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JULGAMENTO MONOCRÁTICO DOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA

No documento O Cabimento dos Embargos de Divergência (páginas 152-155)

5. O CABIMENTO DOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO PROJETO DO

5.7 JULGAMENTO MONOCRÁTICO DOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA

Como no capítulo anterior, preocupa-se o julgamento monocrático do mérito dos embargos de divergência, modalidade que no ordenamento atual já vem sendo empregada.

Pelo sistema atual, o entendimento alcançado é que o relator poderia enfrentar monocraticamente não apenas o juízo de admissibilidade, mas também o juízo de mérito dos embargos de divergência, a partir da leitura do art. 557, CPC.

Pelo já citado art. 557, do CPC, o relator poderá negar seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou contrário à súmula ou jurisprudência dominante, e ainda dar provimento ao recurso caso a decisão recorrida for manifestamente contrária à súmula ou jurisprudência dominante dos Tribunais Superiores.

Quanto aos requisitos de admissibilidade, coerente compreender como correto o julgamento monocrático, como já informado, por obediência aos princípios de economia e celeridade processual. De fato, o acórdão alcançado pelo colegiado competente não seria diverso do externado pelo relator na decisão unipessoal.

Quanto ao mérito recursal, como também vislumbrado anteriormente, pode se tornar temerário julgamento singular do relator, principalmente em sede de embargos de divergência, instituto de suma importância para alcançar o entendimento da Corte como um todo sobre determinado tema.

Relembramos o entendimento de Flávio Cheim Jorge370, quando questiona a segurança em se alcançar o entendimento de uma Corte na sua totalidade mediante um julgamento monocrático. “Aqui, é importante ter a exata compreensão de que, na medida em que adentra na análise do mérito do recurso, a decisão do relator substitui a decisão recorrida”. (grifos no original)

Não podemos deixar de relembrar a finalidade dos embargos de divergência, os quais visam uniformizar o entendimento da Corte como um todo, intento que pode restar prejudicado quando externado apenas o entendimento de um único julgador.

Todavia, esse não é o entendimento majoritário. De acordo com grande parte da doutrina371, não há no Código de Processo Civil ou nos regimentos internos dos Tribunais Superiores regramento específico sobre o julgamento monocrático no que se refere aos embargos de divergência. Ainda, o art. 557, CPC, há delimitação taxativa para as hipóteses passíveis de julgamento monocrático, prevendo recurso de agravo interno contra a referida decisão.

Araken de Assis372, ao tratar sobre as atitudes do relator após a impugnação interposta ou não pelo embargado, bem como a manifestação do Ministério Público, nos casos em que se aplica, entende que ao relator caberá “tomar três atitudes: (a) reexaminar a admissibilidade dos

370

JORGE, Flávio Cheim. Embargos de divergência: alguns aspectos estruturais. In RePro 190. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 35.

371

Neste sentido: SOUZA, Bernardo Pimentel. Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória. 3. ed. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 710; TORREÃO, Marcelo Pires. Dos Embargos de Divergência: teoria e

prática no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal. Porto Alegre: S. A. Fabris, 2004, p.

73; MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil, Lei nº 5.869, de 11 de

janeiro de 1973. Vol. 5: arts. 476 a 565. 15 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 684.

372

embargos de divergência; (b) julgar o mérito do recurso, escudado no art. 557, caput e § 1º-A; e (c) pedir dia para julgamento no órgão ad quem”.

O referido entendimento é o externado pelas Cortes Superiores, conforme extrai-se dos julgados colacionados no capítulo anterior, ao julgarem os embargos de divergência monocraticamente, seja para retratação da admissibilidade, seja o efetivo mérito dos embargos de divergência.

Ao que parece, em que pese críticas a esse respeito, o intuito do projeto é continuar nesse caminho, permitindo o julgamento monocrático dos embargos de divergência, por se inserirem na percepção de recurso, e, portanto, passível de enquadramento na regra geral.

Ademais, o art. 888373, do referido projeto de Lei, direciona os poderes do relator no mesmo sentido do sistema atual, quando visa “regulamentar a atividade do relator em geral e não tão somente do relator nos tribunais ordinários374”.

A colegialidade não fica de todo desprestigiada. O projeto prevê no art. 975375 o agravo interno, interposto contra decisão singular. Com isso, fica preservada a finalidade do referido agravo, de encaminhar ao órgão colegiado o conhecimento da decisão exarada por julgador monocrático.

373

“Art. 888. Incumbe ao relator: I - dirigir e ordenar o processo no tribunal; II - apreciar o pedido de tutela de urgência ou da evidência nos recursos e nos processos de competência originária do tribunal; III - negar seguimento a recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha atacado especificamente os fundamentos da decisão ou sentença recorrida; IV – negar provimento a recurso que contrariar: a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de casos repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência. V - dar provimento ao recurso se a decisão recorrida contrariar: a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal, ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de casos repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; VI - exercer outras atribuições estabelecidas nos regimentos internos dos tribunais”.

374

MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. O projeto do CPC: críticas e propostas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 173.

375

“Art. 975. Ressalvadas as hipóteses expressamente previstas neste Código ou em lei, das decisões proferidas pelo relator caberá agravo interno para o respectivo órgão fracionário, observadas, quanto ao processamento, as regras dos regimentos internos dos tribunais”.

No documento O Cabimento dos Embargos de Divergência (páginas 152-155)