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2. A DESIGUALDADE NO BRASIL

2.3 INDICADORES DA DESIGUALDADE SOCIAL

A despeito dos vários estudos referenciados apoiarem-se sobre levantamentos e pesquisas oficiais, serão concentrados neste espaço os dados mais expressivos para a análise em desenvolvimento.

O Brasil ocupa a 71ª posição no índice de pobreza no mundo, ao mesmo tempo que está na 167ª colocação quanto à desigualdade. Estas colocações aliadas aos outros índices de desemprego, alfabetização, escolarização superior, homicídios e população infantil aloca o país na 109ª posição de exclusão social. Este ranking156,

155 SANTOS, M. Por uma outra globalização, p. 155.

156 POCHMANN, Marcio et. al. (organizadores). Atlas da Exclusão Social, volume 4: a exclusão no

do ano 2000, considera 175 países analisados. É de se observar na relação direta entre pobreza e desigualdade o quanto é mal distribuída a renda do país.

Dois índices de extrema importância para a compreensão da dimensão da situação social brasileira, o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano157, e o Índice de Exclusão Social, são suficientes para mostrar o cenário do país, interna e externamente. Além destes dois índices, será usado também o índice GINI, medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini.

O índice de exclusão social, apesar de se utilizar da mesma metodologia do IDH, após a experiência do IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano – Municipal) em São Paulo, buscou avançar sobre essas experiências anteriores, preocupando-se com os seguintes aspectos: “1. apurar, a partir de dados mais recentes, novos indicadores sociais para o Brasil; 2. criar um mapa da exclusão mais robusto em termos de indicadores relevantes do que o IDH-M; 3. cobrir todo o território nacional”158. O indicador159 de exclusão social se presta a responder à questão:

“qual o grau de desigualdade social entre as diferentes regiões brasileiras?”160

157 PNUD Brasil. São Paulo: PNUD. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/idh/>. Acesso em: 10 abr. 2007: O objetivo da elaboração do Índice de Desenvolvimento Humano é oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. Criado por Mahbub ul Haq com a colaboração do economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998, o IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano. Não abrange todos os aspectos de desenvolvimento e não é uma representação da "felicidade" das pessoas, nem indica "o melhor lugar no mundo para se viver".

Além de computar o PIB per capita, depois de corrigi-lo pelo poder de compra da moeda de cada país, o IDH também leva em conta dois outros componentes: a longevidade e a educação. Para aferir a longevidade, o indicador utiliza números de expectativa de vida ao nascer. O item educação é avaliado pelo índice de analfabetismo e pela taxa de matrícula em todos os níveis de ensino. A renda é mensurada pelo PIB per capita, em dólar PPC (paridade do poder de compra, que elimina as diferenças de custo de vida entre os países). Essas três dimensões têm a mesma importância no índice, que varia de zero a um.

Apesar de ter sido publicado pela primeira vez em 1990, o índice foi recalculado para os anos anteriores, a partir de 1975. Aos poucos, o IDH tornou-se referência mundial. É um índice-chave dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas e, no Brasil, tem sido utilizado pelo governo federal e por administrações.

158 POCHMANN, Marcio; AMORIM, Ricardo (organizadores). Atlas da Exclusão Social no Brasil. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2004. p. 16.

159 Ibid., p. 16-17: Em primeiro lugar definiram-se três grandes temas que configuram os componentes da exclusão/inclusão social ou de risco de exclusão/inclusão social. O primeiro deles foi chamado de Padrão de vida digno, no qual a preocupação foi observar, por meio de três indicadores, as possibilidades de bem-estar material da população dos municípios. Para isso, utilizaram-se como indicadores: a) a porcentagem de “chefes de família pobres” no município; b) a quantidade de trabalhadores com emprego formal sobre a população em idade ativa; c) uma proxi

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Quanto ao índice GINI, é apresentada a seguinte explicação na página do IPEA:

Mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0, quando não há desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo valor), a 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula)161.

Esses indicadores afastam qualquer tentativa de distorção da realidade social brasileira.

A seguir é apresentado um fragmento dessa amostra, mais especificamente os mapas dos índices de exclusão social162 e de desigualdade social163 no Brasil, suficientes para ilustrar a precariedade da distribuição de renda brasileira.

[variável auxiliar cujo comportamento se considera próximo ou análogo ao da verdadeira variável pesquisada] do índice de desigualdade de renda, calculado pela razão entre a quantidade de chefes de família que ganham acima de dez salários mínimos sobre o número de chefes de família que ganham abaixo disso. Esses indicadores, em conjunto, além de permitirem uma aproximação das possibilidades de consumo das famílias nos distintos municípios brasileiros, ainda possibilitam contornar dois problemas que ocorrem na apuração do IDH tradicional: a impossibilidade de checar a distribuição de renda dentro da unidade escolhida (no caso município) e a situação do mercado de trabalho.

O segundo tema segue as recomendações do IPEA e da Fundação João Pinheiro (IPEA, 1999) para quantificar a participação da população no legado técnico-cultural da sociedade. Para isso apurou-se o tema Conhecimento por meio de indicadores “anos de estudo do chefe de família” e “alfabetização da população acima de cinco anos de idade”.

O terceiro e último tema foi inspirado na investigação realizada pela Fundação SEADE e pelo Mapa da exclusão/inclusão social. A partir do Índice de Vulnerabilidade Juvenil, foi possível identificar peças importantes para a construção de um indicador mais amplo, que levasse em conta o risco da população mais jovem envolver-se em ações criminosas. Por isso foi criado o tema Risco juvenil que, por meio de indicadores “participação de jovens de 0 a 19 anos na população” e da taxa de “homicídios por 100 mil habitantes”, busca captar a realidade caótica e, por vezes, desesperançada em que vivem os jovens mais carentes do país..

160 POCHMANN, M.; AMORIM, R. Atlas da Exclusão Social no Brasil, p. 16.

161 PNUD Brasil. São Paulo: PNUD. Disponível em: http://www.pnud.org.br/indicadores/ index.php?lay=ind1&id_ind=ren&nome_ind=Renda. Acesso em: 10 abr. 2007.

162 POCHMANN, op. cit.. p. 27. 163 Ibid., p. 31.

Sobre a exclusão social mundial, os autores da pesquisa concluíram que a realidade da desigualdade social em escala mundial é assustadora, pois de um lado, os 28 países com melhor índice de exclusão social representam 14,4% da população mundial e participam com 52,1% da renda gerada anualmente , sendo a renda per

capita média destes países em torno de US$ 26,9 mil (critério Paridade de Poder de

Compra); enquanto de outro lado, encontram-se os países com exclusão social acentuada. São 60 países que detêm 35,5% da população mundial, se apropriam de 11,1% da renda produzida anualmente no mundo e apresentam uma renda per

capita média de US$ 2,3 mil (critério de Paridade de Poder de Compra).164

Mais alguns dados mostrando os focos de riqueza no país, comparando a situação de 1980 com a do ano 2000, do volume 3 do Atlas da Exclusão Social, que trata dos ricos no Brasil165:

164 POCHMANN, M. Atlas: a exclusão no mundo. p. 127-128. 165 Id., Atlas: os ricos no Brasil. p. 75-76.

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Além desses gráficos, coloca-se a seguinte explicação, ainda em termos de grandeza, sobre a evolução na distribuição de renda:

Numericamente falando, a estabilidade das classes superiores no Brasil é surpreendente, ignorando inclusive transformações profundas na base econômica nacional. Conforme o Censo de 1872, por exemplo, o Brasil possuía 10,1 milhões de habitantes reunidos em cerca de 1,3 milhão de famílias, sendo, porém, somente 23,4 mil o total de famílias ricas, proprietárias da maior parte dos escravos, dos grandes latifúndios e negócios comerciais e financeiros. Ou seja, apenas 1,8% do total de famílias no Brasil respondiam por aproximadamente 2/3 do estoque de riqueza e de todo o fluxo de renda do país.

Meio século depois, o Censo de 1920 permitiu identificar a presença de somente 64,2 mil famílias consideradas ricas, apropriando-se de 66,1% do total das propriedades rurais do país. De um total de quase 31 milhões de habitantes distribuídos em aproximadamente 5,1 milhões de famílias, somente 1,3% delas eram pertencentes às classes superiores, revelando uma absurda concentração da riqueza total e do fluxo de renda no país. 166

Constata-se que em “pleno início do século XXI, conforme permitem observar as estatísticas oficiais existentes no Brasil”, o quadro de concentração de renda quase não se alterou.

Ao se considerar apenas o ínfimo estrato social composto pelas 5 mil famílias “muito ricas” do país – conforme estimativas de estoque de riqueza e acúmulo de fluxo de renda anual, a partir de dados oficiais disponíveis –, chega-se à escandalosa constatação de que este grupo (0,001% das famílias) apropria-se do equivalente a 3% da renda total nacional, representando o seu patrimônio algo em torno de 40% do PIB brasileiro. Mais ainda, este estrato, desprezível em termos numéricos, acaba por comandar boa parte do restante da renda gerada a partir de contratação de serviços e da remuneração de empregados de altos salários, além da influência exercida sobre uma parte expressiva do gasto público e das informações veiculadas nos órgãos de imprensa. 167

Baseando-se na história brasileira e nos indicadores expostos, pode-se identificar uma relação direta e necessária entre a organização social, o modelo de desenvolvimento escolhido e a desigualdade social do país, evidenciando-se a dificuldade em reverter, ou frear, o longo processo de sua intensificação.

166 POCHMANN, M. Atlas: os ricos no Brasil. p. 27-29. 167 Ibid., p. 29-30.