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Interpretante Lógico

No documento marinaaparecidasadalbuquerquedecarvalho (páginas 182-185)

5.5 Resultados

5.5.3 Interpretante Lógico

5.5.3.1 Dimensão Estética

Entrando no interpretante lógico, perguntamos a opinião dos usuários sobre a qualidade das artes, fotos e vídeos das GRMs (tabela 8). Na Folha, treze avaliam como ótimos, nove como bons e um como regular, resultado próximo de O Tempo, em que oito consideram ótimos, sete bons e um regular. Assim, todos souberam opinar, ainda que pudessem marcar a opção “Não sei dizer” no formulário.

5.5.3.2 Dimensão dos Processos de produção e difusão

Sobre a produção e construção da reportagem, em ambos os jornais, a maioria dos respondentes não sabe sobre o tempo e dinheiro gasto nem sobre as ferramentas utilizadas (tabela 8). Somente oito da Folha responderam que possuem alguma noção sobre o assunto: Ricardo Olivatto, por exemplo, diz ter ideia por ser profissional de TI. Já Josias Alves e Emanuel Frazão comentam dos altos custos para produção de imagens e recursos audiovisuais, não só com equipamentos, mas também com profissionais. Esmeraldo Pereira acredita que é demorado e, pelas ferramentas utilizadas, calcula um custo alto. Marcela Arcoverde diz ter uma ideia sobre tempo e custos para essas reportagens, mas, para ela, não são condizentes com o trabalho de uma redação online.

Já Marco Almeida é mais firme em sua posição e ressalta o caráter multiplataforma das produções que, por isso, demandam “vários profissionais com tempo e modos diferentes de trabalho que tendem a ser bem dispendiosos”. Outro que tem uma opinião bem formada é Gustavo Ozeika: “São necessários uma equipe enorme e qualificada, softwares de ponta e razoável tempo para produzir um material como os analisados”, diz. Leandro de Souza, 36 anos, de Bauru (SP), argumenta que compreende tanto os gastos para esse tipo de produção, que acaba se perguntando sobre “o futuro do financiamento das reportagens”.

Em O Tempo, os que possuem algum conhecimento sobre a produção alegam que leem muito sobre o assunto ou sabem sobre programação e metodologia de trabalho; outro afirma que se gasta muito tempo e deve haver muita habilidade com as ferramentas. Com conhecimento mais específico, Adriele Flávia Mendes comenta sobre a programação do site que pode ser feita com “linguagens como HTML5, PHP, entre outros”. Raissa Rezende diz que foram feitas imagens áreas e, por isso, houve a necessidade de alugar helicóptero, o que, segundo ela, tem alto custo. Também comenta sobre as câmeras filmadoras e fotográficas de

qualidade, programas específicos de edição e um profissional especializado para fazer esses serviços, concluindo que houve gastos “com transporte, microfones e toda uma parafernália para gravações de vídeo".

Alguns dos quinze respondentes da Folha e onze de O Tempo, que dizem não ter conhecimento sobre o assunto, comentam que imaginam ter sido gastos muito dinheiro e tempo, mas não sabem quanto. Marcone Costa, usuário de O Tempo, declara não ter ideia, mas acha que, pelo o que viu na matéria Menino de Abrigo, deve ter demorado dois anos para ficar pronta. Outro leitor disse que só se prende ao assunto. Já Áurea Judith Rodrigues comenta não saber sobre programação, mas tem noção de que existem pessoas qualificadas para isso e se mostrou disposta a pagar o preço por esse tipo de informação.

5.5.3.3 Dimensão da Ideologia e valores

Sobre as opiniões e pontos de vista defendidos nas matérias estudadas (tabela 8), doze respondentes da Folha reconhecem que existiram, cinco disseram que não e seis que talvez. Em O Tempo, os usuários ficaram divididos entre a presença de um viés do jornal, sete responderam que sim, enquanto outros sete pensam que talvez e somente dois disseram não haver.

Na Folha, quem reconheceu a presença de um ponto de vista, alegou que todo discurso carrega uma ideologia, que as reportagens sofrem influência do editor chefe e do jornalista, que é impossível uma reportagem imparcial ou sem um ponto de vista particular, que todo meio de comunicação segue um viés e que, por serem formadores de opinião, apresentam pontos de vista. Tatiana Sakuma comenta que é difícil escrever sem ponto de vista, porque as próprias fontes fornecem um direcionamento à matéria. Esmeraldo Pereira diz que os títulos das GRMs estudadas já trazem a ideia de conflito. Para ele, Crime Sem Castigo apresenta um julgamento e o lead85 de A Batalha de Belo Monte enfoca as partes prejudicadas e não a necessidade de construção de hidrelétricas. Marco Almeida lembra: “todo canal de comunicação que depende de publicidades empresariais agrega uma tendência de omissão ou favorecimento à empresa patrocinadora”. Já Emanuel Frazão diz que A Folha tem uma ideologia de esquerda, apesar de não ter percebido na matéria em questão e Gustavo Ozeika, que os especiais da empresa têm um posicionamento claro, sem, no entanto, descrever qual é tal posicionamento.

85 O lead, ou lide na forma aportuguesada, é a “abertura de texto jornalístico, na qual se apresenta sucintamente o assunto ou se destaca o fato essencial, o clímax da história” (LIDE, 2002, p. 33).

Quem respondeu talvez, justificou que, em alguns momentos, transparece uma interpretação ou que, em um matéria escrita por várias pessoas, como as estudadas, autores podem dar opiniões. Bruno Prado explica que a opinião não foi o destaque da matéria, mas reconhece que todo veículo segue uma linha editorial. Já Josias Alves comenta: “no caso da denúncia de contrabando, no caso dos cigarros, a matéria pareceu-me com um enfoque de defesa da indústria nacional”,

Os que responderam não ter observado um ponto de vista, alegaram que as reportagens apresentam dois lados e trazem visões diferentes. Isaac Sales reconhece que algumas matérias são tendenciosas, mas que não foi o caso. Antonio Carlos Pinto diz que a Folha foi imparcial, acrescentando que esse é o papel de qualquer jornal para deixar que o leitor faça sua reflexão e opine. Samuel Rusche diz que a Folha tem um viés conservador, mas que isso não ocorre nesses especiais:

"Em geral, a Folha tem um ponto de vista extremamente conservador, porém, surpreendentemente nessas matérias exclusivas eles fazem o bom jornalismo, aquele que investiga e informa e a direção do jornal não as utiliza para chantagear ou trocar favores com os envolvidos na matéria”. Já em O Tempo, uma metade dos usuários diz que o jornalismo não é neutro, que sempre há um posicionamento, que toda reportagem tem a opinião do autor e que uma publicação defende os interesses da população para ganhar leitores. Simone Salustiano Pereira Morgon percebe um posicionamento claro em Era uma Vez um Pequeno Guerreiro, a importância do diagnóstico precoce do câncer infantil, sem citar, no entanto, empresas ou ideologias favorecidas, como alguns leitores da Folha fizeram.

Aqueles que responderam talvez, justificaram que todo veículo defende um ponto de vista, ainda que sutilmente, e que o próprio jornalista possui sua opinião; reconhecem a dificuldade de um jornalismo não tendencioso, mas dizem que o assunto das matérias estudadas teve bom direcionamento. Enquanto uns solicitam mais imparcialidade em algumas matérias e charges, outros pedem mais clareza de posicionamento.

Raissa Rezende esclarece que o jornalista tenta ser imparcial, mas tem opinião, exemplificando com um vídeo de Um Adeus ao Rio Doce, que, para ela, é construído de forma a favorecer as famílias prejudicadas em detrimento da mineradora. Já Gelton Pinto Coelho Filho considera que, se houve posicionamento, estava em consonância com as ideias dele. Já os que disseram não perceber um ponto de vista, defenderam que a realidade foi mostrada como é e que a informação foi apenas divulgada, cabendo ao usuário a interpretação.

No documento marinaaparecidasadalbuquerquedecarvalho (páginas 182-185)