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II. PROGRESSO TÉCNICO NA PERIFERIA CAPITALISTA: DEPENDÊNCIA TECNOLÓGICA NA INDUSTRIALIZAÇÃO

II.1. O Progresso Técnico no Desenvolvimento Capitalista

II.1.4. Joseph Schumpeter: progresso técnico e concorrência

Em J. Schumpeter, o progresso técnico apresenta-se de forma imediata como resultando da concorrência intercapitalista. Os capitais estão sempre à busca de lucros extraordinários a partir da introdução de novos métodos e formas de produção e, neste sentido, assumem um caráter “evolucionista”. Assim J. Schumpeter descreve esta “compulsão”:

O capitalismo é, portanto, por sua própria natureza uma forma ou método de mudança econômica [grifo nosso] e não somente nunca está estacionário, como nunca poderia estar.... O ponto essencial é compreender que, em se tratando do capitalismo estamos lidando com um processo evolucionista [...]. Este caráter [...] não se deve apenas ao fato de que a vida econômica se modifica num ambiente social e natural que muda e estas mudanças alteram os dados[...]. Nem ele advém do aumento quase automático da população e do capital ou então dos caprichos dos sistemas monetários [...]. O impulso fundamental que dá partida e mantém em funcionamento o motor capitalista resulta dos novos bens de consumo, dos novos métodos de produção ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de organização que a empresa capitalista gera. (Schumpeter, 1975: 82/83)

Essa passagem, do livro Capitalismo, Socialismo e Democracia, assinala, na mesma orientação de K. Marx, a condição de que o capitalismo é um sistema econômico comandado por suas próprias leis internas. Sua evolução depende não de fatores externos ou fortuitos, mas de um “motor” interno que por necessidade se impõe: a busca permanente de inovações por parte da empresa capitalista, núcleo fundamental da organização econômica capitalista e sujeita à feroz competição nos mercados. Os processos de mudança implicam verdadeiras “mutações industriais” (conceito que empresta explicitamente à biologia), que “incessantemente revolucionam a estrutura econômica por dentro, incessantemente destruindo a anterior e gerando a nova. O processo de Destruição Criadora é o fato essencial do capitalismo” (idem, ibidem: 83). O sistema capitalista é, portanto, um sistema intrinsecamente contraditório, contradição ditada por suas próprias leis internas. O uso da terminologia marxista para sumarizar o pensamento de Schumpeter busca mostrar quanta compatibilidade há, na verdade, entre K. Marx e ele, no que se refere às leis mais gerais do capitalismo5, fato aliás reconhecido explicitamente por este último.

Por outra parte, o mesmo trecho acima citado mostra que sua visão da inovação não se restringe apenas a processos físicos. Ela abarca também mudanças no mercado, na gestão da empresa, na organização da produção e até nos aspectos que estão fora da órbita produtiva stricto

sensu. Seu conceito de inovação é bastante amplo e implica necessariamente a realização de

combinações novas nas empresas, mas é preciso que elas venham a ter repercussões na vida econômica da empresa. A introdução de inovações altera as regras do jogo do mercado de forma permanente e provoca necessariamente rearranjos no sistema econômico.

Na busca por lucros extraordinários, as empresas se lançam em árdua luta competitiva empregando todos os recursos disponíveis. Não se trata apenas do uso do barateamento dos produtos, ainda que por efeito da introdução de progresso técnico. A concorrência não se observa apenas nos preços. A disputa é sem trégua e o processo de concorrência se apresenta não somente como fato presente, mas como “ameaça onipresente” em que é preciso antecipar o futuro e estabelecer estratégias de negócio para não desaparecer “sob o vendaval perene da destruição criativa” (idem: 87). Nessa disputa, as empresas são conduzidas a adotar novos tipos de organização que, para J. Schumpeter, seriam “a unidade de controle em larga escala” (idem: 84). A tendência à oligopolização/monopolização das empresas seria inexorável tal qual para K. Marx, uma vez que a capacidade da grande empresa de captar recursos financeiros, de estabelecer estratégias de longo prazo, e, do que nos interessa mais de perto, de financiar as inovaçõesi é muito superior. Para ele, as “práticas monopolistas” são um fenômeno positivo, além de tendencial, da economia capitalista, uma vez que tendem a adotar métodos superiores de produção.

J. Schumpeter compartilha, ademais - embora por razões diversas e com outros contornos, com a visão de que o sistema capitalista, em processo de crescente concentração de capital, tende inexoravelmente a encontrar limites à sua contínua expansão. Não se trata, discute ele explicitamente, de que as “oportunidades de investimento” estariam em “desaparecimento”, seja pela falta de novos mercados externos para se expandir, seja pela pletora de capitais fixos (aproximadamente o conceito de superacumulação de K. Marx), seja pela constatação de que as grandes empresas trariam uma “forma petrificada de capitalismo”. Não seriam, enfim, por quaisquer razões que Schumpeter atribuía a K. Marx e aos marxistas. Tampouco admite ele qualquer esgotamento das fronteiras tecnológicas, uma vez que “as possibilidades tecnológicas são um oceano não mapeado” (Schumpeter, 1975: 113/118). Na verdade, os limites intrínsecos ao

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Lembrando-se que “Schumpeter claramente distinguiu invenção, inovação e difusão. A invenção é um novo descobrimento; a inovação é a introdução deste novo descobrimento no sistema econômico, gerando um novo produto ou processo; e a difusão é o espraiamento da inovação” Vermulm (1994: 10)..

capitalismo adviriam, por uma parte, de seu próprio sucesso, e que ocorreria pelo desvanecimento do empresário empreendedor, pela burocratização de suas funções no seio da grande empresa, pelo distanciamento entre propriedade e função, e pela dissolução das proteções à oposição política e externa dos não incluídos na máquina racional capitalistai. E conclui: “Assim, o mesmo processo econômico que solapa a posição da burguesia, reduzindo a importância das funções dos empresários e capitalistas, destruindo as camadas e instituições protetoras, criando uma atmosfera de hostilidade, também decompõe por dentro as forças motrizes do capitalismo”. (Schumpeter, 1975: 161-162)ii.

É interessante perseguir um pouco mais o significado da perda de importância do empreendedor que se segue ao agigantamento da unidade empresarial. O progresso tecnológico, adverte J. Schumpeter, é obra de um tipo especial de agente econômico cujas “energias”, “personalidade”, “aptidões” e “força de vontade” combinam-se para “fazer coisas novas” e “conseguir que as coisas sejam feitas”. Esse empreendedor, que na linguagem schumpeteriana é o empresário, tem suas funções diminuídas à medida que a inovação se rotiniza na grande empresa, tornando-se “assunto de equipes de especialistas treinados que criam o que lhes é pedido e fazem- no funcionar de maneira previsível [...]. Assim, o progresso econômico tende a se tornar despersonalizado e automatizado” (Schumpeter, 1975: 131/132).

Não é o caso de perseguir esta visão quase antropológica do empresário a partir da qual ele se configura como o centro vital do dinamismo capitalista e, portanto, do próprio sistema e tampouco da defesa absoluta que o autor faz deleiii. Interessa o reconhecimento de que a inovação já está dentro da grande empresa, fazendo parte como departamento de suas “atividades rotineiras”.

Essa característica moderna do processo inovativo é objeto de discussão ainda hoje. Debate-se tanto o papel da grande empresa vis-à-vis a pequena empresa para o processo de

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J. Schumpeter destaca esses três componentes como: 1. a obsolescência das funções empresariais; 2. a destruição do quadro institucional da sociedade capitalista; e 3. a destruição dos estratos protetores. Cf. Schumpeter (1975, cap. XII: Os muros em queda).

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Em A teoria do desenvolvimento econômico, J. Schumpeter descreveu à larga a “psicologia do empresário”, que teria a “liberdade mental” , a “intuição”, “a capacidade de ver as coisas de um modo que depois prove ser correto, mesmo que não possa ser estabelecido no momento”, “figura do líder”, o “desejo de conquistar”, “a alegria de criar”, etc. (Schumpeter, 1982: 61-65).

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Veja-se os capítulos XIII e XIX, respectivamente “Hostilidades crescentes” e “Decomposição” em Schumpeter (1975).

inovação tecnológica, como as características a que se associam as inovações. Neste último sentido, J. Schumpeter está claramente focalizando as inovações mais radicais e profundas, aquelas que rompem convenções, métodos e paradigmas, para usar um conceito de uso mais recente. O papel das inovações incrementais e menores é, para ele, de menor importância. Desta forma, embora negue a existência de limites para o progresso tecnológico na análise das restrições à continuidade do desenvolvimento (“oceano não mapeado”), é como se J. Schumpeter antevisse o fim dos grandes breakthroughs tecnológicos a partir do enfraquecimento social e histórico do empreendedor.

J. Schumpeter aborda, ademais, a tensão existente entre inovação e difusão tecnológicas, ambas caracterizadas pela introdução de progresso técnico na esfera produtiva e comercial. O lucro extraordinário, móvel da inovaçãoi pela ação empreendedora e criativa do empresário capitalista e gerado num primeiro momento quando da introdução dessa inovação, tende a desaparecer à medida de sua difusão entre os atuais e prospectivos concorrentes6. Essa difusão, entretanto, é vista como uma atividade estática em que se absorve a inovação gerada exogenamente à empresa. Suas preocupações voltam-se prioritariamente, então, para a defesa de um clima e de instituições que favoreçam e garantam os lucros extraordinários derivados de inovações, mesmo porque o retorno dos investimentos de longo prazo, em condições de mudança rápida, é lento e incertoii. Para tanto, é preciso desenvolver alguns “mecanismos de proteção”, entre os quais estão o sistema jurídico de patentes e as estratégias de negócios e “práticas monopolistas”, como a “manipulação de preços, qualidade e quantidade”. Afinal, há que oferecer alguma “iscas que seduzam o capital para trilhas desconhecidas” (Schumpeter, 1975: 88/90).

É importante assinalar que J. Schumpeter estabelece uma distinção conceitual entre crescimento e desenvolvimento econômicos. E ao fazê-lo, mais uma vez procura acentuar as diferenças entre o rotineiro e o excepcional; entre um padrão burocrático de repetição e o movimento transformador; entre o “estático” e o “dinâmico”; entre a continuidade e a descontinuidade; entre o previsível e o incerto e, no frigir dos ovos, entre o capitalista e o

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É interessante lembrar que o novo não interessa a J. Schumpeter na sua qualidade científica ou tecnológica. O que importa é o seu papel econômico, estimulado e gerenciado pelo empreendedor e não pelo técnico ou cientista: “a liderança econômica em particular deve pois ser distinguida da ’invenção’. Enquanto não forem levadas à prática, as invenções são economicamente irrelevantes” (Schumpeter, 1982: 62).

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A incerteza advém inclusive da possibilidade de superação por uma nova inovação durante o período de amortização do capital empregado

empreendedor, ao qual hoje se aplica a adjetivação de “empresário schumpeteriano”, um “tipo ideal”i criativo e “portador do mecanismo de mudança”ii. O desenvolvimento econômico caracterizaria um processo de mudanças advindas “de dentro, por força de motivações interiores ao sistema econômico”, nada tendo a ver com qualquer tendência ao equilíbrio ou ao funcionamento estático da economia, fenômeno que ele discutiu sob a denominação do “fluxo circular da vida econômica”.

O conceito de desenvolvimento econômico está sempre associado ao que chama de “novas combinações”iii. Ao empresário empreendedor cabe ademais a tarefa de levantar os fundos necessários ao investimento novo, o que será feito pelo recurso ao crédito. J. Schumpeter, mais uma vez estabelece uma distinção entre os mecanismos financeiros atrelados ao funcionamento normal da vida econômica, caracterizado pelo fluxo circular e estático, e as alterações produzidas pelo dinamismo inovador. Na situação primeira, a “parcimônia” e a abstenção do consumo, formarão os fundos para o prosseguimento do crescimento econômico. Na situação transformadora, contudo, não é assim. Nessa, os recursos advêm de duas fontes: lucros extraordinários gerados por uma inovação bem-sucedida introduzida anteriormente; e o crédito gerado pelo poder de compra gerado pelos bancos. O banqueiro, nesta condição, deixa de ser “primariamente um intermediário da mercadoria ‘poder de compra’ [passando a ser] um produtor [grifo do autor] dessa mercadoria” (Schumpeter, 1982: 53). Dessa forma,

A função essencial do crédito no sentido em que o tomamos consiste em habilitar o empresário a retirar de seus empregos anteriores os bens de produção de que precisa, ativando uma demanda por ele, e com isso forçar o sistema econômico para dentro de novos canais [...] o crédito é essencialmente a criação de poder de compra com o propósito de transferi-lo ao empresário, mas não simplesmente a transferência do poder de compra existente. A criação [grifo nosso] de poder de compra caracteriza, em princípio, o método pelo qual o desenvolvimento é levado a cabo num sistema com propriedade privada e divisão de trabalho [...]. A concessão de crédito opera [...] como uma ordem para o sistema econômico se acomodar aos interesses do empresário [...] significa confiar-lhe forças produtivas [grifo nosso] (Schumpeter, 1982: 74)

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O tipo ideal em M. Weber trata de uma criação do analista tendo em vista exagerar suas particularidades centrais, como por exemplo, o “líder carismático”. Weber (1972).

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Schumpeter (1982: 45, nota 3). Assim J. Schumpeter se expressa: “Chamamos ‘empreendimento’ à realização de combinações novas; chamamos ‘empresários’ aos indivíduos cuja função é realizá-las.” Schumpeter (1982: 54).

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Tais são descritas como : “1. introdução de um novo bem [...]; 2. introdução de um novo método de produção [...]; 3. abertura de um novo mercado [significando um novo setor ou indústria no próprio país e não mercados externos – nota nossa] [...]; 4. conquista de uma nova fonte de oferta de matéria prima ou de bens semi- manufaturados [...]; 5. estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria...” Schumpeter, (1982: 48)

A noção de crédito como criação de poder de compra, confere outro aspecto dinâmico ao empresário schumpeteriano, qual seja, o de criar, indiretamente, seus próprios recursos. O dinamismo do desenvolvimento permite, então, que este mecanismo se acomode ao sistema econômico, de uma forma semelhante à criação de demanda autônoma pelas autoridades governamentais em J. M. Keynes, gasto que é posteriormente coberto pelos tributos gerados com as novas atividades. O aspecto inovador não se restringe, portanto, ao descortino de novos horizontes mercantis ou de novas tecnologias mas na capacidade de mobilização de recursos, o que envolve o convencimento e o comprometimento do sistema financeiro com os projetos.

II.1.5. List: sistemas nacionais e forças produtivas

G. F. List, é preciso registrar de imediato, escreveu para a sua Alemanha. Ao contrário de A. Smith, não procurou negar o interesse específico que o movia: o desenvolvimento econômico daquele país. Ao fazê-lo, entretanto, discute questões gerais que não dizem respeito somente à Alemanha. Per contra, critica A. Smith pela tentativa de afirmar o interesse geral quando se tratava na verdade do interesse específico da nação mais avançada da sua época – a Inglaterra. A unidade básica de que trata, portanto, é a nação afastando-se do que considerava ser o “cosmopolitismo incompreensível” que impregnava a doutrina de A. Smithi:

Diria que a característica básica deste meu sistema reside na NACIONALIDADE. Toda minha estrutura está baseada na natureza da nacionalidade, a qual é o interesse intermediário entre o individualismo e a humanidade inteira [maiúsculas e itálico do autor] [...e seu objetivo...] ensinar- lhes também qual é a política econômica que possibilite promover o bem-estar, a cultura e o poder da Alemanha (List, 1988: 5/3)

G. F. List argumentava que o indivíduo opera num sistema nacional que lhe oferece ou não as condições e o suporte para que opere sua “engenhosidade, destreza e discernimento” ,traços que A. Smith atribuía como fatores do progresso. Afirma G. F. List: “[...] como se afigura pobre e pouco prática a teoria de Economia Política que pretende impingir-nos a tese de que o bem-estar material das nações está exclusivamente em função da produção dos indivíduos, esquecendo que a força produtiva de todos os indivíduos é em grande parte determinada pelas circunstâncias sociais e políticas da nação” (List, 1988: 61). Essas condições fazem parte da nacionalidade, dos valores cultivados, de suas instituições, do acúmulo de experiências, do

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Daí distinguir a economia “cosmopolítica”, que caracterizaria a doutrina de A. Smith, e a economia política, de cunho nacional.

sentido de futuro, etc. O sistema resulta da acumulação menos de bens que de conhecimentos, que não se constituem somente de saberes técnicos e produtivos, mas de valores, instituições, práticas e a consciência da nacionalidade e da força coletiva traduzida na nação.

Ora, essa “força” não se reflete necessariamente em valores de troca de bens ou serviços transacionados no mercado. Em seu conceito de forças produtivas, G. F. List aponta para as múltiplas atividades do gênero humano, algumas remuneradas e outras não, que constituem o arsenal de forças sobretudo mentais com que uma nação conta e que substanciam suas possibilidades de progresso e poder, inclusive porque criam capacitação para o desenvolvimento futuro7. As forças produtivas de uma nação não se esgotam nas suas relações de mercado, da mesma forma que seu desenvolvimento. Assim, G. F. List duvida da identidade entre indivíduo e nação, defendida pelos liberais smithianos, como se os interesses desta última apenas refletissem a somatória dos interesses do primeiro e se constituísse apenas no resultado final de sua livre ação. Mais, afirma que pode haver diferenças profundas entre a lógica privada e a nacional: “na economia nacional, pode ser sabedoria o que é absurdo na economia privada, e vice-versa” (List, 1988: 117)i. Seu pensamento nega o liberalismo e o laissez faire e abraça a nação como unidade.

A. Smith é criticado também em sua análise da divisão de trabalho. Pergunta-se G. F. List por que ele não estendeu o conceito para abarcar a nação, daí estabelecendo as mesmas inferências quanto à especialização, cooperação e elevação da produtividade. Ao discutir esses aspectos, G. F. List expõe a natureza sistêmica da produção de um país e as cadeias que interligam os diversos setores uns aos outros, atribuindo-lhes a mesma importância que fora atribuída à divisão de trabalho dentro da unidade de produção. Com isto reforça a argumentação sobre a força produtiva nacional que delimita as fronteiras da cooperação intra e inter-setorial. Segue-se, quase como corolário, a importância da diversificação produtiva e da completude de linhas de produção nas fronteiras nacionais.

Isto posto, há na concepção de G. F. List um segundo núcleo de idéias que aqui nos interessa mais de perto. Para ele, a indústria é o setor vital para “o bem estar, a cultura e o poder”, e os povos (principalmente os alemães) não devem “temer nenhum sacrifício” para tê-la, uma vez que só ela é capaz de promover os desenvolvimentos das forças produtivas que, em seu conjunto,

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E se pergunta: “Está porventura na natureza dos indivíduos levar em consideração as necessidades dos séculos futuros, como acontece com a nação e o Estado?”. List (1988: 116)

atingem todos os setores8. Não somente, é o setor capaz de absorver a população sobrante da agricultura, na medida do aumento populacional e do incremento nas suas forças produtivas. Ademais, a indústria proporciona uma elevação da demanda por produtos agrícolas, elevando suas rendas e promovendo em seqüência a demanda por bens industriais, no que se poderia chamar de um círculo virtuoso, ao qual se adiciona, da mesma forma, a contribuição do progresso da ciência e do saber promovido pela indústria, na agricultura. Ou seja, uma nação não deve especializar-se na produção agrícola de exportação, pois, como afirma de modo dramático, “uma nação que só possui agricultura é um indivíduo que em sua produção trabalha com um braço só”9(List, 1988: 113).

Pelo elogio à manufatura, G. F. List chega à tecnologia e à ciência. Sustenta, então, que, enquanto a agricultura depende basicamente da força física do trabalho, na manufatura abre-se espaço para o trabalho mais qualificado, exigente de maiores “aptidões mentais”. Ademais, a indústria fecunda o desenvolvimento “da ciência e das artes”, onde “todo progresso, descoberta ou invenção feita na área dessas ciências[...“a física, a mecânica, a química, a matemática, a arte do desenho, etc.”...]aperfeiçoa ou altera centenas de atividades e processos” (idem, ibidem: 139). A atividade científica e tecnológica também se reparte numa divisão de trabalho e coopera entre si e se completa com a indústria, particularmente pela demanda de inovações nas máquinas e equipamentos, inclusive agrícolas. O estímulo e a emulação à atividade intelectual, científica e tecnológica se completam na requisição permanente da indústria por aperfeiçoamentos técnico. A capacitação das nações para o exercício não somente das atividades industriais como da inter- relação com os mecanismos de inovação é criação coletiva e histórica da nação. Constituem conquistas não espontâneas da coletividade, embora parte delas se constitua de um aparato de estímulos, induções e...punições que nascem na educação e passam para a atividade cotidiana. Constitui parte fundamental deste processo a criação de um espírito nacional voltado para o futuro, como emulação, não como simples parcimôniai, vontade canalizada e conduzida por políticas públicas.

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Interessante que G. F. List utiliza na sua argumentação, que reduz a importância da parcimônica, da poupança para o progresso, o que mais tarde veio a ser divulgado nos manuais de Economia como a “falácia da composição”: se todos poupam, não há poupança nacional.

G.F. List reconhecia a importância do que se pode chamar de elementos intangíveis da acumulação de conhecimentos e que este processo apresenta um sentido social e público por sua própria natureza, assim como, “nacional” e “popular”. Assim escreveu:

Para explicar tais fenômenos [a riqueza e a prosperidade de uma nação], temos que nos reportar ao progresso registrado no decurso dos últimos mil anos, nas ciências e nas artes, na legislação doméstica e pública, no cultivo da mente e na capacidade de produção. O atual estado das nações