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NÍVEL DE ACREDITAÇÃO

3. INOVAÇÃO, ESTRATÉGIA E COMPETITIVIDADE

3.7 INOVAÇÃO GERENCIAL

Schvarstein (1995 apud MENDES, 2000, p.30) afirma que “as organizações, em algum tempo e lugar determinados, materializam a ordem social que as instituições estabelecem”. Desta forma, afirma Mendes (2000), a dinâmica inovacional está inserida em um processo que pode envolver não apenas mudanças organizacionais, mas também mudanças institucionais.

Para Guevara (1991 apud MENDES, 2000), a inovação gerencial concede à organização uma capacidade de atender a demandas da cultura local, de componentes do contexto social, político e econômico bem como de atender a demanda de mudanças ligadas à gestão do trabalho. No que se refere à gestão do trabalho, o autor explicita que isso vai além do treinamento de gerentes, mas não aprofunda a discussão. Para Mendes (2000), é possível deduzir que tal afirmativa consubstancia a idéia de que é preciso ir além de mudanças no nível cognitivo para garantir um processo inovador. Para a autora, seria necessário incluir também mudanças comportamentais sustentadas e, talvez, institucionais, para que efetivamente ocorram mudanças nas práticas gerenciais e organizacionais.

Wood Jr. et al. (1994 apud MENDES, 2000) fornecem uma definição abrangente para mudança organizacional, inserindo-se nessa mudança a inovação gerencial e apresentam os tipos de mudanças que podem ocorrer, o que será visto no próximo capítulo, que versará sobre mudança organizacional.

Mendes (2000) considera que a inovação gerencial é um tema que dá margem para diversas interpretações. A autora defende que a ocorrência de mudanças organizacionais e gerenciais em um mesmo contexto tem a ascendência das mudanças gerenciais, pois inovação requer a oferta de conhecimento, capacidade de aprendizado, assim como disposição de condições econômicas e políticas adequadas.

Davila; Epstein; Shelton (2007) consideram a inovação gerencial como estratégica e a denominam como mudança de modelo de negócios. Os autores consideram-na capaz de estabelecer o modo pelo qual a organização cria, vende e gera valor aos seus clientes, o que inclui a cadeia de suprimentos, a identificação de segmentos preferenciais de clientes e qual a percepção que os clientes têm do valor que recebem.

Para Davila; Epstein; Shelton (2007), a primeira idéia que vem à mente das pessoas quando se fala em inovação refere-se a inovação tecnológica. Entretanto consideram a inovação do modelo de negócios quase tão importante quanto a inovação tecnológica para a consolidação do sucesso nos negócios de uma organização. Davila; Epstein; Shelton (2007, p. 49) citam depoimento de Nick Donofrio, pesquisador líder da IBM, que construiu um conceito para inovação que afirma a importância da inovação gerencial: “definimos inovação como a nossa capacidade de criar novo valor na intersecção entre negócios e a tecnologia. [...] Não podemos ficar na dependência apenas da inventividade e da tecnologia para o nosso sucesso”.

Davila; Epstein; Shelton (2007) afirmam que a mudança de modelo de negócios pode conduzir à inovação em três áreas: a proposição de valor, a cadeia de suprimentos e cliente-alvo.

3.7.1 INOVAÇÕES GERENCIAIS EM TERMOS DE PROPOSIÇÃO DE VALOR

Inovações gerenciais em termos de proposição de valor representa o que é vendido e lançado no mercado, com a seguinte especificidade: um produto ou serviço totalmente novo ou uma ampliação/melhoria em um produto ou serviço já existente. (DAVILA; EPSTEIN; SHELTON, 2007)

A proposição de valor se atém aos aspectos de comercialização. São elaboradas estratégias de negócios que objetivam dar aos usuários percepção de que estão sendo beneficiados com um novo valor para produtos ou serviços novos ou para produtos ou serviços existentes que receberam melhorias.

3.7.2 INOVAÇÕES GERENCIAIS NA CADEIA DE SUPRIMENTOS

Inovações gerenciais na cadeia de suprimentos na maioria das vezes não são vistas pelos usuários. Isto porque essas inovações ocorrem normalmente nos bastidores. Mudanças na cadeia de suprimentos acontecem ao longo da cadeia de valores e repercutem na organização, no compartilhamento e na operação de atividades com vistas à produção e à entrega de produtos e serviços. (DAVILA; EPSTEIN; SHELTON, 2007)

3.7.3 INOVAÇÕES GERENCIAIS QUE BENEFICIAM CLIENTES ALVO

São inovações gerenciais que buscam capitalizar mudanças nas áreas de

marketing, vendas e programas de distribuição. Isso porque a organização decide

aproximar-se do segmento de usuários com os quais não mantinha relacionamento comercial anterior. A iniciativa da organização é pautada na perspectiva que vislumbra de obter desses desconhecidos usuários a satisfação de suas necessidades e desejos, por meio dos serviços e produtos que agora lhes são oferecidos por essa organização. Davila; Epstein; Shelton (2007). Segundo os autores, essas mudanças não são tão comuns como aquelas que ocorrem na proposição de valor ou na cadeia de suprimentos. Entretanto significam um valioso propulsor para a inovação e devem ser aproveitadas por todas as organizações que procuram novos espaços no mercado via inovações.

3.7.4 INOVANDO O MODELO DE INOVAÇÃO

Muitas empresas fizeram altos investimentos em inovações tecnológicas na expectativa de angariar lucros auspiciosos, quase sempre certas de que suas posições pró-inovações tecnológicas conduziriam a um caminho natural de sucesso. Concentrar esforços exclusivamente nesse tipo de inovação pode representar perda de competitividade para a organização. Davila; Epstein; Shelton (2007) apresentam o exemplo da Intel, que em 2004 competia em um mercado composto de players capacitados. Assim decidiu investir bilhões de dólares em inovações tecnológicas, mas, ao que parece, negligenciou adotar mudanças no modelo de negócios. Isso fez com que a empresa fosse vista como inovadora em termos de geração de novas tecnologias, porém com baixa competitividade, por não ter um modelo de negócios ajustado à nova realidade de mercado. Não havia um bom alinhamento entre as arrojadas inovações tecnológicas e a conservadora gestão dos negócios, pouco propensa a mudanças de efeito que pudessem conduzi-la ao patamar de inovações gerenciais. Desta forma, verifica-se a importância de unir esses dois pólos, pois de pouco adianta uma inovação tecnológica bem concebida se não estiver apoiada por um modelo de negócios que lhe dê sustentação.

É essencial gerar uma comunicação que apresente, de forma clara e abrangente, as vantagens de um produto ou serviço inovador, e que seja garantida

por um lastro gerencial, capaz de viabilizar a sua produção, entrega e distribuição eficiente e eficaz. Isso significaria atuar dentro de um novo modelo de inovação competitivo em tempos de globalização, unindo criatividade à captação de valor.