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patologia. No entanto, uma patologia que envolve muitos milhões de crianças dos quais 126 em trabalhos considerados perigosos e, portanto, em formas, directamente, abolidas.

Nós temos que considerar, por isso, estas formas múltiplas de trabalho no conjunto das suas articulações e na complexidade da sua integração no âmbito das estruturas sociais. Na verdade, o trabalho infantil é multidimensional. Tem uma infinidade de

aspectos que não são susceptíveis de poderem ser analisados de uma forma unidireccional, temos de ter um pensamento da com-

plexidade para realidade social complexa. é multifacetado. Tão

pouco o trabalho infantil, como se pensou durante tanto tempo, e já foi hoje referido, designadamente, pela Dr.ª Josefina Leitão, é um trabalho exclusivo em vias de desenvolvimento e do terceiro mundo.

Há trabalho infantil no primeiro mundo e há exploração, muita ex- ploração de trabalho infantil nos países mais ricos do planeta. Temos de considerar, portanto, todas estas dimensões, todas es- tas características multifacetadas e considerar, no âmbito dessa complexidade, as formas mais adequadas de pensar e de intervir nos mundos do trabalho infantil.

Nos últimos anos, de forma muito marcada, têm-se exprimido no quadro, quer da interpretação teórica, quer de intervenção social, duas correntes que se têm apresentado antagonicamente.

A corrente dos abolicionistas e que têm os seus pontos de fi-

liação, designadamente, no âmbito da influência da Organiza- ção Internacional do Trabalho, e a corrente dos reguladores que, curiosamente, tem alguns eixos de ancoragem em perspectivas defendidas, por exemplo, por organizações como a UNICEF. Do meu ponto de vista, quer a posição abolicionista, quer a po- sição reguladora, não são posições susceptíveis de serem anali- sadas dicotomicamente. Não são, efectivamente, posições que possam ser analisadas como contradições insanáveis. Nós ne- cessitamos de abolir determinadas formas de trabalho, necessi- tamos de regular outras formas de trabalho. As posições que têm sido defendidas pelo PETI, e que são, claramente, dominantes na sociedade portuguesa, têm tendido para o lado das posições abolicionistas, com evolução claro, conceptual, e também do ponto de vista legislativo, por exemplo, no quadro da defesa dos trabalhos considerados leves e da sua regulação legislativa, no âmbito também das actividades artísticas. Mas, digamos, o peso fundamental das concepções e das propostas tem estado do lado das posições abolicionistas.

Conhecemos mal as posições reguladoras. No entanto, estas po- sições têm alguma influência em alguns países do mundo, e eu penso que é importante perceber o sentido de propostas como aquelas, por exemplo, que têm levado à criação de sindicatos de crianças trabalhadoras, sem imediatamente as condenar, as excluir. Refiro-me aos sindicatos de crianças trabalhadoras que existem, por exemplo, em países como a América Central, a Amé- rica Latina, e que têm hoje a sua defesa em várias organizações não governamentais, designadamente, algumas sedeadas na Eu- ropa. Têm também os seus ecos académicos em vários trabalhos científicos produzidos por vários autores de referência dentro deste plano.

Julgo que ganharemos todos em serem capazes de articular, exactamente, estas duas perspectivas de uma forma não dicotó-

mica nem antagónica, de pensarmos no que precisamos ainda de regular e do que precisamos, definitivamente, de abolir.

Isto implica um trabalho, prioritariamente, de análise das condi- ções sociais que propiciam o trabalho infantil e a exploração do trabalho infantil. E desde logo perceber qual é o sentido económi- co do trabalho das crianças. Isso foi já referido pelo Pedro Gou- lart que, aliás, tem trabalhado, enquanto economista, nesta área. Entendermos que este trabalho das crianças decorre duma socie- dade desigual, com um modelo específico de desenvolvimento, e que tem potenciado o aproveitamento e a exploração do trabalho das crianças no quadro da divisão internacional do trabalho.

O trabalho infantil, por isso mesmo, e as suas formas mais em- blemáticas, mais directamente associadas à exploração são um sintoma não propriamente duma sociedade rural e atrasada mas duma sociedade em transição. E devo confessar que foi com

espanto mas também, evidentemente, com uma ampla concor- dância, que eu vi hoje o Sr. Secretário de Estado dizer: «Atenção, o desenvolvimento não vai acabar com a exclusão social. O desen- volvimento, dentro do modelo social hegemónico no Ocidente, vai promover a exclusão.» Ora, é por isso que é necessário trabalhar para além das questões do desenvolvimento.

E a verdade é esta: é que o trabalho infantil em Portugal, desig- nadamente o trabalho industrial tem sido, sobretudo, assinalado naquelas zonas que transitaram duma situação rural para zonas de industrialização difusa. É o caso, por exemplo, das zonas do têxtil, do calçado, da produção manufactureira.

É por isso necessário perceber que o combate ao trabalho infantil é um combate que se articula de uma forma mais geral com a luta contra a exclusão, e de uma forma mais específica na luta pela promoção dos direitos da criança.

A estratégia deve por isso ser, basicamente, uma estratégia pre- ventiva, simultaneamente, apostada na abolição de determinadas formas de trabalho, na regulamentação de actividades que se compatibilizem com os demais direitos da criança.

Importa-nos, nesta conformidade, perceber quais são os traba- lhos regulamentáveis e quais são os trabalhos abolíveis. Tem ha- vido uma imensa produção teórica acerca da questão do que é um trabalho abolível e o que é um trabalho regulamentável. Esta é uma das tipologias mais conhecidas, talvez também das mais úteis, que é uma tipologia oriunda da UNICEF, que caracte- riza e distingue, basicamente, o trabalho realizado em família do trabalho realizado fora da família. No entanto, esta tipologia tam- bém tem alguns pontos frágeis e merece também por isso alguma discussão e aprofundamento.

E proponho pensar diferentes formas de trabalho, designadamen- te, de trabalho por conta de outrem, considerando que todo o trabalho das crianças é um trabalho por conta de outrem, no qual se têm verificado algumas mudanças e transições recentes na sociedade portuguesa.

As fotografias que utilizo são fotografias retiradas de arquivos in- ternacionais sobre o trabalho infantil e nenhuma delas diz respeito a crianças portuguesas. Em primeiro lugar, o trabalho assalaria- do em unidade industrial, seja na indústria manufactureira, seja na construção civil, ou em qualquer outro domínio da actividade económica industrial. É, exactamente, aqui que muito provavel-

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mente a sociedade portuguesa mais progrediu no decurso dos úl- timos dez anos. Não é hoje fácil, como os dados, por exemplo, da Inspecção-Geral do Trabalho, claramente documentam encontrar crianças a trabalhar em unidades industriais ou em estaleiros da construção civil e mesmo em unidades de serviços.

Mas concentremo-nos na questão do trabalho industrial. No entanto, isso era relativamente frequente há uma década atrás quando era possível ainda produzir, de forma algo aleatória, es- timativas sobre o trabalho infantil em Portugal - que se vieram depois, efectivamente, a confirmar pelos estudos rigorosos reali- zados que não tinham confirmação - que apontavam para algu- mas centenas de milhares de crianças. 200.000 crianças eram um número apontado, por exemplo, pela Anti-Slavery International. A realidade mudou nesta matéria. Mudou porque houve mudan- ças no tecido industrial, mudou porque houve um claro aumento da consciência colectiva na sociedade portuguesa e esse aumen- to da consciência colectiva, em larga medida, decorrente do es- forço de organizações como a CNASTI e, também desde que foi criado, do PETI. Mudou, finalmente, porque a própria estrutura económica das unidades industriais é hoje pouco compatível com formas de trabalho não qualificado, como é o das crianças. Isso não significa, no entanto, que não seja necessário continuar atento, continuamente disponível para perseguir formas residuais de utilização e exploração das crianças em unidades industriais, sobretudo, quando essas formas correspondem, efectivamente, a modos de emprego das crianças que contrariam a totalidade dos seus direitos.

Do mesmo modo, o trabalho assalariado dos sectores do comér- cio ou dos serviços que hoje se pode encontrar muito frequente- mente em articulação com actividades de natureza familiar, i.e., famílias que têm ou exploram, ou que trabalham, nessas áreas onde se ainda encontram crianças.

O trabalho assalariado em exploração agrícola. Alguns estudos de caso documentam isso de forma muito eloquente para algumas formas sazonais de trabalho em algumas regiões do país onde as crianças são mobilizadas para determinado tipo de actividades que são assalariadas em explorações agrícolas.

O trabalho domiciliário: que tem tido alguma visibilidade mediáti- ca mais recente, que funciona como o último refúgio das velhas formas de ocupação das crianças em actividades industriais é frequentes vezes a forma que as famílias têm de combater situa- ções de grande precariedade em que a relação salarial não é sufi- ciente para satisfazer as suas necessidades de sobrevivência. E aqui temos necessidade de actuar de forma mais atenta, mais flexível, utilizando metodologias necessariamente muito diferen- ciadas e muito adaptadas a esta realidade que não podem ser exactamente as mesmas. Isso foi dito também pelo Inspector- geral do Trabalho para a perseguição da exploração das crianças em unidades industriais ou de serviços.

As piores formas de trabalho infantil, que mereceram uma inter- venção da Maria João Leote de Carvalho, têm sido também ob- jecto de alguma tematização, ainda que sejam eventualmente, as que nós pior conhecemos no âmbito da realidade portuguesa. As actividades de recolectagem de materiais recicláveis da rua, é uma actividade que tem alguma incidência em alguns países em desenvolvimento e também alguma em Portugal.

O trabalho doméstico, sobretudo o trabalho que é realizado no quadro da intervenção junto de famílias de classe média e supe- rior. As actividades no âmbito das indústrias do lazer, da moda, da cultura, da publicidade ou do desporto profissional que mere- cerão também uma reflexão a seguir.

Todas estas actividades são, evidentemente, actividades que constituem formas de trabalho por conta de outrem, ainda que algumas tenham especificidades que mereceram estudos pró- prios, quer com os opúsculos, quer com os estudos temáticos constitutivos do livro.

O nosso opúsculo, do Fernando Coelho, meu e das técnicas que colaboraram connosco, centrou-se nas formas mais tradicionais, no trabalho agrícola, designadamente, trabalho assalariado agrí- cola, no trabalho industrial, em algumas actividades de rua, reco- lectagem de materiais, etc. E é sobre o conjunto dessas formas, digamos, mais tradicionais de trabalho por conta de outrem que produzimos algumas conclusões que, portanto, partilho convos- co.

Em primeiro lugar, ficou claro, no conjunto desses estudos de ca- sos realizados, e cruzando com a informação científica entretanto disponível quer sobre a realidade portuguesa, quer sobre outras re- alidades, que as crianças se envolvem no trabalho infantil, normal- mente, depois de uma ruptura com as instituições escolares - ainda que haja crianças, sobretudo no quadro do trabalho domiciliário, que trabalham ao mesmo tempo que estudam.

Mas as formas mais tradicionais de trabalho por conta de outrem realizam-se depois da escola e na sequência dessa ruptura. Rup- tura que assume, normalmente, uma forma crescente que vai da reprovação à reprovação continuada e, frequentes vezes, mesmo à ruptura violenta no âmbito de um conflito comportamental. Isto significa, como tem sido também assinalado, que é absolutamen- te indispensável colocar a escola do lado de dentro da reflexão sobre o trabalho infantil e do combate ao trabalho infantil, porque a escola é o lugar privilegiado que a modernidade encontrou para um trabalho das crianças socialmente aceitável.

Em segundo lugar, verificamos que as situações ocorrem, usu- almente, a há aqui uma excepção importante que é de algumas formas do trabalho artístico, ainda que não todas, por exemplo, no caso dos circos, a situação não é exactamente assim. As situ- ações ocorrem, usualmente, em contextos sociais marcados pela pobreza, pela insuficiência dos recursos de vida e por condições de habitat que são, claramente, definidas ou definíveis por ter- ritórios de exclusão. Por exemplo, os bairros sociais no espaço urbano ou as zonas periféricas das pequenas cidades do litoral e do interior são espaços onde se concentram maior número de crianças que são envolvidas em formas temporárias ou prolon- gadas de exploração do trabalho. O que significa que o trabalho infantil está, claramente, associado a contextos familiares depau- perados onde prevalecem o desemprego e onde não há o acesso a direitos sociais fundamentais.

Por outro lado, outra constatação que fizemos a partir dos estu- dos de casos realizados, confirma também outras investigações que indicam que o trabalho infantil é induzido no quadro familiar. O trabalho infantil não é procurado espontaneamente pela crian- ça. O trabalho infantil é realizado no contexto familiar, entendo aqui a família no sentido de agrupamento alargado, pode não ser directamente o pai ou a mãe, pode ser uma figura como o tio, o

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avô, o padrinho que muitas vezes funciona como elemento indu- tor do trabalho.

Exactamente porque digamos que corresponde a uma resposta a um projecto de vida que se encontra em situação de ruptura, em consequência duma crise de aprendizagem, uma ruptura com instituição escolar ou duma situação, como digo, de grande pre- cariedade e pobreza.

O primeiro vínculo laboral tem, normalmente, uma natureza ex- perimental, i.e., a criança é colocada no café, na rua a recolectar materiais, na obra do empreiteiro conhecido, para ver se dá, se tem jeito, se faz alguma coisa, isso é feito no quadro, por exemplo, das férias, dos fins-de-semana. Há momentos de maior influência nesta mobilização das crianças para essas formas de exploração. No entanto, esta experimentação rapidamente pode transformar- se em formas mais duráveis, de desenvolvimento de situações de exploração do trabalho, apesar de estas não significarem, neces- sariamente, que haja uma continuidade, por exemplo, no âmbito do mesmo empregador ou da mesma empresa. Há uma situação que se prolonga ao longo do tempo ainda que frequentes vezes, com vários empregadores e com várias actividades que se rea- lizam.

Na imensa maioria dos casos, nós estamos perante uma situação clara de infracção legal e, em muitos casos, de comportamento delinquente o que, uma vez mais, coloca a questão da importân- cia da criminalização da exploração das crianças na sociedade portuguesa. Formas extremas desse comportamento delinquente exprimem-se na violência contra as crianças e no sofrimento fí- sico e psicológico que estão presentes nos seus quotidianos de miséria e exploração.

Sobre a acção contra a exploração do trabalho infantil, importa referir algumas conclusões. Em primeiro lugar, é que é sobretudo ao nível da definição dos projectos de vida e da possibilidade de continuar a sonhar que o regresso à escola ou, mais generica- mente, à formação e à aprendizagem, funciona como estratégia de combate ao trabalho infantil. Não é porque o regresso à esco- la e à formação, signifique, efectivamente, um projecto de vida de inclusão. Encontramos várias situações em que o regresso à escola levou, efectivamente, a um desemprego mais qualifica- do. Não é a escola que resolve os problemas do desemprego. E esta é uma constatação absolutamente fundamental para não termos ilusões. Agora, é muito importante o regresso à escola, a uma oportunidade de formação, designadamente, a uma se- gunda oportunidade no caso dos PIEF ou, enfim, no Programa Novas Oportunidades, como forma de reconstituir o laço social, de restabelecer uma ligação com um projecto futuro que pode ser rentabilizado no futuro ainda que não seja seguro que o seja depois da conclusão do curso. Portanto, as condições objectivas não são - esta é uma constatação muito importante do estudo de casos realizados -, alteradas apenas em consequência da forma- ção recebida. O que significa que é necessário ir mais longe. Que é necessário, efectivamente, considerar o modelo de desenvolvi- mento. Que é necessário considerar as estruturas sociais e cons- truir políticas económicas que sejam políticas orientadas para a igualdade social centradas, portanto, numa redistribuição mais igualitária. Isto implica que o trabalho de intervenção tenha de ser, necessariamente, um trabalho estruturante, um trabalho em rede que adquire por isso uma especial importância e significado.

E concluo: as crianças trabalham e fazem-no por conta de ou- trem. Algumas realizam actividades económicas em condições de exploração.

Eliminar a exploração do trabalho infantil é uma condição ab- solutamente necessária. E é uma causa na qual estamos todos emanados que é possível ganhar. Porém, não é fácil. Desde logo porque os instrumentos políticos e conceptuais adequados à eliminação da exploração do trabalho infantil necessitam de dar conta da complexidade social desta sociedade de risco em que nós estamos. Por outro lado, precisa também de atender ao ca- rácter multifacetado do trabalho infantil.

A realidade não permite leituras lineares. Isto não é fácil também porque o esforço dirigido deve considerar as raízes estruturais da exploração, e esta não é facilmente transformável. Temos ne- cessidade de medidas estruturantes que actuem sobre a base da sociedade. No entanto, é verdade, nós não podemos esperar por que a sociedade mude. Nós não podemos esperar por que os direitos das crianças sejam, efectivamente, respeitados universal- mente. Nós temos que começar a trabalhar isso desde já. É por isso que estas intervenções locais, casuísticas, em torno de cada criança concreta, em torno do Celso ou da Sílvia, ou de qualquer outra criança são absolutamente fundamentais, para continuar a alimentar a esperança, e para poder garantir que no futuro temos mais instrumentos no sentido de realizar as transformações ne- cessárias. As crianças trabalhadoras não podem esperar. Muito obrigado.

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ESPECTÁCULOS, MODA E PUBLICIDADEPARTICIPAÇÃO DE MENORES EM

Em primeiro lugar gostaria de agradecer à Dr.ª Joaquina Cadete, não só o convite por estar aqui, como também a oportunidade que me deu para poder reflectir acerca destas questões tão im- portantes para nós e que antes deste convite ainda não tinha ex- plorado o suficiente, nem me enriquecido pessoalmente. E gosta- ria de estender também este agradecimento às duas pessoas que colaboraram comigo na escrita do capítulo do livro: a Dr.ª Inês Pereira e a Dr.ª Paula Monteiro.

Gostaria de referir que não sei bem até que ponto é que sei por- que é que está na moda as crianças e os jovens participarem em espectáculos, moda e publicidade. Apenas sei que isso pode ter custos para o seu desenvolvimento e conheço algumas formas de os minorar e talvez até de trazer algum benefício. Era isso que queria partilhar convosco.

O desenvolvimento humano é, de facto, multifacetado e pode ser considerado uma orquestração entre as várias percepções, cog- nições, afectos, atitudes, crenças, motivações, valores e conhe- cimentos que confluem para a satisfação de três grandes neces- sidades universais: ser autónomo, ser competente e estabelecer relações sociais com os outros. Este é o enquadramento teórico necessário para pensarmos naquilo que estamos a fazer quando temos de lidar directamente com as crianças e com os adolescen- tes que participam em espectáculos, na moda e na publicidade. Devemos também ter consciência que quanto mais equilibrado e mais harmonioso for esse desenvolvimento, esse jogo de orques- tração, mais provável é que estes menores consigam construir um futuro onde o bem-estar pessoal e a adaptação à nova com- plexidade social seja, de facto, plenamente adquirido.

Neste sentido todas as experiências educativas, não só as da es- cola como também aquelas que são adquiridas em contextos de educação não formal (onde se incluem os estúdios onde estes menores trabalham, ou os contextos onde estes menores desen- volvem uma série de actividades, como aquelas que vimos no início desta sessão e também de manhã) são actividades que, potencialmente, podem contribuir para um desenvolvimento pleno de todo o potencial e equilibrado. No entanto, por vezes,

não o são porque não permitem que estes menores consigam desenvolver aquilo que cada um de nós desenvolveu e continua a desenvolver ao longo da sua vida, quer durante a infância, quer durante a adolescência, quer durante a idade adulta, que é uma