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1.4. O Ministério Público e a Sociedade

1.4.5. Interesses Individuais Homogêneos

São aqueles decorrentes de origem comum (artigo 81, III, do Código do Consumidor), Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990119. Como bem define Antônio Gidi, essa categoria de direitos consiste em um feixe de direitos subjetivos individuais, marcado pela nota da divisibilidade, de que é titular uma comunidade de pessoas indeterminadas, mas determináveis, cuja origem está em alegações de questões comuns de fato ou de direitos120”.

De acordo com a definição do Código de Defesa do Consumidor, percebe-se que os interesses individuais homogêneos são aqueles de grupo, categoria ou classe de pessoas determinadas ou determináveis, que compartilhem prejuízos divisíveis, de origem comum, normalmente oriundos das mesmas circunstâncias de fato. Mas em sentido lato, os interesses individuais homogêneos não deixam de ser também interesses coletivos. A homogeneidade e a origem comum são os requisitos para o tratamento coletivo desses direitos.

Por conseguinte, são os que dizem respeito a um número determinado de pessoas, titulares de objetos divisíveis e que estão ligados entre si por um vínculo fático, decorrente da origem comum das lesões.

Embora sejam diferentes dos interesses difusos por terem sujeitos determinados ou determináveis e objeto divisível, possuem características semelhantes com os coletivos: a determinação dos sujeitos, e com os difusos: o vínculo fático.

Hugo Mazzilli, como exemplo de interesses individuais homogêneos, assim expressa:

“Suponhamos os compradores de veículos produzidos com o mesmo defeito de série. Sem dúvida, há uma relação jurídica comum subjacente entre os consumidores, mas o que os liga no prejuízo sofrido não é a relação jurídica em si (como ocorre quando se trate de interesses coletivos, como uma ação que vise a combater uma cláusula abusiva em contrato de adesão), mas sim é antes o fato de que compraram carros do mesmo lote produzido com o defeito em série (interesses individuais homogêneos) sendo que cada integrante do grupo tem direito divisível à reparação coletiva121”.

119 GRINOVER, Ada Pellegrini, et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor. Op. cit.

120 GIDI, Antônio, apud YOSHIDA, Consuelo Yatsuda Moromizato. Tutela dos interesses difusos e coletivos. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2006, p. 11.

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Logo, os direitos individuais homogêneos têm caráter predominantemente individualizado, são perfeitamente divisíveis entre os titulares, há ordenamento da relação de titularidade com o bem da vida violado ou disputado, e este também, por sua vez, é perfeitamente distribuído e individualizado entre os titulares que, no entanto, podem postular a proteção jurisdicional coletivamente, em face da origem comum do direito afirmado.

No que tange à possibilidade de tutelar os direitos individuais homogêneos, difusos e coletivos, veja o que diz o art. 103, inciso III, e § 1º do Código de Defesa do Consumidor122:

A grande novidade que diversos diplomas legais, dentre os quais o Código do Consumidor tem trazido ao sistema processual é a de, ao permitir a tutela coletiva dos direitos elencados no artigo 81, I a III123, alterar esse sistema de coisa julgada.

Deve ser lembrado que a coisa julgada, para o Código do Consumidor, é diferente da coisa julgada tal como tutelada pelo Código de Processo Civil. Acerca dos seus efeitos Everton Costa tece os seguintes comentários:

“De início cabe novamente ressaltar que os efeitos da coisa julgada nas ações coletivas de proteção a direito difuso será erga omnes, mas somente terá valor e será estendido a todas as pessoas se o pedido for julgado procedente ou improcedente, isto é, somente se for analisado o seu mérito com as respectivas provas produzidas adequadamente. Na primeira hipótese, ou seja, o da procedência, segundo os ensinamentos de Rizato Nunes, todos os consumidores se aproveitarão da sentença definitiva, inclusive para fazer pleitos individuais. Na outra, ou seja, a de improcedência, o que está impedida é a propositura de nova ação coletiva, mas não fica impedido o ajuizamento de ações individuais. No caso de improcedência por insuficiência de provas, a sentença não produz efeito erga omnes e poderá a

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CDC, Art. 103 - Nas ações coletivas de que trata este Código, a sentença fará coisa julgada:

III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do artigo 81.

§ 1º - Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e direitos individuais dos

integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.

Art. 104 CDC - As ações coletivas, previstas nos incisos I e II do parágrafo único do artigo 81, não induzem

litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

123 CDC, Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

ação coletiva ser novamente proposta por qualquer legitimado, inserindo nesse rol até a própria entidade que promoveu a ação anterior124”.

Consuelo Yoshida caracteriza e diferencia as três modalidades de direitos e interesses meta ou transindividuais, definindo-os da seguinte forma:

“Os direitos e interesses difusos caracterizam-se pela indivisibilidade de seu objeto (elemento objetivo) e pela indeterminação de seus titulares (elemento subjetivo), que estão ligados entre si por circunstâncias de fato (elemento comum). Já os direitos e interesses coletivos caracterizam-se pela indivisibilidade de seu objeto (elemento objetivo) e pela determinabilidade de seus titulares (elemento subjetivo), que estão ligados entre si, ou com a parte contrária por uma relação jurídica-base (elemento comum). Os direitos e interesses individuais homogêneos, por sua vez, caracterizam-se pela divisibilidade de seu objeto (elemento objetivo) e pela determinabilidade de seus titulares (elemento subjetivo), decorrendo a homogeneidade da “origem comum” (elemento comum) 125.