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1.4. O Ministério Público e a Sociedade

1.4.6. Legitimidade do Ministério Público na defesa dos

Segundo o art. 129, III da Constituição Federal Brasileira, o Órgão do Ministério Público tem legitimidade para promover inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos126.

Por conseguinte, a Constituição não trata expressamente da legitimação do órgão ministerial para defesa dos interesses individuais homogêneos, conceituados no art. 81 § único, inciso III do Código de Defesa do Consumidor.

Por outro lado, o artigo 82 do mesmo diploma legal supra, prevê tal legitimidade, que, sem dúvida, é o que tem promovido o maior número de ações coletivas destinadas à defesa dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores.

O Ministério Público só está legitimado para a defesa dos interesses individuais homogêneos, que sejam também indisponíveis ou de tal vulto que interessem toda a

124 COSTA, Everton Leandro da. A Coisa Julgada nas Ações Coletivas Sob o Prisma do Código de Defesa do

Consumidor. Disponível em: http://www.tex.pro.br/tex/listagem-de-artigos/324-artigos-abr-2011/8054-a-coisa-

julgada-nas-acoes-coletivas-sob-o-prisma-do-codigo-de-defesa-do-consumidor. Acesso em: 15/11/2011.

125 YOSHIDA, Consuelo Yatsuda Moromizato. Tutela dos interesses difusos e coletivos. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2006, p. 3-4.

126 PINTO, Antônio Luiz de Toledo; VAZ, Márcia Cristina e CÉSPEDES, Lívia. Código Civil e Constituição

sociedade. Com exceção desses casos, não há motivo para a sua participação, seja como autor, seja como fiscal da lei127.

A legitimidade do Ministério Público para a ação coletiva visando à defesa de interesses coletivos e individuais homogêneos pode ser observada na análise do art. 127, já mencionado. Assim, o Ministério Público só terá legitimidade para defender essas modalidades de interesses quando tal defesa harmonizar-se com a destinação institucional (art.127, CF), que se verifica quando ela convém à coletividade como um todo. “Isto ocorre nos casos em que há extraordinária dispersão de lesados, que envolvem a defesa da saúde ou segurança dos consumidores ou em que a intervenção ministerial é necessária para assegurar o funcionamento de um sistema econômico, social ou jurídico128”.

Na mesma linha de pensamento acentua Consuelo Yoshida o seguinte:

“A legitimidade ad causam ativa e o interesse processual do Ministério Público na tutela jurisdicional coletiva dos interesses materiais envolvidos de forma mediata, e não apenas do número elevado de beneficiários da tutela jurisdicional invocada: a tutela do Estado Democrático de Direito em face da violação em massa da ordem jurídica (bem difuso); a tutela da cidadania e da dignidade da pessoa humana em face da lesão em massa, individualmente experimentada e aferível, do direito (difuso) à habitação, transporte coletivo, educação e ensino, saúde, previdência e assistência sociais129”.

Os interesses individuais homogêneos, apesar de serem essencialmente individuais, são tutelados pelo Estado. Contudo, para que seja caracterizada essa tutela, deve ficar caracterizada sua homogeneidade. Portanto, sua dimensão coletiva deve prevalecer sobre a individual. Na ausência desta prevalência, os direitos serão heterogêneos, embora tenham origem comum, o que, para Ada Grinover, apud David Costa Benevides, “inviabilizaria sua tutela em face da falta de previsão do ordenamento jurídico brasileiro, levando à impossibilidade jurídica do pedido130”.

Deve-se destacar ainda a Lei Complementar 75/1993, de 20 de maio, que dispõe sobre a organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União, a qual confere

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GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Op. cit., p.70

128 MAZZILLI, Hugo Nigro. Revista dos Tribunais apud: A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. 6. ed. 95/97.

São Paulo: 1994. p. 47. 129 YOSHIDA, Consuelo. Op. cit., p.19

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ao Ministério Público competência para promover o inquérito civil e a ação civil pública para proteção de interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos (art. 6º, VII, d) e para propor ação civil coletiva para a defesa de interesses individuais homogêneos (art. 6º, XII).

Eis o que dizem os dispositivos supracitados: Art. 6º Compete ao Ministério Público da União: d) outros interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos; XII - propor ação civil coletiva para defesa de interesses131.

Para a defesa de interesses individuais homogêneos, há doutrinadores que defendem a impossibilidade de uma lei ordinária ampliar a esfera de atuação e competência fixada pela Constituição Federal, que tratou apenas dos interesses difusos e coletivos, não fazendo referência aos interesses individuais homogêneos.

Há divergências entre a doutrina e a jurisprudência sobre a legitimidade do Ministério Público para tutelar os interesses individuais homogêneos.

Entretanto, conforme já mencionado anteriormente, o Órgão do Ministério Público tem legitimidade para promover a defesa dos interesses sociais individuais indisponíveis, da ordem jurídica e do regime democrático, com fundamento no art. 129, III, da Constituição Federal/88.

Por sua vez, os Tribunais têm defendido a legitimidade do Ministério Público, mesmo que se trate de direitos homogêneos de natureza patrimonial, exigindo, porém, a relevância social dos interesses em jogo.

Não obstante a Constituição Federal não tratar expressamente da legitimação do

Parquet para defender os interesses individuais homogêneos, o art. 82, do Código de Defesa

do Consumidor, e o art. 6º, XXII, da Lei Complementar nº. 75/93 conferem esse encargo.

É importante lembrar que atualmente prevalece na doutrina brasileira uma justiça efetiva e social. Logo, o Ministério Público, como representante legal da sociedade, exerce

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um papel de suma importância na área da infância e da juventude. Deve lutar em prol da sociedade, fazendo valer os mecanismos de tutela efetiva do cidadão comum, evitando o descrédito na justiça, ajuizando ações civis públicas que beneficiem o interesse da coletividade.

Hugo Mazzilli condiciona a defesa dos interesses individuais homogêneos pelo Ministério Público à sua relevância social. Segundo ele, os interesses devem ser de suficiente expressão ou abrangência coletiva132.

A verdade é que, como afirma Motauri Ciocchetti,

“em que pesem divergências doutrinárias e jurisprudenciais com relação aos interesses individuais homogêneos, decorrentes, dentre outros motivos, do fato de que mencionados interesses não constavam do art. 129, III, da CF, a tendência atual é a de se admitir a legitimidade ativa do Ministério Público para tutelá-los, tendo em vista o disposto no art. 91 do CDC133”.

Ressalta Motauri, em seguida, que “a legitimidade do Ministério Público para tutelar interesses individuais homogêneos dependerá sempre da indisponibilidade destes, nos termos do art. 127, caput, da CF134”. Para ele, um exemplo típico de interesses individuais homogêneos que podem ser tutelados pela instituição é o da inexistência, na rede pública de ensino, de vagas para duzentos menores com sete anos de idade. É importante ressaltarmos que tais números não são atuais, o quadro mudou consideravelmente nestes últimos anos.

Com efeito, o Ministério Público possui legitimidade para tutelar interesses individuais, coletivos e difusos, desde que indisponíveis.

Newton Ramos Neto, em relação ao tema em questão, assevera:

“Vê-se que o Ministério Público foi incumbido da tarefa de zelar pelo interesse público, consubstanciado nas hipóteses de ameaça ou lesão a direitos individuais indisponíveis ou direitos metaindividuais, aqueles em face de sua conotação de indisponibilidade e estes em virtude de sua

132 MAZZILLI, Hugo Nigro. Introdução ao Ministério Público. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1988, p. 64. 133

SOUZA, Motauri Ciocchetti de. Ação Civil Pública e Inquérito Civil. São Paulo: Saraiva, 2001, p.40.

Art. 91 CDC: Os legitimados de que trata o Art. 82 poderão propor, em nome próprio e no interesse das vítimas

ou seus sucessores, ação civil coletiva de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos, de acordo com o disposto nos artigos seguintes.

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dispersão no meio social a exigir uma tutela homogênea. Dessa forma, cabe a atuação do Parquet sempre que um ato seja do Poder Público, seja de particulares - seja bens ou direitos com reflexos no meio social. Nota-se assim, que o critério que deve nortear a distinção entre onde cabe ou não a intervenção do Ministério Público é exatamente a repercussão social da violação jurídica em face da extensão do dano causado, o que decorre, ao nosso ver, do papel desenvolvido pelo órgão ministerial em nossa sociedade. Quando se fala em proteção de direitos coletivos stricto sensu ou de direitos difusos, maiores controvérsias não suscitam a questão da legitimidade do Parquet, até mesmo em virtude da existência de expressa previsão constitucional”. (art. 129, III, CF)135”.

Segundo Nelson Nery Júnior e Rosa Maria Nery

“Nada obstante a norma comentada mencione apenas os direitos difusos e coletivos aplicam-se as disposições processuais da LACP (Lei de Ação Civil Pública) bem como do Título III do CDC (Código de Defesa do Consumidor) às ações coletivas que versem sobre outros direitos individuais homogêneos, como é o caso, por exemplo, da lide dos contribuintes em relação ao fisco no tocante a determinação do imposto (...) O que legitima o Ministério Público a ajuizar ação na defesa de direitos individuais homogêneos não é a natureza destes mesmos direitos, mas a circunstância de sua defesa ser feita por meio de ação coletiva. A propositura de ação coletiva é de interesse social, cuja defesa é mister institucional do MP (CF, art. 121 caput), razão porque é constitucional o CDC, art. 82, I, que legitima o MP (Ministério Público) a mover ação coletiva na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos136”.