• Nenhum resultado encontrado

MESA 6

NO CENTRO DA AGENDA DA OIT E SUA PARCERIA COM PORTUGALO COMBATE AO TRABALHO INFANTIL

O segundo comentário, tem que ver com um aspecto que me

parece que talvez ainda necessite de algum aprofundamento: o conceito de trabalho infantil. Ouvi aqui algumas intervenções e alguns pedidos de esclarecimento que mostram que ainda há um trabalho a fazer nesse sentido.

Bom, parte dos problemas são problemas quase de semântica, e portanto a esses eu não ligaria muita importância. O facto de na língua portuguesa o termo «trabalho» ser utilizado no sentido muito amplo. Há os «trabalhos para casa» na escola ou, quan- do se apresenta uma investigação, diz-se «vou apresentar o meu trabalho». Por outro lado, nós não temos, como os anglófonos, dois termos diferentes para work e o labour. Isso torna às vezes as coisas um bocado mais complicadas. Ora, na realidade, aqui- lo em que, em Portugal, se chama «trabalho infantil» no sentido que alguns utilizaram aqui, chamamos nós na OIT, «actividades económicas das crianças». E aquilo a que em Portugal se apelida

de «exploração do trabalho infantil», chama a OIT «trabalho

infantil».

Eu acho que é muito importante quando estamos a falar deste fe- nómeno ter um grande rigor na utilização dos conceitos, e para a OIT, não há dúvida absolutamente nenhuma sobre o que constitui «trabalho infantil» ou «exploração do trabalho infantil» se utilizar- mos a terminologia portuguesa. Há exploração do trabalho infantil quando se põe em causa o normal desenvolvimento harmonioso da criança, seja em termos físicos, seja em termos intelectuais, seja em termos familiares, seja em termos da sua socialização. E isto depende basicamente de três coisas:

um: a idade precisa da criança, •

dois: o número de horas que essa criança está economica- •

mente activa por semana,

e três: a natureza e as condições em que essa actividade •

económica se realiza.

E para a OIT, há trabalho infantil nas seguintes condições: qualquer criança em actividade económica até aos 11 anos •

de idade inclusive; essa criança tem que estar na escola e a brincar;

entre os 12 anos e a idade mínima de emprego — que varia •

de país para país, mas basicamente está numa média dos 15 anos de idade — para OIT é trabalho infantil qualquer das piores formas ou, mesmo tratando-se de trabalhos leves, se a actividade é superior a 15 horas semanais;

finalmente, a partir de idade mínima de acesso ao emprego •

até aos 18 anos, é considerado trabalho infantil, ou “explo- ração do trabalho infantil”, alguma das quatro piores formas que já foram aqui analisadas.

Terceiro e último comentário: uma nota de optimismo. Segundo

as nossas estatísticas, comparando as estimativas calculadas em 2000 e 2004, houve uma diminuição à escala mundial da intensi- dade do trabalho infantil, e mais importante ainda, da intensidade das piores formas do trabalho infantil. Essa é uma vitória, se qui- serem, não apenas da OIT, mas sim de todas as vontades que se juntaram à volta deste desígnio mundial. Apesar de termos me- lhorado, o caminho a percorrer ainda é grande porque, são ainda 217 milhões as crianças que trabalham em vez de irem à escola. Para o fazer há que dar o primeiro passo que Portugal deu há dez anos: assumir que há o problema. E, depois, é estudá-lo. Saber quais são as suas circunstâncias e qual é a sua natureza. Para, em seguida, traçar as estratégias e as politicas inteligentes para o combater e as instituições que lhe podem dar corpo. E foi isso que fez o PETI.

E portanto, nas relações entre o Escritório da OIT em Lisboa e o PETI, já não temos grandes lições a dar ao PETI. O que temos é de capitalizar essa riquíssima experiência destes 10 anos. O que estamos a fazer através dos colóquios temáticos. Coisa que esta- mos a fazer no apoio aos países de língua portuguesa, juntando a também enorme experiência do Brasil.

Termino, agradecendo a vossa atenção e pedindo uma salva de palmas, não para a OIT, mas para o PETI e para a sua equipa. Muito obrigado

MESA 6

10 ANOS DE COLABORAÇÃO IPEC/PETI

É para mim uma grande honra ter sido convidado para as come- morações do 10º aniversário do PETI.

Igualmente, tenho o imenso prazer de participar, mais uma vez, num evento organizado pelo PETI – Programa para a Prevenção e Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil em Portugal – cujo tema é o da promoção dos direitos da criança e, em especial, o do combate ao trabalho infantil.

Em várias ocasiões, durante os 10 anos de existência e acção do PETI a favor das crianças de Portugal, eu estive em contacto e apoiei o trabalho deste programa. Tal deu-me a oportunidade de observar pessoalmente o que pode ser feito e o que foi alcança- do pelo PETI nesta matéria. Sinto-me motivado e impressionado pelo compromisso e trabalho árduo de tantos neste país em fazer ainda mais e melhor por forma a garantir a todas as crianças uma infância feliz e centrada na educação.

A julgar por muitos de vós que têm vindo a trabalhar arduamente com o PETI, ao longo da última década, e cujas faces, ideias e energia eu pude conhecer pessoalmente em 2001, 2002 e 2006, o programa foi tornando-se mais forte ao longo do seu cresci- mento.

Com dez anos o PETI encontra-se na sua infância, com muitas descobertas novas e planos por fazer, sobre os quais ouviremos durante esta conferência, especialmente por parte das crianças e dos jovens directamente envolvidos.

É para mim gratificante testemunhar, mais uma vez, o compro- misso das autoridades portuguesas, especialmente do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, dos parceiros sociais e da sociedade civil, em atacarem, dentro e fora do país, o proble- ma do trabalho infantil e em encontrarem soluções efectivas no contexto mais abrangente dos direitos da criança e do desenvol- vimento.

A este respeito, a actual cooperação com a Comunidade de Paí- ses de língua Oficial Portuguesa – CPLP – assume crucial impor- tância e deve ser recomendada. Estamos perante uma parceria

que promove o conhecimento comum, a troca de boas práticas e a partilha de competências nas áreas do emprego e do trabalho e do trabalho infantil. Portugal e Brasil tomaram a liderança, nesta área, na CPLP e apoiam entusiasticamente os outros países da comunidade.

Gostaria de reconhecer, mais uma vez, que o programa da OIT – IPEC – foi inspirado e guiado pelas iniciativas de Portugal e de outros países de língua oficial portuguesa de combate ao flagelo do trabalho infantil. Esta cooperação altamente frutuosa cobriu quer aspectos analíticos, quer a acção no âmbito da luta contra o trabalho infantil.

O trabalho infantil é um fenómeno preocupante, existente a ní- vel mundial, com maior prevalência nos países em desenvolvi- mento. Também tem sido detectado, embora com muito menor expressão, nas economias desenvolvidas da Europa Ocidental e na América do Norte. Algumas das piores formas de trabalho in- fantil, em particular exploração sexual e tráfico, ocorrem em todas as regiões do mundo. Alguma prevalência de trabalho infantil em actividades e ocupações perigosas, bem como excessivas horas de trabalho em outros sectores, também tem sido registada em países industrializados. Informação quantitativa é contudo escas- sa, uma vez que apenas a Itália, Portugal (duas vezes) e a Turquia levaram a cabo até hoje inquéritos específicos sobre trabalho in- fantil. Existe, contudo, informação qualitativa muito rica nos paí- ses industrializados resultante das inspecções do trabalho e dos relatórios de aplicação das normas do trabalho nas legislações nacionais.

A acção de combate ao trabalho infantil nos países industrializa- dos foi examinada e debatida na Conferência sobre a Exploração do Trabalho Infantil nos Países Industrializados, organizada pelo Governo Português, com a assistência do Programa Internacio- nal para a Eliminação do Trabalho Infantil (IPEC/OIT), em Lisboa entre 2 e 3 de Fevereiro de 2001. Voltaria a sê-lo aquando da Conferência sobre Trabalho Infantil nos Países de Língua Oficial Portuguesa, entre 11 e 13 Maio de 2006. Estas conferências de- monstraram o forte compromisso dos governos e dos parceiros