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Gestão de parcerias e fornecedores: Terceirização/quarteirização

Para a gestão de parceria e fornecedores, a fundamentação teórica objetiva esclarecer os termos relacionados, tais como terceirização e quarteirização, e sua relação com a cadeia produtiva das empresas, as relações de vantagem e desvantagem da adoção da terceirização, além de identificar requisitos de controle e melhores práticas necessárias à gestão de terceiros numa organização.

2.7.1 Alinhamento de conceitos

Para ancorar as definições sobre terceirização, primeiramente coube revisitar o conceito de cadeia de valor com que Porter (1989) resumidamente define as atividades de apoio, como aquelas que suportam o negócio principal da empresa, envolvendo infraestrutura, recursos humanos, tecnologia, finanças e aquisições, distinguindo-as das relacionadas à entrega de valor ao cliente final.

E assim, sobre terceirização, Leiria e Saratt (1995) defendem que as atividades que não fazem parte dos principais processos da cadeia de valor de um negócio, preconizada por Porter, são passíveis de delegação à execução por outras entidades. Para Polonio (2000, p. 97) terceirização é “um processo de gestão empresarial consistente na transferência para terceiros (pessoas físicas ou jurídicas) de serviços que originalmente seriam executados dentro da própria empresa”.

Brasil (1993, p. 7) define terceirização como sendo: “...um processo de transferência, dentro da firma (empresa-origem), de funções que podem ser executadas por outras empresas

(empresa-destino)”. Já Pires (2001) rotula terceirização como parte de decisões operacionais e acrescenta o termo outsourcing representando a relação de parceria, colaborativa e interdependente com um ou mais fornecedores agora da cadeia produtiva, como parte de uma orientação estratégica. Por esta modalidade atribuem-se responsabilidades ao fornecedor que passa a entregar produtos e serviços, utilizados pela contratante, na sua atividade fim.

Complementar a estas definições, a adoção de um modelo de terceirização depende da observância de fatores críticos para o seu sucesso como: fazer parte da estratégia competitiva do negócio, sensibilizar executivos e funcionários sobre o sentido estratégico da terceirização, estabelecer relações duradouras com prestadores de serviço voltados à prática de melhoria contínua, estabelecer níveis de serviço, cumprir os compromissos legais e trabalhistas e atuar em parceria com empresas alinhadas com os valores e metas da empresa (Mello, 1995).

Uma consequência deste movimento é que quanto mais a prática de terceirização se amplia na empresa, maiores as demandas por gestão administrativa e controles dos terceirizados e assim a passagem dessas atribuições para outra empresa minimizaria estes esforços internos. A essa evolução natural dos programas de terceirização denomina-se quarteirização, que para Marinho, Amato e Amato Neto (2014) e Mello (1995) é a assunção da atividade de gerenciamento da rede de empresas terceirizadas por uma única empresa. Desta forma a empresa tomadora dos serviços passa a se relacionar somente com uma empresa, que por sua vez se responsabiliza por selecionar, manter, gerir, pagar, relacionar-se e desligar a contratação com as diversas empresas terceirizadas necessárias para a realização de um projeto ou conjunto de atividades previamente acordado entre as três partes.

Mello (1995, p. 12) completa que “o termo Quarteirização é usado para caracterizar um processo no qual uma empresa atribui a uma outra o gerenciamento de seus serviços terceirizados”. Assim, como na terceirização, o apelo estratégico pela concentração da empresa no negócio também se repete como ponto favorável à quarteirização e o autor conclui que a quarteirização é um conceito organizacional que está disponível para utilização pelas empresas que desejam dar foco em seu negócio.

Sendo uma área em crescente evolução e acomodação no meio empresarial, novas terminologias surgem e para encerrar este alinhamento conceitual surge Giosa (1993) acrescentando o termo parceria como sendo uma perspectiva diferente no relacionamento

comercial, onde há forte confiança entre as partes, o fornecedor se posiciona como aliado e pode ser considerado como parte integrante do negócio. No outro extremo desponta a empreiteirização que, segundo Kardec e Carvalho (2002), é um modelo em que ficam evidentes a não parceria e a desconfiança e, portanto, a contratada é vista como uma adversária. Este modelo, entre outras características, consiste meramente numa contratação de mão de obra para estabelecer ganhos de curto prazo.

2.7.2 Pilares da gestão de terceiros

Foi extraído dos autores Marinho et al. (2014); Amato Neto e Marinho (2001); Leiria e Saratt (1995); Polonio (2000); Giosa (1993) e; Furtado (2005), um conjunto de recomendações, cuidados e propostas de boas práticas em diversas dimensões da gestão de terceiros numa organização, representado pela Figura 10:

Figura 10 – Dimensões da gestão de terceiros. Fonte: Elaborado pelo autor (2015).

 Estratégia de terceirização frente ao negócio: Segundo Marinho et al. (2014), as atividades relacionadas à competência central da empresa, as apontadas como estratégicas ou ainda aquelas que fornecedores não farão com a mesma qualidade não devem ser transferidas a terceiros;

 Qualificação e seleção do terceirizado: Amato Neto e Marinho (2001) propõem para as empresas compradoras a adoção de critérios no processo seletivo de fornecedores e criação de uma base qualificada de empresas. Para esta qualificação, competência, reputação, antecedentes e testes prévios de qualidade são critérios aplicados na construção e manutenção de uma base certificada de fornecedores à disposição de futuras contratações da empresa;  Práticas jurídicas e contratuais: Leiria e Saratt (1995) e Polonio (2000)

reforçam a importância da formalização de contrato na relação de prestação de serviços, tratando objeto, metas, forma de trabalho, garantias, exclusividade e cumprimento da legislação;

 Proteção contra riscos trabalhistas e responsabilidade civil: Polonio (2000) alerta para que o processo de terceirização não fira questões relacionadas à legislação trabalhista vigente, principalmente a caracterização de vínculo trabalhista, na relação tomador-prestador;

 Práticas contábeis e fiscais: para Polonio (2000), a má condução do processo de terceirização pode ter consequências no campo da responsabilidade tributária, podendo a empresa tomadora do serviço responder pelos reflexos tributários da cadeia, tais como débitos trabalhistas e a ausência de contribuições previdenciárias por parte do prestador;

 Proteção do know-how: Marinho et al. (2014) destacam o risco de perda de segredo industrial e informações privilegiadas nas relações de terceirização e;  Qualidade do serviço e acordo de parceria: Giosa (1993) defende uma

mudança no relacionamento com a empresa fornecedora, qualificando-a como parceira, chegando a casos de posicioná-la até como sócia do negócio. Esta relação se fortalece com o estabelecimento da confiança, na vocação para a qualidade das entregas, na aplicação de uma política de ganhos gradativos, na promoção de uma economia de escala e no incentivo à cooperação, contando com uma postura criativa das partes. Furtado (2005) acrescenta que parceria remete ao relacionamento de longo prazo e com alto grau de comprometimento.

2.7.3 A nova proposta do PL 4.330

Contemporaneamente ao desenvolvimento desta pesquisa tramita em discussão e aprovação no Congresso Nacional o Projeto de Lei de nº 4.330 com a proposta de “regular os contratos de terceirização e as relações de trabalho delas decorrentes”, de aplicação exclusiva às relações entre empresas privadas (Brasil, 2015).

Alinhados à temática de gestão da terceirização, destacam-se da nova legislação proposta os seguintes impactos potenciais:

 Considera-se terceirização: “a transferência feita pela contratante da execução de parcela de qualquer de suas atividades à contratada para que esta a realize na forma prevista nesta Lei”, passando assim, a ser indiferente se a atividade em execução seja considerada fim ou meio da empresa contratante (Brasil, 2015);

 O conteúdo do PL 4.330 enfatiza também a exigência de comprovação de qualificação técnica da prestadora de serviços, aplicável a pessoas, equipamento e instalações (Brasil, 2015) e;

 Numa visão mais abrangente, se formalizam novas exigências trabalhistas, previdenciárias, tributárias e sindicais aplicáveis nas relações entre contratante e empresa contratada e entre a própria terceirizada e seus colaboradores que atuarão na empresa cliente (Brasil, 2015).