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Interpretante Energético

No documento marinaaparecidasadalbuquerquedecarvalho (páginas 177-182)

5.5 Resultados

5.5.2 Interpretante Energético

5.5.2.1 Dimensão da linguagem

Entrando no interpretante energético, na dimensão da linguagem, perguntamos aos usuários se eles conseguiam interagir com os elementos quando solicitado (tabela 8). Ressaltamos que as GRMs não deixam espaço para uma interação mútua (PRIMO, 2003) ou uma interatividade comunicacional (ROST, 2014), pois os usuários apenas podem percorrer os caminhos da hipermídia ou reagir aos elementos propostos, ficando aí caracterizada mais uma interação reativa (PRIMO, 2003) ou uma interatividade seletiva (ROST, 2014). A maioria dos respondentes de ambas as publicações respondeu que sim, consegue interagir, apenas três da Folha e dois de O Tempo disseram que não. Na Folha, os comentários apontaram que as interações são lógicas e intuitivas e que, como os elementos são essenciais, precisam ser de fácil interação. Outros disseram que a interação facilita a ordem de leitura que se deseja fazer e sempre abre os vídeos.

Esmeraldo Pereira diz que consegue interagir com todos os elementos, mas recomenda cautela na utilização dos vídeos, porque nem sempre é possível assisti-los e pode se perder algo da matéria se neles estiverem conteúdos essenciais para a compreensão. “Acredito que quando se tem um real interesse pelo assunto, se pode acessar esses elementos sem prejudicar a leitura do texto. No entanto, em algumas matérias onlines, já acessei somente os elementos interativos e deixei parte do texto", relata Marcela Rochetti Arcoverde, 24 anos, do Rio de Janeiro (RJ).

Em relação à resposta talvez, dada por três participantes, Thales Eliopoulos Junior, 22 anos, de Lavras (MG), reclama do software, dizendo que muitas vezes ele não atende ao comando. Wilson Alviano Junior, 51 anos, de Juiz de Fora (MG) diz: “acabam sendo diversos cadernos sobre um tema e as idas e vindas nem sempre são conexas”. Já Danilo Pedrini respondeu sobre a forma como interage: se distrai se o áudio ou o vídeo for muito demorado e considera que um game é melhor nesse sentido, pois promove maior interatividade.

Os catorze leitores de O Tempo que conseguem interagir, concordam que a interação é bem intuitiva, "A prática corriqueira na internet nos ensina a como proceder com cada elemento informativo", explica David Emanuel de Souza Coelho, 29 anos, de Belo Horizonte (MG). Marcone Costa também se diz habituado a ler notícias, mas considera que, para quem não tem costume, a interação pode ser mais difícil. Rita de Cássia Clemence e Áurea Rodrigues apresentam-se como curiosas e, assim, interagem ainda que apareça alguma dificuldade ou que não gostem de tecnologias, como no caso de Áurea.

Raissa Rezende explica que, se o recurso é oferecido, então ela utiliza para melhor compreensão do assunto. Adriele Flávia Mendes comenta: “se o site estiver corretamente programado para facilitar a usabilidade é possível navegar e entender os cliques necessários. Em algumas situações podemos ficar perdidos". Já Debora Braga, 34 anos, de Belo Horizonte (MG), respondeu que talvez porque prefere interações objetivas. “Caso contrário saio do link e não leio", conclui. Já Cláudio Lage admite que nem sempre interage.

5.5.2.2 Dimensão da tecnologia

Na dimensão da tecnologia, a navegação também não é dificuldade para a maioria (tabela 8): na Folha, apenas três responderam que talvez tenham dificuldade e somente um diz não ter facilidade, enquanto, em O Tempo, apenas dois talvez não consigam navegar, sendo que o restante não possui dificuldade alguma. Na Folha, a explicação para isso é o fácil manuseio, costume com a tecnologia ou familiaridade por causa da internet e informações acessíveis em uma navegação que sempre funciona bem e de forma lógica, apesar de um deles dizer que esse estilo requer tempo para leitura.

“As interfaces das publicações são simples, lógicas e autoexplicativas”, complementa Gade, 28 anos, de Manaus (AM). Marco José de Souza Almeida, 43 anos, de São João Nepomuceno (MG), comenta que “através de um controle interativo e com a disposição certa dos elementos na tela fica fácil a recepção dessas informações”. Já Ricardo Olivatto explica que é profissional da tecnologia, daí sua facilidade. Thiago Zampiva respondeu talvez, alegando que, algumas vezes, a navegação é confusa, enquanto Josias Fernandes Alves, 47 anos, de Varginha (MG), reclama que a rolagem de tela é lenta. Isaac Turiano Sales, 31 anos, de Recife (PE), diz que “as vezes muitos elementos atrapalham”. Só Thales Eliopoulos Junior disse possuir dificuldade, justificando da mesma forma que explicou por que não consegue interagir bem: software ruim que não atende aos comandos.

Em O Tempo, os motivos da fácil navegação são: também é intuitiva, com layouts simples, algo corriqueiro da internet. Um dos respondentes diz que a navegação é simples se

os elementos forem bem construídos e outro compreende a fácil navegação como a possibilidade de acesso por meio de várias plataformas. Assim como Ricardo Ollivato, Raissa Rezende diz ter facilidade devido a sua formação, sem especificar qual é. Para Adriele Flávia Mendes, o site em que ela navegou está com boa usabilidade, permitindo fácil acesso.

“Não tenho dificuldade, mas acho cansativo o uso de vários elementos numa reportagem”, explica Rita de Cássia Clemence. Já Simone Morgon respondeu talvez por causa da quantidade de códigos: “Se a reportagem tiver elementos em excesso podemos nos perder em meio a tantas informações. As vezes o menos se torna mais. Acho que deve ser ponderado a quantidade de informações”, comenta. Debora Braga, que também optou por talvez, compreendeu a pergunta como o tipo de reportagem pela qual não navegaria, respondendo: “quando a reportagem vem com um tipo de adivinhe, acho cansativo e não leio. Ex: mãe descobre algo terrível com filha após... Parece sensacionalista”.

Ainda na dimensão da tecnologia, o que pode atrapalhar a navegação é a velocidade da internet (tabela 8). Apenas quatro usuários da Folha e dois de O Tempo disseram que não se sentem incomodados com isso, resultados que estão de acordo com o que disseram os profissionais de design e desenvolvimento das duas publicações. Em geral, os leitores dizem que preferem nem acessar ou desistem da leitura, caso a internet seja lenta, e, assim, a preferência é pelo Wi-fi. Reclamam ainda que, com velocidade limitada, é mais difícil ver vídeos, os quais muitas vezes são deixados de lado, e há quem diga que, nesse caso, prefere os textos. Relatam ainda que, se a reportagem demora para carregar, a compreensão da mensagem é dificultada, e que o problema seria resolvido caso houvesse a opção de download. Outros dizem que, se a internet estiver ruim, salvam a matéria para ler depois, mas acabam esquecendo.

Fora os problemas com a internet, sobre o percurso realizado para percorrer a matéria (tabela 8), a maioria navega com facilidade seguindo uma ordem própria e não a proposta de capítulos, textos, e demais códigos, conforme previu Marcelo Soares. É o que fazem doze respondentes da Folha e onze de O Tempo, os quais geralmente procuram o que acham mais interessante primeiro. “As vezes procuro as informações mais atraentes, como um infográfico, primeiro para poder ter uma noção sobre o assunto da matéria, se me envolver eu leio o texto e assisto os vídeos”, exemplifica Tatiana Sakuma, que respondeu o questionário da Folha. Gade diz que as partes introdutórias geralmente se repetem no corpo do texto e, por isso, ele pula a introdução. Samuel Rusche, 33 anos, de São Paulo (SP) alega que estudou comunicação e sabe a posição das melhores informações; Neusa Maria da Cruz Silva, 54, de

São Paulo (SP) e Danilo Pedrini dizem que nem sempre a fórmula proposta é mais fácil, clara ou coerente.

Em O Tempo, os usuários além de procurarem o que consideram mais interessante, dizem seguir a intuição e fazer um caminho buscando elementos que facilitem a compreensão. “Vejo o que mais chama minha atenção. Se não for fácil entender, sigo a ordem”, completa Janaína de Paula Miranda, 46 anos, de Contagem (MG). Já Francisleila Melo Santos, 35 anos, de Timóteo (MG) alega que “a leitura dinâmica melhora a compreensão e a memorização” e Raissa Rezende justifica que “nossa mente não é linear” e suspeita que seja esse o motivo por escolher um caminho próprio.

Em segundo lugar, aparecem os usuários que dizem mesclar a forma proposta de navegação com uma própria: são nove na Folha e três em O Tempo, com uma justificativa similar ao dos que navegam com mais liberdade, ou seja, procuram pelo que mais interessa. Na Folha, Esmeraldo Pereira diz que, como os textos são longos, ele procura primeiro ter uma visão geral, buscar pelo mais interessante, para depois entrar em detalhes. “Quando o tema me interessa, procuro ler mais cuidadosamente e sigo o caminho normal. Quando é desinteressante muitas vezes só vejo os infográficos”, conclui. Para Ricardo Olivatto, a navegação é realizada de acordo com a necessidade de compreensão de cada assunto. “Há momentos em que acaba sendo mais fácil interligar pontos que tenham sido colocados separados na reportagem", explica. Já José Geraldo Moura, 63 anos, de Sorocaba (SP), diz que, por ser engenheiro, compreende bem os números, como uma taxa ou coeficiente linear, e por isso, dispensaria ver isso em um gráfico.

Por fim, Antonio Carlos de Oliveira Pinto, 46 anos, de Londrina (PR) resume: “Estes recursos me possibilitam navegar por onde eu achar mais interessante, ou caso eu queira, também posso seguir a ordem proposta. Acho que, neste caso, tudo se resume em flexibilidade e liberdade de navegação”. Em O Tempo, Debora Braga diz que a forma como percorre a reportagem varia de acordo com o assunto: “tem matérias que vou direto para os vídeos, exemplo a respeito de economia, matemática prefiro assistir os videos como explicações, por memorizar mais fácil”, alega.

Sobre os que disseram seguir o caminho proposto, dois da Folha e dois de O Tempo justificam que é a forma mais fácil de compreender a reportagem. Na Folha, Thales Eliopoulos Junior diz que é uma navegação lógica. Já em O Tempo, Gelton Pinto Coelho Filho, 41 anos, de Belo Horizonte (MG), relata que geralmente lê a matéria toda. “Portanto, a medida em que vídeos ou imagens aparecem, eu paro para complementar a informação", explica.

5.5.2.3 Dimensão da linguagem e da tecnologia

Na intercessão entre as dimensões da linguagem e da tecnologia,ninguém utilizou ferramentas para modificar a reportagem (tabela 8), como o Photoshop para a construção de memes a partir de imagens dessa reportagem ou partes de textos para construir suas próprias mensagens em blogs ou redes sociais.

5.5.2.4 Dimensão dos Processos de Interação e dos Processos de produção e difusão

Sobre os comentários ou compartilhamento das matérias (tabela 8), como os formulários foram enviados para usuários que compartilharam a matéria no Facebook ou fizeram comentários em postagens sobe as reportagens, todos praticaram esses atos, alguns também no Twitter ou em seu site próprio84. A maior parte deles diz que a motivação era o tema interessante, ainda pouco explorado, e, por isso, queriam difundir entre amigos e demais pessoas, de forma a divulgar e gerar troca de ideias ou debate sobre o assunto.

Em O Tempo, Simone Salustiano Pereira Morgon, por exemplo, compartilhou a matéria “Era Uma Vez um Pequeno Guerreiro” para alertar sobre câncer infantil, pois sua filha teve a doença aos seis anos e foi curada pelo rápido diagnóstico. Marcela Arcoverde compartilhou O Golpe e a Ditadura e acrescenta: “A motivação principal foi a imensa contribuição dessa matéria para a manutenção de uma memória histórica que parece estar sendo esquecida”. No entanto, sobre a mesma matéria, Thales Eliopoulos Junior diz: “É um bom material e mostra um pouco da ditadura, entretanto apenas o que é conveniente pra empresa”.

Outros usuários disseram que gostam de expor seu ponto de vista ou se identificam com o tema da reportagem. Há os que quiseram elogiar o trabalho, conforme mostrou a pesquisa de Ito e Ventura (2016), enquanto outros dizem que as informações são relevantes para a compreensão do tema e que a abordagem foi direta e acessível. Também houve comentários e compartilhamentos para protestar contra o descaso ambiental, em A Batalha de Belo Monte ou em Um Adeus ao Rio Doce. Três justificativas giram ainda em torno de a matéria estar relacionada ao tema de estudo do usuário ou à disciplina que ministra.

84 Apesar disso, quatro usuários de O Tempo e três da Folha parecem ter esquecido que comentaram ou compartilharam, pois responderam que não atuaram dessa forma.

No documento marinaaparecidasadalbuquerquedecarvalho (páginas 177-182)