, o trabalho desenvolvido pelos PIEF´s — mas também através da articulação com outros instru-mentos de política pública, seja na qualificação dos activos, por exemplo, as Novas Oportunidades.

Estou em querer que a qualificação dos activos será um dos prin-cipais motores da melhoria da situação em matéria de inclusão ao nível das crianças e dos jovens porque aumentará a consciencia-lização social relativamente à importância da escolarização e da qualificação, em articulação com mecanismos complementares, seja a nível da substituição de rendimentos, seja ao nível da cria-ção desses próprios patamares mínimos de rendimentos, seja ao nível das intervenções na área da saúde, na área do conforto ha-bitacional, na área da inclusão propriamente dita em meio local. Por isso, a quarta linha, a linha assente numa resposta integrada aos problemas da exclusão. É essencial uma resposta integrada que mobilize vários instrumentos.

E permitam-me que faça aqui um pequeno parêntesis, porque julgo que esta é a muita experiência de quem está no terreno. Du-rante muitos anos, em Portugal, acreditou-se que um fenómeno c como o abandono e o insucesso escolar era, exclusivamente, um fenómeno de natureza educativa. Olhamos para as escolas, para a organização das escolas, olhamos para os currículos, olhamos para a forma como as escolas se organizam.

É verdade que uma parte muito importante do abandono e do insucesso escolar tem a ver com matéria, estritamente, do

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âmbi-SESSÃO DE ABERTURA

to educativo sob a diversificação das ofertas, sob a organização escolar, é verdade. Mas desde há uns anos, quando foi publicado um primeiro estudo de diagnóstico profundo sobre a situação do abandono escolar, tornou-se claro aquilo que já o seria para mui-tos, para mim já o era naquele momento, de que se nós fizermos um mapa do abandono e do insucesso escolar, no nosso país, nós vamos ver uma enorme sobreposição do mapa do abandono e insucesso escolar com o mapa das condições sociais. E o que nós vemos é que a percepção que existe hoje e começa a haver na sociedade portuguesa é que fenómenos que eram tidos como, exclusivamente, resultantes ou derivados e com respostas na esfera educativa terão que ter, obrigatoriamente, hoje, respos-ta do âmbito social. Porque quando nós fazemos a sobreposição do mapa do que é o abandono e insucesso escolar só o conse-guiremos perceber quando percebermos a realidade socioeco-nómica por trás, que está em cada uma dessas regiões, que está aqui muito bem presente, por exemplo, no norte do país onde situações de mono indústria, de baixo salário, de falta de pers-pectiva de mobilidade social faz e estimula uma saída precoce da escola para situações que depois são situações de elevadíssimo risco da exclusão social ao longo de todo o percurso de vida. E por isso é que nós conseguiremos perceber muito bem que os fenómenos, por exemplo, como o abandono escolar, tendo uma base e uma matriz de âmbito nacional que tem a ver e reside em matéria de sistema educativo, tem também por trás muitos, e de forma significativa, aspectos de natureza social, ligados aos ris-cos de exclusão social.

Quinto lugar, e de forma sintética, que nós podemos retirar da ex-periência do PETI, destes dez anos, é que o sucesso das resposta em matéria de inclusão é o funcionamento em rede, numa base local, dos vários actores e dos intervenientes. Não é no âmbito nacional, não é só na esfera nacional, não é, essencialmente, na esfera nacional, é em cada território, em cada local a coordena-ção dos actores e dos agentes das várias instituições.

Por último, sexto ponto, é a questão das competências, como a Dr.ª Joaquina Cadete há pouco referiu, e bem. Não basta ter um bom projecto, os bons projectos existem quando há boas pes-soas, quando há bons profissionais, quando estão motivados, quando são profissionais competentes, quando são profissionais com conhecimento para agir nas situações.

E aqui permitam-me uma palavra particular a todos os profissio-nais do PETI que são, neste momento, em minha opinião, um activo particularmente valioso de que o país dispõe, de que não dispunha há dez anos atrás, mas de que dispõe hoje.

Julgo que na sociedade portuguesa, nós temos muita tendência para destruir e desconstruir com muita rapidez. Criamos coisas, acabamos com coisas, inventamos coisas com uma enorme velo-cidade e com uma enorme rapidez. Mas se há coisa, se há activo com que eu julgo que nós temos e que devemos valorizar é o capital de conhecimento, de experiência, de trabalho de aprendi-zagem que foi realizado ao longo destes dez anos.

Há dez anos, Portugal não dispunha dos profissionais de que hoje dispõe, não dispunha dos profissionais, nem do conhecimento da realidade que hoje dispõe, e não é nenhum elogio de circunstân-cia dizer que este capital de que nós hoje dispomos é um capital

que nós não podemos desperdiçar porque é um activo valioso sobre o qual nós podemos construir as soluções do futuro. Era por isso que eu nesta ocasião gostava de partilhar, com to-dos, o que é a visão do governo relativamente ao próximo futuro, ao futuro próximo neste momento em que se celebram os dez anos do PETI. E julgo que aquilo com que nós estamos confron-tados, e é a vontade do Governo nesse sentido, é de que nós imprimamos ao PETI uma nova ambição.

Imprimamos ao PETI uma nova ambição pela inclusão das crian-ças e jovens, imprimamos ao PETI uma nova ambição na luta contra a exclusão e uma nova ambição pela igualdade de opor-tunidades.

E uma nova ambição que se situe e que tenha por base estes seis pontos fundamentais que eu há pouco descrevi. Primeiro lugar, uma ambição centrada sob os fenómenos da exclusão, isto é, so-bre as abordagens preventivas e não tanto soso-bre as abordagens reparadoras dos vários fenómenos de exclusão.

Uma nova ambição centrada na valorização do que é um gran-de activo gran-destes gran-dez anos que é a resposta individualizada às situações, e por isso a necessidade e a vontade duma fortíssima articulação com o trabalhos das CPCJ, isto é, na construção de respostas àquilo que é o trabalho de enorme mérito que as CPCJ hoje desempenham no terreno.

Em terceiro lugar, uma nova ambição relativamente aos instru-mentos que estão ao dispor no combate à exclusão. Seja pela manutenção dos PIEF, seja pela articulação com o que agora o Ministério da Educação está a lançar de forma vigorosa, que são os Territórios Educativos de Intervenção Prioritária que terão uma expansão muito significativa ao longo dos próximos anos. Seja pela manutenção e reforço do apoio à rede de entidades que têm colaborado, da sociedade civil, que têm colaborado na produção de respostas aos fenómenos da exclusão, seja também pela dis-ponibilização de recursos financeiros que permitam a construção de novas respostas adaptadas aos casos concretos.

Por último, uma nova ambição relativamente ao trabalho em rede, ao trabalho em rede das diversas entidades, sejam as escolas, sejam as equipas da Administração Pública, sejam as empresas, as associações empresariais, sejam os parceiros sociais. Uma nova ambição redobrada relativamente a esse trabalho em rede. E em síntese é, no fundo, para este novo desafio, para um desafio mais vasto, para um desafio que hoje não se cingirá, ou não se deverá cingir, ao trabalho infantil, até porque, verdadei-ramente, nos últimos anos, já não se cingia, e bem, ao trabalho infantil, já estávamos a trabalhar muito para além disso. Mas o desafio que agora vos será colocado, nos próximos meses, e nos próximos anos daqui para a frente, é que nós aproveitemos esta estrutura que temos, aproveitemos o know-how, aproveitemos as pessoas, aproveitemos os recursos e sobre isto construamos um novo programa, um novo programa com uma ambição mais vasta.

A ambição de ser um instrumento de combate à exclusão de crianças e jovens, um instrumento colocado, fundamentalmente, sobre as causas e sobre os processos de origem, numa aborda-gem preventiva, e não tanto sob uma abordaaborda-gem, ou não

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sivamente, sob uma abordagem reparadora dos fenómenos da exclusão.

Um projecto que mantenha uma abordagem de tratamento indivi-dualizado e personalizado das situações.

Um projecto que tenha uma capacidade de servir fundamental-mente de resposta às comissões de protecção de crianças e jo-vens e às milhares de situações de risco que já estão sinalizadas e diagnosticadas.

E um projecto que mantenha a característica da utilização de ins-trumentos muito diversificados com a manutenção dos PIEF´s, com a articulação profunda com outros instrumentos, noutras es-feras, mas também com os recursos financeiros para que possam ser construídos novos instrumentos adaptados à nova realidade e aos desafios com que estamos colocados.

É esta a nossa vontade, é esta a perspectiva que nós temos que é a melhor forma que temos de honrar o caminho que foi feito, de aproveitar o esforço e a aprendizagem de todos aqueles que tra-balharam neste projecto ao longo dos próximos anos, é dar-lhe, precisamente, esta nova ambição. Darmos um salto em frente e dizermos, neste momento, não é só o trabalho infantil que tem de estar aqui no nosso nome.

É, fundamentalmente, uma luta pela inclusão social, uma luta contra a exclusão social, pela igualdade relativamente a todas as crianças e jovens, reforçando aquilo que já vinha a ser a trajectó-ria normal do PETI na sua evolução. Terminava com três palavras de agradecimento.

Uma palavra particular para a OIT que teve, desde a primeira hora, desde 1998, um papel essencial de ajuda a Portugal em todo o desenvolvimento do PETI, nesta estratégica de erradicação do trabalho infantil, tendo sido um parceiro em todas as horas e que muito nos apoia e muito nos ajuda. E também salientar o papel que tem, enquanto organização internacional na sua agenda do trabalho digno, que é hoje um farol para todos aqueles que pro-curam a melhoria das condições dos cidadãos, dos trabalhadores nas nossas sociedades.

Uma segunda palavra de agradecimento, que já fiz há pouco, e que gostaria de repetir, a todos aqueles que colaboraram neste projecto ao longo do últimos dez anos, às associações empresa-riais, aos parceiros, às universidades, às diversas entidades, mas uma palavra muito em especial para todos os técnicos. Todos os técnicos, todos os dirigentes, todos os professores. Só quem não conhece a dificuldade do que é o trabalho nesta área é que pode não reconhecer e não valorizar o esforço e o mérito de to-dos aqueles que se têm empenhado neste combate.

Por último, e se me permitem, uma saudação especial para todos os jovens que aqui estão, para todos os jovens dos PIEF, que além de toda a sua alegria com que participam neste Encontro, e de todo o esforço que têm feito ao longo destes anos no seu trabalho nas turmas PIEF e na sua integração, ainda por cima, depois de todo esse esforço, depois de toda essa dedicação ain-da tiveram de me ouvir durante tanto tempo a falar sobre estas coisas, por isso, muito obrigado a todos.

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SESSÃO DE ABERTURA

Muito obrigada, Senhor Secretário de Estado pelas palavras de estímulo para todos os presentes, sobretudo para aqueles que referi estarem longe dos holofotes, mas sem os quais teria sido impossível este trabalho.

E vamos revelar a primeira surpresa destes dois dias. Como sa-bem, desde Janeiro, tem decorrido, em paralelo, no âmbito da medida PIEF, e em articulação com a Associação Arisco a quem o PETI pediu apoio para algumas actividades concretas, a desen-volver com os jovens.

Uma delas consistia em pedir a todas as entidades com quem os jovens contactam que descrevessem numa frase o seu entendi-mento sobre exclusão. Acabámos de ler a do Senhor Secretário de Estado e recebemos contributos do Senhor. Presidente da As-sembleia da República, do Senhor Ministro da Justiça, do Senhor Ministro da Tutela, da Senhora Ministra da Saúde e de inúmeros parceiros.

Numa outra actividade, Um click contra a exclusão, foram tiradas milhares de fotografias, no âmbito do PIEF. Escolher as dez finais

Joaquina Cadete

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SESSÃO DE ABERTURA

que representaram o todo nacional e que vos apresentamos a seguir foi uma tarefa imensa, e para terem uma noção do que foi esta fantástica actividade até chegar à fotografia vencedora, te-mos uma pequena sequência da autoria do colega João Vasco. O representante da escola autora da foto vencedora é o João Pereira que nos acompanha na mesa e vou pedir ao Senhor Se-cretário de Estado que entregue o diploma e o primeiro prémio, uma máquina fotográfica.

Mas também temos presentes para os nossos convidados da mesa. Vou pedir ao aluno representante da escola de Penafiel

que venha ao palco para oferecer o candeeiro feito pela sua turma ao Senhor Secretário de Estado.

Estes cubos/candeeiros, dispostos numa coluna e que podem admirar no átrio, são também resultado de um trabalho feito ao longo dos últimos meses e foi a maneira simbólica de todos os alunos do PIEF estarem representados em Santa Maria da Fei-ra. E este primeiro momento importantíssimo está encerrado. Em nome de Sua Excelência, o Secretário de Estado do Em-prego e Formação Profissional, dou por encerrada esta sessão de abertura.

Coluna de luz “Uma mão contra a exclusão”

Cubos de luz

João Pereira do PIEF do Monte da Caparica oferece candeeiro ao Vereador da CMSMF

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COMO SURGE O PEETI/PETI:

DE PLANO A PROGRAMA

Catalina Pestana

Ex-Dirigente do PEETI

Quero antes de mais cumprimentar todos os presentes e manifes-tar o meu prazer em esmanifes-tar presente na comemoração de 10 anos de combate à exploração do trabalho infantil em Portugal. Apresentando a mesa, à minha direita está o Aurélio, um jovem de Almada, margem sul, que esta a representar os jovens e o PIEF do Laranjeiro.

A Dr.ª Maria Josefina Leitão, foi das primeiras, quer no plano na-cional quer internana-cionalmente, a levantar a sua voz, juntamente com os primeiros que lutaram pela qualidade de vida das crian-ças, em relação à sua exploração em contexto de trabalho, quan-do ainda não havia PETI. Já veremos em que contextos, com o seu conhecimento, sabedoria, bom senso e espírito de investiga-ção, a Dr.ª Josefina Leitão deixou sempre Portugal numa posição digna e de conforto pela verdade da assunção das suas respon-sabilidades.

É licenciada em Direito - não se pode ser perfeito! -, exerceu fun-ções técnicas e de chefia em vários departamentos do Ministério do Trabalho, tendo sido, designadamente, Subdirectora-geral das Condições do Trabalho e Presidente da Comissão para a Igual-dade no Trabalho e no Emprego. Foi delegada governamental em numerosos grupos de trabalho, comités e conferências

inter-nacionais, nomeadamente, do Conselho da Europa, na OIT e na União Europeia. Actualmente, e apesar de ter abrandado o ritmo, continua a trabalhar no âmbito da cooperação e da investigação com as repúblicas de Angola, Cabo Verde, Moçambique e Timor, a par da actividade de consultora a nível nacional e internacional. O Dr. Joaquim Paulo Pintado Nunes também é licenciado em Di-reito - não se pode ser perfeito! -, e é de DiDi-reito mesmo de cora-ção. Tem uma pós-graduação em Direito do Trabalho pela Facul-dade de Direito de Lisboa, outra em Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho pela Universidade Lusófona, outra em Administração Pública pela Universidade do Minho. É inspector do trabalho des-de 1998. Foi assessor técnico do gabinete do Inspector-geral do trabalho. É dirigente regional da Inspecção Regional do Trabalho de Castelo Branco. Director de serviços de apoio à actividade da inspecção desde Outubro de 2007 e é formador interno da Auto-ridade para as Condições do Trabalho.

Estão aqui três pessoas determinantes neste percurso.

Eu chamo-me Catalina Pestana. Não sou licenciada em Direito, sou licenciada em Filosofia mas, de facto, aquilo de que gosto é de Psicologia Educacional, e de ser professora. Já ensinei coi-sas que não aprendi e que vou aprendendo. Fiz parte da primeira

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MESA 1

COMO SURGE O PEETI/PETI:

DE PLANO A PROGRAMA

equipa que constituiu o PETI, pelo que conheço muitas das pes-soas que ainda aí trabalham.

Tenho imensa pena que não estejam cá muitos dos convidados. Um, foi o Secretário de Estado que participou na fundação do PETI, o Prof. Fernando Ribeiro Mendes, que se arrepiou um bo-cadinho quando, na altura, lhe dissemos por onde é que teria que passar uma resposta a este tipo de problema. Apesar de ter dito que não estávamos a ver bem o que é que isso irá dar, confiou. E eu penso que quando os políticos atribuem alguma confiança técnica aos técnicos, conseguem, muitas vezes, alguns resulta-dos com mais eficácia. Porque, obviamente, nenhum político, de nenhum partido, pode ser especialista nas diferentes áreas sob as quais tem tutela. E um político que sabe ouvir já é um acon-tecimento extraordinário. E mesmo com uma grande luta, o Prof. Ribeiro Mendes conseguiu ouvir. Passados dois anos estava con-vencido e é a ele que, formalmente, se deve a criação do Plano para Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil.

Faz hoje exactamente dez anos que saiu o diploma que criou o Plano. Antes dessa decisão governamental, e pressionada pelo facto de as empresas nacionais, sobretudo as dos têxteis e as do calçado com qualidade e preços competitivos serem, sistemati-camente, preteridas nos mercados internacionais em função da marca vexatória da utilização do trabalho de crianças já os sin-dicatos e várias ONG, entre elas, a CNASTI, e sectores da Igreja Católica, haviam denunciado, tentando alterar a situação. A ética de consumo é, muitas vezes, utilizada como manobra in-timidatória das pequenas e médias empresas que se atrevem a entrar nos mercados internacionais em competição com as gi-gantescas multinacionais. O processo é depois um círculo vicio-so. Um maior número de empresas em situação difícil representa mais desemprego, mais dificuldades familiares, mais trabalho infantil. Era preciso romper este ciclo e houve coragem política para o fazer.

Procurámos, em todas as organizações, nacionais e internacio-nais, o estudo que dera origem a uma informação de que seriam 200.000 as crianças trabalhadoras em Portugal, mas ninguém co-nhecia, mesmo a OIT o citava. Investigámos a origem e o paradei-ro desse estudo, queríamos saber. Soubemos, finalmente, que se tratava de uma estimativa elaborada a partir do trabalho de uma jornalista, Susan Williams, que em Portugal procurara conhecer a realidade especificamente num distrito do norte do país e que,

a partir de um estudo de caso, extrapolara para o universo. Era, pois, preciso investigar e saber que tipo de trabalho infantil tínha-mos e qual a sua dimensão.

Era preciso também assumir que tínhamos trabalho infantil… E assumir que se tem trabalho infantil numa Europa que não prima para transparência e pela clareza, porque os ingleses também têm trabalho infantil. Os meninos ingleses vão distribuir leite às seis da manhã e jornais às sete e meia. Mas isso não tinha mal nenhum porque os ingleses são ricos e nós somos pobres. Aliás, hoje em dia, o trabalho infantil que foi extremamente re-duzido no sector formal, continua a existir, mas como é traba-lho infantil dos ricos parece que é diferente. Então e os meninos das telenovelas e das passerelles, cujas mães fazem filas para os castings, e que não são presas pelos senhores inspectores do trabalho? Era muito mau quando os meninos iam dar de beber às ovelhas porque era trabalho infantil dos pobres, mas trabalhar oito horas seguidas debaixo de projectores fortíssimos a repetir, repetir, repetir, é muito bonito. É assim.

Em 1998, foi feito um estudo coordenado pelo Dr. Sousa Fialho, que foi publicado, e os 200.000 passaram a 43.077. Isto não é nenhuma alegria, mas é diferente.

Depois disso foram dez anos a tentar fazer diminuir este número, porque 43.000 é algo que deve incomodar todos os dias cada um de nós, cidadão de um país que se quer integrado na Comunida-de Europeia. Enquanto houver uma criança que não está na esco-la porque está a trabalhar nenhum de nós pode dormir de cabeça descansada, porque é o nosso futuro que está a ser hipotecado. Dez anos depois a realidade é completamente diferente. Isso é bom, mas há novas formas de exploração do trabalho infantil. E mais uma vez é a OIT quem as coloca na agenda política mundial, mas Portugal tem que despertar, de facto, para elas. São as cha-madas formas intoleráveis de trabalho infantil que todos sabemos que existem, em relação às quais ainda não foi decidida a melhor metodologia para começar a trabalhar sobre elas.

Aconselho-vos a ouvirem com atenção o que se passará, dado ser raro poder ter na mesma mesa duas pessoas com tanta ex-periência, quer no sector da produção legislativa da qualidade de trabalho, quer na intervenção directa dum parceiro determinante em toda a vida do PETI que foi a inspecção do trabalho.

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O DESAFIO QUE INTERPELOU PORTUGAL

Antes de mais, permitam-me que agradeça à Dr.ª Joaquina Ca-dete o convite que me dirigiu para participar nesta conferência comemorativa dos dez anos da publicação da Resolução de Con-selho de Ministros que criou o PEETI.

É, para mim, um grande prazer e uma honra estar aqui, hoje, dado o papel relevantíssimo que o PEETI desempenhou, e continua a desempenhar, na protecção das nossas crianças. Por isso, temos razões para nos regozijar.

A minha exposição irá dar conta de como foi possível, num prazo relativamente curto, Portugal passar de um país acusado interna-cionalmente por não actuar contra o trabalho ilegal de crianças, para um país reconhecido como um exemplo de boas práticas no combate ao trabalho infantil.

Remontando no tempo, de referir que a primeira regulamentação do trabalho de crianças em Portugal - que é, simultaneamente, a primeira lei do trabalho - data de 1891. Era uma regulamentação relativamente avançada, para a época, na medida em que fixava a idade mínima de admissão ao emprego, na indústria, aos 12 anos, embora admitisse, em certas condições, que crianças com 10 anos pudessem trabalhar, desde que respeitada a obrigação escolar. O próprio diploma previa mecanismos de controlo para o efeito. Esta lei proibia, ainda, o trabalho subterrâneo às mulheres, bem como às crianças do sexo masculino até aos 14 anos, e ou-tros trabalhos insalubres e perigosos. No que concerne às condi-ções de trabalho, regulamentava o trabalho nocturno, estabelecia limites ao trabalho contínuo e regras sobre descanso intercalar. Numa altura em que o Direito do Trabalho se encontrava nos seus primórdios, Portugal inseria-se sem dificuldade no contexto europeu, quer quanto ao tempo quer quanto à regulamentação adoptada, uma vez que são da mesma época e têm conteúdo semelhante as primeiras leis nacionais europeias sobre o trabalho de crianças.

É claro que entre a legislação e a prática ia uma grande distância, pois não basta a lei para modificar concepções e práticas sociais arreigadas, como é o caso do trabalho de crianças. Além disso, é

impossível à lei cumprir a sua missão de regulador social se não foram instituídos mecanismos e adoptadas medidas que garan-tam o seu cumprimento. Ora, como sabemos, as inspecções do trabalho, que foram então criadas, eram muito incipientes. A sorte das crianças trabalhadoras, sujeitas a condições de tra-balho susceptíveis de pôr em risco a sua vida, saúde e desenvol-vimento, foi uma das questões sociais objecto da atenção dos movimentos humanitários que acompanharam o dealbar da re-volução industrial. O próprio Papa Leão XIII incluiu-a na Encíclica Rerum Novarum.

Todavia, o grande salto na regulamentação do trabalho infantil só foi dado com a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), finda a Primeira Guerra Mundial, que incluiu nos seus Esta-tutos a protecção das crianças. Por isso, não é de admirar que, logo no ano da sua criação, em 1919, tenham sido adoptadas duas convenções na matéria. A convenção n.º 5 sobre a idade mínima de admissão na indústria, que é fixada em 14 anos, e a convenção n.º 6 sobre trabalho nocturno de crianças, que é proi-bido aos menores de 18 anos.

Ao longo dos anos, a OIT elaborou um vasto conjunto de nor-mas sobre trabalho de crianças, que não será aqui referido por manifesta falta de tempo. No entanto, não é possível, dada a sua importância, deixar de mencionar a adopção, em 1973, da con-venção n.º 138 sobre a idade mínima de admissão ao emprego, que é fixada nos 15 anos e nunca antes de terminada a escolari-dade obrigatória, convenção que abrange todos os sectores de actividade e todo o tipo de trabalho.

A regulamentação do trabalho de crianças cresceu com o fim da Segunda Guerra Mundial, como consequência dos movimentos de protecção dos direitos humanos, então surgidos, e das orga-nizações internacionais, entretanto criadas. É o caso, nomeada-mente, do Conselho da Europa, onde a Carta Social Europeia, de 1961, estabeleceu a idade mínima de admissão ao trabalho aos 15 anos e proibiu que crianças ainda submetidas à escolaridade obrigatória fossem empregadas em trabalhos susceptíveis de as privar do pleno benefício dessa escolaridade.

Josefina Leitão

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MESA 1

O DESAFIO QUE INTERPELOU PORTUGAL

Também nas Nações Unidas, o Pacto internacional relativo aos Direitos Económicos, Sociais e Culturais incluiu um artigo sobre o trabalho de crianças. No entanto, e apesar de todos estas con-venções internacionais consagrarem mecanismo de controlo do seu respeito pelos Estados Partes, são conhecidas as dificulda-des inerentes à aplicação do Direito Social Internacional. Por isso, o Relatório global da OIT, elaborado no seguimento da Declaração de Princípios e Direitos Fundamentais do Trabalho, de 2006, respeitante ao trabalho infantil, refere que, ainda em finais dos anos 80 do século XX, as reacções ao trabalho infantil iam da resignação à negação, passando pela indiferença. Eu própria fui testemunha de casos em que era negada a existência de trabalho infantil por parte de países onde, efectivamente, existia.

Esta situação iria, porém, inverter-se a partir do fim da década de 80, por força da acção das organizações internacionais e da sociedade civil, isto é, das ONG’s e das organizações sindicais. A culminar esta acção, a ONU elaborou a Convenção dos Direi-tos da Criança, em 1989, que é a Magna Carta dos DireiDirei-tos da Criança, e a OIT lançou o IPEC, que se tornou rapidamente num programa de extraordinário sucesso. No que concerne à União Europeia, foi adoptada uma directiva relativa à protecção dos jo-vens no trabalho.

Por sua vez, o Conselho da Europa, preocupado com o grau de incumprimento da Carta Social Europeia, elaborou o Protocolo adicional prevendo um sistema de reclamações colectivas e a OIT incluiu na Declaração relativa aos Princípios e Direitos Fun-damentais do Trabalho a abolição efectiva do trabalho infantil e adoptou a convenção n.º 182 sobre as piores formas de trabalho de crianças. Por outro lado, as organizações da sociedade civil mantiveram-se muito activas na denúncia de situações de traba-lho infantil.

Este movimento, que se gerou a nível mundial, também ocorreu no nosso país, onde os sindicatos e as ONG se revelaram particu-larmente activos na sinalização de situações de trabalho de crian-ças em regiões economicamente deprimidas, nomeadamente, no Vale do Ave. A estas denúncias foi dada grande relevância pelos meios de comunicação social, que, ao conferirem visibilidade a uma situação que até aí se mantinha mais ou menos encober-ta, obrigaram os poderes públicos e a sociedade em geral a ver aquilo que parecia não quererem ver. A Igreja Católica interveio igualmente nestes movimentos.

A situação descrita teve, como é natural, repercussões políticas. Assim, foram celebrados dois acordos de concertação social que abordaram a questão do trabalho infantil: um primeiro, em 1990, que esteve na origem da revisão da legislação sobre trabalho de menores, que se tinha mantido intocada durante mais de 20 anos; e, um segundo, em 1996, em que foram desenhadas várias me-didas de combate ao fenómeno, algumas das quais depois re-cuperadas no programa de acção do PEETI. Este movimento iria culminar com a Lei Constitucional de 1/97, na qual foi incluída a proibição do trabalho de menores em idade escolar.

Enquanto a nível interno iam sendo tomadas estas medidas, a ní-vel internacional foram surgindo vários relatórios sobre trabalho de crianças em Portugal, como é o caso do relatório da ONG Anti-Slavery e também dos apresentados ao Congresso Americano sobre direitos humanos. Nestes relatórios é referido que existiam cerca de 200.000 crianças a trabalhar em Portugal, em particular

em sectores como o vestuário, calçado, cerâmica e exploração de granitos, que, ao tempo, eram de forte exportação.

Por outro lado, surgiram relatos sobre a situação portuguesa em várias televisões, nomeadamente, na BBC e na Chaine 2, o que acabou por se repercutir na apreciação feita, pelo Comité de pe-ritos independentes do Conselho da Europa, sobre o cumprimen-to da Carta Social Europeia na parte respeitante ao trabalho de crianças.

Efectivamente, nessa apreciação, o Comité de peritos refere que, não obstante Portugal ter uma legislação conforme à Carta, não a estava a cumprir, na medida em que existia um número muito ele-vado de crianças a trabalhar antes de atingirem a idade mínima de admissão ao emprego. Esta conclusão foi seguida pelo Comité de Ministros do Conselho da Europa, que dirigiu uma recomendação ao Governo português, aconselhando-o a adoptar as medidas ne-cessárias para que a legislação se traduzisse na prática. Quase em simultâneo, verificou-se a apresentação ao Secretário-Geral do Conselho da Europa de uma reclamação da Comissão Internacional de Juristas contra Portugal por violação da disposi-ção da Carta que proíbe o trabalho infantil.

Perante este estado de coisas, a posição de Portugal tornou-se insustentável, pelo que o Governo decidiu tomar medidas drásti-cas para a resolução do problema. Entre as medidas então toma-das incluiu-se a criação do PEETI e do Conselho Nacional contra a Exploração do Trabalho Infantil.

Simultaneamente, iniciou-se uma colaboração muito estreita com a Organização Internacional do Trabalho, nomeadamente, com o IPEC, que apoiou o lançamento de um inquérito às famílias com crianças em idade escolar, destinado a caracterizar e quantificar o trabalho infantil, pois só um verdadeiro conhecimento da reali-dade permite a adopção de medidas adequadas e eficazes. Ao mesmo tempo, procedeu-se a mais uma revisão da legislação sobre trabalho de menores, foi ratificada a convenção n.º 138 e transposta a directiva sobre protecção dos jovens no trabalho, bem como agravadas as sanções por trabalho infantil. Por outro lado, reforçou-se a acção da Inspecção do Trabalho, que passou a colaborar com outras inspecções, nomeadamente, com a Ins-pecção de Finanças.

Para além disto, foram tomadas medidas de combate ao insu-cesso e ao abandono escolar e utilizaram-se os programas de luta contra a pobreza e a exclusão social e o Rendimento Mínimo Garantido para resolver situações de trabalho infantil por razões económicas. Em simultâneo, assistiu-se à mobilização da socie-dade civil, ONG, sindicatos e meios de comunicação social, no combate a este flagelo que nos envergonhava.

O elemento central de luta contra o trabalho infantil foi, porém, o PEETI, de que não vou falar porque existem pessoas que o pode-rão fazer melhor do que eu. Direi, somente, que o PEETI era uma estrutura de projecto, dependente do Ministério do Trabalho, que articulava com vários ministérios, e que trabalhava, no terreno, na sensibilização e desenvolvimento de um trabalho extraordinário de prevenção e remediação de casos de trabalho infantil, de que é exemplo o Programa Integrado de Educação e Formação. Por todas estas razões, gostaria, neste momento, de felicitar todos aqueles que o criaram, que o dirigiram ao longo destes dez anos, e que nele trabalharam e trabalham, pelo relevantíssimo trabalho

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O DESAFIO QUE INTERPELOU PORTUGAL

social que desempenharam, e continuam a desempenhar, em prol das nossas crianças. Assim sendo, sinto-me muito honrada por ter colaborado, ainda que sem carácter de regularidade, na sua acção.

Para finalizar, cabe indagar as razões que conduziram ao sucesso das políticas adoptadas e o motivo porque Portugal é conside-rado um exemplo de boas práticas. Do meu ponto de vista, há quatro razões que estão na origem deste sucesso: não ter negado a existência de trabalho infantil (negando-o, não é possível com-batê-lo); uma vontade política forte no sentido da sua elimina-ção; e o empenhamento de todos os actores sociais. A tudo isto acresceu a criação e a acção de uma estrutura dinâmica, flexível, dialogante, capaz de mobilizar vontades e de congregar esforços no cumprimento dos seus objectivos – o PEETI/PETI.

Dez anos volvidos, existirá ainda trabalho infantil? Como já foi referido, o trabalho infantil, tal como o conhecíamos há dez anos,

é, hoje, um fenómeno residual. No entanto, há novas formas de trabalho de crianças, que continuam a solicitar a nossa atenção. Situações como as que ocorreram durante os anos 90 poderão repetir-se? Não sei. O insucesso escolar e a pobreza são poten-ciadores da exploração de crianças, qualquer que seja a forma que assuma.

Gostaria de terminar com uma frase do Director Geral da OIT, Juan Somavía, retirada de um livro que o Sr. Frans Roselaers, que nos honra com a sua presença, fez o favor de me oferecer: «As crianças são o futuro da sociedade nos planos biológico, organi-zacional, económico e cultural, e têm um direito incontestável a beneficiar dos recursos da sociedade.»

Muito obrigada pela vossa atenção.

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TRABALHO DE MENORES: DESAFIOS E SUCESSOS

Para falar sobre desafios e sucessos relacionados com o trabalho de menores devemos recentrar o tema no trabalho que coloca em crise o normal desenvolvimento do menor. É deste último que vos falarei um pouco, nesta breve apresentação. E é deste último que falaremos porque é este que se apresenta como problema público.

Sabemos que além dos efeitos no desenvolvimento ou mesmo na dignidade individual do menor, o trabalho em idades prematuras, em detrimento do processo educativo, tem uma correlação di-recta com o crescimento económico e social. Citando um estudo de Anker, publicado na Revista Internacional do Trabalho, vemos que são tão gravosos os efeitos deste fenómeno na economia como, a um nível micro, no jovem e nas respectiva famílias. Embora se identifiquem aspectos positivos do trabalho desenvol-vido por menores na preparação para a vida activa do trabalho, o mesmo pode ter, desde logo, o efeito de um amadurecimento precoce, com reflexos na construção da personalidade da

crian-ça. Para o menor, é a sua especial vulnerabilidade que está ex-posta, sendo essa exposição tanto mais gravosa, quanto a na-tureza da actividade assuma contornos de exploração, seja pelo tipo de actividade realizada – pense-se, por exemplo, na prosti-tuição – seja pelas condições em que o trabalho é desenvolvido, com a sujeição da criança ou jovem a riscos desproporcionados e indevidos para a respectiva segurança e saúde ou para o seu nor-mal desenvolvimento sócio-cultural – pense-se, por exemplo, na construção civil, na agricultura ou nas indústrias de mão-de-obra intensiva. Pense-se, aliás, em qualquer actividade que coloque em risco o normal desenvolvimento do menor.

O trabalho dos jovens em idade escolar configura-se também como uma variável que potencia não apenas um menor rendi-mento escolar, mas o abandono escolar. E a longo prazo, a falta de escolarização dos menores envolvidos no trabalho, apresen-ta-se como um problema sério numa economia global em que a competitividade se baseia cada vez mais no conhecimento e qualificação dos trabalhadores.

Por outro lado, o mercado de trabalho sofre os efeitos do trabalho infantil, com expressão sobretudo a nível local. Sendo a activida-de dos menores em idaactivida-de escolar uma actividaactivida-de não activida-declarada, ela é tendencialmente menos remunerada que a actividade idên-tica de um adulto, afectando assim quer os níveis de emprego, especialmente em actividades que exigem pouca especialização, quer os níveis de remuneração da população adulta ocupada em actividades similares.

Por todas estas razões e outras aqui não identificadas, este pro-blema público tem sido objecto de um conjunto significativo de instrumentos normativos internacionais, desde logo a Declaração Universal dos Direitos do Homem, a que se aduzem a Convenção sobre os Direitos da Criança, Convenção Europeia dos Direitos da Criança, a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, a Carta Social Europeia, a Convenção n.º 138 da OIT que estabelece a idade mínima de admissão ao emprego e a Convenção n.º 182 da OIT, sobre as piores formas de trabalho infantil.

Joaquim Pintado Nunes

Referências

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