4 TRIBUTAÇÃO DAS SEGURADORAS E RESSEGURADORAS
4.4 RMIT do IRPJ e da CSLL devidos por Seguradoras e Resseguradoras
O Imposto sobre a Renda, em todas as suas modalidades, assim como a Contribuição Social sobre o Lucro, cuja base de cálculo é muito semelhante, são os tributos que, pela própria natureza da materialidade sobre a qual recaem, estão mais fortemente ligados ao princípio da capacidade contributiva.
Ao estabelecer as regras-matrizes de incidência tributária desses tributos, cabe ao legislador detalhar o que se deve entender por “lucro tributável” das pessoas jurídicas, tarefa na qual deverá ter presente, necessariamente, a peculiaridade das atividades por elas desenvolvidas, a fim de que o tributo incida conforme a capacidade contributiva de cada uma. É esta a maior dificuldade enfrentada pelo legislador na positivação do imposto sobre a renda, como anota PAULO DE BARROS CARVALHO:
Convenhamos que os problemas mais agudos relativos à capacidade contributiva não se inscrevem no quadro que orienta a singela escolha, por parte do autor da regra, de ocorrências reveladoras de alguma forma de riqueza. Mais além, as dificuldades surgem quando, implantados esses pressupostos, põe-se o legislador a pesquisar, dentro da amplitude econômica já reconhecida, qual a medida que cabe ao sujeito passivo suportar. Não é, portanto, a capacidade contributiva absoluta, mas a capacidade contributiva relativa que causa as maiores dificuldades.183
Seguradoras e resseguradoras são pessoas jurídicas que exercem atividade peculiar que, a despeito de ter natureza privada, é fortemente regulada pelo Estado, pelo fato de serem gestoras de vultosa poupança popular de longo prazo. A regulação vem proteger essa universalidade de direitos que, na denominação utilizada por J.J.CALMON DE PASSOS, têm natureza “transidividual”.
183 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: Linguagem e Método. 4. ed., revisada e ampliada.
São Paulo: Noeses, 2011, p. 667.
A primeira consequência, no que tange ao imposto sobre a renda, da natureza especial da atividade desenvolvida pelas seguradoras é a obrigatoriedade de apurarem o tributo pela sistemática do Lucro Real, não lhes sendo dado optar pela
sistemática simplificada do Lucro Presumido184. Essa obrigatoriedade decorre de sua
equiparação às instituições financeiras – pelo elevado volume de recursos financeiros que gerenciam – exigindo-se que cumpram todas as obrigações contábeis e tributárias atribuídas às pessoas jurídicas, sem nenhum tipo de simplificação.
No âmbito dessa regulação protecionista, surge ainda, conforme assinalado aqui, a obrigação de manter reservas vultosas durante todo o prazo de vigência das coberturas representadas pelas apólices (provisões técnicas), bem como de contratar resseguro ou retrocessão. Naturalmente, portanto, a legislação do imposto sobre a renda não poderia olvidar essas peculiaridades, ao definir a base de cálculo do tributo, sob pena de ignorar a verdadeira capacidade contributiva dessas entidades.
Daí porque o legislador do imposto sobre a renda introduziu enunciado expresso no sistema, conformando da seguinte forma sua base de cálculo para as seguradoras:
Art. 13. Para efeito de apuração do lucro real e da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido, são vedadas as seguintes
deduções, independentemente do disposto no art. 47 da Lei nº 4.506,
de 30 de novembro de 1964:
I - de qualquer provisão, exceto as constituídas para o pagamento de férias de empregados e de décimo terceiro salário, a de que trata o art. 43 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, com as alterações da Lei nº 9.065, de 20 de junho de 1995, e as provisões técnicas das
companhias de seguro e de capitalização, bem como das entidades de previdência privada, cuja constituição é exigida pela legislação especial a elas aplicável; […]185
A legislação do imposto sobre a renda veda a dedução, como despesa, de qualquer provisão, por entender que não são dispêndios definitivos da pessoa jurídica.
184 BRASIL. Presidência da República. Lei nº 9.718, de 27 de novembro de 1998. Altera a Legislação
Tributária Federal. Brasília: DOU, 28 nov. 1998: “Art. 14. Estão obrigadas à apuração do lucro real as pessoas jurídicas: […] II - cujas atividades sejam de bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos de desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito, financimento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades corretoras de títulos, valores mobiliários e câmbio, distribuidoras de títulos e valores mobiliários, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, empresas de seguros privados e de capitalização e entidades de previdência privada aberta; […]”.
185 BRASIL. Presidência da República. Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995. Altera a legislação do
imposto de renda das pessoas jurídicas, bem como da contribuição social sobre o lucro líquido, e dá outras providências. Brasília: DOU, 27 dez. 1995.
Com efeito, as provisões são alocações temporárias no passivo das pessoas jurídicas, que têm por objetivo reservar recursos para possíveis gastos futuros.
Ocorre que, no caso das seguradoras e resseguradoras (e também das entidades de previdência privada), as provisões técnicas são obrigatórias e estabelecidas pela regulação aplicável. Em tais condições, impedir sua dedução como despesa, para fim de determinação do lucro tributável do período, equivaleria a tributar o patrimônio dessas pessoas jurídicas, e não seu verdadeiro acréscimo patrimonial, extrapolando os limites da capacidade contributiva da seguradora.
Consequentemente, as provisões técnicas constituídas por companhias de seguro e resseguro são dedutíveis logo que constituídas no termo da regulação a elas aplicável. Se e quando forem parcial ou totalmente revertidas, serão adicionadas às bases de cálculo do IRPJ e da CSLL.
A regra-matriz de incidência tributária específica, do IRPJ e da CSLL186,
para as seguradoras e resseguradoras pode, pois, ser construída da seguinte forma:
Hipótese:
Critério material: Auferir renda
Critério espacial: Território nacional
Critério temporal: 31 de dezembro de cada ano (apuração anual) ou
30/03, 30/06, 30/09 e 31/12 (apuração trimestral) Consequente:
Critério pessoal: ativo: União
passivo: Seguradoras e Resseguradoras
Critério quantitativo: base de cálculo: Lucro Real (em cujo cômputo são deduzidas, adicionalmente aos demais custos e despesas autorizados pela legislação, as provisões técnicas cuja constituição é exigida pela legislação especial aplicável),
alíquota: IRPJ – 25% mais adicional de 10% sobre o montante da
renda que ultrapassar R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais anuais).
CSLL – 15%
186 Ressalvamos diferenças mínimas entre RMIT do IRPJ e a RMIT do CSLL, que não entendemos
relevante adentrar neste trabalho.
5 TRIBUTAÇÃO DAS ENTIDADES DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR