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FORMANDO UMA κοινóτητα PAULISTANA

CAPÍTULO I – ICONOSTASIS PAULISTANO: ESTABELECIMENTO E

1.4 FORMANDO UMA κοινóτητα PAULISTANA

Nos depoimentos dos membros do clero das Igrejas Ortodoxas de São Paulo emerge o tema do restabelecimento das comunidades imigrantes cristãs na cidade. Nesta parte do estudo, como em outras deste capítulo, será dada ênfase às Igrejas Ortodoxas, pois, diferentemente das Igrejas Católicas Orientais, elas não tiveram o apoio da Igreja Católica Romana para se estabelecerem na cidade, muito embora os fluxos imigratórios dessas comunidades cristãs ortodoxas estejam relacionados com as comunidades católicas orientais, como no caso de armênios e ucranianos.

Na fala dos membros do clero sobre esse tema é possível mais uma vez notar o papel que esses indivíduos atribuem a si próprios de guardiões de uma identidade e fé do grupo diaspórico que representam. Uma memória que guardaria a experiência de reorganização desses grupos na capital paulista.

Grande parte dos cristãos ortodoxos chegou à cidade em busca de um ambiente político mais favorável ou, em casos mais extremos, procurando preservar a sua própria existência. Diferentemente dos fluxos imigratórios mais reconhecidos, esses grupos cristãos ortodoxos deixaram seu país de origem a partir do início do século XX até pouco mais da

segunda metade do século XX. Salvo os grupos árabes, que imigraram a partir do século XIX, como a maioria das grandes imigrações ocorridas na cidade.

Esse grupo cristão ortodoxo, como já dito, tem origem nas áreas do Oriente Médio e Europa Oriental. Esses locais passaram por mudanças radicais ao longo do século XX. Sofreram a influência de movimentos nacionalistas, socialistas e nazistas, e isso marcou de forma indelével as comunidades que ali viviam. Para muitos grupos, isso significou banimentos e perseguições políticas e até mesmo genocídios, e talvez os grupos cristãos ortodoxos e orientais em geral tenham sido o alvo principal de muitas das atitudes desmedidas vistas no passado e no presente nessas regiões. Quando chegaram a São Paulo, procuraram restabelecer vínculos antigos, uma certa coesão, ou reorganizar a κοινóτητα (koinótēta),

palavra grega que significa “comunidade”:

Então sempre todas as colônias, elas sempre construíram um templo, e no templo desenvolvem tudo. Tanto é que se chama koinótēta, uma

comunidade aonde ali se reúne, ali eles falam a língua, ali fazem as festas, festas religiosas, festas cívicas, enfim, é um ponto de encontro.42

O depoimento de GO apresenta esse conceito caro aos cristãos orientais na cidade. Mas, por mais que tentem manter a koinótēta original, os membros do clero devem mediar a realidade paulistana que os rodeia.

Os cristãos ortodoxos armênios são um grupo cuja trajetória permite ter uma ideia de quão trágica foi a causa da vinda de muitos desses grupos cristãos ortodoxos à cidade de São Paulo. Segundo AO,

42 Depoimento de membro do clero da Igreja Ortodoxa Grega da cidade de São Paulo, em entrevista concedida ao autor em 17/08/2011.

A Igreja Armênia no Brasil começou no princípio do século 20, principalmente depois do Genocídio Armênio que aconteceu na Turquia, de onde os armênios fugiram de todas as partes do mundo e uma pequena parte veio também para o Brasil. E na década de 20 do século XX, começaram a se reorganizar os armênios que se radicaram no Brasil.43

Neste depoimento é citado algo que está no horizonte dos membros do clero das Igrejas Orientais Armênias da cidade de São Paulo e talvez do mundo, um acontecimento que marca profundamente a trajetória dos armênios: o Genocídio Armênio ocorrido em 1915. Foi esse evento que, segundo AO, fez com que armênios de várias partes do mundo emigrassem para o Brasil, principalmente para São Paulo, na década de 20 do século XX. Esses elementos apontam para o fato de que essa imigração armênia foi mais uma forma de preservação desse grupo.

AO continua a falar sobre a imigração armênia:

A primeira preocupação dos Armênios foi instalar uma escola para manter a língua, a cultura e as tradições armênias. Mas os Armênios, que são todos em sua totalidade cristãos porque foi também a primeira nação que adotou o cristianismo como religião de Estado no ano 301, não podiam ficar sem a Igreja. Através da fé, através da língua, através da cultura e da história milenar, eles resistiram e resistem até hoje.44

43 Depoimento de membro do clero da Igreja Apostólica Armênia da cidade de São Paulo, em entrevista concedida ao autor em 08/02/2010.

Com este relato pode-se notar a relação forte que os membros do clero oriental paulistano percebem entre fé, identidade cultural e a koinótēta. Segundo os apontamentos de

AO, a primeira preocupação é a manutenção e preservação das tradições armênias e da fé. A reiteração de AO em afirmar a qualidade cristã da comunidade armênia sugere que esse elemento é importantíssimo na construção da memória do grupo. Assim sendo, ele destaca o pioneirismo armênio em escolher a fé cristã como a sua, afirmando que há uma história

milenar desse cristianismo armênio. Uma história de resistência, como afirma o membro do

clero. O Genocídio Armênio teria sido mais uma prova de resistência que os armênios tiveram de enfrentar para manter sua fé e cultura, e mais uma vez foram vencedores, pois, como o depoente afirma, “[...] eles resistiram e resistem até hoje”.

A sobrevivência ao Genocídio com a imigração é uma conquista, pois a memória dessa comunidade caracteriza-se pela resistência. Outro elemento que denota a resistência armênia com o Genocídio é o entendimento de que este ainda não teria sido reconhecido totalmente:

Graças à história milenar do povo armênio que os armênios têm uma fama no Brasil, como em outros países, como gente trabalhadora, como bons cidadãos e em toda parte os armênios são considerados bons cidadãos, e por isso que muitos países apoiaram e reconheceram o Genocídio Armênio. Ainda estamos com a esperança de que algum dia a nossa pátria Brasil também oficialmente reconhecerá a verdade e declarará, defendendo o direito dos armênios. Porque defender os armênios é defender os Direitos Humanos, não pertence só aos armênios, não é problema dos turcos, é um problema humano. Para que não se repita os genocídios, devem condenar ou aceitar os seus. Quando os turcos cometeram o Genocídio Armênio massacrando 1,5 milhão de armênios simplesmente porque eram armênios e cristãos. Mas o mundo cristão ficou calado, por motivos, cálculos políticos, até

hoje estão silenciosos, não deixaram nada defendendo os direitos dos armênios.45

AO faz um apelo para que muitos países, inclusive o Brasil, reconheçam o Genocídio Armênio, quando 1,5 milhão de armênios foram mortos pelos turcos. Na avaliação de AO, o reconhecimento e a condenação do Genocídio não é somente uma condenação à morte dos armênios, mas sim uma condenação de todos os genocídios humanos, uma forma de defender os Direitos Humanos.

O apelo de AO pelo reconhecimento do Genocídio Armênio reflete o poder que esse evento possui na construção da comunidade armênia na cidade de São Paulo, como também denota uma atitude de AO como membro do clero da Igreja Apostólica Armênia que entende sua posição como guardião dessa memória e da koinótēta.

A Igreja Ortodoxa Sirian também foi vítima de perseguição. Segundo SO,

A presença da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia aqui no Brasil, podemos dizer que começou no início do século XX. Então a maioria do povo veio da Turquia, da Palestina, da Síria, do Iraque, do Líbano, da Jordânia [...].46

Isso ocorreu porque as comunidades sirian ortodoxas dessas regiões sofreram, pelas mãos dos turcos, o mesmo ataque que seus coirmãos armênios:

45 Depoimento de membro do clero da Igreja Apostólica Armênia da cidade de São Paulo, em entrevista concedida ao autor em 08/02/2010.

As primeiras intimidações vieram com a repressão sangrenta dos Armênios em 1894-1896. Os massacres, no entanto, não eram limitados aos Armênios, e os Cristãos Sirians da região também sofreram terríveis perdas. Os dados variam, mas um relato contemporâneo coloca o número de Sirians mortos em 25.000, incluindo 3.000 queimados vivos na catedral de Edessa (Urfa), onde eles buscaram refúgio. Ainda mais terrível foram os massacres perpetrados de forma disfarçada pela Primeira Guerra Mundial em 1915. Uma vez mais, juntamente com o genocídio Armênio, Cristãos das igrejas Sirians pereceram em grande número. [...] Os dados fornecidos pelo Bispo (mais tarde Patriarca) Ephrem Barsaum em 1919 colocam os dados somente para as perdas dos Sirians Ortodoxos em mais de 90.000, mais de um terço de sua população no Oriente Médio.47

Esse massacre, assim como o ocorrido contra os armênios, obrigou os grupos sirian ortodoxos a migrarem como estratégia de sobrevivência. No depoimento, SO pouco falou desse ocorrido, ao contrário de seu colega da Igreja Apostólica Armênia. Independentemente disso, é prudente ter em mente que esses acontecimentos mostram o trauma que essas comunidades e Igrejas levam consigo, e como isso as obrigou a imigrarem, preservando, porém, a koinótēta.

A outra Igreja não Calcedoniana presente em São Paulo, que sofreu e ainda sofre com perseguições em seu local de origem, é a Igreja Ortodoxa Copta, a principal Igreja do Egito. Essa população cristã representa uma minoria no país. No entanto, é uma Igreja perseguida, tanto de forma oficial como extraoficial. O próprio atual líder dessa comunidade, Papa Chenuda III, sofreu perseguição oficial durante o governo do presidente egípcio Anwar Al Sadat, que governou o país entre 1971 e 1981.

47 O'MAHONY, Antony. Syriac Christianaty in the Modern Middle East. In: ANGOLD, Michel (Org.). The

Cambridge History of Christianity - Eastern Christianity. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.

No dia 5 de setembro de 1981, após vários conflitos, o Presidente Sadat destituiu o Patriarca Chenuda III e nomeou em seu lugar um conselho Papal de cinco membros. [...] Em 23 de setembro de 1981 Sadat declarou oficialmente a destituição do Patriarca Chenuda III e juntamente com ele foram presos oito bispos e treze sacerdotes em um mosteiro no deserto. O reconhecimento novamente do Patriarca Chenuda III aconteceu somente em 1985 com o Presidente Moubarak.48

Além desse momento apreensivo, os cristãos coptas do Egito vivem até hoje perseguição. Isso pode ser observado nos recentes acontecimentos ocorridos com essa comunidade naquele país, como o atentado à Igreja dos Santos em Alexandria na passagem do ano de 2010 para 201149 e os conflitos entre grupos muçulmanos e cristãos durante o delicado momento político do Egito no ano de 201150 .

Toda essa perseguição e violência contra esse grupo ratifica a importância da fomentação de missões coptas ao redor do mundo, inclusive na cidade de São Paulo. Segundo um depoimento gravado em vídeo pelo bispo da Igreja Ortodoxa Copta na cidade de São Paulo, Don Aghasson, na Igreja de São Marcos em Washington, nos EUA, a missão teria começado de forma particular. Ao contrário do que ocorreu com os outros párocos incumbidos de criar uma missão copta no Brasil, Don Aghasson recebeu somente uma passagem de ida para o país, ou seja, foi obrigado a ficar em São Paulo e criar a missão51. O resultado foi satisfatório e hoje a comunidade conta com uma igreja própria.

48 KHATLAB, Roberto. As Igrejas Orientais Católicas e Ortodoxas: Tradições Vivas. São Paulo: AM Edições, 1997. p.192-3.

49 EFE. Hizbollah condena atentado contra igreja no Egito. Folha de São Paulo. Mundo. São Paulo, 01/01/2011. 50 AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS. Mortes em confronto entre cristão e muçulmanos no Egito chegam a 13. Folha

de São Paulo. Mundo. São Paulo, 09/03/2011.

Todavia, diferentemente das demais comunidades cristãs orientais em São Paulo, os cristãos coptas paulistanos não têm origem numa diáspora egípcia na cidade. Como CO relatou, houve muita dificuldade em contatar esse grupo quando do estabelecimento da igreja na cidade. Portanto, a missão foi direcionada a grupos não egípcios e prosperou. Essa atitude da Igreja Ortodoxa Copta de abrir-se inteiramente, abrangendo indivíduos fora do grupo cultural e religioso a que está tradicionalmente associada, seria uma forma de manter essa Igreja em áreas distantes do Egito, onde ocorriam perseguições. O detalhe sobre a passagem só de ida para o Brasil que Don Aghasson recebeu possibilita vislumbrar a importância extrema que a missão no país tinha para a cúpula da Igreja Ortodoxa Copta. Aumentar seus fiéis fora do Egito seria uma forma de a Igreja Copta preservar sua fé e sua identidade cultural específica. Expandir e criar uma koinótēta nova, distinta da copta egípcia.

O grupo grego também emigrou devido às dificuldades sociais em seu país, ligadas, segundo GO, à:

[...] guerra civil, com a queda do rei. Então, muitos fugiram porque estavam, vamos dizer, com correntes partidárias um pouco adversas, então fugiram. Muitos vieram para cá mesmo para o trabalho, porque empobreceu muito a Grécia, como hoje está, uma situação crítica, não somente a Grécia, mas também grandes países da Europa.52

A Guerra Civil Grega da década de 1950, a queda da monarquia e a posterior instalação de uma ditadura na Grécia, nos anos 1970, motivaram a emigração desses grupos para São Paulo. GO também comenta sobre a atual situação econômica grega, apontando para uma possível nova emigração.

52 Depoimento de membro do clero da Igreja Ortodoxa Grega da cidade de São Paulo, em entrevista concedida ao autor em 17/08/2011.

A comunidade sírio-libanesa que está associada à Igreja do Patriarcado Ortodoxo de Antioquia tem como motivo principal de sua imigração para São Paulo a busca de um refúgio, já que guerras assolaram a região do Levante durante todo o século XX, especialmente a Guerra Civil Libanesa, que durou quase 20 anos e devastou o país por completo. Segundo MK, membro da Igreja coirmã mais próxima da Igreja Ortodoxa de Antioquia:

A maioria que estão aqui são de origem libanesa. Os sírios temos uma parte grande, mas não chega a ser comparada pelo número dos libaneses por causa da guerra, ou seja, da Primeira Guerra Mundial, Segunda ou última atual nos anos 70 no Líbano. Muitos libaneses acabaram viajando para países exteriores, inclusive o Brasil, que recebeu uma grande quantidade de pessoas.53

A comunidade cristã oriental árabe, mesmo distribuída entre várias denominações, portanto, tem na busca de um refúgio ou na fuga desses conflitos uma motivação comum para sua vinda para São Paulo.

Por sua vez, a Igreja Ortodoxa Ucraniana e os grupos ucranianos, assim como os demais cristãos orientais da metrópole, refugiaram-se na cidade tentando recuperar suas filiações culturais após a Segunda Guerra Mundial. Segundo UO:

Falando de modo geral, a comunidade Ortodoxa Ucraniana aqui em São Caetano são todos eles, digamos assim, fora os que nasceram aqui no Brasil, mas os primeiros que vieram, são pessoas assim, ditas da segunda imigração. Porque tem os imigrantes da primeira imigração, esses aqui de São Paulo são os ucranianos que vieram depois da Segunda Guerra Mundial, quando acabou a Segunda Guerra, o pessoal que estava na Alemanha, que os nazistas levaram para a Alemanha [...] Então, e alguns ainda remanescentes da imigração que veio depois da Segunda Guerra, outros nascidos na Alemanha e outros nascidos aqui no Brasil.54

Esse grupo ucraniano no município de São Caetano é composto por famílias que foram usadas como força de trabalho compulsório pela Alemanha nazista, ou seja, esse grupo, somente pelo fato de ser ucraniano, foi cooptado pelos nazistas para realizar os mais ingratos serviços. UO indica que muitos indivíduos da comunidade nasceram na Alemanha, ou seja, muitos nasceram enquanto seus pais estavam realizando trabalhos forçados para os nazistas. Com o fim da guerra, decidiram se transferir para países com comunidades ucranianas significativas:

Enfim, quando terminou a guerra, uns foram para o Canadá, outros para os Estados Unidos e alguns vieram para o Brasil. A comunidade daqui especificamente de São Caetano, são pessoas que vieram depois da Segunda Guerra e se estabeleceram aqui em São Caetano. Foi na década de 50 que começaram a construir, construíram essas duas igrejas aqui em São Caetano [...].55

54 Depoimento de membro do clero da Igreja Ortodoxa Ucraniana do município de São Caetano do Sul, em entrevista concedida ao autor em 18/04/2010.

55 Depoimento de membro do clero da Igreja Ortodoxa Ucraniana do município de São Caetano do Sul, em entrevista concedida ao autor em 18/04/2010.

Figura 5 - Igreja Ortodoxa Ucraniana de São Valdomiro em São Caetano do Sul.56

Essas Igrejas referidas são especificamente Igrejas Ortodoxas. Os grupos Católicos Orientais Ucranianos, que têm uma trajetória igual à do grupo ortodoxo, também possuem uma Igreja própria. UO explica o porquê da escolha de São Caetano como local para o estabelecimento dessa comunidade:

Eles vieram aqui e se estabeleceram por causa do emprego. Se você for ver, todas as pessoas que são já aposentadas, todas elas, a maioria, trabalhou nas montadoras da época, antiga Vemag e outras que existiam. Então o trabalho aqui era farto realmente, então eles se estabeleceram aqui, eram pessoas pobres, que começaram do nada, mas construíram essas duas comunidades: a São Valdomiro e a Proteção de Nossa Senhora.57

56 Autor: Felipe Beltran Katz. Data: 7/9/2011.

A nascente indústria da região paulista do ABC teria influído na ida desses imigrantes ucranianos para essa região, pois havia trabalho farto. Muitos desses imigrantes teriam se empregado na fábrica de filtros industriais Vemag, entre outras. Segundo UO, foi a partir da inserção no processo industrial da metrópole que esse grupo ucraniano ortodoxo, que

começou do nada, pôde reestruturar sua comunidade, construindo suas Igrejas e tentando

recuperar o que havia perdido.

Essa situação da comunidade ucraniana na metrópole paulistana contrasta com a dos grupos ucranianos que vivem no sul, região que recebeu a maior parte dos imigrantes ucranianos no país:

No sul, precisamente em Curitiba, região de Prudentópolis, e outros municípios daquela redondeza, como os próprios livros de História já nos mostram, eles são os descendentes, falando em ucraniano, Sperchi

Immigraja, da primeira imigração, é o termo que se usa. [...] O

restante, filhos desses primeiros imigrantes. O restante aqui em São Paulo todos, pelo menos que eu saiba, que eu conheça, imigrantes da chamada “Segunda Imigração”, que é quando acabou a Segunda Guerra.58

O grupo sulista (ou paranaense) está associado à primeira imigração, ou seja, a uma imigração ocorrida na virada do século XIX para o XX, caracterizada por ser rural. A segunda imigração, a ocorrida em São Caetano, é uma imigração urbana, motivada pela perseguição e imposição sofridas pelas comunidades ucranianas durante a Segunda Guerra pelas mãos dos nazistas. Os russos ortodoxos, assim como os ucranianos, também sofreram destino parecido.

58 Depoimento de membro do clero da Igreja Ortodoxa Ucraniana do município de São Caetano do Sul, em entrevista concedida ao autor em 18/04/2010.

A Igreja Ortodoxa Russa no Exílio, a representante do cristianismo ortodoxo russo na metrópole, é, como o nome revela, uma Igreja em refúgio. RC, membro do clero da Igreja Russa Católica, coirmã no cristianismo russo na cidade de São Paulo, fala um pouco das dificuldades enfrentadas pela Igreja Ortodoxa Russa no Exílio para buscar um espaço mais conveniente para o exercício de sua fé:

[...] os outros da Vila Alpina, da Rua Tamandaré, porque são uma jurisdição que saiu da Rússia contra o Comunismo, ficou todo o tempo dando testemunho do Cristianismo fora [...] São pessoas que estão servindo, dão testemunho do Evangelho, mas eles querem segurar do jeito que eles tinham no tempo da Revolução, quando saíram foram para a Iugoslávia, para a Sérvia, quando o Comunismo dominou ali, foram para os Estados Unidos, e hoje é uma grande Igreja nos Estados Unidos.59

Esse grupo ortodoxo saiu da Rússia em decorrência da Revolução Comunista naquele país, ou seja, fugindo daquele movimento. Isso reflete ainda hoje no cisma que há