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3 AS ABORDAGENS INSTITUCIONALISTAS

3.4 INSTITUCIONALISMO SOCIOLÓGICO

Para o Institucionalismo Sociológico, a definição de instituições não inclui somente as regras, procedimentos ou normas formais, conforme a base da Nova Economia Institucional (NORTH, 1990; 1991), mas também esquemas cognitivos, sistemas de símbolos e modelos morais que fornecem “padrões de significação” que guiam a ação humana.

A primeira seção deste capítulo já analisou de forma introdutória alguns trabalhos de sociólogos que continham argumentos institucionais. Assim como os sociólogos analisados como clássicos (Karl Marx, Emile Durkhein e Max Weber), outros consideraram as estruturas que dominam o mundo moderno, sejam elas empresas, escolas, sindicatos, partidos, etc., como produto de um intenso esforço de elaboração de estruturas cada vez mais eficazes, destinadas a cumprir tarefas formais ligadas às organizações.

Esta seção se dedicará à revisão de autores tidos como referência, especificamente para a aplicação de conceitos sociológicos do pensamento institucionalista. Segundo Hall e Taylor (2003), os sociólogos institucionalistas em geral escolhem uma problemática que envolve a explicação do motivo de as organizações adotarem um específico conjunto de

formas, procedimentos ou símbolos institucionais, com particular atenção à difusão dessas práticas. Seguindo também a sociologia, tendo como problemática as organizações e a influência de pensamentos de autores clássicos, Scott (2014) considera quatro linhas de trabalho como notáveis entre os primeiros teóricos do institucionalismo sociológico, sendo a primeira linha desenvolvida por Robert K. Merton e Philip Selznick da Universidade de Columbia, a segunda por Everett C. Hughes e colegas da Universidade de Chicago, a terceira elaborada por Talcott Parsons em Harvard e, por fim, o trabalho pioneiro de Herbert Simon no Carnegie Institute of Technology (hoje Carnegie Mellon University) sobre a tomada de decisões organizacionais. Esses autores fizeram seus primeiros trabalhos entre os anos de 1940 e 1950 e relacionavam explicitamente instituições e organizações.

Os méritos dos trabalhos de Robert K. Merton, que os coloca entre os importantes na linhas do institucionalismo sociológico, está em reavivar, a partir dos escritos seminais de Max Weber, o interesse pela burocracia e burocratização, suas fontes e consequências pelo comportamento nas organizações (SCOTT, 2014) Embora não empregasse o termo institucionalização em seu ensaio "Estrutura burocrática e personalidade" (MERTON, 1940), ele fornece uma lúcida discussão dos processos dentro das organizações que lideram os funcionários para orientar suas ações em torno de regras até com a preocupação de como a conformidade as regras interfere na realização dos fins da organização.

De acordo com Scott (2014), partindo de argumentos de Durkheim, Merton (1940, p. 199) esboça sua versão dos processos institucionais dentro das organizações afirmando que “por meio da formação do sentimento, da dependência emocional dos símbolos e status burocráticos e do envolvimento afetivo nas esferas de competência e autoridade, desenvolvem-se prerrogativas que envolvem atitudes de legitimidade moral que são estabelecidas como valores por direito próprio e não são mais vistas como apenas meios técnicos para acelerar a administração (MERTON, 1957 apud SCOTT, 2014, p. 38).

Essas ideias de Merton influenciaram sobre maneira Philip Selznick, que é tido como principal referência na origem da análise institucional das organizações. Selznick (1949) critica o conceito de organizações como um “exercício de engenharia” ou um “sistema formal de regras e objetivos”. Para Selznick, a burocracia não é rígida e nem estática, como afirmava Weber, mas adaptativa e dinâmica, interagindo com o ambiente externo e adaptando-se a ele, e descreve as organizações que são incorporados nas comunidades locais, ligados por vários funcionários leais e tratados interorganizacionais (“cooptação”) que foram realizados através da interação face a face.

Para Selznick (1949), a institucionalização é um processo. É algo que acontece com uma organização ao longo do tempo, refletindo a própria história distintiva dela, as pessoas que estiveram nela, os grupos que encarna e os interesses adquiridos que eles criaram e a forma como ele se adaptou ao seu ambiente. Scott (2014) associa a incorporação de um determinado conjunto de valores pela organização a aquisição de uma estrutura de caráter e uma identidade organizacional distintiva.

Merton (1940) estabeleceu a base para um modelo de processo de instituições. O autor descreveu os processos que operam em todas ou na maioria das organizações burocráticas que conduzem os funcionários à conformidade, enquanto Selznick (1949) focalizava os processos dentro de organizações particulares, dando origem a um conjunto distinto de compromissos de valor.

Segundo Carvalho e Vieira (2003), os trabalhos de Selznick e seus colegas têm uma forte afinidade com a teoria de Parsons, que para Scott (2014) é um dos autores de referência das linhas de trabalho tidas como notáveis sobre institucionalismo e organização. Talcott Parsons (p. 42) aplica seus argumentos gerais “culturais-institucionais” às organizações principalmente examinando a relação entre uma organização e seu ambiente social e cultural, ou seja, “as maneiras pelas quais o sistema de valores de uma organização é legitimado por suas conexões com “os principais padrões institucionais” em diferentes contextos funcionais.

De acordo com Scott (2014,), Talcott Parsons enfatiza a dimensão subjetiva das instituições, onde os atores individuais internalizam as normas compartilhadas para que se tornem a base da ação do indivíduo. Em sua análise das organizações, ele desloca a atenção para o que ele chama de dimensão objetiva: “um sistema de normas que define o que as relações dos indivíduos [ou organizações] deveriam ser” (PARSONS,1990 p. 327).

Parsons (1960, p. 21) argumenta que essas estruturas normativas mais amplas dentro das sociedades servem para legitimar a existência de organizações, mas “mais especificamente, legitimam os principais padrões funcionais de operação que são necessários para implementar os valores”. Para ele, as organizações recebem legitimidade em uma sociedade na medida em que seus objetivos estão ligados a valores culturais mais amplos e na medida em que se conformam em suas estruturas e procedimentos aos “padrões de operação”.

Para esta teoria, as organizações que operam em diferentes setores funcionais são legitimadas por valores diferentes, exibem padrões adaptativos diferentes e são governadas por diferentes códigos e estruturas normativas. Além disso, os sistemas de valores estão estratificados dentro de uma sociedade de tal forma que as organizações que servem valores

mais estimados são consideradas mais legítimas e esperam receber uma proporção desproporcional de recursos sociais (PARSONS, 1953).

Para este autor, a definição de organização está condicionada primeiramente à existência de uma “meta específica”, o que diferencia este sistema de outros sistemas sociais. Entretanto, para ser definida como um sistema social, uma organização deve possuir uma “estrutura descritível”, em duas dimensões: a “cultural e institucional” como “padrão de valores” do sistema; e os “papéis” dos grupos e indivíduos no funcionamento da organização (PARSONS, 1967, p. 44). Toda organização seria então um subsistema de “um sistema social mais amplo que é a fonte do ‘significado’, da legitimação ou do apoio de nível superior que torna possível a implementação dos objetivos da organização” (PARSONS, 1960, p. 63-64).

De acordo com Scott (2014), ao contrário da formulação de Selznick, o trabalho teórico de Parsons sobre as organizações não estimulou muita pesquisa empírica. Alguns estudantes empregaram o esquema conceitual geral de Parsons e descreveram a importância dos fundamentos institucionais para tipos específicos de organizações, mas em geral as percepções do autor não foram construídas tanto como redescobertas pelos teóricos posteriores.

Outra linha de trabalho apontada como referência no desenvolvimento do pensamento institucionalista sociológico surgiu, segundo Scott (2014), a partir dos trabalhos de Everett C. Hughes (1897-1983). Hughes foi um dos primeiros estudiosos institucionais a relacionar instituições e organizações que as consideravam “explicitamente dinâmicas” e “fundamentadas numa visão ecológica e evolutiva da estabilidade e mudança social / econômica / organizacional” (VENTRESCA; KAGHAN, 2008, p. 57-58).

Everett C. Hughes foi um dos mais importantes cientistas sociais americanos, expoente da segunda geração da “Escola de Chicago”. Estudou entre 1923 e 1928 no Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade de Chicago, tendo sido aluno de Robert E. Park. Foi, por sua vez, professor de sociologia nessa universidade entre 1938 e 1961, tornando-se referência fundamental para a geração seguinte da “Escola”, da qual fizeram parte Erving Goffman e Howard S. Becker, entre outros.

O trabalho empírico desenvolvido pelo sociólogo e seus seguidores se concentrou mais nas ocupações, em particular, nas profissões, do que nas organizações. Hughes (1958) analisou profissões sob o olhar do interacionismo simbólico. O autor buscou explicar os procedimentos “internos” ou subjetivos de socialização pelos quais cada indivíduo profissional deve passar. Além disso, construiu um modelo de socialização profissional, de acordo com Meneghetti (2009), concebido como se a iniciação à cultura profissional fosse um

processo de institucionalização semelhante a uma conversão religiosa do indivíduo a uma nova concepção do mundo e a uma nova identidade, dividido em três mecanismos específicos que ele chama de passagem através do espelho, dualidade entre o modelo ideal e o modelo prático da profissão e fase da conversão final.

Segundo Scott (2014, p. 42), os estudos de Hughes exploraram “os microprocessos pelos quais os indivíduos tentam limitar o poder das instituições”, identificando “as rachaduras, as lacunas nas estruturas sociais” que permitem que pacientes, estudantes ou outros participantes subordinados construam seus significados e obtenham alguma liberdade.

Já o cientista político Herbert Simon desenvolveu sua teoria do comportamento administrativo para contrariar e corrigir teorias econômicas convencionais que fizeram suposições heroicas e irracionais sobre a racionalidade individual. Para Simon (1965, p. 16), as organizações são importantes, primeiro porque somos “moldados” por organizações em que atuamos como profissionais, criando “qualidades e hábitos pessoais” e, segundo, porque elas proporcionam “os meios para exercer autoridade e influenciar os demais.

A importância de Simon, segundo Scott (2014), está em ser um dos primeiros teóricos a ligar os limites da capacidade cognitiva individual com as características da estrutura organizacional. Além disso, a ciência cognitiva, por si só, foi introduzida na teoria da organização por Herbert Simon e James March (DIMAGGIO; POWELL, 1991). Segundo Balestrin (2002), seu maior reconhecimento ocorreu a partir da refutação de alguns pressupostos basilares da economia neoclássica, fato que lhe rendeu o Prêmio Nobel em economia em 1978. Mais especificamente, dentro da área de estudos administrativos Simon é conhecido como o pai do behaviorismo. Segundo o mesmo autor (2001), Simon contribuiu significativamente para “[…] uma melhor compreensão do real comportamento humano no processo de tomada de decisão e resolução de problemas dentro das organizações” (BALESTRIN, 2002 p. 01).

Junto com March, Simon desenvolveu seus argumentos a respeito das maneiras em que as organizações moldam o comportamento dos participantes, elaborando programas do desempenho para dirigir o comportamento rotineiro. Para Simon, segundo Blau e Scott (1970, p. 51) “a função da organização é limitar o alcance das decisões que cada membro deve tomar e somente dessa maneira a racionalidade poderá ser aproximada”. De acordo com Schultz (2016), os meios para atingir essa racionalidade aproximada são: atribuição de responsabilidades, regras formais, canais de informação e treinamento, por exemplo.

Embora Simon tenha mantido a suposição de que as premissas de valor estão além do alcance do analista (são exógenas), ele desafiou a suposição de que os atores têm um

conhecimento completo dos meios e suas consequências. Simon, juntamente com outros autores, lançaram intensa luz para um melhor entendimento dos fenômenos organizacionais. Para Dimaggio e Powell (1991), os novos institucionalistas em teoria da organização têm uma grande dívida para com Simon e seus colaboradores, por terem ensinado que o hábito não deve ser visto como um elemento totalmente passivo no comportamento, mas como um meio pelo qual a atenção é dirigida a aspectos selecionados de uma situação, excluindo aspectos concorrentes que podem fazer a escolha seguir outro curso.

Considerando o surgimento, nos anos de 1960 e 1970, de um complexo de ideias que deram origem a “novas” abordagens institucionais, serão discutidas aquelas que vieram a ser reconhecidas como neoinstitucionalismo sociológico. Segundo DiMaggio e Powell (1991), o neoinstitucionalismo tem suas raízes no “velho institucionalismo” de Philip Selznick e seus associados; no entanto, ela se desvia substancialmente esta tradição. Para Scott (2014), eles não representam uma ruptura acentuada com o passado, embora haja novas ênfases e insights.

Para Carvalho e Vieira (2003), no campo sociológico, o novo institucionalismo surgiu

com os trabalhos de Meyer (1977), Meyer e Rowan (1992) e de Zucker (1977), apoiados no conceito de instituição desenvolvido por Berger e Luckmann (2004), ao sublinhar o papel das normas culturais e dos elementos do amplo contexto institucional, como as normas profissionais e os organismos do Estado no processo de institucionalização. Berger e Luckmann (2004) afirmam que a institucionalização está associada à formação humana, que é dependente da interação social, ocorrendo sempre que há uma tipificação recíproca de ações habituais por tipos de atores.

Para Meyer e Rowan (1992), a grande diferença entre institucionalismo econômico e sociológico é que enquanto a maioria dos economistas e cientistas políticos se concentra exclusivamente em regras econômicas ou políticas do jogo, sociólogos encontram as instituições em todos os lugares, de apertos de mão à criação de departamentos de planejamento estratégico por meio de casamentos. Para eles, as estruturas formais de muitas organizações refletem os mitos de seu ambiente institucionalizado em vez das reais necessidades das atividades de trabalho.

O mito da racionalidade, expresso por meio de regras institucionais racionalizadas, presentes em diferentes domínios da atividade, influencia a forma e a expansão da organização formal que incorpora tais regras como elementos estruturais: quanto maior o grau de modernização da sociedade, maior a presença das estruturas racionalizadas em dados domínios e maior o número de domínios com estruturas racionalizadas. Hinings e Tolbert (2008) afirmam que enquanto Meyer e Rowan preocupam-se com essa explicação para o

ambiente macro, Lynne Zucker vai enfatizar os microfundamentos das instituições, principalmente os aspectos cognitivos envolvidos em sua criação e transmissão.

Para Zucker (1983, p. 02), na tradição sociológica, a institucionalização é um “processo fenomenológico pela qual algumas relações e ações sociais venham a ser dado como certo e um estado de coisas em que o conhecimento compartilhado define o que tem significado e ações que são possíveis”. Zucker (1977) considera que conhecimentos sociais institucionalizados existem como fatos e como parte da realidade objetiva, podendo ser transmitidos diretamente nessas bases. Dessa forma, os indivíduos percebem atos institucionalizados como objetivos e exteriores, e, embora tais atos sejam socialmente criados, funcionam como regras objetivas, porque sua origem social é ignorada.

Um ponto a merecer destaque para esta pesquisa e abordado por Zucker (1977) tem relação com os múltiplos níveis de análise da teoria neoinstitucional. Para a autora, a partir da elaboração de Meyer (1977), a construção de indicadores para pesquisar instituições depende da qualidade do "fato social12”. Para Zucker (1987), o significado de instituição nas abordagens teóricas das organizações diz respeito a:

a) uma qualidade de fato social, do tipo de regra, de um padrão organizado de ação (exterior), e

b) uma incorporação em estruturas, como aspectos formais de organizações que não estão ligadas a específicos atores ou situações.

A partir dessa compreensão de instituição, a autora considera que na pesquisa na escola neoinstitucional prevalecem três níveis de análise, sendo eles o ambiente institucional mais amplo, outro nível de análise composto de diferentes organizações chamadas por DiMaggio e Powell (1991) de campo organizacional e a estrutura organizacional interna das próprias organizações. Aponta ainda que para cada nível a abrangência da definição com a qual se trabalha empiricamente, há fonte primária de institucionalização e as problemáticas decorrentes de cada perspectiva.

Zucker é tida por DiMaggio e Powell (1991) como a mais etnometodológica entre os neoinstitucionalistas, e sugere que muitas caracterizações são construídas desde o nível mais baixo dos participantes nas interações, uma vez que os laços interorganizacionais podem produzir elementos institucionais. Zucker (1987) afirma que a nível intermediário os laços

12 O Fato social é tratado pela autora tendo como referência a Emile Durkheim, que é aquilo que se reconhece

pelo poder de coerção externa que ele exerce ou é capaz de exercer sobre os indivíduos (DURKHEIM, 2007, p. 10).

interorganizacionais podem produzir elementos institucionais com outras organizações que podem levar à institucionalização de linhas de ação e resultados aceitáveis das transações.

O nível do contexto institucional é tido por Zucker (1987) como o poder definidor da “racionalização” e da elaboração do Estado. Esses contextos são construídos como uma consequência de um “projeto de Estado” muito mais amplo, relacionado à expansão da jurisdição estadual. Essa concepção concebe a ordem normativa coletiva, incluindo as profissões e os acordos generalizados compartilhados pelos membros dos campos organizacionais, como vinculados a uma ampla concepção do Estado.

Para Zucker (1987), a conformidade das organizações com a ordem normativa coletiva aumenta o fluxo de recursos da sociedade e aumenta as perspectivas de sobrevivência a longo prazo. Sendo assim, entendendo as instituições como fatos sociais, para a autora no contexto institucional os processos coercitivos são localizados no Estado ou na sociedade como um todo. A importância do contexto também e ressaltado por Pettigrew et al. (1985), que considera fundamental compreender o contexto em que se situam as organizações para poder entender suas estruturas e processos. Para o autor, o contexto modela as decisões que são tomadas e, desse modo, facilita a previsibilidade da ação organizacional.

Nesta tese considerou-se que as organizações estão sob restrições do contexto institucional, ou seja, regras globais e nacionais que funcionam como mitos altamente racionalizados, nas quais as lojas de alimentos orgânicos de Belém estão “inseridas”, e que foram estabelecidas previamente por um conjunto de atores relacionados ao Estado sob influência daqueles que compuseram o sistema agroalimentar da cidade. Por isso, definiu-se como um dos objetivos desta pesquisa compreender sua estruturação através de uma análise histórica da alimentação na cidade de Belém, visando compreender como “o projeto de Estado” conduziu a evolução que levou a concentração do abastecimento de alimentos nos supermercados, os elementos simbólicos presentes nessa evolução, identificar os participantes, além dos processos históricos e culturais constitutivos da alimentação na cidade que remetem ao contexto de inserção no bioma amazônico e a forma de ingresso da cidade no RAI.

Aqui ressalta-se a importância da escolha da abordagem dos regimes agroalimentares para explicar as transformações do sistema agroalimentar e analisar especificamente a trajetória da diversificação do mercado varejista de alimentos em Belém, que legitima a existência de lojas de orgânicos. Como já tratado no capítulo anterior, essa abordagem oferece referências importantes que podem ajudar a compreender esses processos a partir de uma perspectiva histórica, por isso, esta tese dedica um capítulo para tratar da inserção da cidade

nos regimes agroalimentares internacionais, tendo como fonte primária da institucionalização o Estado e o sistema mundial.

Além disso, Zucker (1987) chama a atenção de que as definições de ambiente institucional são tratadas de duas maneiras diferentes por diferentes autores. Na primeira definição as posições políticas, programas e procedimentos da organização moderna são manifestações de poderosas regras institucionais que funcionam como mitos altamente racionalizado, não explicáveis por contingências diretas de tarefas. Assim, as organizações se tornam uma “audiência” passiva para o conhecimento institucional porque as regras são formadas no sistema estadual ou mesmo mundial, externo e hierarquicamente superior à organização.

Este conceito de ambiente institucional abordado acima, para Peci (2003), é a própria definição de contexto institucional e apresenta-se como uma demarcação conceitual mais ampla do que a proposição de DiMaggio e Powell (1991), que estabelece o ambiente institucional como campo organizacional, composta daquelas organizações que, no agregado, constituem uma área reconhecida da vida institucional, definidas em termos de maior densidade de interação, fluxo de informações e identificação de membros.

Peci (2003) afirma que a maioria das pesquisas da escola institucional é orientada por uma perspectiva macro de análise. Além disso, o neoinstitucionalismo apresenta o problema chamado pelo autor de falácia ecológica, uma vez que perspectivas teóricas e empíricas privilegiam diferentes focos de análise, sem, no entanto, oferecerem um quadro conceitual que possa estabelecer as inter-relações necessárias entre esses níveis de análise. A tentativa de solução deste problema por esta tese está em associar a abordagem do regime agroalimentar para analisar o contexto como um dos níveis de análise e fazer uso de diferentes abordagens neoinstitucionalistas para analisar outro nível mais micro, tendo o cuidado de apresentar coerência adequada ao construtivismo social (BERGER; LUCKMANN, 2001).

A noção de instituições para DiMaggio e Powell (1991) é diferente da apresentada por