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CAPÍTULO 3 – A AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO

3.3. Funções ou finalidades da avaliação

Se compararmos as funções da avaliação enunciadas por Nevo em dois momentos distintos (1986; 2006) apercebemo-nos de uma alteração na concepção deste autor, que no seu texto inicial define as seguintes funções da avaliação:

a) Sumativa relacionada com a prestação de contas, certificação ou seleção;

b) Formativa que procura a melhoria e o desenvolvimento de uma atividade que se encontra a decorrer;

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c) Psicológica ou sociopolítica cujo objetivo seria aumentar a consciência das pessoas relativamente a certas atividades, motivar determinados comportamentos ou promover as relações públicas;

d) De exercício de autoridade, que facilmente se constata, dado que nas organizações existem pessoas que em virtude da posição de poder que detêm recorrem à avaliação para o demonstrarem.

As duas últimas funções apesar de não serem reconhecidas como positivas não podem, no entanto, na opinião do autor, ser omitidas, dada a sua presença e importância na sociedade atual.

No texto mais recente (Nevo, 2006) verificamos que o autor apesar de sinalizar a função psicológica e sociopolítica, bem como a de exercício de autoridade, não lhes atribui um papel significativo, dado que não as inclui no elenco das funções que desenvolve de forma mais pormenorizada. As funções que enuncia e desenvolve de forma mais detalhada são as seguintes: tomada de decisão; melhoria; prestação de contas; profissionalização e certificação. Por outro lado, as funções formativa e sumativa já não surgem no elenco das funções da avaliação como acontece no texto mais antigo, mas surgem como transversais às restantes, ou seja, a função formativa estaria ligada à melhoria e a sumativa à prestação de contas, profissionalização e certificação. O autor não se refere explicitamente à relação entre avaliação formativa e sumativa ao nível da tomada de decisão, mas parece-nos que se englobaria mais facilmente na função sumativa. Consideramos que esta nova versão corresponderá a uma necessidade de explicitar dentro das vertentes sumativa e formativa as funções específicas da avaliação na educação. Neste caso, como em muitos dos relativos ao esforço de sistematização no campo da avaliação (e não só), a pluralidade de perspetivas a que se associa a sobreposição de classificações ou critérios, que nem sempre são mutuamente exclusivos, cria dificuldades a um neófito na área que pretenda inteirar-se das noções básicas deste campo de estudo e prática.

Passando brevemente, em revista, cada uma das funções da avaliação iniciamos com a tomada de decisão que, contrariamente àquilo que se possa pensar não é

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apanágio de quem está numa posição de poder ou com funções de gestão. Por exemplo, no campo da educação as decisões são tomadas por muitas pessoas, decisões essas que podem (e devem) ser apoiadas por dados resultantes da avaliação. Os docentes tomam decisões sobre estratégias pedagógicas, por exemplo, os alunos fazem opções em função da avaliação efetuada pelos professores ou por si mesmos, os pais e os dirigentes das escolas também o fazem. Por outro lado, apesar do input que a avaliação pode fornecer esta não garante uma decisão correta mas aumenta o entendimento que se possui das situações, potencia as alternativas existentes e minimiza o risco associado a uma “má” decisão.

Uma das funções essenciais da avaliação é a de melhoria. De facto, a necessidade de melhoria em todos os sectores da vida é evidente. Numa perspetiva mais utilitária, melhorar, por vezes, é a única forma de nos mantermos atualizados num mundo que se apresenta em mudança constante. A informação providenciada pela avaliação permite que se repensem as decisões tomadas e o percurso realizado de modo a aproximá-lo do que se considerar uma alternativa melhor.

A prestação de contas (accountability) é outra vertente significativa da avaliação e muito associada à função psicológica ou política invocada por Nevo (1986; 2006). Esta função tem ganho uma dimensão considerável nos últimos anos com os processos de avaliação externa de que são alvo as instituições escolares nos diferentes níveis de ensino e, não obstante as diversas resistências que possam existir a este processo, parece que o mesmo não está prestes a findar, antes pelo contrário. Se esta função for associada à de melhoria e se for incorporada na vida das instituições poderão advir benefícios consideráveis, dada a possibilidade de existirem interlocutores externos que tragam uma visão mais independente e com quem se pode construir planos de melhoria. Esta é uma das áreas mais sensíveis dado que será, provavelmente, aquela que mais se aproxima da visão negativa da avaliação muito associada à noção de “inspeção” de conotação sancionatória e, consequentemente, de desigualdade de poder entre avaliadores e avaliados.

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A profissionalização dos docentes é outra das funções invocadas por Nevo (2006) mas que nos parece menos relevante no contexto português dado que o mesmo tem mecanismos de formação inicial deste grupo profissional que garantem a profissionalização, e em alguns casos de formação contínua que também o possibilitam. A possibilidade de passar a existir uma prova de avaliação de conhecimentos de acesso à profissão docente poderá ser algo mais próximo do que o autor refere. O mesmo já não sucede no ensino superior em que não existe profissionalização da profissão docente e, como tal, o acesso à mesma não passa por nenhuma certificação específica.

A certificação é igualmente uma função da avaliação muito conhecida no contexto escolar, aliás, uma das funções da própria escola é a certificação dos alunos. As instituições educativas podem também passar por processos de certificação, como é a situação atual no ensino superior com a criação da A3ES em que programas/cursos são certificados/acreditados em função de um processo de autoavaliação e de avaliação externa. Evidentemente, que a um processo como o descrito anteriormente também se associa uma função de prestação de contas, de tomada de decisão e de melhoria pelo que facilmente nos apercebemos do já referido anteriormente sobre a pluralidade e sobreposição de perspetivas que não são mutuamente exclusivas.

3.4. Modalidades ou tipos de avaliação

Para desenvolvermos este tópico consideramos a organização proposta por Serpa (2010) para as diferentes modalidades ou tipos de avaliação que se distinguem em função de vários critérios: frequência ou momento em que a avaliação ocorre; lugar ocupado pelo avaliador; sistemas de referência do ato avaliador; objetos avaliados; objetivos com que é feita a avaliação; e a meta-avaliação.

No que concerne à frequência ou momento em que a avaliação ocorre esta pode ser contínua, pontual ou final. Temos assim três modalidades distintas. A avaliação contínua pressupõe que se realiza em vários momentos e acompanha o processo não querendo dizer com isto que seja permanente. É pontual quando realizada