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2 PRINCÍPIOS RELACIONADOS À ATIVIDADE SECURITÁRIA

2.5 Outros princípios aplicáveis ao Seguro e à Previdência Privada

Diversos outros princípios informam a atividade securitária e previdenciária privada.

No âmbito securitário, além dos já mencionados princípios do mutualismo ou solidariedade, IVAN DE OLIVEIRA SILVA59 também chama a atenção para a atuação

dos seguintes princípios:

(i) Princípio da Pulverização dos Riscos, segundo o qual “é imprescindível que os riscos sejam fracionados entre uma multiplicidade de pessoas capazes de suportar o evento”,

(ii) Princípio da Garantia, o qual determina que “aquele ou aqueles entes econômicos que assumem o risco nada mais fazem do que garantir a recomposição dos danos suportados pela vítima do dano”,

(iii) Princípio da Função Sócio-Econômica, que dá relevância à “franca relação do Direito do Seguro com os interesses socioeconômicos de pessoas físicas e jurídicas”, e

(iv) Princípio da Licitude do Interesse Segurado, segundo o qual “o Direito do Seguro somente dá legitimidade às operações securitárias lícitas”.

Já no âmbito da Previdência Privada, temos como exemplo de princípios aplicáveis o da distributividade, o da universalidade da cobertura e do atendimento, e o do equilíbrio financeiro-atuarial.

Para FIALDINI, o princípio da distributividade, específico da previdência

social, também pode ser adaptado, com certas reservas, à previdência complementar, especialmente para o caso dos planos coletivos custeados pelos empregadores em benefício de seus empregados. Entende a Autora que, nesses planos,

[…] a distributividade autoriza o empregador a custear de forma desigual os benefícios previdenciários, conforme as necessidades econômicas de cada categoria de empregados. Assim, por exemplo, o plano de benefícios previdenciários em favor daqueles com menor tipo benefício definido, com elevada solidariedade, ultrapassado no tempo e com tendência a desaparecer. Próprio das prestações programadas.” (MARTINEZ, Wladimir Novaes. Primeiras Lições

de Previdência Complementar. São Paulo: LTr, 1996, p. 223).

59 SILVA, Ivan de Oliveira. Direito do Seguro. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 48.

capacidade econômica (mais necessitados) seria integralmente custeado pelo empregador, e os empregados com maiores salários auxiliariam no custeio do plano em benefício próprio. Com isso, entendemos que o plano coletivo de previdência privada atenderia perfeitamente ao princípio da distributividade, ainda que de uma forma mitigada.60

O princípio da universalidade da cobertura e do atendimento, previsto no artigo 194, I da Constituição Federal61, também é próprio da previdência social.

Contudo, com as devidas adaptações, é aplicável à previdência privada, que como visto consiste em dois dos três pilares da previdência social.

Exemplo dessa aplicação é o fato de que, embora os planos de previdência privada não ofereçam cobertura a todas as pessoas, em face de quaisquer contingências sociais, como é o caso da previdência social, a Lei Complementar no 109/01 estabeleceu

que “os planos devem ser, obrigatoriamente, oferecidos a todos os empregados dos patrocinadores ou associados dos instituidores”. Por conseguinte, mesmo tendo caráter contratual, em se tratando de planos operados por entidades fechadas, o empregador deverá disponibilizar planos, indistintamente, a todos os seus empregados.

No que respeita ao Princípio do Equilíbrio Financeiro-Atuarial, indicado no

caput do artigo 201 da Constituição Federal62, foi expressamente absorvido pela LC

109/2001 que tratou de mencioná-lo logo em seus dispositivos iniciais. Com efeito, seu artigo 7º dispôs que “os planos de benefícios atenderão a padrões mínimos fixados pelo órgão regulador e fiscalizador, com o objetivo de assegurar transparência, solvência, liquidez e equilíbrio econômico-financeiro e atuarial”. Esse princípio também foi referido por diversos outros dispositivos da LC 109/200163.

60 FIALDINI, Fabiana Ulson Zappa. A Previdência Privada e a Incidência do Imposto de Renda. 2007.

Dissertação (Mestrado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 63.

61 “Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes

Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:

I - universalidade da cobertura e do atendimento; […]” (BRASIL. Presidência da República.

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 out. 1988).

62 Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e

de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) (ibid.).

63 Nessa linha, o art. 3º, em seu inciso III, estatuiu que “a ação do Estado será exercida com o objetivo

de determinar padrões mínimos de segurança econômico-financeira e atuarial, com fins específicos de preservar a liquidez, a solvência e o equilíbrio dos planos de benefícios, isoladamente, e de cada

Sobre a aplicação do princípio do equilíbrio financeiro-atuarial aos planos

de previdência privada, ressalta FLÁVIO MARTINS RODRIGUES que “devem estar

estruturados para atender às obrigações de curto, médio e longo prazo, não bastando que existam recursos para saldar compromissos atuais ou num futuro breve”. Continua pontuando que “o equilíbrio pretendido tem alcance muito maior. Volta-se para todo o grupo envolvido, devendo projetar um fluxo alongado de entradas e saídas financeiras de acordo com as perspectivas atuarialmente estimadas”. E conclui:

Os planos devem, por consequência, possuir meios institucionais para realizar estudos atuariais, apurando o passivo devido e comparando com os ativos econômicos existentes. Deve-se, por conseguinte, verificar se as premissas estão adequadas para a massa envolvida. Assim, as tábuas de longevidade devem possuir aderência com relação ao grupo abrangido, a estimativa de rentabilidade dos ativos econômicos acumulados deve ser realista com os padrões observados nos mercados nos quais estão investidos, dentre outros elementos técnicos de que se utiliza a ciência atuarial.64

A aplicação desses princípios, assim como a harmonia entre eles e a tributação estabelecida pelo legislador para o seguro e a previdência privada serão observados e analisados ao longo do presente trabalho.

entidade de previdência complementar, no conjunto de suas atividades”. Já o § 2º do art. 18, dispõe que “observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, o cálculo das reservas técnicas atenderá às peculiaridades de cada plano de benefícios e deverá estar expresso em nota técnica atuarial, de apresentação obrigatória, incluindo as hipóteses utilizadas, que deverão guardar relação com as características da massa e da atividade desenvolvida pelo patrocinador ou instituidor”. (BRASIL. Presidência da República. Lei Complementar nº 109, de 29 de maio de 2001. Dispõe sobre o Regime de Previdência Complementar e dá outras providências. Brasília: DOU, 30 maio 2001).

64 RODRIGUES, Flávio Martins. Previdência Complementar: Conceitos e Elementos Jurídicos

Fundamentais. Disponível em: <http://www.bocater.com.br/artigos/previdencia-complementar- conceitos-elementos-juridicos-fundamentais/>. Acesso em: 05 ago. 2013, p. 19.

3 TRIBUTAÇÃO DO SEGURO E DO RESSEGURO