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Fundamentos e métodos da produção de conhecimento

No documento Manual Operacional Do Policial Civil SP (páginas 124-129)

A atividade de inteligência tem dupla finalidade pois, além de produzir o conheci- mento propriamente dito, deve salvaguardar as informações que a Polícia Civil tenha interesse em preservar.

A atividade de informações tem por finalidade a produção de conhecimentos que habilitem as autoridades, em suas respectivas áreas de atribuição, a tomada de decisões ou a elaboração de planos de maior amplitude.

Nesse contexto, podemos definir doutrina de inteligência (DI) como o conjunto de

princípios, conceitos, normas, métodos, processos e valores destinados a fundamentar, orientar e disciplinar a atividade de inteligência.

Os princípios devem ser entendidos como proposições diretoras gerais, destinadas a orientar o desenvolvimento do corpo da doutrina de inteligência.

O termo conceito busca a uniformização de descrição de objetos, fenômenos e rela- ções fundamentais previstas pela doutrina. Por sua vez, normas são disposições que visam fixar estritamente as relações propostas pela doutrina de inteligência.

Quanto aos métodos, são orientações práticas e racionais consagradas e utilizadas pela doutrina, com o escopo de atingir os objetivos desejados com o menor dispêndio de

meios e tempo, obtendo o melhor resultado. Já o processo é o conjunto de maneiras de realizar o que está preconizado pelo método ou pelas normas.

Finalmente, a expressão valores é empregada com o intuito de indicar condutas cultuadas pela sociedade e, necessariamente, respeitadas pela doutrina.

Basicamente, podemos apontar as seguintes características na doutrina de inte- ligência (DI): a) normativa, porque exprime preceitos orientadores; b) dinâmica, pois tem caráter evolutivo; c) adogmática, já que deriva de fundamentos racionais e realísticos; d) consensual, por ter livre aceitação entre os profissionais de inteligência; e) unitária, já que busca uma uniformização de pensamentos, procedimentos e linguagem.

3.1. Conhecimento

Como processo, o conhecimento é a formação na mente humana de uma imagem, que pode decorrer da observação pessoal, do relato oral e/ou da leitura de documentos. Como produto, é a representação oral ou escrita da imagem fornecida.

Na produção de informações o que se busca é o conhecimento científico que se fundamente na objetividade e na evidência dos fatos de modo sistemático – metódico e ordenado- e verificável de modo a ensejar a comprovação das hipóteses indicadas.

Nesse ponto, termos específicos apresentam interesse:

1) conhecimento informe é o resultante de juízos formulados por um profissional de inteligência e que expressa seu estado de certeza ou de opinião em relação à verdade sobre fato ou situação passada ou presente. Consiste, basicamente, na descrição de fatos que sejam úteis ao usuário, sem uma conclusão;

2) conhecimento informação, mais completo, resulta de raciocínio elaborado pelo profissional de inteligência e expressa o seu estado de certeza em relação à ver- dade sobre fato ou situação passada ou presente. Requer um relato detalhado

e conclusivo do qual, via de regra, constam expressões como “foi”, “é”, “acon-

teceu” etc.;

3) conhecimento apreciação é o resultante de raciocínios elaborados pelo profis- sional de inteligência e expressa o seu estado de opinião em relação à verdade sobre fato ou situação passada ou presente;

4) conhecimento estimativo, resultado de raciocínios elaborados pelo profissional de inteligência que expressa o seu estado de opinião em relação à verdade sobre a evolução futura de um fato ou de uma situação.

Nesse contexto, não seria exagero afirmar que, um plano de inteligência contempla, em seu sumário, algo semelhante a verdadeiro plano de governo.

3.2. Situação de produção

A produção de conhecimentos pode ser conseqüência de estímulo externo, que ocorre quando o órgão de inteligência é acionado por um particular ou outro congênere, ou de

atividade espontânea, que se verifica quando o próprio órgão decide que usuário ou outra

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3.3. Metodologia para a produção do conhecimento

Existem determinados procedimentos para que o conhecimento seja produzido que podem ser esquematizados da seguinte forma:

Planejamento > Reunião > Análise e Síntese > Interpretação > Formalização e Difusão

3.3.1. Planejamento

Primeiro é necessário um planejamento onde fique estabelecido o tema a ser abor- dado, partindo do assunto mais amplo para o mais específico, como na hipótese de pro- dução de informação sobre o crime organizado. Neste caso, devemos indagar em qual modalidade delituosa a coleta de informações deve se concentrar e qual o do tempo disponível para produzi-las, buscando sempre resposta às tradicionais perguntas: quem?

como? quando? onde? por quê?

Igualmente relevante selecionar quais as informações de interesse da pessoa a quem se destina o conhecimento, evitando complexidades desnecessárias, procurando utilizar termos técnicos somente quando o destinatário os domine.

Outro aspecto essencial da fase de planejamento é a formulação das informações de forma relevante para o usuário.

Portanto, sinteticamente, temos, como etapas do planejamento do conhecimento: 1. delimitação do tema com seus aspectos essenciais, conhecidos e a conhecer; 2. definição do objetivo, estabelecendo qual o resultado que se pretende com o texto,

aquilo que se busca que o leitor compreenda;

3. seleção de idéias capazes de sustentar o texto, já que podemos utilizar vários recur- sos para fundamentar a exposição como argumentos, exemplos, comparações etc. Exemplo:

Tema: crime organizado

Delimitação do tema: tráfico de entorpecentes no Estado de São Paulo. Objetivo: informar ao Denarc e as Dise’s sobre a incidência desses delitos. Idéias de desenvolvimento: abordagem comparativa com dados de outros Estados,

coleta de subsídios para mapeamento e estatística. 3.3.2. Reunião

Nesta fase busca-se a coleta de material e de dados, que pode ser feita de diversas formas:

1) consulta aos arquivos do órgão de inteligência;

2) pesquisas de dados através de contatos, quando os dados são obtidos através de outra pessoa; estudos e ligações, que ocorrem quando o profissional de inteli- gência busca informações junto a uma congênere, através de pedido de busca (PB) dos conhecimentos constantes de seus arquivos;

3) acionamento do elemento operacional, por intermédio de solicitação a colegas que produzam relatório com as informações requeridas.

Nessa fase, o início das buscas deve dar-se a partir dos meios mais simples para os mais complexos, dando preferência ao uso dos de menores custos para os mais dispendiosos e dos mais seguros para os mais arriscados.

3.3. 3. Análise e síntese

A análise de informações é inerente à atividade policial. A avaliação de dados é o processo a que são submetidos os dados de interesse para o exercício da atividade de inteligência, compreendendo o julgamento da fonte e do conteúdo dos dados obtidos. Nessa fase se procede à estruturação daquilo que foi escolhido como assunto, para sua integração em um conjunto coerente e ordenado. Inicialmente, deve-se examinar os conhecimentos e dados obtidos, decompondo-os em frações significativas e, em seguida, estabelecer a credibilidade das informações por ocasião de sua formalização, através de recursos de linguagem que expressem o estado de certeza ou de opinião do profissional de inteligência.

Assim, devem ser analisados e processados os elementos que se seguem:

a) pertinência, ou seja, o exame dos conhecimentos e dados disponíveis, que devem ser decompostos em frações significativas;

b) credibilidade, que implica no estudo das frações contidas no conhecimento e na aplicação das técnicas de avaliação de dados, com a comparação de frações; c) integração, que consiste no conjunto coerente e ordenado das frações de dados

trabalhadas. 3.3.4. Interpretação

Fase de produção de conhecimento na qual se estabelece o real significado do assunto tratado.

3.3.5. Formalização e difusão

Período onde ocorre a elaboração de um relatório de inteligência e sua remessa ao destinatário.

4. RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO

A idéia básica na qual se apóia a informação deve expressar-se numa frase simples ou no menor número de palavras possível, a fim de facilitar sua memorização e compreen- são pelo destinatário.

Nesse contexto, o uso de descrições simples e o cuidado em evitar termos excessi- vamente técnicos é essencial. Definições claras ajudam o processo ideativo e a concen- tração nos pontos realmente necessários, evitando mal entendidos.

Quando se elabora um relatório, deve-se ter em conta a possibilidade de eventuais mudanças nas condutas ou ações descritas. Por isso, apontar tendências no desdobra-

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mento dos fatos é tão relevante. Por exemplo, em um relato sobre homicídios ocorridos no município de Sorocaba, pode ser importante considerar se a taxa da criminalidade está aumentando ou diminuindo, bem como se tal progressão tende ou não a permanecer.

Normas e procedimentos abaixo arrolados, devem ser observados quando da elabo- ração de um relatório de investigação:

1) confecção dos relatórios pelo agente principal, quando se tratar de equipes; 2) confecção de um relatório a cada ação isolada ou operação, evitando períodos

longos e pormenores excessivos, com ordenação de idéias numa seqüência lógica (início, meio e fim);

3) padronização da linguagem nos relatórios escritos, eliminando termos desgastados e rebuscados como “nominado”, “supracitado”;

4) caso inevitável o uso de expressões técnicas, colocar entre parênteses seu signi- ficado;

5) a circulação do relatório deve restringir-se ao âmbito interno do órgão de infor- mações, já que não é documento hábil para a difusão;

6) rascunhos sobre operações ou ações realizadas não devem ser mantidos, evitan- do-se a criação de arquivos paralelos. Os relatórios do agente, acompanhados de seus rascunhos e anotações, após transformados em informes, serão destruí- dos. Somente os relatórios relativos às operações em andamento permanecerão arquivados até seu encerramento;

7) o profissional de informações deve sempre rever o que foi escrito antes de dar por terminada a redação;

8) o relatório deve ser útil e primar pela objetividade, clareza, precisão, oportunida- de, simplicidade, imparcialidade e segurança, não colocando em risco o agente ou órgão a que pertence.

4.1.Relatório de missão

O relatório de missão precede o relatório de inteligência e é confeccionado por agentes, após uma missão, para o encarregado de caso. Pode ser apresentado por escrito ou oralmente e de forma individual ou coletiva. Pode ser periódico ou final. O relatório periódico é aquele apresentado em espaços de tempo pré-determinados pelo encarregado de caso e, o final, somente quando a operação está encerrada.

O relatório padrão divide-se em 4 (quatro) partes:

1) cabeçalho, que inicia o relatório e é composto de data, assunto, referência e menção a eventuais anexos;

2) parte operacional, onde são indicadas:

a) circunstâncias que cercaram a obtenção dos resultados e técnicas utilizadas para a obtenção dos dados v.g., vigilância, infiltração etc.;

b) nome do agente que obteve os dados e o grau de confiabilidade da fonte que os forneceu, mesmo sem identificá-la;

c) ocorrência de eventuais fatores adversos, que não poderiam ser previstos e dificultaram ou interromperam a operação, v.g., colisão de veículos.

3) parte informativa, onde os fatos são elencados de forma simples, sem inferências e em ordem cronológica procurando responder todas aquelas clássicas indaga- ções: quem? como? quando? onde? por quê?

4) comentários, espaço destinado a registrar tudo o que possa auxiliar no planeja- mento e na execução de futuras operações e, quando cabível, considerações e opiniões do agente em relação à situação e aos fatos.

MODELO

RELATÓRIO Nº ... / 2002 DATA: ... (data da confecção de relatório)

ASSUNTO: ... (geralmente é tratado em código, v.g. “Operação Tigre”) REFERÊNCIA: ... (exemplo: Plano de Operações nº .../Ordem de Busca nº ...) ANEXOS: ... (indicar fotos, croqui, escritos, panfletos anexados, etc. identifican-

do-os com letra ou número. Exemplo: Anexo A, foto de...,

Anexo B, croqui do local).

... ... ... ... ... ... ...

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