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Metodologia escolhida: Grounded Research

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Proposição 5 – Quanto ao Processo de Interpretação:

10 Sobre o Método

10.3 Metodologia escolhida: Grounded Research

Para atender a todos os requisitos desta pesquisa, será aplicada a abordagem de

grounded research.

Esta metodologia foi definida e apresentada pela primeira vez por Glaser e Strauss em The discovery of grounded theory , publicado em 1967, em um momento crítico da pesquisa em ciências sociais, representando uma revolução na pesquisa qualitativa como um todo. A força da grounded research reside no fato de que é uma abordagem para compreender o mundo empírico utilizando métodos flexíveis e estratégias heurísticas, em lugar de procedimentos formalizados (CHARMAZ, 2000, p.509).

A grounded research é uma metodologia de caráter indutivo, que constrói um sistema de coleta e análise de dados que permitem extrair do campo as condições para formar um quadro de referência (framework) propício à construção de teoria. O pesquisador vai a campo com um framework inicial, e, gradativamente, com as informações e dados levantados empiricamente, ele é livre para validar, retirar ou incluir elementos deste framework. Portanto, trata-se de processo de pesquisa em que se constrói um conjunto de questões, e que, através de casos múltiplos levantados no campo, analisados e compreendidos, visa chegar à construção de teoria. Segundo Eisenhardt (1989, p. 532), a abordagem de grounded research se assemelha ao teste de hipótese, no que se refere à definição do problema e validação de construtos. No entanto, difere quanto à lógica de replicação.

Nesse método, a coleta de dados, a análise e a teoria construída são elementos muito próximos entre si, com íntima ligação entre uns e outros. A pesquisa não se

inicia com idéias preconcebidas, a não ser que haja um propósito de elaborar e expandir uma teoria existente. O pesquisador começa com uma área de estudo e algumas proposições, em seguida vai ao campo e começa o levantamento de dados. Esse processo semi-estruturado permite que a teoria brote dos dados (STRAUSS; CORBIN, 1998, p. 12).

Essa metodologia agrega outras possibilidades ao campo da pesquisa empírica, por contemplar o relativismo das múltiplas realidades, por ser um tipo de pesquisa que estuda casos múltiplos visando extrair padrões comuns, e por reconhecer a existência da influência mútua entre o observador e o observado, admitindo a dificuldade de imparcialidade do pesquisador no ato da pesquisa.

A grounded research, como metodologia focada em desenvolver análise interpretativa de dados de pesquisa, sofreu críticas, principalmente dos pós- modernos, a respeito da sua sutil influência objetivista. Entretanto, a grounded

research possibilita enfoque subjetivista, pois estuda os sistemas sociais em seus settings naturais, não gerando resultados rígidos nem prescritivos (CHARMAZ, 2000,

p. 510). Assim, pode-se usar o método para desenvolver estudos de interpretação da subjetividade da organização, o que permite, para esta pesquisa, compreender inovação no seu significado cultural, sob uma ótica simbólico-interpretativa.

Um outro aspecto importante é que a grounded research tem seu foco na estratégia da pesquisa e não, necessariamente, nos métodos utilizados, podendo-se recorrer a diversas técnicas e métodos, no intuito de codificar aspectos que se mostram no campo, buscando a construção de teoria como produto da lógica de análise. Portanto, não há rigor quanto à escolha das técnicas, mas há rigor na estratégia de como realizar a pesquisa, a coleta de dados, o tratamento dos dados e a codificação.

A grounded theory se define pelos seguintes passos:

a) Coleta e análise de dados primários e secundários: esta fase consta de coleta de dados através das fontes primárias (entrevistas semi- estruturadas, entrevistas de grupos e observações de campo) e fontes

secundárias (leitura de revistas e jornais, material institucional, relatórios, publicações, teses, vídeos etc.);

b) Processo de codificação: começa após o dado ser coletado e permite uma nova perspectiva dos dados, podendo-se então fazer categorizações. Através da codificação a partir dos dados, criam-se categorias, que, ao serem refinadas, serão a base da teorização. A interação com os dados se dá atendendo a um binômio: por um lado, o pesquisador procura manter um distanciamento; por outro, deve questionar, intuir, ser criativo. O processo de codificação deve ser meticuloso no tratamento dos dados, palavra por palavra, para serem identificadas as categorias, bem como o relacionamento entre elas. O rigor da fidelidade aos dados garante sintonia com a visão subjetiva da organização (STRAUSS; CORBIN, 1998; CHARMAZ, 2000);

c) Análise do caso: a análise dos dados é o coração da construção da teoria, não havendo um padrão para se fazerem essas análises. Pode haver tantas abordagens quantos pesquisadores, desde que se tornem familiarizados com cada caso como uma entidade em si. Este processo permite que os padrões únicos de cada caso possam emergir antes de se proceder à análise comparativa (EISENHARDT, 1989, p. 539);

d) Análise comparativa entre casos: nesta fase a tática é selecionar categorias e olhar as similaridades e diferenças. Essas categorias podem ser sugeridas pelas questões da pesquisa, pela literatura existente ou por escolha do pesquisador (EISENHARDT, 1989, p. 540);

e) Formulação de hipóteses: a idéia central é semelhante à de análise do caso, acrescida de várias análises comparativas entre os casos e da impressão geral. Empreendendo tentativas de formular temas e conceitos, as relações entre variáveis possivelmente começam a surgir. Portanto, um passo na modelagem das hipóteses é refinar a definição dos construtos e verificar sua evidência em cada caso, comparando constantemente os dados e o construto, de modo a convergir em um construto singular e bem

definido. Outro passo é verificar se as relações emergentes entre os construtos se evidenciam em cada caso (EISENHARDT, 1989, p 542);

f) Construção final da teoria: trata-se do rigoroso processamento da massa de dados pesquisados no campo, que sai de uma fase bruta para a descrição do fenômeno, o ordenamento conceitual (organização dos dados) e, por fim, a construção da teoria, que é o esforço de formular idéias e conceitos em um esquema lógico, sistemático e explanatório (STRAUSS; CORBIN, 1998, p. 21).

10.3.1 Técnicas de coleta de dados

Na abordagem de grounded research podem ser utilizadas várias técnicas para coleta de dados, sendo algumas delas: entrevistas semi-estruturadas, entrevistas de grupos, análise de dados secundários, observações de campo (Eisenhardt, 1989, p. 535).

Entrevista semi-estruturada: o entrevistador pergunta a mesma série de questões, mas deixa margem para que ocorram respostas espontâneas e eventuais temas que tenham relação com o assunto explorado. Esta técnica fica entre a entrevista formal e a informal. Existem alguns cuidados a serem tomados: responder pelo respondente e deixar sentimentos pessoais do entrevistador influenciarem o entrevistado. Por outro lado, é recomendável o estabelecimento de uma relação ”humana” com o entrevistado e o desejo de compreender, em vez de explicar (FONTANA; FREY, 2000).

Entrevista em grupo: é essencialmente uma técnica de coleta de dados qualitativa que se baseia em perguntas semi-estruturadas a vários indivíduos respondentes simultaneamente em um ambiente formal ou informal. O entrevistador dirige as perguntas de uma maneira estruturada ou não, dependendo do seu propósito, e atua como um moderador na interação entre as pessoas. O propósito pode ser

exploratório das experiências compartilhadas pelos membros do grupo (FONTANA; FREY, 2000).

Observações de campo: consideradas fundamentais para a pesquisa nas ciências sociais, as observações têm valioso papel. Até mesmo pesquisas baseadas em entrevistas se valem da observação de outros elementos, como linguagem não verbal, setting, ocorrências etc. visando trazer informações adicionais. Os cientistas sociais são observadores tanto das atividades humanas como dos settings nos quais tais atividades ocorrem. Em tempos recentes, a tecnologia tem exercido papel importante na acuracidade das observações das pessoas e eventos, mas deve-se ter em mente não privilegiar apenas o que capturado por uma gravação, vídeo etc, mas também privilegiar a experiência vivida (ANGROSINO; PÉREZ, 2000, p. 673, 696).