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Inovação e sua origem nas ciências econômicas

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1 Inovação e sua origem nas ciências econômicas

Segundo o Novo Aurélio (FERREIRA, 1999), percebe-se que inovação pode ser um “ato”, um “efeito”, um “processo” ou uma “intervenção consciente”.

inovação. (do latim tardio innovatione) 1. Ato ou efeito de inovar. 2. novidade. 3. Forma resultante de mudança lingüística. 4. Processo de mudança lingüística que conduz ao aparecimento de novas formas na língua. 5. Cada um dos erros e intervenções conscientes de um copista.

inovar. (Do latim innovare.) 1. Tornar novo; renovar. 2. Introduzir novidade em. (FERREIRA, 1999, p. 1115 )

Os primeiros estudos que tratam da inovação se originam nas ciências econômicas, com a Escola Austríaca e com Joseph Schumpeter (1883-1950). Até então a análise microeconômica tradicional não tratava a indústria como objeto central, o conhecimento era considerado perfeito e a ação empresarial não seria necessária, assim como nenhum processo competitivo.

A Escola Austríaca trouxe uma abordagem radicalmente distinta da tradicional. Em primeiro lugar, rejeita o pressuposto de que os agentes econômicos têm perfeita informação, assumindo que o conhecimento é apenas parcial. Em segundo lugar, rejeita qualquer postulado de equilíbrio e suas propriedades, sendo que a economia deve ser entendida como um fluxo contínuo. Em terceiro lugar, rejeitam o posicionamento de que o conhecimento é perfeito e de que não há competição. Ao contrário, para a Escola Austríaca, a principal causa do avanço econômico é o processo competitivo, focalizando os estudos em como a economia se comporta no tempo e em como as decisões são tomadas em condições de incerteza e de informação limitada (HASENCLEVER, 1991, p. 10).

É em meio a este debate que Schumpeter, o reconhecido economista americano (nascido na Europa central e que estudou em Viena), destacou, com antecedência, em 1934, a importância da inovação para o desenvolvimento econômico e apontou aspectos hoje confrontados pelas organizações. Seu enfoque abrangente abordou também as questões de ordem social e institucional e colocou ênfase na inovação como fonte do desenvolvimento do capitalismo. Para o autor, a concorrência estimulava a busca de novos produtos, de novas tecnologias e obrigava as organizações a serem capazes de gerar baixos custos e alta qualidade. A isto, denominou "processo de mudança" e definiu três estágios desse processo: invenção, inovação e difusão. Schumpeter distinguiu "inovação" de "invenção", sendo que uma invenção se torna relevante se traz resultados e se difunde, o que a torna uma inovação. Sua teoria aponta a importância do empreendedor no negócio, enfatizando o papel deste em estimular o investimento em inovações, promovendo a "destruição criativa", que ocorre quando uma inovação torna obsoletas as presentes

tecnologias. Na citação abaixo, ele caracteriza inovação como o esforço de combinar diferentemente os muitos elementos envolvidos na geração de riqueza.

Produzir meios para combinar materiais e forças ao nosso alcance. Produzir outras coisas, ou as mesmas, por um método diferente, significa combinar tais materiais e forças de maneira diferente. Tendo-se em vista que uma ´nova combinação´ pode, com o tempo, nascer da antiga pelo ajuste contínuo e gradativo, sem dúvida haverá mudança, possivelmente crescimento, mas nem um novo fenômeno nem desenvolvimento tal como o entendemos. Tendo-se em vista que não é este o caso, e que as novas combinações surgem descontinuamente, emerge, então, o fenômeno que caracteriza o desenvolvimento. [...] O desenvolvimento, para nós, é então definido pela realização das novas combinações. (SCHUMPETER, 2000, p. 51).

O autor caracteriza as condições que criam o contexto de inovação: a introdução de novos produtos; a introdução de um novo método de produção; a abertura de novo mercado, ainda não desbravado ou ainda não existente; a conquista de uma nova fonte de suprimento, existente porém não explorada ou absolutamente nova; uma nova composição organizacional. Todas essas condições são os meios fundamentais para o desenvolvimento, mas nem sempre são conduzidos pelas mesmas pessoas que controlam o processo produtivo e comercial vigente. Se assim fosse, o fabricante de “diligências construiria estradas de ferro” (SCHUMPETER, 2000, p. 52). O autor enfatiza que a inovação faz ressaltar a importância das ações empresariais em oposição à necessidade de avanços científicos para que as inovações ocorram. Schumpeter considerou também as inovações como fonte do dinamismo no desenvolvimento do capitalismo.

Freeman, considerado um autor neo-shumpeteriano, assim escreve sobre Schumpeter:

Dentre os méritos do trabalho de Schumpeter estão sua ênfase consistente na inovação como a fonte principal do dinamismo no desenvolvimento capitalista, seu senso de perspectiva histórica, seu reconhecimento da importância das distinções conceituais entre invenção, inovação e difusão de inovações, e também seu reconhecimento da importância vital da ligação entre inovações organizacionais, gerenciais, sociais e técnicas. Tudo isso o levou […] a uma teoria unificada de ciências sociais díspares e à teoria geral do desenvolvimento global. (FREEMAN, 1988, p. 5, tradução nossa).

Uma linha de autores neo-schumpeterianos, como Dosi, Freeman, Nelson e outros, avançam nos estudos de Schumpeter, acrescentando novas interpretações que permitem sua compreensão por meio de uma abordagem mais dinâmica.

O resultado da introdução de inovações pode ser distinto para firmas diferentes. Isto estimulará as empresa a perseguirem constantemente a “busca” de métodos mais eficientes de produção. Esta busca tomará a forma de pesquisa e desenvolvimento (P&D), tanto para descobrir novos processos de produção e produtos quanto para adquirir capacidade de imitação de seus rivais. (HASENCLEVER, 1991, p. 18).

Dosi (1988, p. 222) considera que "inovações dizem respeito à busca, descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos, novos processos produtivos e novas técnicas organizacionais." .

Freeman (1988) aponta o "ajuste dinâmico" que ocorre no relacionamento entre a mudança tecnológica e a institucional, estabelecendo o quanto elas estão entrelaçadas. A mudança tecnológica é fundamental e tem o poder de estabelecer padrões para a transformação da economia.

(a) A mudança tecnológica é uma força fundamental para moldar os padrões de transformação na economia”.

(b) Há alguns mecanismos de ajuste dinâmico que são radicalmente diferentes em sua natureza se comparados aos mecanismos de alocação postulados pela teoria tradicional.

(c) Estes mecanismos têm a ver tanto com a mudança tecnológica quanto com a institucional, ou com a falta de mudança....

(d) A estrutura social-institucional sempre interfere e pode, por vezes, facilitar ou retardar os processos da mudança tecnológica e estrutural, da coordenação e do ajuste dinâmico. Os efeitos de tal aceleração ou retardamento se relacionam não apenas com “imperfeições” do mercado, mas com a natureza dos próprios mercados e com o comportamento dos agentes (ou seja, as instituições são uma parte inseparável do modus operandi dos mercados). (FREEMAN, 1988, p. 2, tradução nossa).

Ambos autores ressaltam a importância da dinâmica social da instituição (organização) como variável influente na mudança tecnológica, mas confessam a dificuldade que encontraram em fazer a união epistemológica entre as mudanças econômicas e as mudanças institucionais, considerando uma limitação do texto não

tratar dos processos de aprendizagem sociais e institucionais envolvidos no processo de mudança (FREEMAN, 1988, p. 3).

Freeman e Perez desenvolvem uma taxionomia das inovações. "Inovações incrementais" são aquelas que ocorrem de forma quase contínua na indústria ou serviço, em graus e quantidades distintas, dependendo das pressões da demanda, fatores sócio-culturais, oportunidades na tecnologia, como produto de invenções e melhorias propostas pelos engenheiros engajados na produção. "Inovações radicais" são aquelas provenientes de descontinuidades geradas de forma deliberada, geralmente como resultante de pesquisa. São geradas por uma intenção e não conseguiriam emergir no dia-a-dia de uma produção. Representam impacto dramático e podem estar relacionadas ao surgimento de novas indústrias e serviços. "Mudanças de sistema tecnológico" são mudanças de grande espectro que geram impacto em setores da economia, dando berço a novos setores. São produto da combinação de inovações incrementais, radicais, organizacionais e gerenciais que geram impacto em mais de uma organização. "Mudanças no paradigma técnico- econômico" são algumas mudanças de sistemas tecnológicos tão significativas que influenciam o comportamento de toda uma economia e em outras tantas dimensões da sociedade (FREEMAN E PEREZ, 1988, p. 45).