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3 TRIBUTAÇÃO DO SEGURO E DO RESSEGURO

3.5 Tributação da indenização recebida pelo segurado

3.5.2 A indenização no contrato de seguro

O contrato de seguro prevê a obrigação da seguradora de ressarcir os prejuízos do segurado, na hipótese de sinistro. A indenização é o objeto (prestação) dessa obrigação.

De acordo com o artigo 781 do Código Civil, a indenização do seguro não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento do sinistro, ressalvada apenas a hipótese de mora do segurador:

116 GOMES, Orlando. Obrigações. 15. ed. revista, atualizada e aumentada, de acordo com o Código Civil

de 2002, por Edvaldo Brito. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 61.

117 Ibid., p. 62.

118 SOARES, Antonio Carlos Otoni. Fundamento Jurídico do Contrato de Seguro. São Paulo: Manuais

Técnicos de Seguro, 1975, p. 34.

Art. 781. A indenização não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento do sinistro, e, em hipótese alguma, o limite máximo de garantia fixado na apólice, salvo em caso de mora do segurador.119

Essa limitação se aplica aos chamados “seguros de dano”, nos quais prevalece o “princípio indenitário”, isto é, aquele segundo o qual o segurado não pode

lucrar com o seguro. Como bem explica ALVIM, nos seguros de dano o segurado deve

receber o valor real dos bens destruídos ou danificados, pois “a finalidade do seguro de coisa é repor o segurado na situação em que se encontrava imediatamente antes da ocorrência do risco. Não pode fazer do contrato um meio de obter qualquer vantagem, pretendendo receber garantia superior ao valor dos bens atingidos”120.

Na mesma linha, esclarece SILVA que

[…] os seguros de dano são aqueles que detém natureza tipicamente indenitária, ou seja, são voltados à recomposição patrimonial do segurado, de modo que, ocorrendo o sinistro, o sujeito favorecido pela indenização deverá fazer prova dos prejuízos econômicos sofridos121.

Nos seguros de dano, a indenização pode ser inclusive de montante inferior ao valor declarado no contrato, mas não pode, em hipótese alguma, superar o prejuízo sofrido pelo segurado.

CLÓVIS BEVILAQUA, ao comentar o Código Civil de 1916, já

assinalava que “nos seguros de bens materiais a indenização nem sempre corresponde, exatamente, à soma declarada no contrato, porque, não sendo o seguro um contrato lucrativo e, sim, de indenização, cumpre determinar qual o prejuízo que, realmente, sofreu o segurado. A soma declarada na apólice indica o máximo até o qual responde o segurador. É essa operação que se denomina liquidação do prejuízo”122.

Nesse sentido, é lícito afirmar que o valor da indenização é igual ao do prejuízo, limitado à importância segurada fixada na apólice, o que é aplicação direta e imediata do princípio indenitário.

119 BRASIL. Presidência da República. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

Brasília: DOU, 11 jan. 2002.

120 ALVIM, Pedro. O Seguro e o Novo Código Civil – Organização e Compilação de Elizabeth Alvim

Bonfioli. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 111-112.

121 SILVA, Ivan de Oliveira. Direito do Seguro. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 213. 122 BEVILAQUA, Clóvis. Código Civil. v. 5, p. 216 apud ALVIM, Pedro, op. cit., p. 112.

Somente na hipótese de mora do segurador, no pagamento da indenização do seguro de dano, esta poderá ter valor superior ao interesse segurado informado na apólice e ao efetivo prejuízo do segurado123.

A fim de restabelecer o patrimônio ao patamar anterior ao sinistro, no seguro de dano, a indenização vai corresponder ao valor de mercado dos bens perecidos. Esse valor pode ultrapassar o valor contábil, que não corresponde ao de mercado e já poderá ter sofrido alguma depreciação. A diferença poderá implicar efeitos tributários para as pessoas jurídicas.

No seguro de pessoas, o cenário é diferente daquele identificado nos seguros de dano, como explica ALVIM:

Enquanto nos seguros de dano o objetivo perseguido pelos contratantes é a reparação de prejuízos que se submetem a uma avaliação em dinheiro, nos seguros de pessoa essa avaliação é impossível. A vida humana não tem preço, nem tampouco a saúde das pessoas ou as lesões corporais. Parte dessa consideração fundamental a diferença entre os dois grupos. No primeiro, a indenização decorre de danos que avaliam depois do sinistro; é fixada a posteriori; no segundo, a quantia devida pelo segurador é determinada pelo próprio segurado, não está sujeita a qualquer avaliação; é fixada a priori. A ideia de reparação pecuniária inerente aos seguros de dano é repelida pela natureza dos seguros de pessoas, uma vez que qualquer soma em dinheiro jamais compensaria a vida do ser humano, sua saúde ou integridade física124.

Os seguros de pessoas125 têm por objetivo garantir o pagamento de uma

indenização ao segurado ou a seus beneficiários, observadas as condições contratuais e as garantias contratadas. Não se trata, aqui, de reparação patrimonial em sentido estrito

pois, como bem apontado por ALVIM, não é possível estabelecer um valor exato para a

vida humana ou sua integridade. Sendo assim, nesses casos, é pré-estabelecida uma quantia, o “capital segurado”, a ser paga pela seguradora ao segurado, ou ao beneficiário, na hipótese de sinistro.

123 Esclarece IVAN DE OLIVEIRA SILVA: “Sublinhe-se, ainda, que a indenização, pela própria natureza do

contrato de seguro, não visa lucro. Dessa forma, o valor da indenização não poderá ultrapassar o montante do interesse segurado informado na apólice, salvo na hipótese de mora do segurador na inadimplência de sua obrigação contratual” (SILVA, Ivan de Oliveira. Direito do Seguro. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 152).

124 ALVIM, Pedro. O Seguro e o Novo Código Civil – Organização e Compilação de Elizabeth Alvim

Bonfioli. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 150.

125 Como exemplos de seguros de pessoas, temos o seguro de vida, o seguro funeral, o seguro de

acidentes pessoais, o seguro educacional, o seguro viagem, o seguro prestamista, o seguro de diária por internação hospitalar, o seguro desemprego (perda de renda), o seguro de diária de incapacidade temporária, o seguro de perda de certificado de habilitação de voo e outros.

Com relação à indenização no seguro de vida (modalidade de seguro de pessoas) o Código Civil estabelece total liberdade para sua estipulação, sendo possível ainda a contratação de vários seguros com o mesmo ou diversos seguradores:

Art. 747. É livre às partes fixar qualquer valor no seguro sobre a vida, bem como ao segurado contratar mais de um seguro sobre a vida, no momento ou em diversos valores, com o mesmo ou diversos seguradores.126

Resta claro, portanto, que a natureza jurídica da indenização no seguro de dano e no seguro de pessoas é distinta. Tanto assim que, por força de opção legislativa, a expressão “indenização” é usada nos seguros de dano, enquanto a expressão “pagamento do capital segurado” é o correspondente análogo aplicado ao seguro de pessoas. Ademais, diferentemente dos seguros patrimoniais, ou de dano, aqui prepondera o princípio da capitalização.

A fim de evitar imprecisões, quando nos referirmos a “indenização”, no presente trabalho, estaremos indicando apenas a prestação decorrente do seguro de dano. Ao falar de seguro de pessoas, utilizaremos sempre a expressão “pagamento do capital segurado”.