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Modos de iludir a campana a pé

No documento Manual Operacional Do Policial Civil SP (páginas 50-56)

2. Campana

2.2. A campana na doutrina policial

2.2.4. Modos de iludir a campana a pé

aparentes em locais de crime; 6. Reconstituição; 7. Considerações finais.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

O policial civil encarregado de uma investigação policial, quer se trate de crime, quer de contravenção, deve ter em mente que seus trabalhos sempre terão origem no local dos fatos, tema a ser examinado com maior propriedade em capítulo adequado.

Destaque-se, contudo, que, além do exame do local, o investigador poderá dispor de outros recursos, muitas vezes indispensáveis para chegar a um bom êxito quanto à elucida- ção da ocorrência. Esses recursos, muitas vezes fundamentais, são a campana, a penetração e a infiltração, a interceptação telefônica, as informações variadas fornecidas por informan- tes, ou alcagüetes, podendo-se, também, incluir nesse rol as denúncias anônimas.

Nunca será demais evidenciar que o local deverá ser minuciosamente examinado, em busca de quaisquer indícios e provas que possam estabelecer a individualização da autoria da infração penal.

2. CAMPANA

Campana, no magistério do Professor Coriolano Nogueira Cobra, “é expressão de

gíria que significa observação discreta, nas imediações de algum lugar, para conhecer os movimentos de pessoa ou pessoas ou para fiscalizar a chegada ou aparecimento de alguém. Significa, ainda, o seguimento de alguém, de modo discreto, para conhecer seus movi- mentos e ligações”.1

Por razões óbvias, o recurso da campana é utilizado tanto por policiais civis quanto por marginais. O marginal utiliza-a a fim de observar vitímas em potencial, bem como imó- veis onde pretenda ingressar, visando o sucesso de sua empreitada. Como dificilmente os

delinqüentes agem sozinhos, aquele que se incumbe da vigilância é conhecido, no jargão policial, como campana.

Nos dias atuais, com absoluta certeza, a campana jamais será abandonada, pois que, em muitas de suas ações, os marginais utilizam-se de informações que lhes são for- necidas por empregados de estabelecimentos industriais, comerciais, agências bancárias etc., propiciando-lhes maior possibilidade de sucesso.

No entanto, em virtude da proliferação do uso de substâncias entorpecentes, há delin- qüentes que, ao passarem por uma via pública, independentemente de qualquer campana, simplesmente resolvem invadir imóveis. Vale lembrar que o que os atrai são as luxuosas residências, edifícios de apartamentos e prédios de escritórios. Freqüentemente, ao vis- lumbrarem veículos importados, e de alto custo, estacionados em portas ou garagens, decidem agir.

A campana policial, por sua vez, reveste-se de extrema complexidade por parte de quem a realiza.

2.1. Dinâmica da campana

Segundo Coriolano Nogueira Cobra, é preciso ressaltar os cuidados que os policiais civis deverão observar durante a campana.

Em casos especiais, quando não tiver duração prolongada, a campana móvel pode ser feita por um só policial.

Doutrina o mencionado autor que “a campana de seguimento ou móvel pode ser feita a pé ou em veículos ou pelos dois meios, quando as circunstâncias o exigirem.

A campana móvel exige dos policiais alguns cuidados especiais, tais como: 1º) que se certifiquem bem das pessoas a serem acampanadas, o que pode ser feito

por indicação de quem as conheça ou recorrendo-se a documentos identificadores; 2º) que procurem conhecer os hábitos e locais de freqüência dos que devem ser

seguidos;

3º) uso de trajes que não chamem a atenção, evitando-se qualquer coisa que possa ser notada com mais facilidade;

4ª) possibilidades de pequenas modificações na aparência geral, tais como a tirada de paletó ou chapéu e óculos;

5º) levarem dinheiro para as despesas mais comuns e, conforme a previsão, tam- bém para outras que possam vir a ser necessárias, para evitarem a paralisação do serviço”.2

Ainda recomenda Cobra: “A campana móvel por dois policiais oferece, geralmente, melhores possibilidades de sucesso porque:

1º) serão dois a observar o seguido, um próximo e outro mais atrás;

2º) quando o trânsito não é intenso, possibilita que um dos seguidores vá pela mesma calçada em que estiver o seguido e o companheiro pela outra;

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3º) permite, para evitar surpresas, que, quando o seguido dobra uma esquina, o policial da calçada oposta, acelerando os passos, veja se o observado pára ou volta, procurando verificar se está sendo observado;

4º) no caso do acampanado entrar em algum edifício, um dos policiais poderá acompanhá-lo, enquanto o outro permanece na parte externa, para alguma even- tualidade;

5º) permite a modificação das posições dos seguidores, diminuindo, assim, as pos- sibilidades de serem notados”.3

Atualmente, em virtude da alta agressividade e violência dos marginais, não se recomenda a realização de campana por um único policial. A prática ensina que o policial deverá, no mínimo, trabalhar em dupla, para melhor segurança.

Caso o acampanado demonstre que percebeu estar sendo seguido, razoável será encerrar a campana e reiniciá-la em outra ocasião, com a substituição dos policiais.

Além da campana discreta, pode ocorrer que haja necessidade de se empregar a

campana ostensiva, na qual o policial demonstra ao acampanado que ele está sendo vigiado

e seguido, conforme conclui a lição do citado mestre.

Esta modalidade de campana é utilizada em casos de grave ameaça ou ainda em ocorrências de natureza política que objetivem produzir manifestações populares.

2.2. A campana na doutrina policial

A propósito, deve ser lembrada, como registro histórico, a notável lição4 de José

Grimaldi Filho, Delegado de Polícia e Professor da Academia de Polícia, sobre a moda- lidade, no século passado, nos seguintes termos:

2.2.1. Campana a pé

Uso de um homem só, a pé – Método A

Trata-se de uma modalidade difícil, visto que o emprego de um só homem exige um acampanamento do suspeito a curta distância, tornando-o facilmente identificável pelo acampanado. Deve-se evitar o uso de um só homem em campana.

a) a campana é extremamente difícil e deve ser evitada; b) o suspeito deverá estar sempre nas vistas do agente;

c) a campana de um só homem, usualmente, é feita a curta distância, dependendo das características do tráfego de pessoas;

d) o agente deve ficar do mesmo lado da rua em que está o acampanado;

e) requer proximidade do acampanado para verificar de imediato se entra em contato com alguém, dobra esquinas, entra em edifícios ou qualquer outro movimento súbito do acampanado.

3 COBRA, Coriolano Nogueira, op. cit., p. 135.

Uso de dois homens – Método AB

Dá maior garantia à campana devido às modificações de posições dos agentes, mas ainda não é a ideal.

a) o uso de dois homens oferece melhor segurança, diminuindo as chances de identi- ficação dos agentes e perda do acampanado de vista;

b) em ruas de grande movimento de pedestres, permite que ambos agentes perma- neçam do mesmo lado da rua em que se encontra o acampanado;

1. o primeiro agente segue o indivíduo a curta distância;

2. o segundo agente segue o primeiro agente a uma distância razoável e ao mesmo tempo com vistas ao indivíduo.

c) em ruas de pouco movimento um agente pode permanecer do lado oposto da rua, um pouco atrás do indivíduo;

d) a fim de evitar a identificação dos agentes, os mesmos poderão modificar suas posições em relação ao indivíduo.

Uso de três homens – Método ABC

Este método oferece maiores variações de posições dos agentes, torna mais difícil serem identificados e a campana é mais eficiente, visto que maiores detalhes são obser- vados:

a) o uso de três homens diminui mais ainda o perigo de perder o indivíduo acampa- nado e diminui o risco de identificação dos agentes;

b) o método de três agentes (ABC), permite mais variações de posições dos agentes e, na hipótese de um ser queimado, permite a sua retirada sem danos para a

campana;

c) uso do método ABC, em condições normais de trânsito de pedestres: 1. o agente “A” mantém-se a uma distância razoável do indivíduo;

2. o agente “B”, segue o agente “A” do mesmo lado da calçada, concentrando-se no mesmo para não perdê-lo de vista;

3. o agente “C”, caminha na calçada do lado oposto em que se encontra o indi- víduo a uma relativa distância atrás do mesmo.

d) uso do método ABC, em rua de pequeno trânsito ou pouco movimento de pedestres:

1. dois agentes poderão ficar no lado oposto da rua; 2. um agente poderá caminhar à frente do indivíduo.

e) uso do método ABC, em ruas de grande trânsito ou com muito movimento de pedestres;

1. os três agentes deverão estar do mesmo lado da rua em que se encontra o indivíduo;

2. o agente que encabeça o método ABC, deverá ficar próximo ao indivíduo para observar suas ações nas esquinas e verificar se o mesmo entra em algum edifício;

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3. como no método usado por dois homens, os agentes terão que alterar constante- mente suas posições em relação ao indivíduo acampanado;

4. em situações normais de tráfego de pedestres, quando o suspeito se aproxima de uma esquina, o agente “C”, do outro lado da rua passará a seguir o suspeito, mas para tal, deverá alcançar a esquina antes do suspeito. Irá dar uma pequena parada na esquina e se dirigirá na mesma direção do suspeito; o agente “C”, poderá observar o suspeito e dar sinal aos agentes “A” e “B”, das atitudes do suspeito antes que desapareça de vista. Se, sinal de que o suspeito parou for dado, o agente “A” deve atravessar a rua antes de prosseguir na direção tomada pelo suspeito quando de sua virada. Se o suspeito parar por alguns momentos, ambos agentes, “A” e “B”, devem ficar num ponto fora da vista do suspeito e esperar que o agente “C” avise que o suspeito continua a andar. Independente- mente do suspeito parar ou não ao virar uma esquina deve-se aproveitar a oportunidade para modificação das posições dos agentes;

5. de modo geral, usam-se três a cinco agentes no método ABC. Seis a oito também poderão ser usados, mas, mais do que isso, é desaconselhável.

2.2.2. Descoberta do acampanamento a pé

Quando o acampanamento a pé for descoberto:

a) o indivíduo que suspeita estar sendo seguido pode recorrer a ardis, a fim de verifi- car se sua suspeita é válida ou não;

b) quando o indivíduo recorrer a tais recursos é aconselhável mudança dos policiais, pois ele poderá ter identificado um ou mais de seus seguidores.

2.2.3. Levantamento da campana a pé

Métodos mais usados pelos suspeitos para verificar se estão sendo acampanados: 1. parar bruscamente e olhar para trás;

2. olhar casualmente ao redor; 3. inverter a marcha de direção;

4. tomar um ônibus e descer imediatamente após a partida; 5. andar uma pequena distância de ônibus;

6. dar voltas de táxi no quarteirão;

7. entrar num edifício por uma porta e imediatamente sair por outra (prédio de várias entradas e saídas);

8. parar repentinamente ao virar uma esquina; 9. usar cobertura de outros cúmplices;

10. observar através de vitrinas de lojas se alguém o está seguindo;

11. deixar cair um pedaço de papel qualquer e observar se alguém o apanha; 12. caminhar rápida e vagarosamente de modo alternado;

14. ter preparado no interior de uma loja ou bar um cúmplice para ver se não está sendo seguido;

15. observar de uma janela ou sótão com auxílio de binóculos, a fim de verificar se não está sendo seguido por algum agente e também procurar por agentes em campana fixa em edifícios fronteiros. Procurar por equipamentos de visão a longa distância, principalmente binóculos e lunetas através do reflexo das lentes;

16. deixar o saguão do hotel ou local semelhante, de modo apressado e, depois olhar para os lados para ver se alguém se levantou rapidamente sem nenhuma razão aparente;

17. usar dos mais variados ardis;

18. tentar o indivíduo, ou um seu comparsa, aproximar-se, suficientemente das portas dos quartos adjacentes ao dele à procura de aparelhos de escuta clan- destina;

19. abrir e fechar a porta de seu quarto de hotel, dando a impressão que está saindo, e ficar no entanto, do lado de dentro com a porta semi-aberta para verificar se alguém sai. No entanto, se alguém sair de um dos quartos adjacentes, o indivíduo sairá de fato e se encaminhará para o elevador, descerá juntamente com a pessoa procurando guardar sua fisionomia;

20. fingir que sai do quarto e aí permanecer bem quieto à procura de ruído de máqui- nas de escrever ou outros em quartos vizinhos. Fazer sentir a presença no quarto e prestar atenção se as pessoas no outro quarto falam sussurradamente; 21. observar pessoas por cima de jornais em saguão de hotéis ou local semelhante

e olhar nas paredes espelhadas para verificar se há alguém prestando atenção às pessoas que entram e saem.

2.2.4. Modos de iludir a campana a pé

1. descer de um ônibus ou metrô, assim que as portas começam a se fechar; 2. deixar um edifício por uma saída posterior ou lateral;

3. entrar em cinemas e imediatamente abandoná-lo por uma de suas saídas; 4. acusar o agente em campana a um policial uniformizado de rua, o qual geral-

mente pedirá explicações sobre sua atitude, visto que, de imediato você não poderá se identificar como policial;

5. misturar-se à multidão; 6. empregar ardis;

7. usar de armadilhas. O indivíduo deixará um bilhete numa cabine telefônica, cinzeiro ou outro local qualquer e observará se alguém o está lendo. O indivíduo poderá levantar a campana dirigindo-se para uma rua, viela, beco sem saída, fazendo com que o policial o siga;

8. tomar o último táxi de um ponto de estacionamento ou fila de táxi; 9. mudar de roupa;

10. adentrar sanitários de bares, restaurantes, terminais de aeroportos, estações rodoviárias etc. e verificar se alguém o está seguindo.

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