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Segundo Vidal (2003), a instrução da demanda é a etapa em que se permite passar da percepção dos problemas de produção à indicação daquilo que a Ergonomia pode contribuir para solucioná-los. É como se desenvolve o problema em questão, do surgimento até a definição da proposta de ação ergonômica.

O início desta pesquisa teve origem no desenvolvimento de um trabalho de alguns estudantes de graduação – do curso de Engenharia de Produção – junto ao Núcleo de Produção Rendeiras da Vila em 2005 (DINIZ et al, 2005). O seu objetivo, até então, propunha-se analisar a forma de organização do trabalho artesanal e suas repercussões para o produto, produção, mercado e para a população de trabalho, a fim de cumprir os requisitos da disciplina de Organização do Trabalho, componente curricular do curso de Engenharia de Produção da UFRN. Em 2006, outros alunos da graduação deram continuidade aos estudos, gerando artigos (SILVA et al, 2006) que foram publicados em congressos nacionais (ENEGEP e ABERGO, 2006) e apresentados nas disciplinas do mestrado, despertando no autor desta dissertação o interesse em se integrar ao grupo, a fim de dar continuidade às problematizações e ampliar as pesquisas. Os principais motivos que nortearam a construção da demanda foram:

a) a produção artesanal se configura como um importante campo de estudo dentro da Engenharia de Produção e do Design de Produto;

b) o Núcleo de Produção se apresenta como espaço de produção artesanal informal, carente de melhorias, podendo vir a ser um importante laboratório para pesquisa e desenvolvimento, através da aplicação dos conhecimentos da Ergonomia, Engenharia de Produção e Design;

Figura 5-40 – Instrução da demanda (Oficina de Design) Fonte: Adaptado de Saldanha (2004, p.95)

c) a possibilidade de gerar benefícios e contribuições sociais às rendeiras;

d) receptividade por parte das rendeiras em receber a equipe de pesquisadores e contribuir com o trabalho.

As pesquisas preliminares desenvolvidas pelos alunos da graduação em conjunto com os estudos teóricos geraram hipóteses de demandas que passaram a ser alvo de análise da equipe, dando origem ao Projeto Rendeiras da Vila. Durante as reuniões de pesquisa, pensava-se em possibilidades de busca de apoio financeiro externo que pudesse viabilizar algumas ações no Núcleo, como também que se configurasse como uma oportunidade de remuneração para o mestrando – face ao fato da indisponibilidade de bolsas de mestrado até o momento.

Nas busca por apoio financeiro em órgãos de fomento ao artesanato na cidade, foi verificado em um destes órgãos que uma Oficina de Design estaria programada para acontecer em julho de 2006, junto às rendeiras da Vila de Ponta Negra. Essa oficina seria financiada por uma fundação de apoio ao desenvolvimento turístico do Nordeste e apoiada por uma entidade local, por meio do recrutamento do instrutor e fornecimento da matéria-prima. O autor desta dissertação seria, então, o instrutor da referida oficina. O esquema a seguir (Figura 5-40) ilustra a instrução da demanda real de trabalho.

A tabela 5-8 apresenta a cronologia dos acontecimentos que fizeram parte da instrução de demanda.

Tabela 5-8 – Cronologia dos acontecimentos da demanda de trabalho Fonte: Adaptado de Saldanha (2004)

PERÍODO

(2005/2006) FATOS

1º semestre de 2005 1º Trabalho realizado no Núcleo de Produção Artesanal pelos alunos da

disciplina de Organização do Trabalho.

1º semestre de 2006 2ª trabalho sobre as Rendeiras da Vila, realizado por uma nova equipe de

alunos da graduação, e publicação de artigos em congressos.

Maio de 2006 Apresentação do trabalho sobre o Projeto Rendeiras da Vila aos alunos do

mestrado, na disciplina de Análise Ergonômica do Trabalho I.

Interesse do autor desta dissertação em participar das atividades e focar a dissertação nesse tema.

Início de Junho 2006 Início da procura por entidades que pudessem apoiar as atividades do

grupo de pesquisas com recursos financeiros e outros apoios.

Visita ao SEBRAE/RN e recebimento da informação sobre a possibilidade de realização de uma Oficina de Design com as rendeiras.

14 de Junho 2006 Recebimento de e-mail do SEBRAE confirmando a realização da Oficina de

Design e a participação do autor desta dissertação como instrutor da mesma.

20 de Junho 2006 Reunião da orientadora com os alunos de graduação e os alunos de mestrado

para definição de plano de trabalhos, como base na confirmação da realização da oficina.

22 de Junho 2006 Primeiro contato da equipe de pesquisadores com as rendeiras.

30 de Junho 2006 Visita do mestrando ao Artesanarte, sede de representação da prefeitura

junto aos artesãos de Natal, a fim de estabelecer contatos com as pessoas responsáveis pela viabilização da oficina no Núcleo de Produção e confirmar as datas para realização desta.

30 de Junho 2006 Visita do mestrando ao Núcleo de Produção com os representantes da

prefeitura para confirmar o interesse das rendeiras em receber a Oficina de Design.

Agendamento da reunião com o grupo de rendeiras convidadas a participar da oficina para o dia 04 de julho.

04 de Julho 2006 Reunião com as rendeiras do Núcleo para apresentação do

instrutor/consultor e agendamento da oficina para o período de 18 a 31 de julho, das 13h30min às 17h. Foram inscritas 24 rendeiras.

11 e 12 de Julho 2006 Visitas do instrutor ao Núcleo de Produção para conhecimento da produção e estudo dos desenhos da renda.

14 de Julho 2006 Visita à casa do artesão citado pelas rendeiras como o criador dos desenhos

em computador na cidade de São Miguel de Gostoso/RN para conhecimento dos desenhos e registro de informações sobre a renda de bilro.

15 a 17 de Julho 2006 Criação de novos desenhos em computador para serem utilizados na oficina.

18 de Julho 2006 Início da oficina.

31 de Julho 2006 Encerramento da oficina.

5.1.1 Restrições e Critérios da demanda externa (Oficina de Design)

O objetivo da oficina era a criação e concepção de novos produtos, com maior valor agregado e que se apresentassem como uma nova alternativa de comercialização para as

rendeiras, partindo da premissa de utilização da renda de bilro como um detalhe a ser inserido em outros artigos industrializados (camisetas, bolsas, tapetes, etc.).

Para realização da oficina, algumas restrições foram colocadas pelo órgão financiador:

a) abranger o mínimo de 20 rendeiras da mesma região; b) duração de 1 semana, totalizando 40 horas (8 horas diárias);

c) produzir o máximo de peças possíveis, diferenciadas das tradicionais já produzidas pelas rendeiras (saia, vestido, blusas, etc.).

Entretanto, foram necessárias algumas modificações e regulações para viabilizar a realização da oficina no Núcleo de Produção:

a) número de integrantes: apenas 6 rendeiras freqüentavam o Núcleo de forma efetiva, tornando-se necessário agregar outras participantes da Vila de Ponta Negra;

b) duração e jornada diária: o Núcleo de Produção funciona apenas no período da tarde. Além disso, as artesãs conciliam o ofício da renda com outras tarefas, dentre as quais as domésticas, dificultando sua permanência na oficina em 8 horas/diárias. Nesse caso, as atividades da oficina se estenderam para duas semanas, sendo 4 horas diárias;

c) ferramentas e instrumentos de trabalho: algumas das rendeiras externas ao Núcleo não possuíam almofadas e bilros, o que foi resolvido através da disponibilização desse material no Núcleo e de rendeiras que realizam paralelamente a atividade em suas residências, possuindo instrumentos de trabalhos duplicados ou triplicados;

d) habilidade, experiência e conhecimento da arte de rendar, bastante diferenciados entre as participantes da oficina, tornando-se fundamental o papel das rendeiras mais experientes do grupo na condução das atividades. Não houve recomendações da instituição financiadora com relação ao método de realização da oficina. A decisão de se fazer aplicações de renda em outros produtos se deu pelo instrutor, por ser esta uma prática já comum em intervenções de design no artesanato e como forma de agilizar e otimizar o trabalho, já que a produção da renda é muito lenta.

Após essas regulações, deu-se então início ao processo de construção social da oficina, incluindo o conhecimento do Núcleo e das pessoas envolvidas na ação.