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2 A MODERNA COMERCIALIZAÇÃO CAPITALISTA DE ALIMENTOS

2.2 TENDÊNCIAS CONTEXTATÓRIAS AGROALIMENTARES URBANAS

Como foi abordado na seção anterior, há um crescente reconhecimento da multiplicidade de problemas associados ao regime alimentar prevalecente, tais como a desconfiança dos consumidores em alimentos agroindustrializados, a poluição ambiental, o aumento da obesidade e desnutrição, que provocou o surgimento de iniciativas tidas como respostas, o que inclui a ampliação das opções de acesso a diferentes alimentos e tipos de estabelecimento varejistas, tais como as lojas que comercializam os produtos orgânicos, objeto de investigação desta tese. Antes de iniciar as análises sobre as lojas de produtos orgânicos, esta seção tratará das tendências contestatórias ao RAI em curso, em algumas grandes cidades do mundo, que vão desde a ampliação de agricultura de base ecológica, passando pela produção local de alimentos, pelos estímulos aos produtos alimentícios não convencionais, pelo comércio construído sobre a ética da sustentabilidade, da justiça social, do bem estar animal, entre outras dinâmicas alimentares que visam deslegitimar a tendência à homogeneização da alimentação imposta pela indústria alimentícia em nível global e promover uma virada de qualidade no consumo de alimentos.

As tendências contestatórias à alimentação ultraprocessada pela indústria que compõem cadeias produtivas globais, geralmente é tratada na literatura atual pelo termo “alternativas agroalimentares” e são objeto de analises de diferentes autores que, além de analisarem de forma críticas o RAI, discutem as propostas em curso que têm emergido para sobrepujar a tendência padronizadora do abastecimento alimentar de produtos vindos principalmente da indústria globalizada. Tais iniciativas têm sido apresentadas mais recentemente por alguns autores como um agrupamento de ações articulado em rede, e tidas

por pesquisadores como Ploeg et al. (2000), ainda no final do século XX, como o lumiar de um novo paradigma do desenvolvimento rural.

A ideia de redes alternativas resulta de situação de profícuas inciativas que se articulam entre si e têm se mostrado bastante abrangentes, incluindo como componentes não apenas agricultores que produzem alimentos orgânicos ou agroecológicos como também agroindústrias, varejistas, consumidores, cozinheiros, pesquisadores, entre outros atores. Esse nível de abrangência e falta de precisão nos critérios sobre quais de fato são alternativos ou convencionais tem gerado críticas que apontam falhas na tentativa de diferenciação entre alternativos e convencionais, que permite de formas diversas que as poderosas forças de integração exercidas pela indústria de alimentos globalizada incorporem a ambição do movimento alternativo.

Uma pesquisa desenvolvida por Goodman (2003), que examinou uma coleção de artigos que tratavam de forma crítica os regimes agroalimentares e que adotavam o conceito

Alternative Food Networks (AFNs) – Redes de Alternativas Agroalimentares – aponta em sua

conclusão que esse conceito foi adotado na maioria dos trabalhos como noções intrinsecamente ambivalentes, contingentes e dinâmicas, ou seja, não sendo nada mais do que uma categoria genérica de análise acadêmica adotada para o estudo de alternativas ao modelo agroalimentar industrial. Para os autores que adotaram a concepção, ainda é um desafio a construção de conceitos que possa ser utilizado como uma “caixa de ferramentas” melhorada, a qual permita explorar a heterogeneidade das AFNs existentes.

Essas redes de alternativas, segundo Goodman et al. (2003), apesar da ambivalência conceitual, contemplam diferentes construções sociais associadas a ecologia, localidade, região, convenções de qualidade e culturas de consumo, que evoluíram de diferentes maneiras ao longo do tempo à medida que uma série de mudanças importantes se processaram nos regimes agroalimentares. Para Darolt et al. (2016), as redes alimentares alternativas são muito diversas e privilegiam os circuitos curtos de comercialização, incluindo feiras do produtor, entrega de cestas, pequenas lojas, venda na propriedade ligada ao agroturismo, venda institucional para alimentação escolar, entre outras formas de venda direta, conforme mostra a Figura 1.

Figura 1 – Principais circuitos de comercialização de produtos ecológicos no Brasil

Fonte: Adaptado de Darolt, Lamine e Brandemburg (2013).

A definição de cadeias curtas (short food supply chains – SFSC) é apresentada por vários autores. Silva (2016), ao investigar o tema, concluiu que o termo é adotado com distinções em trabalhos para se referir às cadeias que evidenciam a origem dos alimentos, a conexão com o consumidor, a partir dos quais criam-se referências sociais em torno dos alimentos e como oposição à produção agroindustrial clássica. Definição similar é dada por Scarabelot e Schneider (2012), que afirmam que a cadeias agroalimentares curtas remetem a formas de comercialização que expressam proximidade entre produtores e consumidores, não única e necessariamente no aspecto espacial, mas numa espécie de conexão que permite provocar interatividade, facilitando que ambos conheçam os propósitos um do outro.

No entanto, como já tratou Darolt et al. (2016) nem tudo que é tratado como alternativa aos regimes alimentares corporativos deve ser entendido como circuitos curtos estabelecidos localmente. A revisão de literatura realizada por Tregear (2011) aponta a possibilidade de que, além de enraizadas em lugares específicos, as redes de alternativas integrem através de intercâmbio produtos que incorporam os recursos naturais e/ou culturais de uma determinada localidade, mesmo que estes sejam vendidos ou consumidos a alguma distância da área de produção.

Segundo Renting, Marsden e Banks (2003), há uma variedade empírica de relações que podem ser estabelecidas entre consumidores, produtores e varejistas, quando está se tratando de circuitos curtos que podem ser divididos para melhor compreensão em duas

dimensões, sendo que uma diz respeito à sua estrutura organizacional e aos mecanismos específicos neles envolvidos para estender as relações em determinado tempo e espaço, e a outra dimensão trata das diferentes definições e convenções de qualidade envolvidas na construção e operação de SFSCs.

Segundo o autor, no que diz respeito à primeira dimensão, há três posições, correspondentes a diferentes mecanismos para estender cadeias curtas de comercialização, sendo elas:

a) interação face-a-face, em que os consumidores compram produtos diretamente do produtor ou processador e a autenticidade e confiança são mediadas através de interação pessoal;

b) proximidade com alcance além da interação direta, que é essencialmente baseada em relações mediadas por arranjos institucionais mais complexos;

c) cadeia espacialmente estendida, que alarga ainda mais o alcance dos SFSC para prolongar produtos que são vendidos a consumidores fora da região de produção e que podem não ter experiência pessoal naquela localidade, evidenciando que não é a distância sobre a qual um produto é transportado que define as cadeias curtas e as alternativas agroalimentares, e sim as informações carregadas de valor que o produto leva ao consumidor, como, por exemplo, os impressos em embalagens ou comunicado no ponto de varejo.

Com isso, evidencia-se a possibilidade de o consumidor estabelecer ligações com o alimento tidos como alternativos produzido em dada localidade e, consequentemente, como os valores das pessoas envolvidas e métodos de produção utilizados, mesmo estando a grande distância. Para Renting, Marsden e Banks (2003), as definições de qualidade específicas e convenções envolvidas nas operações das redes alimentares alternativas são uma segunda dimensão empírica das SFSCs que podem ser classificadas ou caracterizadas por critérios de qualidade, regionais, artesanais e ecológico-naturais. A tradução bem-sucedida de informações permite que os produtos se diferenciem de mercadorias mais anônimas e gerem lucros extras, caso a informação codificada seja considerada valiosa pelos consumidores.

De fato há diferentes considerações de sustentabilidade postas em conflito uma com o outra, já que não há evidência clara de que um “carrinho de compras” preenchido por produtos locais, ou um preenchido de orgânico de cadeia curtas espacialmente estendidas em todos os contextos, tem menor impacto ambiental do que um convencional. Além disso, é necessário um olhar para medidas mais amplas e precisas, não exclusivamente ambientais (como a segurança alimentar, oportunidades para agricultores familiares, qualidade

nutricional etc.) se um regime alternativo pretende propor um desenvolvimento sustentável mais coerente com sua narrativa. Marsden (2010) chama a atenção para a necessidade de reconhecer que, mesmo com graus significativos de sucesso, existem exemplos de SFSCs espacialmente estendidos de tipos ecológicos de produção (como orgânicos) que podem ser vítimas de apropriação por varejistas e outras preocupações do agronegócio.

Apesar de pesquisadores, especialmente na Europa, sugerirem que a localização está diretamente relacionada com a possibilidade de desenvolvimento rural e de sustentabilidade, os que não concordam tendem a afirmar que cada vez mais a localização tornou-se uma palavra-chave, muitas vezes de contraponto à globalização e não necessariamente aos RAI. De fato, a contabilização de milhas alimentares reforça a lógica ambiental da adoção do “local”. No entanto, segundo Hinrichs (2003), avaliar plenamente os efeitos, distância e proximidade nos setores alimentares requer procedimentos complexos de avaliação do ciclo de vida que, em última instância, requer informações que ainda hoje estão indisponíveis. Além disso, ao analisarem grandes cidades do norte global, Morgan e Sonnino (2010) afirmam claramente que elas não serão capazes de alimentar-se unicamente através de produtos alimentares locais, dada a sua dimensão e diversidade étnica.

Feitos esses esclarecimentos, como o foco deste estudo é a organização do sistema agroalimentar em grandes cidades, pois interessa compreender quais processos permitem incorporar estratégias alimentares alternativas em áreas urbanas. Morgan e Sonnino (2010), que experiências que tiveram como lócus Nova York e Londres, ambas com imensas populações, consideram que grandes cidades se encontram na vanguarda da “nova equação alimentar”9

, tanto por razões ecológicas quanto por razões políticas.

No Brasil, investigações realizadas por Darolt, Lamine e Brandemburg (2013) sobre algumas capitais do país apontam que a maioria dos consumidores de produtos orgânicos (72%) ainda os compram em supermercados. Mais recentemente, em 2017, uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa e Opinião Pública Market Analysis em parceria com o Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (ORGANIS10) em nove grandes cidades brasileiras das regiões nordeste, centro-oeste, sul e sudeste apontou que 64% da

9 Morgan e Sonnino (2010), que criaram a expressão “nova equação alimentar”, admitem ser difícil dar uma

definição genérica ao termo, mas a associam à ideia de crise do sistema agroalimentar capitalista.

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Organização formada por fazendas, indústrias alimentícias, de artesanato, de cosméticos, de máquinas, certificadoras, consultoria e varejo de alimentos orgânicos, que busca articular seus membros com varejistas de diversas regiões do mundo interessados na compra de produtos orgânicos e tidos como sustentáveis, assim como tentar captar capital financeiro de fundos de private equity interessados em investir no setor (PACHECO, 2017).

comercialização de orgânicos é realizada através de supermercados, seguidos pelas feiras com 26%, lojas com 4%, direto do produtor 3% e 1% através de compras coletivas.

Esse dado apresentado por Darolt, Lamine e Brandemburg (2013) e Organis (2017) demonstram que uma porcentagem significativa de pessoas que buscam alternativas alimentares nas grandes cidades brasileiras o fazem por meio de cadeias espacialmente estendidas, uma vez que a preferências de local de consumo é o supermercados em todas grandes cidades do Brasil das quatro regiões pesquisadas, mesmo naquelas cidades em que no seu entorno pouco se produz orgânicos, o que reforça a caracterização feita por Wiskerke (2010) de que tais cadeias alimentares alternativas são desconexas e marcadas pela desincorporação do lugar. Aos produtos e produtores locais ou regionais é dada pouca importância, desvinculando assim quem está na agricultura de quem está no consumo. Guthman (2004) denomina esse fenômeno de “convencionalização” dos orgânicos, em que os produtos consumidos mantêm relações de produção e distribuição, focando mudanças apenas no uso de insumos para usufruir do elevado valor acrescentado.

Morgan e Sonnino (2010) afirmam que nos últimos anos os governos das cidades no norte global têm estado na vanguarda dos esforços de saúde pública para conter a crescente onda de obesidade. Cidades como Londres e Nova York, segundo os autores, adotaram iniciativas mais holística para a sustentabilidade, onde saúde, meio ambiente e patrimônio são consideradamente e igualmente importantes. Esta parece ser a tendência geral na Europa e na América do Norte, que são os pioneiros de estratégias alimentares urbanas.

As experiências urbanas de alternativas ao RAI têm sido diversas e segue como estratégia, segundo Morgan e Sonnino (2010), encontrar um equilíbrio entre a localização de suas cadeias alimentares, o consumo de alimentos sazonais e a compra de alimentos de longas distâncias, onde o objetivo deve ser o de promover o uso de produtos de comércio justo de regiões com baixos indicadores de desenvolvimento e sustentáveis. O Quadro 2 organiza quatro experiências relatadas por alguns estudos de casos que envolvem o abastecimento alternativo de alimentos em grandes cidades, sendo duas nos EUA (uma na costa leste e outra na costa oeste) e uma na Europa e outra no Brasil. Após análises dos estudos, pôde-se identificar algumas dimensões comuns das cadeias de abastecimento de alimentos alternativos, embora, como veremos adiante, sejam muito dependentes do contexto.

Quadro 2 – Características de algumas políticas para alimentação em quatro diferentes cidades em três continentes e três países Cidade Escala de decisão

sobre a política alimentar

Padrões nutricionais Estímulo a Agricultura Urbana

Ações no Varejo Ações voltadas as crianças Ações de divulgação Apoio aos agricultores rurais São Fra n cisco ( E UA) Local: Conselho encarregado de garantir que os princípios da diretriz executiva sejam transformados em leis. Oferta de alimentos escolhas saudáveis. Tais como: eliminação de gordura trans, limite para calorias provenientes de gordura total, açúcares, teor de sódio e gorduras saturadas. Oferta de água entre as bebidas e leite.

Disponibilidade de áreas urbanas para produção e técnicos com apoio em diversos níveis. Acesso a materiais e ferramentas de horticultura. Organização de eventos comunitários. Incentivos fiscais, regulamentar racionalização ou outras políticas para recrutar e incubar novas empresas do sector alimentar e garantir a permanência das existentes. 30.000 refeições e lanches diariamente, principalmente para estudantes de famílias de baixa renda. Marketing crescente para valorização de produtos agrícolas regionais, sazonalidade, de origem local e saudável. Apoio à criação e revisão de regulamentos para garantir um acesso equitativo aos alimentos locais. Compra de alimentos locais para hospitais da cidade. L o n d res ( In g later ra ) Local: Criação de conselho municipal que trata de questões alimentares em toda capital formado por especialistas.

Evitar dietas ricas em gorduras saturadas e sal.

Promover projetos comunitários de horticultura. Prover acesso à terra para a comunidade.

Apoio aos mercados locais e pequenas lojas de varejo para melhorar o acesso a alimentos frescos, frutas e vegetais sustentável em áreas de baixa renda, através de subsídios e apoio às pequenas e empresas de alimentos. Criação de supermercado social vendendo comida a preços acessíveis em lojas.

Criação do Programa Criança Saudável: Melhorar a qualidade nutricional das refeições escolares e o número de alunos que as comem. Aumentar o número de escolas que participam em visitas a fazendas / cidades. Estimular as habilidades parentais de cozinhar. Programa de formação para a alimentação em escolas, hospitais e prisões Comprar alimentos de forma colaborativa de agricultores. No v a Yo rk ( E UA) Escala Federal. Estadual e com menos poder municipal. Estímulo à oferta de fruta, legumes frescos e leite de baixa gordura, proibição de gorduras trans em restaurantes. Criação do programa GreenThumb administra, educa e apoia jardins comunitários e agricultura urbana. Criação do programa

Healthy Bodega (Bodega Saudável) que ajuda no

estoque mais de 400 lojas interessadas em promover frutas, legumes e alimentos locais. Inciativas como

Green Carts (carrinhos

verdes) criou 1.000 novas

Programa ajuda as crianças a desenvolverem hábitos alimentares saudáveis desde cedo, apoiando jardinagem nas pré-escolas e fornecendo educação nutricional no local e demonstrações de culinária para pais, funcionários e

Programa de divulgação se concentra em ações na escola e em jornais e sites que noticiam o programa. Compra de alimentos nutritivos para programas de serviço social, tais como que atende departamento veteranos e hospitais de até 643 km de distância.

Fonte: elaborado pelo autor (2018).

licenças para vendedores ambulantes que vendem exclusivamente frutas e vegetais frescos. membros da comunidade C u ritib a (PR ) Federal, Municipal e principalmente o setor privado.

Guia Alimentar para a População Brasileira, que apela para a redução de consumo de alimentos ultraprocessados, com muito sal, gordura e açúcar (apenas em 2014).

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Criação do Mercado Municipal de Orgânicos de Curitiba

Criação do PAA, PNAE

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Criação do PAA e PNAE, programas de compra governamental que adquire no mínimo 30% de alimentos de agricultores familiares.

Em São Francisco, na costa oeste do EUA, cidade com população estimada em 2016 de 870.887 habitantes (BUREAU, 2016), foi criada em 2009 uma política alimentar bem abrangente visando atender com alimentos mais seguros, nutritivos, incorporados à cultura, com elementos essenciais à saúde humana e à sustentabilidade ecológica. O programa partiu do reconhecimento que tanto a fome, a insegurança alimentar e má nutrição como questões que deveriam ser prioritárias para a cidade, de acordo com a prefeitura (DEPARTMENT OF PUBLIC HEALT, 2010). Para isso, o primeiro passo foi a política da cidade instituir como princípios que o sistema agroalimentar municipal deveria promover a saúde pública, a sustentabilidade ambiental e a responsabilidade social, através da eliminação da fome e garantindo o acesso a alimentos saudáveis aos residentes. Sendo assim, com a criação de uma política específica para alimentação, institui-se ações de estímulo à agricultura regional, gerando oportunidades para produtores agrícolas regionais e de educação para qualificá-los. Para Morgan e Sonnino (2010), a política alimentar da cidade, além de ser a primeira política de alimentos urbanos verdadeiramente abrangente nos EUA, é notável por três outras razões:

a) foi elaborada com o envolvimento das partes interessadas;

b) está “unida” no sentido de que se aplicar a todos os departamentos da prefeitura; e c) contém várias ações obrigatórias que são limitadas no tempo.

A política foi executada a partir da criação de fundos que adotaram critérios nutricionais de desembolso para aquisição de qualquer alimento e para a execução de financiamento de programas alimentícios. Os programas oferecem estímulos ao acesso a alimentos mais equilibrados nutricionalmente, à agricultura urbana, aos alimentos regionalizados, à alimentação escolar e de garantia de estabilidade econômica para as empresas de alimentos sustentáveis. Assim como o fundo estimula ações de combate à fome, de restrições ao acesso de menores de 19 anos aos alimentos ricos em gorduras, sal e açúcares e financia campanhas de marketing social, reconhecendo a importância de apoiar as iniciativas da política.

Ainda nos Estados Unidos, desta vez na cidade de Nova York, na costa leste, o relatório elaborado pelo New York City Council (2009) cita que os problemas associados à obesidade e ao sobrepeso atingiram proporções gravíssimas, provocados por mudanças de estilos de vida que levam os habitantes da cidade a comer demais, mas principalmente pela facilidade de acesso à alimentos altamente processados, gordurosos e açucarados, tanto pela proximidade quanto pelo preço, em detrimentos de produtos in natura frescos, principalmente nos bairros de negros e latinos. Segundo o departamento de planejamento da cidade, entre três

e quartos milhões de nova-iorquinos têm dificuldade de acesso a produtos frescos em bairros que têm uma superabundância de opções de fast food.

Tendo como referência as preocupações externadas no relatório sobre a escassez de lojas que vendem frutas e legumes frescos em muitos bairros pobres, a prefeitura da cidade aumentou a oferta desses alimentos em estabelecimentos tradicionais como mercearias e bodegas e lançou uma iniciativa chamada programa “Green Cart” (carrinhos verdes) para fornecer produtos frescos. Em apenas um ano do programa de oferta de frutas e verduras em bairros mais pobres da cidade, a porcentagem de adultos que disseram não comer frutas ou vegetais caiu de 19% em 2009 para 15% em 2010 (Black, 2012).

Especialmente o programa Green Cart de Nova York está se tornando rapidamente um modelo para outras cidades americanas. Apesar do relativo sucesso do programa, a iniciativa contou com forte oposição principalmente vinda de urbanistas preocupados com o congestionamento nas calçadas e nas estações de metrô movimentadas e pequenos comerciantes que se opunham a novos concorrentes que não tinham que pagar altos aluguéis.

A política alimentar de Nova York, em grande medida é determinada por decisões do governo federal e do setor privado, o que reduz a autonomia da cidade voltada para ações de redução da fome e de aumento da disponibilidade de alimentos saudáveis. Em nível nacional, grande parte da discussão sobre a melhoria do acesso aos alimentos centrou-se na forma de