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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

complexa 2.2 representação convencional de algo; emblema, insígnia 3 palavra ou imagem que designa outro objeto ou qualidade

9 Considerações de partida da pesquisa

9.1 Questões e reflexões preliminares

As seguintes questões se colocaram ao pesquisador:

a) Como se processa uma inovação dentro da dinâmica da cultura? b) O que é uma organização inovadora? O que é uma cultura inovadora? c) Quais os fatores que estão presentes em uma organização inovadora?

d) Como se relacionam esses fatores entre si? Existem relações de causa e conseqüência?

e) Como seria uma ”teoria da gestão da inovação“ ?

Com as leituras empreendidas e as questões acima formuladas, o pesquisador faz algumas reflexões preliminares, que orientarão a construção dos objetivos de pesquisa. Adotou-se como ponto de partida o modelo de Dinâmica da Cultura de Hatch, por se acreditar que seja o que melhor ajudará a explicar o fenômeno

inovação dentro do contexto organizacional. Assim sendo, pretende-se ampliar alguns elementos de compreensão do modelo, com enfoque em inovação.

Os raciocínios iniciais que seguem abaixo são decorrentes da reflexão sobre a literatura e compõem a base para a construção dos objetivos de pesquisa:

a) se toda organização é uma cultura, com seu sistema interpretativo singular, então, toda inovação é uma construção cultural, podendo inserir-se na dinâmica da cultura;

b) parece existir um potencial de transformação da inovação que atua sobre a organização;

c) tudo indica que toda inovação demanda mobilização;

A partir das questões e das reflexões apresentadas, vai-se buscar colocar inovações como construções culturais inseridas na dinâmica da cultura.

9.1.1 Inovação como construção cultural

Em primeiro lugar, considera-se que a organização é uma cultura. De acordo com o modelo de Dinâmica da Cultura de Hatch, todas as “realidades” organizacionais são artefatos; artefatos são a materialização de pressupostos e valores, através dos processos denominados manifestação e realização; artefatos adquirem significados ampliados através dos processos de simbolização e interpretação; valores e artefatos importados passam pelos mesmos processos para serem assimilados ou não. Uma vez que tudo que o que ocorre em uma organização transita por tais processos, depreende-se que inúmeros “elementos” transitam simultaneamente, mas somente as inovações são de interesse para este trabalho.

Em segundo lugar, pela definição, artefatos são todas as realizações perceptíveis, visíveis e concretas da organização, como: instalações, processos, produtos, tecnologia, modelo de gestão, sistemas, hábitos, comportamentos, estilos, linguagem, comunicações, práticas, ritos, histórias, cerimônias etc. Se todas as

manifestações perceptíveis em uma organização são artefatos, pode-se dizer, de forma simples, que inovações são novos artefatos que passam pelos processos da dinâmica da cultura e são percebidos como inovações (ressalva-se que nem todos os artefatos são inovações).

Entretanto, o foco deste trabalho não é na inovação enquanto artefato, mas no processo de criação e construção de um novo artefato que signifique inovação. Portanto, inovações não são “coisas” ou objetos, e sim processos que nascem no campo das idéias, materializam-se quando passam ao campo da ação e transformam-se em artefatos, os quais são simbolizados e significados como inovações. Esses estágios correspondem aos processos do modelo de Hatch - manifestação, realização, simbolização e interpretação - que, de alguma forma, guardam relação com as fases descritas pela literatura objetivista - geração, desenvolvimento, implantação, difusão –, que podem ser inseridas no modelo de Hatch (vide Esquema 7 originalmente na seção 8.1, reaplicada para fácil visualização).

Esquema 7 – Modelo da dinâmica da cultura de Hatch Fonte: Hatch (1993, p. 656) IDENTIDADE AÇÃO SIGNIFICAÇÃO IMAGEM Pressupostos Valores Simbolização Artefatos

Domínio do Subjetivo Domínio do Objetivo

Dis c u rs o de Atividade Dis c u rs o de Ref letividade IDENTIDADE AÇÃO SIGNIFICAÇÃO IMAGEM Pressupostos Valores Simbolização Artefatos

Domínio do Subjetivo Domínio do Objetivo

Dis c u rs o de Atividade Dis c u rs o de Ref letividade

Em terceiro lugar, uma vez que uma inovação se implantou, ela deixa de ser uma inovação e passa a fazer parte da rotina. Uma inovação não vive perenemente como tal, como algo que é permanentemente uma inovação. Uma vez implantada, passa ao domínio público e deixa de ser “novidade”, podendo ter um ciclo de vida e cair na obsolescência.

Então, o que seria inovação? Inovação seria um processo que tem a duração do seu desenvolvimento e implantação, ou seja, é um processo com princípio, meio e fim, quando tomado literalmente como artefato. Então, onde estaria a perenidade da inovação? Quando se diz que a organização é ”inovadora”, ”faz” ou ”tem muitas inovações”, talvez isso queira dizer que existem inovações em processo sendo geradas, desenvolvidas ou em fase de implementação. Nesse caso, inovações feitas no passado tornaram-se símbolos do ”novo” e passaram a fazer parte do domínio da significação da organização. Ou seja, vivem na linguagem, nos relatos dos feitos, nos cases, como símbolos ou como um corpo de interpretações; talvez não vivam como uma realidade objetiva. Portanto, inovações são processos transitórios, pois em algum momento são assimiladas no dia-a-dia, caem no domínio público e deixam de ser inovações. Só a simbolização e a significação podem atribuir-lhes o status de permanecerem como inovações.

Em quarto lugar, inovações podem se originar interna ou externamente. Quando sua origem é interna, como já se viu, nascem dos pressupostos e valores, materializam- se em artefatos e são significadas como tal. Quando sua origem é externa, podem ser valores ou artefatos importados, como: idéias, pessoas, aquisições, parcerias, demandas de mercado, novos padrões no setor etc. O que as diferencia é que, quando a origem é interna, nascem dos anseios e expectativas organizacionais, enquanto que, quando vêm de fora, precisam ser cotejadas e alinhadas aos valores e pressupostos, para serem assimiladas pela organização. Neste segundo caso, em algum ponto da dinâmica da cultura, ocorreria a ”permissão” coletiva para tal inovação ser adotada e assimilada.

9.1.2 Potencial de transformação da inovação

Segundo vários autores vistos na revisão bibliográfica, inovações podem ter diferentes característica e envergaduras. Vários autores, como Gagliardi (1986), Tushman (1988), Rogers (1995), Eisenhardt (1997), Christensen (1997), March (1999), Van de Ven e outros (1999), Gundling (2000), Lampel (2000), Wood (2001), Gaynor (2002), Leifer (2002), cada um a seu modo, estabeleceram a relação entre o porte da inovação e seu impacto na organização. No intuito de aprofundar o conceito de impacto, estabeleceu-se o “potencial de transformação de uma inovação”, como proposição a ser observada em pesquisa.

Cada inovação possui algum tipo de porte ou envergadura que, possivelmente, ocasiona impacto nas várias esferas organizacionais, com graus de intensidade diversos. Assim sendo, o potencial de transformação de uma inovação pode ser definido como a possibilidade potencial que uma inovação tem de gerar transformação no contexto interno (organizacional) e por vezes externo (ambiente ou cultura maior).

A importância de definir o potencial de transformação de uma inovação pode ser chave na compreensão da possível aceitação ou rejeição de inovações, por parte das pessoas envolvidas por seu impacto. Além disso, o potencial de transformação talvez possa variar durante o processo de inovação, afetado por outras interferências.

Essa investigação será objeto da pesquisa de campo.

9.1.3 Inovação e mobilização

Mobilização é a alocação prioritária, intencional e visível de recursos (tempo, investimentos e, fundamentalmente, pessoas) em atividades que não são rotineiras, que são novas (MARCH, 1999). Parece importante estudar a mobilização como um

possível elemento-chave na viabilização da inovação. Pode haver uma relação direta entre o nível da mobilização e o potencial de transformação.

Esta investigação será objeto da pesquisa de campo.