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4 TRIBUTAÇÃO DAS SEGURADORAS E RESSEGURADORAS

4.3 PIS e COFINS devidos pelas Seguradoras e Resseguradoras – Hipótese de

4.3.4 Prêmio versus receita

Considerando o cenário jurídico vigente, entendemos que as seguradoras e resseguradoras não estão sujeitas à incidência do PIS e da COFINS sobre a remuneração que recebem de segurados e ressegurados (prêmio de seguro e resseguro), pois foram excluídas da sistemática não-cumulativa veiculada pelas Leis nº 10.637/03 e 10.833/04,

180 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: Linguagem e Método. 4. ed., revisada e ampliada.

São Paulo: Noeses, 2011, p. 808-809.

sujeitando-se às normas da Lei nº 9.718/98, as quais, por sua vez, contemplam como base de cálculo dessas contribuições apenas o “faturamento”.

Tal cenário só poderia ser alterado se o legislador ordinário federal criasse nova regra-matriz de incidência tributária de contribuições sociais, e escolhesse como base de cálculo a totalidade das receitas auferidas pelas seguradoras e resseguradoras, o que se tornou possível após a entrada em vigor da Emenda Constitucional nº 20/98.

Isto posto, surge a possibilidade de indagar se os ingressos em questão – prêmios – recebidos por seguradoras e resseguradoras, poderiam enquadrar-se no conceito de “receita”, para servir como base de cálculo de contribuições sociais.

No item 3.6.4, empreendemos análise cuidadosa do conceito de “receita”, com o objetivo de investigar a possibilidade de caracterização da indenização de seguro como tal, e chegamos a resposta negativa. Fundados na melhor Doutrina, concluímos que, para fins de incidência autônoma de contribuições sociais, a “receita” deve necessariamente consistir em ingresso definitivo, positivo e real no patrimônio, decorrente do exercício da atividade empresarial. Consequentemente, como a indenização não é ingresso positivo no patrimônio, pois apenas o recompõe, e também não decorre do exercício da atividade patrimonial, concluímos que não se caracteriza como receita, em hipótese alguma.

Utilizando-nos, como não poderia deixar de ser, da mesma premissa adotada no referido tópico, cabe-nos avaliar se os prêmios recebidos pelas seguradoras e resseguradoras poderiam ser definidos como “receita”, caso uma nova legislação, posterior à Emenda Constitucional nº 20/98, estabelecesse a incidência de PIS e COFINS sobre a receita bruta dessas entidades.

Um dos requisitos do conceito jurídico de receita é claramente preenchido por esses ingressos: a exigência de derivarem do exercício da atividade empresarial, ou seja, da aplicação do patrimônio da pessoa na geração de um benefício para aquele que paga a remuneração.

Como vimos, o preciso e exclusivo objeto das seguradoras e resseguradoras é oferecer cobertura a riscos a que estão sujeitos os segurados e ressegurados, mediante retribuição através de prêmios. Assim, está cumprido um dos requisitos apontados pela Doutrina, bem definido por RICARDO MARIZ DE OLIVEIRA:

Portanto, a receita traz consigo esta característica de ser o produto que vem de fora do patrimônio, mas que é derivado de dentro, por derivar de atos, operações ou atividades da pessoa titular do patrimônio, ou do emprego de recursos que compõem esse patrimônio, e de que resulte algum benefício para a pessoa que, em contrapartida, o remunera por isso.181

Por outro lado, também é requisito para caracterização do conceito de “receita” que o ingresso se incorpore de modo definitivo, positivo e real ao patrimônio da pessoa jurídica que o aufere. Daí podem surgir indagações respeitantes à caracterização dos prêmios de seguro e resseguro como tal, uma vez que, contemporaneamente ao recebimento do prêmio, surgem obrigações para a seguradora/resseguradora, em especial aquela consistente na necessária constituição de vultosas reservas técnicas e na contratação de resseguro ou retrocessão, caso os riscos cobertos sejam excessivos em relação ao seu patrimônio.

Ora, como afirma RICARDO MARIZ DE OLIVEIRA, ao tratar do conceito de

receita:

[…] o preço de venda é receita porque se trata de um tipo de ingresso ou entrada no patrimônio do vendedor que se integra a ele sem reserva, condição ou compromisso no respectivo passivo, acrescendo- o como elemento novo e positivo, passando a pertencer ao vendedor com sentido de permanência, remunerando a sua atividade, provindo de outro patrimônio para se constituir em propriedade da empresa pelo exercício de atividade que constitui sua fonte de resultado, exprimindo a sua capacidade contributiva e modificando seu patrimônio, para incrementá-lo.182

No caso dos prêmios recebidos pelas seguradoras e resseguradoras, não se verifica essa integração imediata da totalidade dos ingressos ao seu patrimônio, pois a própria lei e a regulação aplicável obrigam à constituição – no passivo – de reservas vultosas e suficientes para fazer frente às suas obrigações futuras. As seguradoras e resseguradoras também são obrigadas a contratar resseguro e retrocessão, para garantir riscos excessivos assumidos em relação ao seu patrimônio.

Daí ser possível dizer, de antemão, que apenas parte dos prêmios recebidos pode entender-se como receita, tendo cabimento a exclusão dos valores que, sabidamente, não deverão aderir de imediato ao seu patrimônio. Não por outra razão,

181 OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Fundamentos do Imposto de Renda. São Paulo: Quartier Latin, 2008,

p. 106.

182 Ibid., loc. cit.

aliás, a legislação que rege, atualmente, a incidência do PIS e da COFINS sobre seguradoras e resseguradoras faz uma série exclusões nas respectivas bases de cálculo.

Como dissemos, essa legislação é inaplicável, pois no âmbito da Lei nº 9.718/98 somente o “faturamento” pode servir como base de cálculo para o PIS e para a COFINS, e as pessoas jurídicas em questão não vendem mercadorias nem prestam serviços. Contudo, caso a base de cálculo dessas contribuições venha a ser, no futuro, a totalidade das receitas das seguradoras e resseguradoras, a tributação das receitas dessas entidades deverá necessariamente levar em conta a peculiaridade de suas atividades. Esse tratamento especial foi, inclusive, instituído pelo inciso II do § 6º do artigo 3º da Lei nº 9.718/98, que excluiu da base de cálculo do PIS e da COFINS os valores que, conquanto integrantes do prêmio de seguro, não poderão vir a compor o patrimônio das seguradoras e resseguradoras.

Analisando-se as exclusões atualmente previstas na legislação, observa-se, primeiramente, que as correspondentes ao cosseguro e resseguro cedidos se justificam plenamente, uma vez que se trata de dispêndios obrigatórios das entidades, que devem repassar a outros seguradores ou resseguradores parte do prêmio recebido, para repartir ou repassar parcela do risco. Já quanto aos valores referentes a cancelamentos e restituições de prêmios que tiverem sido computados como receitas, configuram verdadeiros cancelamentos, ou seja, receitas estornadas, não caracterizando, portanto, exclusões ou reduções propriamente ditas da base de cálculo.

No que tange à referência feita na legislação à parcela dos prêmios destinada à constituição de provisões ou reservas técnicas, trata-se de verdadeira adequação do conceito de receita a resseguradoras ou resseguradoras, uma vez que a obrigatoriedade da constituição desses passivos exclui de antemão a possibilidade de tributá-los como receitas, pois esses valores são reservados e não aderem ao patrimônio da seguradora ou resseguradora, até que sejam revertidos, na hipótese de não ocorrência (ou ocorrência parcial) do sinistro ao final do prazo de cobertura.

É também justificada a exclusão prevista na legislação do valor referente às indenizações correspondentes aos sinistros ocorridos, deduzidos das importâncias recebidas a título de cosseguro e resseguro, salvados e outros ressarcimentos, pois mais uma vez estamos diante de obrigação legal das seguradoras e resseguradoras.

Conclui-se, portanto, que o conceito de “receita” de seguradoras e resseguradoras, para fins de possível futura incidência do PIS e da COFINS (uma vez que a Lei nº 9.718/98 não lhes é aplicável) terá de ser adaptado, de modo a observar as peculiaridades de sua atividade, cingindo-se aos ingressos definitivos, positivos e reais no patrimônio, decorrentes do respectivo exercício.