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3 TRIBUTAÇÃO DO SEGURO E DO RESSEGURO

3.4 PIS e COFINS-Importação sobre as remessas de prêmio de seguro e

Outra questão que se coloca, sobre o pagamento de prêmio de seguro e resseguro a domiciliados no exterior, diz respeito à incidência da contribuição ao PIS e da COFINS – Importação (alíquotas de 1,65% e 7,6% respectivamente). Neste caso, não se trata de interpretação das autoridades fiscais, mas de incidência expressamente prevista na respectiva legislação, não obstante tais tributos só devessem incidir sobre importações de bens e serviços.

Com efeito, desde a edição da Lei Complementar 42/2003, o artigo 195, IV, da Constituição Federal, prevê que a seguridade social será financiada, entre outras, por contribuições sociais do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar, de competência da União.

As regras-matrizes de incidência tributária do PIS e da COFINS – Importação foram previstas pela Lei 10.865/04. Ao estabelecer as hipóteses de incidência tributária dessas contribuições determinou, em seu artigo 3o, incisos I e II,

que seriam (i) a entrada de bens estrangeiros no território nacional; e (ii) o pagamento, o crédito, a entrega, o emprego ou a remessa de valores a residentes ou domiciliados no exterior como contraprestação por serviço prestado. Sendo assim, em conformidade com a competência tributária que lhe foi atribuída, somente a importação de bens e de serviços foi descrita nos antecedentes daquelas regras-matrizes de incidência tributária.

A Constituição se refere expressamente à competência para tributar importações de “bens” e “serviços”. Apesar de a própria Lei 10.865/04 não ter contemplado outras hipóteses de incidência tributária, ao dispor em seu artigo 7o sobre o

critério quantitativo das referidas regras-matrizes, incluiu, para a nossa perplexidade, em seu § 1o, a previsão de que "a base de cálculo das contribuições incidentes sobre

prêmios de resseguro cedidos ao exterior é de 15% (quinze por cento) do valor pago, creditado, entregue, empregado ou remetido”114.

114 “Art. 7o A base de cálculo será:

I- o valor aduaneiro, assim entendido, para os efeitos desta Lei, o valor que servir ou que serviria de base para o cálculo do imposto de importação, acrescido do valor do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e

Esse dispositivo tratou expressamente dos prêmios de resseguro. Contudo, o

enunciado também se aplica a prêmios de seguro, pois o § 2o do mesmo artigo

determina que “o disposto no § 1o deste artigo aplica-se aos prêmios de seguros não

enquadrados no disposto no inciso X do art. 2o desta Lei” (o inciso X do art. 2o dispõe

sobre o custo do transporte internacional e de outros serviços, que tiverem sido computados no valor aduaneiro que serviu de base de cálculo da contribuição).

Assim como dito em relação ao imposto sobre a renda, também neste caso está-se diante de uma tentativa de tributar como serviço algo que não o é (prêmios de seguro e resseguro), com a diferença de que ali tínhamos uma interpretação equivocada das autoridades fiscais, enquanto que aqui temos um ilícito legislativo cometido pelo legislador ordinário, que acabou, por via transversa, tributando demonstração de riqueza não incluída em sua competência tributária.

Como visto, não há autorização constitucional para que a Lei nº 10.865/04 submeta os prêmios de seguro e resseguro à incidência das contribuições incidentes na importação, pois o segurado que contrata apólice no Exterior não se enquadra, absolutamente, como importador de serviços do exterior, tampouco tendo sido equiparado pela lei ao importador de bens ou serviços do exterior.

Ademais, deve-se frisar que o artifício utilizado pelo legislador, de incluir prêmios de seguro e resseguro na base de cálculo das contribuições, sem que a respectiva contratação estivesse prevista na hipótese de incidência dos tributos, criou uma aberração jurídica.

Intermunicipal e de Comunicação - ICMS incidente no desembaraço aduaneiro e do valor das próprias contribuições, na hipótese do inciso I do caput do art. 3o desta Lei; ou

II - o valor pago, creditado, entregue, empregado ou remetido para o exterior, antes da retenção do imposto de renda, acrescido do Imposto sobre Serviços de qualquer Natureza - ISS e do valor das próprias contribuições, na hipótese do inciso II do caput do art. 3o desta Lei.

§ 1o A base de cálculo das contribuições incidentes sobre prêmios de resseguro cedidos ao exterior é

de 15% (quinze por cento) do valor pago, creditado, entregue, empregado ou remetido. (Redação dada pela Lei nº 12.249, de 2010).

§ 2o O disposto no § 1o deste artigo aplica-se aos prêmios de seguros não enquadrados no disposto no

inciso X do art. 2o desta Lei” (BRASIL. Ministério da Fazenda. Receita Federal. Lei nº 10.865, de 30

de abril de 2004. Dispõe sobre a Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação

do Patrimônio do Servidor Público e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social incidentes sobre a importação de bens e serviços e dá outras providências. Brasília: DOU, 30 abr. 2004).

Obs: A redação original da lei, a base de cálculo correspondia a 8% do valor do prêmio, tendo sido alterada posteriormente para 15% pela Medida Provisória 472/2009, convertida na Lei 12.249/2010.

Ora, segundo PAULO DE BARROS CARVALHO, “a base de cálculo é a

grandeza instituída na consequência da regra-matriz tributária, e que se destina, primordialmente, a dimensionar a intensidade do comportamento inserto no núcleo do fato jurídico […]”.115 É no consequente da regra-matriz de incidência tributária que se

estabelecem os critérios (base de cálculo e alíquota) necessários à determinação do valor devido a título de tributo. Assim, necessariamente, a base de cálculo deverá refletir, dimensionar, medir a riqueza demonstrada pela hipótese de incidência, no caso dos impostos e contribuições. Do contrário, a tributação incidirá sobre fato distinto do descrito na hipótese de incidência, e consequentemente alheio à competência do ente tributário que instituiu o tributo.

Neste caso, incluir-se o prêmio de seguro e resseguro pago a residente no exterior na base de cálculo do PIS e da COFINS incidentes na importação implica em situar – indevidamente – esses contratos sob a incidência de tributos, sem que tenha sido atribuída, à União, competência constitucional para tanto.

Afiguram-se, portanto, inconstitucionais os parágrafos 1º e 2º do artigo 7º da Lei 10.865/2004. A matéria, contudo, deve ainda ser submetida à apreciação do Supremo Tribunal Federal, intérprete definitivo da Constituição, apto a excluir do sistema enunciados inconstitucionais.

3.5 Tributação da indenização recebida pelo segurado