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Tempo disponibilizado para a produção

No documento marinaaparecidasadalbuquerquedecarvalho (páginas 55-57)

2.2 O grau de prioridade do jornalismo multicódigos para a empresa jornalística

2.2.1 Tempo disponibilizado para a produção

Em geral, grandes reportagens especiais são planejadas, produzidas e editadas durante meses, por isso, nem todos os profissionais se dedicam 100% do tempo durante toda a produção. Pelo menos, é desta forma que acontece em relação ao Tudo Sobre na Folha de S. Paulo. Segundo o repórter especial Marcelo Leite, A Batalha de Belo Monte levou dez meses para ser concluída; já na reportagem Desmatamento Zero, foram quatro meses de trabalho e não foi durante todo o processo dessas reportagens que Marcelo ficou por conta delas. “Mas, especialmente na reta final, no mês final antes da publicação, é comum que eu fique 90%, 100% dedicado ao meu trabalho”, explica.

Marcelo Leite esclarece que, já ao final do projeto, quando a matéria está para ser publicada, requer uma dedicação mais exclusiva, porque o processo de edição é mais delicado. “Tem que juntar texto com vídeo, enfim, tem toda uma parte de programação. Precisa ter pelo menos uma pessoa dedicada a isso”, acrescenta. Durante a produção, ele explica que, em alguns momentos, diferentes profissionais precisam trabalhar somente com o projeto, como o jornalista durante as viagens.

O repórter Marcelo Soares relata que acompanhou todo o processo de construção de A Batalha de Belo Monte, mas que a parte destinada a ele (linha do tempo ao final da reportagem) foi produzida apenas ao final de todo o projeto. “Eu só produzi no final, porque eu tinha que fazer minhas outras coisas, exceto dois dias que eu fiquei focado só nisso”, explica.

Na equipe de Design e Desenvolvimento da Folha, quando se trata de Tudo Sobre, sempre um profissional fica somente por conta da reportagem, contando com um auxiliar. Rogério Pilker, por exemplo, ficou 100% dedicado em A Batalha de Belo Monte, sem fazer

nada relativo às notícias diárias. Somente se há uma emergência, esse programador ou infografista cumpre demandas do dia. Além disso, Ângelo Dias explica que essa pessoa também pode ser requisitada quando produziu algo que precisa ser atualizado e, por isso, é mais fácil se ela própria realizar os ajustes. A equipe ressalta, ainda, que, na verdade, apesar de serem duas pessoas mais focadas no Tudo Sobe, toda a equipe acaba ajudando e participando. “Quanto mais perto da data de entrega, mais gente se envolve. No começo, é uma pessoa só. Dois dias antes, está todo mundo nisso”, conclui Ângelo.

Já o ex-editor de vídeo da Folha, Douglas Lambert, disse que acumulou seu serviço diário com a edição do audiovisual em A Batalha de Belo Monte. Segundo Douglas, para trabalhar no especial, ele precisou dividir seu serviço: segunda e terça-feira, dedicava-se à reportagem e, no restante da semana, fechava o programa da TV Folha50. Isso perdurou até um mês antes da publicação da matéria, em 15 de dezembro de 2013, quando ele argumentou que precisava se dedicar integralmente ao projeto para que ficasse pronto. O pedido foi atendido, mas, segundo Douglas, com algumas condições: além de editar o vídeo para a GRM, ele teria de preparar uma reportagem de seis a oito minutos para o programa da TV Folha. Na realidade, o editor acabou produzindo três vídeos para o programa e um especial de meia-hora para o primeiro programa de janeiro de 2014, o qual foi editado posteriormente, entre o Natal e o fim da primeira quinzena de janeiro. A dedicação mais exclusiva ao Tudo Sobre foi alcançada somente posteriormente, de acordo com Douglas, quando ele assumiu um cargo de chefia e ofereceu essa oportunidade aos editores de vídeo.

Em O Tempo, há alguns profissionais mais específicos para as GRMs e que, portanto, se dedicam mais à produção desses tipos de matéria. Como dito anteriormente, a webdesigner Aline Medeiros é destinada à programação dos especiais, mas, mesmo assim, muitas vezes acaba sendo interrompida, porque a demanda de serviço é grande. “É muita correria. Estava montando um especial, já me pararam, por conta do acidente51. Tem essas coisas também, da rotina, que vão adiando, vai demorando, atrasando”, explica.

A repórter Natália Oliveira é do online e, no site, tem como função a produção de especiais e hotsites. Assim, de acordo com Natália, ela possui mais tempo para isso, porém, dependendo dos acontecimentos, precisa auxiliar nas matérias do dia. “(...) Mas nada que atrapalhe o processo. Por exemplo, O Menino de Abrigo ficamos quase três meses fazendo, um dia ou outro eu acabo ficando nas notícias diárias, não tem como”, esclarece.

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“A TV Folha é o braço audiovisual do jornal Folha de S.Paulo. O material produzido pela equipe é publicado no site da Folha e exibido em um programa semanal na TV Cultura” (TV Folha, 2017).

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A entrevista foi realizada no dia do desastre de avião com a equipe do time de futebol Chapecoense, na Colômbia, em 29 de novembro de 2016.

Assim como Natália, o construtor de animações Bruno Grossi também é mais destinado às reportagens especiais e, por isso, Bruno só trabalha com assuntos diários quando todo o restante da equipe está muito atarefado. “Eu acho ótimo, porque acaba que eu tenho mais liberdade, mais tempo para pensar e fazer um trabalho melhor”, diz.

No entanto, essa não é a realidade dos profissionais que fazem cobertura de assuntos factuais e acumulam o trabalho com especiais. De acordo com o secretário de redação Murilo Rocha, o repórter pode ficar dois dias somente por conta do especial. Se o material for muito grande, no máximo cinco dias, com o editor apressando o serviço, por causa da falta de pessoal e do grande volume de notícias factuais. Assim, a orientação é para que o repórter, enquanto apura, já pense no formato da matéria, no tipo de edição e de códigos que serão utilizados, de forma a agilizar a finalização da reportagem. A webdesigner Aline conta, inclusive, que muitos jornalistas desenvolvem as reportagens fora do trabalho, porque, devido à equipe reduzida, há a necessidade de se manter a rotina diária.

No documento marinaaparecidasadalbuquerquedecarvalho (páginas 55-57)