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FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR DO DISTRITO DE DIL

Eliasefa Barreto Keu Apoema Márcia Vandineide Cavalcante

Introdução

Este artigo tem como objetivo apresentar o processo de formação dos professores da Educação Pré- Escolar no Distrito1 de Díli, realizado pelo Ministério da Educação (ME-TL), nos primeiros dez anos pós Restauração da Independência em Timor-Leste (2002).

A recuperação de tal processo se deu por meio de documentos legais emitidos pelo ME-TL, notadamente os certificados de cursos entregues aos professores em formação durante os anos em referência. Além desses documentos, realizou-se entrevistas com pessoas ligadas à Educação Pré-Escolar em diferentes períodos da história de Timor-Leste, na tentativa de se compreender melhor aspectos históricos do país que de alguma maneira interferiram na Educação Pré-Escolar timorense.

Com uma abordagem qualitativa e proposta metodológica histórica-descritiva, centrada na análise documental e na realização de entrevistas, a partir da perspectiva apresentada por Ludke, Menga e Andre (1986), este artigo traz um breve resgate histórico sobre a educação escolar em Timor-Leste, principiando com a colonização portuguesa, seguindo com o domínio indonésio e periodo pós independência, com um olhar especial para a Educação Pré-Escolar2.

Em seguida, apresenta-se um Panorama da Educação Pré-Escolar do Distrito de Díli e, posteriormente, dados das formações para professores da Educação Pré-Escolar, realizadas em Dili, no periodo pós-independência. Tais dados são acrescidos de informações construídas a partir da memória da pesquisadora Eliasefa Barreto, que participou de tal processo, primeiro como professora em formação e, depois, como professora formadora.

A Educação escolar em Timor-Leste, da colonização portuguesa à ocupação indonésia

A Educação Escolar em Timor-Leste teve princípio entre os anos de 1863 e 1974, de acordo com Durand (apud MARTINS, 2010:28), ainda no período da colonização portuguesa, quando era organizada por missionários dominicanos que trabalhavam na catequização e na área do ensino. O sistema de educação naquela época envolvia apenas ler, escrever e noções de matemática, sendo ministrado em língua portuguesa. As escolas estavam concentradas nos postos de administração, nos centros urbanos e, sendo assim, poucos tinham acesso à escolaridade. Naquele período, havia escolas para meninos e escolas para meninas e adotava-se um sistema tradicional de ensino centrado no professor.

No período da ocupação indonésia, o território de Timor-Leste passou a ser considerado a sua 27a província, com o nome de Timor-Timur, dividindo-se administrativamente em kabupaten (municípios), kecamatan (posto administrativos), desa (sucos) e dusun (aldeias). A partir de 1980, escolas primárias

1

Recentemente, o Governo de Timor-Leste mudou a nomenclatura de Distrito para Município. Contudo, como a pesquisa para este trabalho foi concluida em maio de 2015, preferiu-se manter neste texto o termo Distrito.

2

Este trabalho tem por base a da monografia de finalização do Curso de licenciatura em educação da professora Eliesefa Barreto, sob orientação da Profa. Márcia V. Cavalcante e Keu Apoema, na Universidade Nacional de Timor Lorosa‘e.

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foram construídas em todos os sucos. Em algumas aldeias, havia escolas do primeiro ciclo e, na sede do suco, havia escolas do segundo ciclo. Desta maneira, a maioria das crianças tiveram acesso à escola, ao mesmo tempo em que se tornou obrigatório o ingresso na Educação Básica entre seis a oito anos de idade. Escolas de Ensino Pré-Secundário foram construídas nas sedes dos postos administrativos e Escolas de Ensino Secundário nas sedes dos municípios.

No ano de 1980, foi construída a primeira escola Pré-escolar de Timor-Leste pela Me. Margarida Soares, pertencente à organização Congregação de Canossa. Naquela época, provisoriamente, utilizava-se salas da residência do Bisbo Dom Martinho Lopes, em Dili. Depois disso, em 1982, essa escola foi contruída pela mesma Me. Margarida Soares, em Bemori, e entregue para a congregação São Carlos em Dili3.

Somente a partir de 1987, foram construídas pelo governo da ocupação indonésia escolas de Educação Pré-Escolar em Dili e em outros municípios. Naquele período, a Educação Pré-Escolar chamava sekolah Taman kanak-kanak (TK), ministrada majoritariamente por professores indonésios. A língua de ensino era a bahasa Indonésia, obrigatória na educação formal em todos os níveis de escolaridade, enquanto o português e o tétum eram proibidos dentro do espaço escolar.

Em 1987, o governo indonésio promoveu as primeiras formações para os professores da Educação Pré-Escolar. Naquele período, já existiam 75 TK, construídas pelo governo como escola pública, ou por ONG, como escolas privadas. A educadora Sra. Gilberta Baião, encarregada da Educação Pré-Escolar de Timor –Leste, desde o período indonésio até os dias de hoje, declarou em entrevista que ―essas escolas eram existentes em todo o terrítório. Existiam os professores contratados pelas ONG, que eram a maioria, e havia também os professores contratados pelo governo como funcionarios permanentes‖4.

A Formação do professor da escola pré-Escolar

O educador da criança deve ter um conhecimento apropriado sobre o seu potencial de crescimento e desenvolvimento, pois é claro que precisa planear os objetivos e atividades que envolve o currículo dessa faixa etária (MATTA; VASCONCELOS, 2001). Segundo o Referencial para as Políticas de Educação Pré-Escolar de 2013, é função do Ministério da Educação, através do Plano Estratégico para a Educação (2010- 2015), definir e promover uma política para a formação profissional dos professores da Educação Pré-Escolar, incluindo a formação técnica e pedagógica dos mesmos, assim como creditando as formações já realizadas (ME-TL, 2013).

Para se obter uma educação qualificada, necessita-se melhorar a formação profissional, seja na universidade, na formação permanente ou continua. Deve estar no centro das políticas públicas nacionais de educação a preocupação em elevar o nível dos profissionais, assim como o conhecimento dos educadores sobre suas práticas pedagógicas. Tais processos de formação ajudam a desenvolver a capacidade dos professores, podendo os mesmos serem mais criativos e motivados.

Em uma perspectiva freiriana, é necessário ainda estimular uma reflexão crítica sobre a prática. Segundo Paulo Freire (2001:48-49):

A formação terá como base uma reflexão dos sujeitos sobre sua prática docente, de modo a permitir que examinem suas teorias implícitas, seus esquemas de funcionamento, suas atitudes etc., realizando um processo constante de auto-avaliação que oriente seu trabalho. A orientação para esse processo de reflexão exige uma proposta crítica da intervenção educativa, uma análise da prática do ponto de vista dos pressupostos ideológicos e comportamentais subjacentes.

3Fonte: entrevista realizada com professora da pré-escolar, diretora da escola naquele período. Concedida à pesquisadora em

28 /08/2014, Díli.

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Através desta afirmação e da observação do cenário atual, é possível perceber que o Ministério da Educação de Timor-Leste vem realizando formações com o objetivo de qualificar os professores da Educação Pré-Escolar, buscando ainda o empoderamento dos formadores timorenses. Para além disso, o plano do ME-TL, através da Direção Nacional da Educação Pré –Escolar (DNEPE), tomando como documento o Quadro de Competências para os Professores da Educação Pré-Escolar, aponta as dimensões que devem nortear o trabalho: ―observar, caracterizar e contextualizar; planear; agir e executar; eever e avaliar; comunicar e articular‖ (ME-TL, 2013: 17).

Panorama da Educação Pré-Escolar em Timor-Leste e Apresentação dos Dados

Desde o início da Restauração da Independência, começou-se a reconstruir os prédios das Pré- Escolas erguidas no período de domínio indonésio. Além disso, algumas ONG internacionais e missões religiosas começaram a construir escolas e reconstruir algumas outras destruídas em 1999, após o resultado do referendo. Atualmente, são consideradas escolas públicas aquelas do tempo indonésio que foram restauradas pelo governo timorense. Já as escolas construídas por ONG ou pela comunidade local são consideradas escolas privadas. Nesse período inicial, a Educação Pré-Escolar foi denominada de Jardim da Infância.

No ano de 2000, ainda no periodo de transição realizada pela UNAMET5, foi criado o Departamento de Direção Pré-primária, atualmente chamado de Direção Nacional da Educação Pré-Escolar (DNEPE), com o papel de reestruturar a Educação Pré-Escolar, contando com o apoio de alguns organismos internacionais. Tanto no período da colonização portuguesa quanto no período da ocupação Indonésia, não houve preocupação com a formação acadêmica para os professores da Educação Pré-Escolar. No período da colonização portuguesa, como já foi dito, a Educação Escolar não era sequer acessível à população em geral.

Em 2003, foi publicado o Currículo da Pré-Primária pelo então Ministério da Educação, Cultura, Juventude e Desporto (MECJD). Esse documento foi elaborado por timorenses e brasileiros envolvidos com o Pré-Escolar neste país, naquela altura. O trabalho foi realizado com o apoio da Plan Timor-Leste. A partir de então, mudou-se a nomenclatura para Pré-Primária. A partir de 2008, o termo mudou para Ensino Pré-Escolar e, em 2013, com a aprovação do Referencial para as Política de Educação Pré- Escolar, por fim, essa modalidade de ensino passou a ser chamada Educação Pré-Escolar, tendo como um dos objetivos: “desenvolver as capacidades de expressão e comunicação e estimular a imaginação criativa e a atividade lúdica‖ Artigo 9 da Lei de Base da Educação de Timor-Leste / LEI N.o 14/2008 de Outubro (RDTL, 2008).

Para que se compreenda melhor o funcionamento da Educação Pré-Escolar em Timor-Leste nos dias atuais, será apresentado a seguir um quadro da organização administrativa, bem como um panorama geral da estrutura das instituições educacionais ligadas a essa modalidade de ensino.

5UNAMET: United Nations Missions in East Timor, missão da paz da ONU responsável pela consulta popular que decidiu

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Como pode ser visto acima, o Ministério da Educação (ME-TL) é o agente de planificação das políticas públicas educacionais, elaboração do currículo e matérias didáticos, bem como realiza o processo de acreditação das escolas. O Instituto Nacional de Formação de Docentes e Profissionais da Educação (INFORDEPE), por sua vez, é o agente executivo dos programas planificados pelo ME-TL, implementação do currículo, promoção de formações para os professores, contato com a administração da Educação Distrital para repasse de informações administrativas para os professores. A administração da Educação Distrital fica responsável pelo monitoramento das formações, relatórios trimestrais sobre os dados e funcionamento das escolas e acompanhamento de aspectos administrativos da vida funcional dos professores e demais funcionários das escolas.

As Pré-Escolas, pós Independência, organizam suas turmas em dois grupos: o grupo A é composto por crianças de 4 a 5 anos, ou seja, faz parte desse grupo a criança que tem 4 anos completos e irá completar 5 anos do decorrer do ano letivo. O grupo B é composto por crianças de 5 anos completos e que irá completar 6 anos do decorrer do ano letivo.

Tabela 01: Panorama da Educação Pré-Escolar do Distrito de Díli. No Ano

No da Escolas No de Professores

público Privada Total Permanente Contratado Voluntário Total

1 2002 3 5 8 0 1 15 16

2 2003 4 9 13 27 1 3 31

3 2004 4 9 13 INO6 3 1 4

4 2005 4 16 20 INO4 3 1 4

145 5 2006 4 16 20 INO4 1 5 6 6 2007 5 18 23 INO4 3 2 5 7 2008 7 23 30 INO4 30 6 36 8 2009 9 27 36 INO4 3 7 10 9 2010 11 30 41 15 35 9 59 10 2011 12 31 43 26 43 7 76 11 2012 13 30 43 26 43 8 77 12 2013 13 21 44 70 0 127 197 13. 2014 15 32 47 80 92 70 242

Fonte: M.E. Direção Nacional da Educação Pré-Escolar e Direção Municipal da Educação Município Díli Vale observar que a maioria dos professores são contratados por períodos determinados de tempo ou são voluntários. Há ainda, dentre aqueles que atuam na rede privada, uma parte que são de fato contratados pelo Governo.

Tabela 02: Dados recolhidos no Distrito em 2014

Fonte: Direção da Educação Distrital em cada um do Distritos (2014). Tabela 03: Dados dos professores da Educação Pré-Escolar de cada Distritoo em território

com habilitação Literária 2014. No Município

Habilitação Literário Total

4a Classe Pré-Secundário Secun

dário SPG-Tk /KPG Bacha relato Comple mentar Licen ciatura 1 Aileu 0 0 14 0 1 7 0 22 2 Ainaro 1 0 22 4 1 4 0 32 3 Baucau 2 1 18 6 7 0 4 38 4 Bobonaro 1 0 66 1 2 0 4 74 5 Covalima 0 0 50 3 0 3 0 56

N. Município No Escolas No dos alunos No dos professores Públi-

cos

Priva- das

Total G.A G.B Volun- tário Contra- tado Perma- nente Total 1 Aileu 19 3 22 497 355 47 13 18 78 2 Ainaro 9 5 14 258 326 4 15 13 32 3 Baucau 1 8 9 276 337 21 11 6 38 4 Bobonaro 18 10 28 1.063 1019 9 44 21 74 5 Covalima 4 16 20 421 345 16 20 17 53 6 Dili 15 32 47 1.685 2.481 70 92 80 242 7 Ermera 9 7 16 405 447 0 13 19 32 8 Lautem 13 12 25 465 535 17 29 14 60 9 Liquiça 30 2 32 605 456 15 36 19 70 10 Manatuto 2 7 9 325 436 20 5 8 33 11 Manufahi 15 11 26 525 671 54 16 23 93 12 Oecusse 12 2 14 332 400 5 10 13 28 13 Viqueque 26 5 31 1.076 403 3 41 14 58 Sub Total 171 120 291 4112.824 5732.481 281 341 265 891 Total 291 9845.305 891

146 6 Dili 12 4 132 12 9 62 11 242 7 Ermera 0 0 15 0 3 18 0 36 8 Lautem 2 1 26 0 13 0 60 9 Liquiça 1 2 53 0 12 0 0 68 10 Manatuto 0 0 8 5 0 3 0 16 11 Manufahi 1 0 89 2 0 2 0 94 12 Oecusse 2 1 2 2 1 4 0 12 13 Viqueque 1 0 49 3 4 7 1 65 Sub Total 23 9 544 38 40 123 20 815

TOTAL 8157 Professores permanentes, contratados e voluntários

Fonte : M.E. Direção da Educação Distrital de cada um do Município, referentes a 2014.

Esse Gráfico refere-se aos 815 professores mencionados na tabela 03.

O gráfico acima contempla as habilitações literárias de professores da Educação Pré-Escolar em diferentes níveis, tais como 4a classe, séries iniciais no período da colonização portuguesa e que corresponde atualmente ao 60 ano do Ensino Básico; Pré-Secundário ou SMP, como era denominado no período indonésio; Secundário Geral ou SMA, como era denominado no período indonésio; SPG-Tk /KPG, realizado no período indonésio e que era denominado SPG-Sekolah Pendidikan Guru (Formação de Professores da Educação Pré-Escolar), KPG–Kursus Pendidikan Guru (Curso de Formação de Professores) no domínio Indonésio.

O Curso Complementar não é um grau formal de instrução, mas sim uma formação visando atender aos critérios exigidos pelo regime de carreira de docentes, promovido e realizado pelo Gabinete de Formação Académico/INFORDEPE/Ministério da Educação.

Após a compreensão da estrutura organizacional da Educação Pré-Escolar em Timor-Leste, será feita a seguir uma descrição e, quando possível, uma breve análise de dados de formações para professores da Educação Pré-Escolar, promovido pelo ME-TL em cooperação com ONG‘s, no periodo pós-

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O número total de professores mencionado na tabela 2 (891) é superior ao número da tabela 3 (815), pois em relação à habilitação literaria, só foi possível obter informações de 815 professores.

23 9

544

38 123 40 20

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