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Imposta unilateralmente pelo empregador, a partir do seu poder discricionário No contexto de um mercado de trabalho desfavorável e sob hegemonia do neoliberalismo, a

tendência, como colocado nas hipóteses, é ter ocorrido um aumento do poder do empregador na determinação das condições de uso e remuneração do trabalho, considerando, ainda, que não existe organização sindical no local de trabalho nem mecanismos que inibam a dispensa imotivada. O poder não está só na alteração da norma, mas na sua adequação conforme a demanda.

A inclusão dessa última maneira é fundamental para entender as tendências de flexibilização na realidade brasileira a partir dos anos 90. É também necessário destacar que várias dessas medidas unilaterais, que resvalam para o descumprimento das normas, são objeto de controvérsias, o que acabou por gerar tensões e movimentos de contestação em alguns setores do Estado.

A tese parte de uma análise mais geral sobre o padrão de regulação da relação de emprego para depois destacar três elementos em que se concentram as mudanças: as formas de contratação, a remuneração e o tempo de trabalho. Na experiência dos países centrais ainda aparece o tema da alocação do trabalho, mas ele não é objeto de regulação coletiva.

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A flexibilidade condicionada, bilateral ou sinalagmática, se dá quando há renúncia ou perda de direitos e vantagens pelos trabalhadores com uma compensação correspondente de parte do empregador e, eventualmente, do Estado. Ou seja, direitos e benefícios são cedidos em troca de obrigações assumidas pelo empregador ou Estado, sendo que o não cumprimento dessas obrigações faz “renascer” o direito clássico, renunciado ou cedido

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No presente estudo, a análise das tendências recentes nas relações de emprego focaliza apenas o setor urbano.38 Além da introdução e das considerações finais, a tese está estruturada em 4 capítulos.

No primeiro capítulo, é realizada uma análise do mercado e do padrão de regulação do trabalho vigente no país, destacando as suas características gerais para observar as mudanças ocorridas a partir dos anos 90. Nessa análise, que faz um balanço a partir dos anos 80, com ênfase na década de 90, são considerados quatro elementos: 1) o contexto econômico e político; 2) a dinâmica do mercado de trabalho; 3) as mudanças na regulação do trabalho; e 4) a atuação e o papel das instituições públicas (sindicatos, fiscalização, Justiça do Trabalho e Ministério Público do Trabalho). Ou seja, há uma preocupação em não só discutir o conteúdo da regulação na relação do emprego, mas também inseri-lo no contexto concreto do mercado de trabalho, observando o seu impacto. Além disso, busca-se ter uma percepção sobre a forma como são produzidas as normas e as transformações ocorridas nas instituições que atuam na área do trabalho tanto na regulação como na aplicação da legislação e das normas coletivas, pois se compreende que a regulação social do trabalho implica a existência de regras, normas e instituições que abrangem “uma teia complexa de processos sociais e um terreno de resistência e luta real ou potencial” (HYMAN, 2005, p.22).

No capítulo 2, a análise concentra-se na flexibilização da contratação no emprego urbano, mostrando a grande diversidade presente na realidade nacional, pois engloba 4 dimensões distintas: 1) a facilidade de o empregador romper o vínculo de emprego unilateralmente e sem precisar justificar; 2) as diversas formas de contratação atípicas previstas no arcabouço legal, destacando na análise as clássicas e as novas, introduzidas nos anos 90, com a finalidade de enfrentar o problema do desemprego. Além disso, destacam-se outras duas dimensões, além da informalidade e do servidor demissível, em que o avanço da flexibilização foi mais intenso; 3) a relação de emprego disfarçada ou simulada; e 4) a terceirização. Em cada modalidade de contratação serão observadas as mudanças ocorridas recentemente e a sua incidência no mercado de trabalho. Além disso, pretende-se mostrar que a sua principal ‘contribuição’ é ampliar a insegurança e a precariedade do mercado de trabalho.

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Dado o tamanho da presente tese e a complexidade do seu objeto, as formas de contratação no campo não serão abordadas. Este é um tema para outra tese.

No capitulo 3, o foco do estudo incide sobre as transformações do padrão de determinação do tempo de trabalho, destacando-se, por um lado, a relação entre as mudanças na forma de organização do trabalho e o controle da jornada de trabalho. Nessa perspectiva, observa-se que há uma crescente invasão do tempo social, passando este a se confundir com o tempo de trabalho em muitos setores da economia. Por outro lado, são analisadas as alterações na forma de organização da jornada de trabalho, realizadas seja por meio da utilização do banco de horas, seja pelo trabalho aos domingos, turno de revezamentos e horas- extraordinárias, seja por outros expedientes. São alterações que tendem a aumentar o controle e a flexibilizar e racionalizar o tempo de trabalho, constituindo importantes impactos na vida das pessoas.

No capítulo 4, são discutidas as mudanças ocorridas no padrão de remuneração, com o fim da política salarial, a introdução da “livre negociação”, a regulamentação da PLR (Programa de Participação nos Lucros e/ou Resultados) e o papel do salário mínimo na determinação dos vencimentos. Constata-se, nesse ponto, que a tendência prevalecente foi avançar na perspectiva de tornar a remuneração mais variável nas grandes empresas. Ao mesmo tempo, a política do salário mínimo tem importância na definição dos pisos salariais e da remuneração dos setores com menor qualificação profissional e produtividade. Além disso, destaca-se a evolução da negociação salarial após o Plano Real, em dois períodos distintos: 1) até 2003, caracteriza-se pela dificuldade de recompor o poder de compra do salário passado; 2) nos dois últimos anos, os resultados são melhores aos trabalhadores. A questão central é que, enquanto nos setores mais estruturados e com tradição sindical tende a prevalecer um novo padrão de remuneração, com o crescimento do componente variável na composição do rendimento total do trabalho, ao mesmo tempo, há uma valorização do salário mínimo que incide nos pisos e na determinação dos salários dos que estão na base da estrutura ocupacional. Por último, busca-se, nas considerações finais, evidenciar a tese do avanço da flexibilização, articulando o conjunto de mudanças e mostrando que elas apresentam, com pequenas exceções, a tendência de fortalecer uma regulação descentralizada em que as empresas apresentam maior peso na determinação das condições de uso e remuneração do trabalho. A lógica da flexibilização busca, tanto quanto possível, fazer com que a força de trabalho seja considerada uma mercadoria qualquer, o que tende a fortalecer a insegurança e a

precariedade. Ao mesmo tempo, destacam-se sinais de resistência, pois a regulação do trabalho é fruto de uma construção social.

Capítulo

1

O mercado de trabalho e o padrão de regulação do trabalho no Brasil