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Núcleo de Crimes Contra a Pessoa

No documento Manual Operacional Do Policial Civil SP (páginas 66-70)

2. Investigação nos crimes contra a pessoa

2.2. Núcleo de Crimes Contra a Pessoa

A especialização das equipes policiais responsáveis pelas investigações dos crimes contra a pessoa recebe a denominação de Núcleo de Crimes Contra a Pessoa. Dedica-se, exclusivamente, ao tipo penal e, portanto, têm muito mais probabilidade de êxito e, con- seqüentemente, de esclarecimentos dos intrincados crimes de autoria desconhecida.

O Núcleo, objetivando maior sucesso nas investigações, deveria trabalhar num mesmo local e apresentar uma unidade de ação, como ocorria, em passado recente, com as equipes da Divisão de Homicídios do primitivo Deic. Atualmente, percebe-se nítida separação do ramo técnico-científico do cartorário do investigativo. Notadamente, após a criação da Superintendência de Polícia Técnico-Científica, diretamente subordinada ao Secretário da Segurança Pública, Médicos Legistas e Peritos Criminais têm atuado nas investigações de crimes contra a pessoa, de forma isolada, circunstância que, em última análise, pode acarretar prejuízo, tanto pela demora na conclusão dos laudos periciais, quanto pela falta de comunicação direta com os demais integrantes da equipe.

2.2.1. Dinâmica da investigação

Independentemente da área de atuação, extensa ou restrita a uma pequena região, de pouca ou grande incidência criminal, uma equipe de investigação de crimes contra a

pessoa deve ter, idealmente, a seguinte composição: Delegado de Polícia, Escrivão de

Polícia, Investigadores de Polícia, Médicos Legistas, Peritos Criminais, Papiloscopistas e Fotógrafo Técnico-Pericial.

2.2.1.1. Delegado de Polícia

Como presidente do Inquérito Policial que, nos casos de crime contra a vida, deve ser instaurado de imediato, o Delegado de Polícia supervisiona e coordena os trabalhos

dos demais integrantes da equipe. Terá, obrigatoriamente, que comparecer ao local, ouvir pessoas, testemunhas ou não, observar e determinar o levantamento da cena do crime, com o objetivo de pesquisar vestígios, supervisionar o trabalho dos Médicos Legistas e dos Peritos Criminais, trocando com eles informações e formulando hipóteses.

Finalmente, quando a autoria do crime for de difícil elucidação, deverá reunir a equipe e trocar informações, principalmente sobre o rumo da investigação, ou pista, que deverá ter prioridade. É muito útil lembrar que, muitas vezes, o mais humilde dos inte- grantes de uma equipe pode ser aquele que melhor interpretou o local e, portanto, o que levantou a melhor pista

2.2.1.2. Escrivão de Polícia

Como ocorre em qualquer Inquérito Policial, o Escrivão de Polícia é o responsável pela formalização de todos os atos de Polícia Judiciária, desde o registro da notitia criminis até a remessa dos autos ao Poder Judiciário. Na qualidade de integrante da equipe de

investigação, o Escrivão de Polícia, num local de crime, deverá auxiliar a autoridade e os

Peritos Criminais e Médicos Legistas nas arrecadações, nas apreensões, efetuar anota- ções de dados e informes diversos e, ainda, estar atento aos circunstantes, que podem transformar-se em importantes fontes de informação.

Por fim, podemos conceituar o Escrivão de Polícia da equipe de investigação, como o compilador, o elo entre os demais integrantes, e o responsável pela documentação de toda a investigação criminal.

2.2.1.3. Investigador de Polícia

Não existe outra destinação da atividade profissional do Investigador de Polícia que supere a do integrante de uma equipe de investigação nos crimes contra a pessoa. Constitui a essência dessa importante carreira policial, pois exige uma gama de conheci- mentos, inteligência, atenção, dedicação e paciência, que outras investigações, mesmo as mais complexas, dispensam.

O Investigador de Polícia no local do crime, de início, observará, atentamente, a cena a fim de registrar sua própria impressão a respeito dos fatos. Verificará como ocor- reu o fato, quais as vias de acesso da vítima e autor, quais os vestígios perceptíveis, a disposição de móveis e utensílios, enfim, a noção global do conjunto representado pelo cenário, que será de grande valia para a continuidade dos trabalhos.

Numa segunda etapa, ainda no local, o Investigador de Polícia deverá manter con- tato com testemunhas, visando conhecer a vítima, suas atividades, personalidade e seus hábitos, bem como as pessoas com as quais se relacionava.

A terceira, e última etapa relacionada à cena do crime, consistirá no acompanha- mento atencioso dos trabalhos realizados pelos Médicos Legistas e Peritos Criminais, tanto no levantamento do local propriamente dito, quanto nos trabalhos decorrentes.

Esta fase propiciará ao Investigador de Polícia o conhecimento da causa da morte, o tempo decorrido, os meios e modos empregados, circunstâncias que poderão ser reve- ladas após os exames de laboratório, além da fixação do local por meio de levantamentos

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fotográficos, topográficos, filmagens etc. Modernamente, ainda pelo método da recognição visuográfica de local de crime, elaborada por ele próprio.

Essas três etapas referem-se aos elementos materiais e às primeiras informações sobre o fato, com base no exame do local do crime. Se percorridas essas etapas, a autoria ainda for desconhecida, deverá o Investigador de Polícia iniciar uma nova fase de inves- tigação, a da formulação das hipóteses. No dizer de Coriolano Nogueira Cobra,“hipóteses, no terreno criminal, são suposições provisórias, a respeito de crimes, de suas circunstân- cias, motivos e autorias, as quais deverão ser examinadas com o objetivo de se verificar quais as que têm correspondência com a realidade, obtendo-se, desse modo, elementos que permitam ou auxiliem o esclarecimento dos delitos”.1

Na formulação das hipóteses e, posteriormente, na verificação dessas, é que o Inves- tigador de Polícia terá que se empenhar com afinco e utilizar todos os seus conhecimentos para obter o sucesso desejado em sua missão. Esta fase tem início determinado, mas seu término é imprevisível, o que faz desse policial civil, sem dúvida nenhuma, um dos mais importantes integrantes da equipe.

2.2.1.4. Médico Legista

O trabalho do Médico Legista, eminentemente técnico, no local do crime, é feito em conjunto com o Perito Criminal. Essa atuação conjunta é conhecida como perinecroscopia, isto é, o exame do cadáver ainda integrando o local do crime, antes de sua remoção para o necrotério.

Nele, o Médico Legista terá condições de avaliar o tempo da morte, constatar sua realidade, descrever as lesões observadas, bem como quais os agentes lesivos emprega- dos. Deverá trocar informações com os Peritos Criminais no aspecto restrito às provas materiais e, com o Delegado de Polícia e investigadores, quanto aos pontos de interesse à investigação propriamente dita.

Uma vez removido o cadáver para o necrotério, o Médico Legista realizará a necropsia e solicitará os exames laboratoriais que julgar necessários ou os que forem requisitados pela autoridade policial. Surgindo, no curso dos exames, qualquer fato novo, que possa inte- ressar à investigação, deverá dar notícia aos demais integrantes da equipe, com a maior brevidade, pois o tempo perdido é inimigo do sucesso no terreno da investigação criminal.

2.2.1.5. Perito Criminal

A atuação do Perito Criminal na equipe de investigação é da maior relevância, uma vez que responsável pela fixação e levantamento do local do crime e, posteriormente, pela complementação da perícia com os diversos exames realizados em laboratório. Deverá trabalhar em estreita colaboração com os demais integrantes da área técnico-científica,

v.g., Médico Legista, Papiloscopista e Fotógrafo Técnico-Pericial. Deverá, finalmente,

interagir com o Delegado de Polícia e investigadores.

1 COBRA, Coriolano Nogueira. Manual de Investigação Policial, Editora Saraiva, 7ª edição, revista e

No local do crime constatará a posição do cadáver e todos elementos sensíveis, tais como, vestes da vítima, vestígios de luta, manchas e rastros. Determinará quais os meios empregados para a obtenção do resultado letal. Se através de arma de fogo, procederá aos ensaios iniciais de balística. Deverá, finalmente, registrar e informar, de pronto, ao Dele- gado de Polícia caso constatada a hipótese da morte ter ocorrido em local diverso do encontro do cadáver ou sua remoção no próprio local.

Nos laboratórios do Instituto de Criminalística, ou em seus núcleos especializados, os Peritos Criminais executarão os diversos exames decorrentes, tantos quantos forem necessários ou requisitados, sempre dentro dos prazos legais, a fim de que não haja que- bra do ritmo investigatório.

2.2.1.6. Papiloscopista

Responsável pela coleta de vestígios papiloscópicos nos locais de crimes e em suportes diversos que tenham relação com o evento, o Papiloscopista tem importante participação na identificação de vítimas desconhecidas e, principalmente, nos casos em que os cadáveres encontram-se em adiantado estado de putrefação, através do processo conhecido doutrinariamente como luva.

2.2.1.7. Fotógrafo Técnico-Pericial

Outro integrante do ramo técnico-científico da equipe de investigação, cujo traba- lho está totalmente entrelaçado com o do Perito Criminal, do Médico Legista e do Papilos- copista, é o Fotógrafo Técnico-Pericial.

Responsável pelas tomadas fotográficas que consistirão na fixação do local do cri- me, sua experiência profissional nessa atividade autoriza-o a sugerir os melhores ângulos ou posições ao Perito Criminal ou Médico Legista, no trabalho de levantamento.

Outros policiais, eventualmente, poderão integrar uma equipe de investigação, principalmente o Agente Policial, responsável pela condução dos integrantes, ou partes, ao local do crime ou aos diversos pontos para os quais a investigação convergir.

Na Polícia Civil paulista, atualmente, os Agentes Policiais têm suas funções muito assemelhadas às dos Investigadores de Polícia.

Finalmente, mesmo não sendo considerado integrante da equipe de investigação, não se pode deixar de mencionar a atuação do policial uniformizado, que sendo, via de regra, o primeiro a tomar contato com os locais de homicídios, presta inestimáveis ser- viços à investigação quando os preserva corretamente, evitando sua descaracterização e possibilitando, assim, o êxito das diligências futuras, conforme preceitua a Resolução SSP-382, de 1º de setembro de 1999.

3. HOMICÍDIO DOLOSO

O primeiro artigo da parte especial do Código Penal, define, singelamente, o tipo penal do homicídio, através da expressão “matar alguém”, que, por si só, traduz a ação humana de subtração da vida de um ser humano.

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3.1. Considerações preliminares

O homicídio doloso de autoria desconhecida é o crime que mais trabalho exige das equipes de investigação, tanto pela sua relevância quanto pela sua complexidade. É sempre uma investigação difícil, pois a eliminação do homem por seu semelhante, mesmo para o mais cético e cruel dos assassinos, é um ato cuja autoria raramente é motivo de regozijo, visto que, obviamente, o silêncio emerge como grande obstáculo a ser transposto.

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