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Fundamentos históricos do processo de formação da Paraíba

Em 1804, Luiz da Motta Feo, investido do cargo de Governador e Capitão General, empreendeu uma viagem oficial pelo interior da Capitania da Paraíba do Norte. Ele se fez acompanhar dos sargentos mores Mathias da Gama Cabral, Francisco Xavier de Mello Ozório e o oficial da secretaria, Francisco Xavier Monteiro da Franca. Montados em lombo de cavalos, os membros da comitiva saíram da capital da capitania, a cidade de Paraíba do Norte, na manhã do dia 10 de agosto daquele ano, com o objetivo de arrecadar, em diversas localidades do interior, a Real Contribuição, um imposto estabelecido por carta régia de 06 de abril de 1804. A comissão percorreu 111 léguas, tendo alcançado a Real Vila de Souza em 31/08/1804, ponto extremo do território no sentido leste/oeste, já próximo à fronteira com a capitania do Ceará. Após uma breve estadia naquela localidade, a comitiva iniciou a viagem de volta, percorrendo a mesma distância, tendo chegado ao local de partida na noite de 08 de setembro, depois de 30 dias de jornada. Nesse intervalo de tempo, os membros do grupo fizeram paradas em diferentes localidades da região, incluindo povoados e vilas, onde descreveram suas respectivas paisagens, os acontecimentos marcantes alí ocorridos e as pessoas com quem se depararam.60

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Ver Relatório da viagem que fez aos Sertões da Capitania da Parahyba do Norte o Governador General Luiz da Motta Feo (1804-1805). Documento Nº 17, Lata 5. Arquivo do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (doravante AIHGB). Nomeado em janeiro de 1802, Luiz da Motta Feo, “Vice Almirante, Fidalgo e Cavaleiro da Casa Real, Chefe da Divisão da Armada Real e Comandante da Primeira Divisão da Brigada Real da Marinha”, tomou posse do cargo em 12 de setembro daquele mesmo ano e nele permaneceu até 24 de julho de 1805. Além da Paraíba, também governou o Ceará e Angola. Ver PINTO, Irenêo Ferreira. Datas e notas para a história da Paraíba. Vol. I. João Pessoa: EDUFPB, 1977, pp. 226/233. Para uma discussão sobre o processo de

Ao que parece, Luiz da Mota Feo foi o primeiro a percorrer o território da capitania no século XIX.61 Com isso, ele deu prosseguimento a uma prática iniciada antes dele e que continuou depois de sua gestão, levada adiante por outros dirigentes, como alguns dos futuros presidentes da província ao longo dos oitocentos, procurando assim levar aos seus mais longínquos rincões os ares da “civilização.” No instante em que percorreu os caminhos do interior, a capitania vivia um momento particular de sua história.

A conquista, a ocupação e o povoamento do território paraibano faziam parte de um projeto mais amplo de expansão dos interesses coloniais rumo ao norte da América portuguesa, na segunda metade do século XVI. Nesse contexto, quando em 1534 o Estado metropolitano resolveu ocupar efetivamente as terras de sua mais nova colônia, através da política das capitanias hereditárias, a Paraíba fazia parte da capitania de Itamaracá, entregue ao fidalgo luso Pero Lopes de Souza, e seus limites iam de Igarassu até a Baia da Traição. Posteriormente, em 1574, foi desmembrada e transformada em Capitania Real, vinculada diretamente à Coroa. Daí até a fundação oficial da cidade da Paraíba do Norte em 1585, vista como marco simbólico da conquista, desenrolaram-se conflitos dos mais variados tipos, envolvendo diferentes sujeitos sociais, portadores de projetos e interesses específicos em disputa naquele contexto histórico. 62

Nesse processo, os primeiros colonos aqui aportados tiveram que lidar com diversas adversidades, a começar pelos obstáculos interpostos por uma natureza desconhecida, muitas recrutamento e a importância dos governadores e capitães-mores no contexto da política de domínio no Império colonial português, ver MONTEIRO, Nuno Gonçalo. “Governadores e capitães-mores no Império atlântico português no século XVIII”. In. BICALHO, Maria Fernanda e FERLINI, Vera Lúcia Amaral (Orgs). Modos de governar: idéias e práticas políticas no Império português séculos XVI a XIX. São Paulo: Alameda, 2005, pp. 93/115.

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Nesse sentido, o historiador Wilson Seixas se equivocou ao afirmar que Luiz Antonio da Silva Nunes, presidente da Província entre 17/04/1860 e 17/03/1861, foi o primeiro dirigente a fazer uma viagem pelo interior da Paraíba, ocorrida em 1860. Ao que parece, essa prática remontava à época colonial e tinha um sentido administrativo e político: reforçar os laços ente os súditos e os representantes de Sua Majestade nos mais longínquos rincões do Império colonial português da América. Em 1735, por exemplo, Pedro Monteiro de Macedo, que havia tomado posse como governador da Paraíba no ano anterior, percorreu o litoral e os sertões da Capitania, visando encontrar soluções para enfrentar o problema da dependência em relação a Pernambuco. Ver SEIXAS, Wilson Nóbrega (Org). Viagem através da província da Paraíba. João Pessoa: A União, 1985; MENEZES, Mozart Vergetti. “Sonhar o céu, padecer no inferno: governo e sociedade na Paraíba do século XVIII”. In. BICALHO, Maria Fernanda e FERLINI, Vera Lúcia Amaral (Orgs). Op.cit. pp. 327/340.

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A bibliografia clássica sobre o processo de conquista e colonização da Paraíba é extensa, quase sempre marcada por um tom ufanista e épico. Ver, a título de exemplo, ALMEIDA, Horácio. História da Paraíba. Vol. I. 2ª ed. João Pessoa: EDUFPB, 1997; MARIZ, Celso. Apanhados históricos da Paraíba. João Pessoa: A União, 1994; MACHADO, Maximiano Lopes. História da Província da Paraíba. Vol. I. João Pessoa: EDUFPB, 1977; PRADO, J. F. de Almeida. A conquista da Paraíba. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1964; Pinto, Irenêo Ferreira. Op.cit. Atualmente a historiografia paraibana passa por um processo de renovação, em grande medida devido à produção de trabalhos acadêmicos resultado de teses e dissertações, frutos da expansão dos cursos de pós-graduação em âmbito local e nacional. Dentre os temas que estão sendo renovados, a formação histórica da sociedade paraibana (incluindo aí a conquista e colonização) não poderia ficar de fora devido a sua importância estratégica. Sobre a questão, ver GONÇALVES, Regina Célia. Guerras e açucares: política e economia na capitania da Parahyba-1585-1630. Bauru: EDUSC, 2007.

vezes cheia de ciladas. Porém, dois outros poderosos inimigos, estes de natureza humana, se apresentavam ao processo de colonização portuguesa. De um lado outros povos europeus “concorrentes” externos e, de outro, os diversos grupos indígenas, habitantes originais da terra.

Dentre os povos europeus que disputaram a conquista e a posse da terra recém descoberta, destacaram-se inicialmente, pela sua persistência, os franceses, que nunca aceitaram de bom grado os termos do Tratado de Tordesilhas. Com o apoio tácito do Estado francês, grupos de comerciantes e corsários daquele país aqui se fixaram em ocasiões diferentes ao longo dos primeiros tempos da colonização. Na Paraíba, eles fizeram diversas incursões, estabelecendo relações de escambo com os grupos de índios locais. Estes, em troca de diversos objetos de uso cotidiano, trabalhavam no processo de derrubada de madeiras, mormente o pau-brasil, matéria prima largamente utilizada em indústrias manufatureiras.

A convivência entre franceses e indígenas acabava gerando alianças políticas, levando assim a confrontos armados destes com os portugueses e seus aliados. As primeiras décadas de história da Paraíba testemunham alguns conflitos dessa natureza, colocando em risco o projeto colonizador luso.

Nem com a fundação da cidade da Paraíba do Norte e a montagem dos primeiros engenhos de açúcar nas várzeas ao seu redor, marco do processo colonizador luso em terras paraibanas, o espectro do perigo externo deixou de espreitar o horizonte dos colonizados portugueses. Com saída momentânea de cena dos franceses, empurrados para o extremo norte do então território português nas Américas (ou seja, as futuras Capitanias do Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão), outros europeus continuaram a disputar com os lusos, “palmo a palmo”, terras e posições de mando, a exemplo de corsários e piratas ingleses. Destes, porém, os que mais ofereceram resistência ao domínio português foram os holandeses. Ao contrário dos franceses e ingleses, cujas investidas se reduziam quase que a ações de rapina ao longo da costa paraibana, os batavos resolveram atacar no centro da colonização, ao se instalarem diretamente nos principais núcleos populacionais então montados e nas zonas produtoras de mercadorias, mormente a açucareira. Inserida no complexo jogo geopolítico das potencias européias da primeira metade do século XVII, a chamada “guerra do açúcar” foi um de seus desdobramentos no novo mundo, entre 1630 e 1654, com a ocupação e exploração econômica das capitanias do Norte.63 Na Paraíba, mais uma vez, os invasores holandeses contaram com as alianças indígenas para se estabelecerem na região conquistada aos luso-brasileiros.

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Ver MELLO, Evaldo Cabral de. Olinda restaurada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

Se os colonizadores lusos tiveram que enfrentar sérios obstáculos em relação a grupos de estrangeiros europeus, no sentido de implantar um projeto de dominação em terras tropicais de além-mar, as dificuldades não foram menores no que diz respeito a um outro tipo de “óbice”: os diversos grupos indígenas habitantes do território do que posteriormente veio a se transformar na capitania e depois província da Paraíba do Norte. Entretanto, havia uma diferença fundamental: enquanto os conflitos com os europeus foram conjunturalmente pontuais, os confrontos com as populações nativas foram reiterados ao longo do tempo, sendo sistematicamente renovados a cada conjuntura histórica.

Quando da chegada dos primeiros colonizadores portugueses, o litoral da Paraíba era habitado por grupos indígenas pertencentes à nação tupi, representados pelos potiguares e tabajaras. Estes haviam se fixado há pouco tempo, obedecendo à lógica das rotas de migrações periódicas que caracterizava a vida desses povos antes da chegada dos europeus. No encontro que se seguiu com os colonizadores, a reação desses mesmos grupos variou no tempo e no espaço, indo da negociação e das alianças tácitas, até à guerra aberta. No caso dos potiguares, estes fizeram alianças preferenciais com os franceses, motivados por duas razões: o escambo e o combate aos portugueses. Com isso acabaram impingindo várias derrotas militares às primeiras expedições de conquista luso-espanhola, vindas de Olinda ou da Bahia. Nesse contexto, se transformaram no principal obstáculo da colonização europeu em terras paraibanas, a ponto de redimensionar os planos iniciais dos conquistadores. Quanto aos tabajaras, também alternaram a tática de guerras e alianças com os colonizadores. Só que, ao contrário dos potiguares, se aliaram preferencialmente aos portugueses, sendo esse um fator fundamental para o triunfo desses últimos na conquista e posse do território, culminando com a assinatura do “acordo” de paz selado no dia 05/05/1585 entre o cacique Piragibe e o chefe militar português João Tavares, evento esse transformado posteriormente numa espécie de “mito fundador” da história da Paraíba.64

Porém, essa história, feita de conflitos e negociações entre colonizadores e colonizados, prosseguiu pelos anos seguintes, é verdade que em novos patamares. No confronto com os colonizadores, milhares de índios do litoral morreram vítimas de guerras, doenças, escravização etc. Os que conseguiram escapar tiveram destinos distintos: uma parte se deslocou para pontos mais afastados do litoral e outra migrou para as vizinhas capitanias do

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Para a elaboração desse mito fundador, cuja estrutura básica até hoje é repetida na historiografia clássica e nos livros didáticos de história da Paraíba, muito contribuiu um relato feito por um membro da Companhia de Jesus que teria sido testemunha ocular de muitos dos episódios posteriormente selecionados para contar a história de nossas origens. Ver Sumário das armadas. 5ª ed. Campina Grande: FURNE/UFPB, 1983. Mais recentemente a historiografia local vem lançando um novo olhar sobre a questão, buscando problematizar esse silêncio. Ver MEDEIROS, Ricardo Pinto. O descobrimento dos outros. Doutorado em História. Recife: UFPE, 2000.

Rio Grande do Norte e do Ceará, ainda em processo de ocupação e conquista, onde prosseguiram resistindo. Por opção ou imposição das circunstâncias históricas, após terem a maior parte de suas terras expropriadas pelos colonos e pelo Estado, ele foram confinados em aldeamentos administrados pelos jesuítas até meados do século XVIII, e posteriormente em diretórios dirigidos por chefes tribais ou representantes leigos indicados pelo Estado. Estas circunscrições possibilitaram o aparecimento futuro de povoados, vilas e cidades. 65

Se no litoral os portugueses enfrentaram a resistência dos agrupamentos indígenas lá existentes, nas terras do interior da capitania as coisas não andaram melhor para o lado deles. Aí viviam os índios da nação tapuia, divididos em subgrupos, tais como Cariris, Ariús e Bultrins, que ofereceram uma resistência redobrada aos intentos “civilizadores” dos luso- brasileiros, embora a sociedade resultante desse processo de destruição/amalgamento seja impensável sem a incorporação demográfica e cultural dessa “gente”. A exemplo das regiões circunvizinhas, o sertão da Paraíba foi palco de um dos capítulos mais dramáticos da história da conquista e ocupação da América portuguesa, a denominada “guerra dos bárbaros”. Em jogo estavam diferentes concepções de mundo, incluindo aí padrões culturais, formas de se relacionar com a natureza, de organização social e de poder, além de sistemas de propriedade. A guerra consistiu num conjunto de acontecimentos políticos e militares, passados entre meados do século XVII e as primeiras décadas do século XVIII, envolvendo os colonizadores de um lado e, de outro, diferentes agrupamentos indígenas de origem tapuia. Apesar de derrotados, estes últimos impuseram sérios reveses aos portugueses e seus aliados.66

Até a guerra de expulsão dos holandeses, a colonização da Paraíba e demais capitanias do norte praticamente se restringia à pequena faixa litorânea e seus arredores. Nesse espaço

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A história da resistência indígena na Paraíba, como de resto em várias partes do Brasil, ainda está por ser escrita. Uma coisa, porém, é certa: ela não se encerrou com o processo de conquista e ocupação do novo território. Nesse sentido, a documentação oficial, a exemplo dos relatórios de presidentes da província, oferece pistas interessantes para o século XIX. Segundo uma autoridade que esteve à frente do executivo provincial, em 1842, os índios estavam abandonando as aldeias, provavelmente fugindo da catequese e do trabalho forçado, vagando por diferentes partes do território paraibano. Como antítese a esse estado de coisas, propunha que fossem recrutados para suprir a falta de mão-de-obra africana ocasionada pela primeira proibição do tráfico negreiro em 1831. Por outro lado, muitos índios aprenderam a fazer uso dos mecanismos tradicionais de reivindicação políticas postos ao dispor dos súditos brasileiros pelo “Paternal Governo de Sua Majestade”, como era o caso do direito de petição. Em 1861, por exemplo, eles enviaram diversas petições a D. Pedro II nas quais “amargamente se queixavam do esbulho das terras do patrimônio que primitivamente lhes foi concedido, principalmente por parte das Câmaras de alguns municípios” que, não nos esqueçamos, eram instituições monopolizadas por representantes das elites proprietárias locais. Ver Discurso que o Exmº Sr. Ricardo José Gomes Jardim, presidente da província da Paraíba do Norte dirigiu n abertura da Assembléia provincial em 04 de agosto de 1843; Relatório apresentado pelo Exmº Sr. Francisco de Araújo Lima, da província da Paraíba do Norte, à Assembléia legislativa provincial em 31 de maio de 1862. <www.crl.edu/cont/brasil/pari.htm> Acessado em março de 2006.

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Sobre o assunto, ver PUNTONI, Pedro. A Guerra dos Bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: HUCITEC, 2002.

os primeiros colonizadores construíram diversos prédios com funções militares, administrativas e eclesiásticas, em torno dos quais foram surgindo o casario e as ruelas onde moravam e transitavam os seus diferentes moradores. O traçado urbano obedecia, em grande medida, às noções de urbanismo luso vigentes à época, adaptado às circunstâncias dos trópicos.67 Porém, o fato mais importante foi o surgimento dos engenhos de açúcar, erguidos nas várzeas dos rios que circundavam a cidade e que se transformaram nos reais catalisadores do processo de ocupação e exploração econômica da região, ao redor dos quais foi se gestando uma sociedade baseada na escravidão, na grande propriedade e na monocultura de exportação que com o tempo foi se diversificando.68 Esse mundo era alvo freqüente da cobiça de outros povos colonizadores europeus, e o episódio mais importante foi o processo que culminou com a ocupação holandesa da América portuguesa, episódio esse que na Paraíba durou de 1634 a 1654.

Embora tenham conseguido derrotar os holandeses militarmente, os luso-brasileiros tiveram que enfrentar sérios problemas no pós-guerra. No plano interno, houve a desestruturação de parte da produção açucareira, devido aos efeitos diretos da guerra, aliada ao endividamento dos proprietários, quadro esse agravado por calamidades naturais, tais como as estiagens e epidemias que grassaram a região por essa época. Soma-se a essa situação local uma conjuntura internacional marcada pelo acirramento da concorrência interimperial, com a entrada em cena de outros produtores mundiais de mercadorias tropicais, a exemplo do açúcar antilhano. Paralelamente a medidas adotadas para enfrentar os problemas advindos desse quadro de crise, a conquista e o devassamento de uma nova fronteira econômica passaram a ser vistos como alternativas possíveis, no sentido de consolidar o projeto colonizador, levando a um esforço concentrado de grupos de colonos e setores do Estado português. Nesse sentido, de diversas partes do território da América portuguesa foi empreendido um movimento rumo ao sertão, levando, na prática, à ocupação de terras para além das linhas delimitadas

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Sobre o urbanismo português e as características labirínticas e militares das vilas e cidades litorâneas da colônia, ver ARAÚJO, Emanuel. O teatro dos vícios. Rio de Janeiro: José Olympio, 1996, pp. 29/82.

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Conquanto o número e a produção dos engenhos tenham variado ao longo do tempo, até pelo menos meados do século XIX esse era o principal setor da economia paraibana, quando desde então começou a perder a primazia para o algodão, sendo responsável pela ocupação da maior parte dos escravos e por formar uma importante aristocracia política. Segundo levantamento de um presidente de província, em 1852 a Paraíba contava com 165 engenhos, isso sem contar as inúmeras engenhocas especializadas na produção de rapadura e aguardente. Localizados em grande parte na zona da mata litorânea, alguns deles estavam espalhados pelo interior da província, inclusive em Campina Grande. Ver Relatório apresentado a Assembléia legislativa provincial da Paraíba do Norte pelo Exmº presidente Antonio Coelho de Sá Albuquerque em 03 de maio de 1852. <www.crl.edu/content/brazil/pari.htm> Acessado em março de 2006.

imaginariamente pelo Tratado de Tordesilhas, ainda no século XV.69 Estas áreas foram se transformando, na ótica desses agentes, em portadoras de riquezas minerais, em produtoras de alimentos, propícias à criação de gados e à valorização mercantil de terras inexploradas; de quebra, também em celeiro de mão-de-obra e conversão de almas para a “fé católica”, embora nem sempre as coisas tenham corrido tão qual os europeus imaginavam inicialmente.

Na Paraíba esse movimento adquiriu configuração histórica particular. Até então seu território só chegava até as montanhas da “Ocupaoba”, ou seja, algumas léguas além dos últimos núcleos populacionais de origem européia fundados no litoral. Em meados do século XVII esse quadro começou a ser alterado, quando grupos de sertanistas, de forma espontânea ou oficial, começaram a devassar um novo território. Originários quase sempre da Bahia e de Pernambuco, esses homens partiam do Rio São Francisco, onde alcançavam o alto sertão da Paraíba, o Rio Grande do Norte, o Ceará e Piauí. Depois de consolidada essa primeira rota de conquista, no sentido oeste/leste, posteriormente surgiu uma nova, em sentido inverso, saindo do litoral rumo ao sertão. Com suas boiadas e missões religiosas, uma forma peculiar da política da cruz e da espada nos sertões, esses agentes contribuíram para a fundação de núcleos populacionais que dariam origem a uma nova sociedade, que Capistrano de Abreu